Na Caverna da Consultoria Especial: Aniversário Andre Matos Com Dener Ariani

Por Thiago Reis

Normalmente quando fazemos o quadro “Na Caverna da Consultoria” o foco é na coleção do entrevistado. Na presente entrevista, isso muda um pouco, já que exatamente no dia de hoje Andre Matos estaria fazendo 52 anos. Então, hoje trazemos Dener Ariani pela segunda vez (em uma primeira oportunidade mostramos sua coleção do Angra). Quando decidi trazer o Dener para mais um episódio da Caverna não foi por acaso. Temos aqui diversas histórias com o Maestro e uma dedicação ímpar com o acervo do mesmo. O tamanho de conhecimento acerca da carreira do grande Andre Matos é de se espantar, mas com a humildade de sempre. Na biografia de Andre Matos que foi publicada recentemente, Dener contribuiu de forma significativa. Em suma, escolhemos para essa singela homenagem, um fã que respeita a história do ídolo, tem uma coleção incrível de itens relacionados ao Andre e que está na estrada desde o início da década de 1990.

1) Dener, primeiramente muito obrigado por participar novamente da Caverna da Consultoria, desta vez com destaque para a obra do Andre Matos a partir do momento em que saiu do Angra. Conte para nós a sua visão da época no que se refere à saída do Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori do Angra, após seis anos de muito sucesso.

Salve Thiago e galera do Consultoria do Rock. Honrado em uma vez mais participar em um momento tão especial da revista bem como de uma data memorável que é o aniversário do saudoso Andre Matos. Essa é uma pergunta bem interessante para mim e intrigante também, pois a lembrança que tenho muito nítida é de chorar ao telefone com um colega da época, dizendo que não acreditava no que estava acontecendo. Fiquei revoltado para falar a verdade, pois viajava pra cima e pra baixo atrás da banda, comprava tudo que era possível de dentro e de fora do país e de repente foi como se o mundo desabasse ao receber aquela noticia através do 89FM. Os caras estavam no auge, estourados ao redor do mundo, como assim iam se separar. Lembro de ver o Andre na Saraiva no lançamento do Virgo, e de falar com ele um pouco sobre o futuro e confesso que vi no olhar dele que nem mesmo ele sabia ao certo o que esperar.

2) Logo após essa separação, foi confirmada a criação de uma nova banda, o Shaman. Como foi a sua recepção ao icônico álbum Ritual?

Então, das minhas lembranças, na verdade ainda estava rolando o lance do Virgo, mas com o ataque as torres gêmeas a coisa meio que esfriaram. Sobre o Shaman me recordo de receber um cd com uma gravação de um show em são Paulo que tenho até hoje inclusive. Honestamente, naquele momento eu ainda estava ressentido com a separação da banda ainda e tinha dificuldade em assimilar. Me sentia meio que órfão saca. Mas ainda assim acompanhava ambas. Fui aos shows que era possível ir em virtude de um filho que estava para chegar, eu estava com emprego novo, enfim, mas de fato era impressionante ver o Shaman em ação. Lembro de um aqui no Aramaçã em Santo André, cara, casa cheia e Andre em plena forma, diria na sua melhor forma. Era incrível ver ele no palco. O Ritual é e sempre será um marco histórico da música brasileira. Impossível pular uma faixa sequer.

3) Você esteve presente na gravação do fantástico DVD Ritualive. Como foi presenciar este histórico momento do metal nacional? Tem alguma história para contar sobre esse show?

Rsrs, cara tem algumas sim, eu ganhei a entrada deste show em uma sorteio fake do For Tomorrow, não vou entrar em detalhes kkk. Fã clube este que fiquei por pouquíssimo tempo e que em nada me agradou por atitudes de alguns membros. Inclusive no dia do show. O Show dispensa comentários, afinal é até hoje considerado o melhor Dvd já produzido. Nos bastidores tive a oportunidade de ficar em uma sala com o Sacha e o Tobias, os caras eram muito simpáticos, tirei uma foto com eles, um de cada lado e eu no meio. O Sacha me autografou o Virgo e colocou a meu pedido uma dedicatória ao eu primogênito Ariel. Tinha uma repórter la que ajudou na comunicação, foi demais. Ah, e fui pedir uma caneta a Penélope (atual do Andre e Vj da Mtv) e ela achou que eu queria seu autógrafo kkkk, foi constrangedor, até pouco tempo ainda tinha a caneta que ela me emprestou.

4)  Um projeto que foi lançado nessa época e se tornou aclamado pelos fãs de Andre Matos ao longo dos anos foi o excelente Virgo, ao lado de Sacha Paeth. O que você achou do direcionamento deste álbum?

Então Thiago, como falei acima, eu fui ao lançamento deste projeto na Saraiva, aliás perguntei ao Andre o que ele tinha achado do disco novo do Angra e ele disse que tinha gostado de Rebirth. Sobre o Virgo confesso que custei a gostar dele viu. Um pena ele não ter emplacado na época. Tecnicamente falando, é de longe o projeto mais ousado do maestro. Envelheceu muito bem esse disco, na época era preciso desconstruir um pouco a imagem que tinha do Andre para poder curtir o disco plenamente. A maioria dos fãs na verdade viu, é que hoje a galera fala como se tivesse amado em seu lançamento, e não foi nada assim, mesma coisa foi o Reason e o Fireworks, hoje todos amam e falam ser os melhores dos melhores. Enfim, é genial e apaixonante.

5)  Mais uma vez a carreira de Andre toma um novo rumo, com o início de sua carreira solo. Qual foi a sua reação ao saber do fim do Shaman e pouco tempo depois, o início da carreira solo do Maestro?

Os fãs que me perdoem, mas com o fã posso dizer, agora ele não vai mais poder sair da banda, já que é o nome dele rsrs. Confesso que desta vez eu estava vacinado, de modo que não fiquei ao telefone com alguém chorando o fim da banda kkkk. Segui acompanhando claro, o Time To be Free é um disco sensacional, amo o Mentalize, o The Turno of the Lights é mais sombrio, acredito que reflete muito o momento que ele vivia. Mas ainda assim é um bom disco, mas assim como o Virgo eu preciso meio que descontruir a imagem dos dois anteriores para poder ouvir ele. Aliás, a música do Adrian é linda, para mim a melhor do álbum.

6) Andre durante a sua carreira solo fez shows muito especiais, como os de comemoração ao aniversário dos álbuns Angels Cry e Holy Land. Você chegou a presenciar alguns destes shows?

Eu fiquei um tempo longe da cena Thiago, muito por conta dessas separações de banda, apenas comprando os materias. Fui a gravação do To Live Again do Viper apenas e mais nada. Em 2015 fui no Manifesto no lançamento do dvd do Viper, só então voltei com tudo para a cena fundando inclusive a House of Bootlegs com alguns amigos, você inclusive. Em 2015 ainda vi o show de 30 anos dele e logo depois fui a 4 shows do Holy Land 20th Anniversary no Sesc Pinheiros, Aquarius (2x) e Rock na Praça, que foi logo após ele voltar do Chile com bigode rsrs. O primeiro no Sesc Pinheiros, depois fui a dois no Aquarius sendo o segundo autorizado por ele a gravar o show (Zito mult. cam aquarius; Holy Land Sesc Pinheiros).

7)  Outros shows especiais envolveram as apresentações mais intimistas de Andre, com o chamado “Piano e Voz”. Conte-nos como foi presenciar uma apresentação tão peculiar de Andre e também a possibilidade de filmar este evento histórico com o seu projeto “House of Bootleg”.

Bem, a House só existe por causa do Andre. Cara, foi para apenas 100 pessoas, bota intimista nisso, eu fiquei de frente para ele saca. Levei meu equipo para filmar, mas a então mulher e empresária dele além do Sr. Toninho foram bem grosseiros, o Toninho( Manager de palco, não o empresário do Angra ok ) chegou e me dar um empurrão gratuito, e o próprio Andre pediu desculpas pela grosseria daquele Sr. E me proibiram de gravar alegando que não tinha autorização. Decidi então captar o áudio e usar apenas uma câmera para filmar e uma par fotos de modo bem sutil, e quando digo sutil quero dizer escondido mesmo.O show foi surreal, e postei no dia seguinte só de raiva daquela criatura kkkk (“Sometimes“). Na semana seguinte seria o do Holy Land no Aquarius e a então empresária me contatou pedindo desculpas e dizendo que o Andre teria me autorizado a gravar o show comemorativo do Holy Land. Apenas eu. Acabou rendendo um belo registro de vídeo e foto, inclusive ele escolheu uma para a page oficial que está lá até hoje e que me dá muito orgulho e felicidade.

8) Você se encontrou diversas vezes com Andre desde o início dos anos 1990. Qual foi a situação mais especial para você e quais são as grandes lembranças deste encontro?

Sim, poxa difícil escolher, todas foram muito especiais, na passagem de som do Olympia Firetour, eu levei meu violão e ele autografou, o manager de palco, Jhony pediu para eu me retirar, olhei para o Andre e ele disse: Deixa o menino aí, ele é de casa. No Aquarius após o show fui la nos bastidores falar com ele e levei o cd do Soulspell para ele autografar, e ele disse que era a primeira vez que estava vendo e assim saiu folheando e comentando que eram todos seus amigos, a então apontou para o Kiko e disse que ele era chato kkk, dando risada e dizendo que era brincadeira. Aí ele soltou a pérola dizendo: Cara, legal as gravações que você fez ein. E eu logo perguntei: Qual delas Andre? E ele: A do Piano do Sesc Carmo. Aí me espantei dizendo que gravei escondido por me proibirem. Ele então me pediu as gravações e eu sem entender perguntei o porquê, pois tinha uma equipe lá filmando. Ele então respondeu que deu tudo errado e a única gravação que existia era a minha.

9) Outro momento icônico foi a inesperada volta do Shaman, com uma turnê executando os clássicos Ritual e Reason na íntegra. Como foi esse momento e quais as maiores recordações que você tem desses shows mais que especiais?

Foi emocionante, para comemorar eu publiquei no meu canal um B-side do Ritualive com as faixas que não tinham entrado no Dvd final. Foi mágico, no entanto nada comparado ao do espaço da américas, que viria ser o penúltimo show de sua vida. Aquele o cara tava possuído no palco. Parecia o Andre da gravação do Ritualive. Estava feliz em cima do palco fazendo o que amava e se conectando com os seus fãs. Destaco ainda uma apresentação ao lado da galeria do Rock aonde ele cantou os clássicos de toda a sua carreira, no Metal Singer II, realizado pela TC7 do grande Tiago Claro.

10)  Um outro momento muito emocionante, foi logo após o falecimento de Andre, as primeiras homenagens ao Maestro tomaram conta do cenário do metal, principalmente em SP e se me lembro bem o Angra inclusive precisou adiar um show que ocorreria exatamente no dia de seu falecimento. Você esteve presente em algum desses momentos?

Sim, no dia em questão eu demorei mais de uma hora para conseguir sair do meu trabalho pois fiquei paralisado, sem acreditar, cheguei a ligar para o Rafael que me atendeu aos prantos. A noite nos reunimos em uma espécie de vigila no local aonde seria o show do angra aqui na Mooca no Temple Music. Foi muito triste mesmo. E depois na missa de sétimo dia, organizamos ao termino da missa o que chamamos de Cantar para Andre Matos. Imprimi uma foto que fiz dele no dia da volta do Shamam com a letra de “Innocence” que foi distribuída para os fãs e cantamos a capela. Foi de certa forma um despedida. Pois como não teve velório, ficamos muito perdidos, o pessoal do Viper organizou a missa.

11) Falando sobre a coleção de Andre Matos após a saída do Angra, quais são os itens mais curiosos e raros da carreira do Maestro?

Curiosos eu diria que é uma palheta que ele me deu no Viper Day no Ozzy Stage e fez sinal de psiu para eu não falar para o Hugo, pois era a dele kkkk, ele tocou com ele e depois me deu. Isso inclusive dá pra ver no vídeo do show que eu gravei. De raro eu diria que um promo do Time To be Free alemão sem encarte, pois existe um com encarte.
O Virgo autografado por ele e o Soulspell também autografado por ele, arrisco dizer que talvez seja o único exemplar autografado por ele. E tem um cd da banda portuguesa My Alley, que ganhei do Rafael, o qual persegui por anos e o Andre canta em duas músicas ali. Esse é mega raro e super mosca branca.

12) Cite os seus cinco itens favoritos da coleção de Andre Matos.

Um Fireworks nacional com uma dedicatória gigante. Duas letras de músicas de minha autoria autografadas por ele, sendo que em uma delas ele escreveu Parabéns, boa inspiração. O Virgo que ele me autografou e dedicou ao meu filho Ariel. A palheta surrada que ele me deu após tocar no Viper Day. Os singles do “Make Believe” que ele meu autografou em um show em da Firetour em Maringá se não me engano ou Poços de Caldas.

13) E claro, não poderia deixar de pedir que faça uma lista com as dez melhores músicas da carreira de Andre Matos após sua saída do Angra Fora do Amgra (Viper,Shaman, Solo, Symfonia, Virgo, projetos, etc).

“Living For the Night” (Theater of Fate 1989)
“No Need have an Answer” (Virgo 2001)
“Here I Am” (Ritual 2002)
“Distant Thunder” (Ritual 2002)
“Reason” (Reason 2005)
“Face the End” (Time to Be Free 2007)
“Time to Be Free” (Time to Be Free 2007) que inclusive está tatuado em meu braço.
“Love is All” (Viper – All my Life 2007)
“A Lapse in Time” (Mentalize 2008)
“Come By the Hills” (Symfonia in Paradisum 2011)
E mais duas muito especiais, já que é impossível escolher apenas dez músicas
“Closer” (My Alley Hope 2011) e “I Will Return” (Mentalize 2008)

14) Dener, eu gostaria de agradecer imensamente a sua participação em nossa singela homenagem ao aniversário de Andre Matos, que nasceu neste mesmo dia no ano de 1971 e que faz muita falta para todos nós.

Embora seja aniversário do maestro, eu me sinto presenteado com esta matéria maravilhosa. Mais uma vez viajei no tempo, ouvi sua obra enquanto respondia às perguntas me divertindo e me emocionando. Fui transportado para uma parte da minha vida aonde apenas a música que ajudou a moldar meu modo de vida importa. Só posso agradecer eternamente pela oportunidade de poder externar e dar vazão para estes sentimentos que vivem em mim do eterno Andre Matos.