Do Pior Ao Melhor: The Rolling Stones
Por Marcello Zapelini
No último dia 26 de julho, Sir Mick Jagger completou 80 (!) anos de idade. Como homenageá-lo? Pensei em várias formas, e me veio a ideia de elaborar um “Do Pior ao Melhor” com a discografia dos Rolling Stones. Fazer essa seção era um sonho antigo – e fazer com a minha banda favorita de todos os tempos, então, não se fala. Usarei a discografia britânica como base, deixando de lado alguns lançamentos norte-americanos.
Dirty Work [1986]
O disco mais fraco, menos inspirado da banda, lançado no fatídico 1986. Mick Jagger lançara em 1985 seu primeiro disco solo – e lançaria o segundo no ano seguinte – e estava completamente desinteressado da banda. “One Hit (to the Body)” (com solo de guitarra do velho amigo Jimmy Page, que se recusou a ser pago pela sessão), “Harlem Shuffle”, “Fight”, “Had it With You” e a faixa-título são interessantes, mas o disco traz as fracas “Too Rude”, “Winning Ugly” e “Back to Zero” para prejudicar. A balada “Sleep Tonight” é bonita, mas excessivamente produzida e com muitos vocais no meio. Keith e Mick praticamente não se falavam, Bill e Charlie estavam meio por baixo e no todo o álbum não decola, apesar do esforço de Ronnie Wood, coautor de quatro músicas, baterista(!) em “Sleep Tonight” e saxofonista em “Had it With You”. O melhor mesmo é o final, com 30 segundos do então recentemente falecido Ian Stewart tocando um boogie no piano.
Undercover [1983]
A banda lançou este álbum sem promovê-lo em uma turnê. Mick Jagger e Keith Richards já se estranhavam na época, e isso se reflete no álbum. O álbum começa muito bem, com a faixa título e “She Was Hot”, e tem a fantástica “Too Much Blood” e a injustamente esquecida “Too Tough”, além da bonitinha “Wanna Hold You”, cantada pelo Keith Richards. Ainda tem as razoáveis “Tie You Up (The Pain of Love)” e “All the Way Down”, mas traz as fraquinhas “Feel on Baby” e “Pretty Beat Up” (apesar do bom riff de guitarra), e a escorregada final com “It Must be Hell”, que copia o riff de “Soul Survivor” na maior cara dura (ainda que a música seja boa). O disco tem muita eletrônica, tornando-se um produto de sua época, e sofre com a obsessão de Mick Jagger em soar moderno. Existem versões das músicas com menos produção escondidas nos arquivos do grupo, mas confesso que não sou otimista em relação à possibilidade de serem lançadas.
The Rolling Stones, No. 2 [1965]
Basicamente uma repetição da fórmula do primeiro disco, só que sem o gosto de novidade. Não que o disco em si seja ruim, ele só não sai da zona de conforto; as covers são muito boas, com destaque para “Everybody Needs Somebody to Love”, “Down Home Girl” e “Suzie Q” (quase um proto-heavy metal), ainda que a primeira tenha ficado meio longa e a segunda, paradoxalmente, muito curta, além da famosíssima “Time is on My Side” e do show de Brian na slide guitar em “I Can’t be Satisfied”. Por outro lado, “You Can’t Catch Me” está muito abaixo do original de Chuck Berry. Jagger e Richards compuseram três músicas, mas nenhuma muito especial. Parte do disco saiu nos EUA em 12×5 e parte em The Rolling Stones, Now! – particularmente, prefiro esses discos ao No. 2, mas como estamos seguindo a discografia britânica …
Emotional Rescue [1980]
A banda tentou repetir a fórmula de Some Girls e se deu mal. Os rocks são menos inspirados, as faixas dançantes não conseguem repetir “Miss You” e as baladas são açucaradas. A faixa-título (com show de Mick Jagger no falsete), “She’s So Cold” e a injustamente esquecida “Down in the Hole” – com os Stones ativando o modo blues novamente – são os grandes destaques. Mas “Summer Romance”, “Where the Boys Go”, “Send it to Me” e a brega “Indian Girl” não estão à altura da banda. Keith Richards chora as mágoas em “All About You”, mas o arranjo não ajuda. Para completar, a produção deixou o som um pouco abafado – o que funcionou em “Exile on Main Street”, mas fracassou aqui.
The Rolling Stones [1964]
Onde tudo começou. O empresário Andrew Loog Oldham apostou na imagem da banda e simplesmente não colocou o nome da banda na capa. Primitivo, cheio de energia, transbordando amor pela música americana, e composto quase exclusivamente por covers, o primeiro LP começa com tudo, com “Route 66”, e joga tudo no ventilador com “I Just Want to Make Love to You” (enquanto os Beatles queriam segurar a mão da namorada, os Stones iam direto ao assunto, hehehe…). “Can I Get a Witness”, “You Can Make it if You Try”, “Walking the Dog”, “I’m a King Bee” e a sensacional versão para “Carol” mostram os Stones gravando as músicas que faziam os adolescentes gritarem nos shows, quase sem produção alguma. De quebra, a primeira música de Jagger e Richards gravada pela banda, a baladinha “Tell Me”. “Little by Little” e “Now I’ve Got a Witness” são creditadas ao grupo (pelo pseudônimo Nanker Phelge). O disco saiu nos EUA como “England’s Newest Hitmakers”, com “Not Fade Away” no lugar de “Mona (I Need You Baby)” – Buddy Holly no lugar de Bo Diddley!
Out of Our Heads [1965]
O terceiro LP é o último com a fórmula original – depois do seguinte, Jagger e Richards se encarregariam das composições. O disco começa com a curta – e quase heavy metal – “She Said Yeah”, e segue com outras covers impressionantes, como “Mercy Mercy”, “Hitch Hike”, “Talkin’ ‘Bout You”, “Oh Baby”, com a banda soando mais rock e menos blueseira. As composições originais de Jagger e Richards incluem as sensacionais “I’m Free” e “Heart of Stone”, bem como a baladinha “Gotta Get Away”, e ainda há “The Under Assistant West Coast Promotion Man”, creditada a Nanker Phelge. Out of Our Heads é o melhor dentre os três primeiros álbuns da banda, mas viria coisa muito melhor depois. A versão americana é bem diferente e traz “Satisfaction” e “The Last Time”, tornando o álbum mais interessante para o fã incidental.
Steel Wheels [1989]
Confesso que gostei mais deste disco quando saiu – também, depois do fraco Dirty Work, um álbum mais roqueiro e mais raiz era o que a gente precisava. Steel Wheels é um bom álbum para os anos 80, mas empalidece diante dos demais. O disco começa bem com “Sad Sad Sad” e “Mixed Emotions”, mas acaba sendo um pouco longo, com mais de 50 minutos, e ainda traz as belas “Almost Hear You Sigh” e “Slipping Away” – Keith Richards raramente decepciona quando canta uma balada. E eu gostaria de recuperar a paulada “Hold on to Your Hat”, com Keith soltando fogo com múltiplos solos de guitarra. Steel Wheels não é um disco ruim – mas dificilmente seria a escolha de alguém que quisesse ter apenas um disco dos Stones para ouvir. Este álbum foi sucedido pelo ao vivo Flashpoint, que trouxe duas músicas inéditas em estúdio; embora seja um bom disco, lançamentos posteriores de arquivo mostraram que havia coisa melhor em termos de shows gravados. Bill Wyman, depois de anos ameaçando, saiu da banda depois da turnê; o baixista saiu perdendo, porque a banda ganharia mais dinheiro com shows depois de 1994 do que em toda a sua história.
Their Satanic Majesties Request [1967]
Um experimento próprio do seu tempo, Their Satanic Majesties Request foi produzido pela própria banda e traz um Brian Jones à vontade para tocar o que aparecesse nas suas mãos. O álbum psicodélico dos Stones mostra que a banda podia ousar, mas atira em muitas direções, nem sempre acertando. “Gomper”, “Sing This All Together (See What Happens)” e “On With the Show” são os erros; “She’s a Rainbow”, “2000 Light Years from Home”, “Citadel”, “The Lantern” e “2000 Man” (regravada anos depois pelo Kiss) são os acertos. A curiosa “In Another Land” traz seu autor Bill Wyman no vocal e os roncos de Keith Richards, apagado no estúdio. E “Sing This All Together” é a música mais flower power dos Stones – mas faz sentir saudades do blues.
Bridges to Babylon [1997]
Bridges to Babylon saiu relativamente rápido, após o Voodoo Lounge, e é outro álbum que envelheceu um pouco, embora eu tenha curtido muito quando saiu. O álbum traz três músicas muito boas, “Out of Control”, “Saint of Me” e “How Can I Stop”, algumas boas, como “Anybody Seen my Baby”, “Flick the Switch”, “Thief in the Night”, “Low Down” e “Already Over Me”, mas, no todo, é apenas um disco mediano. “Might As Well Get Juiced” é um experimento fracassado que merece mais ficar esquecido, “You Don’t Have to Mean It” traz Keith às voltas com o reggae novamente, e as demais não chamam muito a atenção. A turnê passou pelo Brasil e gerou “No Security”, que procurou trazer sobretudo músicas que não tinham sido lançadas ao vivo até então – por exemplo, “Memory Motel”, com Dave Matthews participando do vocal. A banda ficou oito anos sem lançar um disco novo, pois nos anos seguintes sairia apenas a coletânea Forty Lick” (para comemorar os 40 anos), cuja turnê renderia o duplo ao vivo Live Licks e a box de DVDs Four Flicks.
Blue and Lonesome [2016]
Rolling Stones tocando clássicos do blues ao vivo no estúdio, quase sem overdubs, e com direito a uma canja de Eric Clapton. Tem como ficar melhor? Infelizmente, tem. Nada contra o instrumental, pois Charlie, Keith e Ronnie estão no seu habitat natural e Mick está muito bem na harmônica, mas os vocais deste me soam um pouco desinteressados, quase como se cumprisse uma obrigação. Por sua vez, Darryl Jones e Chuck Leavell estão no alto nível de sempre. A banda merece parabéns por evitar as músicas mais óbvias (somente “I Can’t Quit You Baby” e “Commit a Crime” são mais conhecidas), e “Just Your Fool”, “Hate to See You Go” e a faixa-título estão à altura do que eles fizeram no gênero no passado, mas o álbum, como um todo, está aquém da capacidade dos Stones, o que é uma pena – falta um pouco mais de guitarras incendiárias. Ainda assim, ele aparece no meu CD player mais frequentemente do que alguns discos em posição melhor nesta lista.
Between the Buttons [1967]
O último disco produzido por Oldham é também o mais variado de todos. Between the Buttons se encontra em duas versões, e mais uma vez a americana seria a mais interessante para o fã ocasional, porque traz os hits “Let’s Spend the Night Together” e “Ruby Tuesday” no lugar de “Please Go Home” e “Back Street Girl”. Brian Jones, a essa altura, era o homem-orquestra; se quase não se ouve sua guitarra no álbum, por outro lado ele tocou trompete, vibrafone, harmônica, kazoo, flauta doce, trombone, piano, órgão, tuba e acordeão! A banda se mostra pesada e vibrante em “All Sold Out” e “My Obsession”, quase jazzística em “Something Happened to me Yesterday” (com Keith e Mick dividindo os vocais e Brian tocando os instrumentos de uma fanfarra), romântica em “She Smiled Sweetly”, e animada em “Connection” (que ganharia uma versão do Montrose). O único escorregão é “Please Go Home”, uma modernização da famosa Bo Diddley Beat, que inclui um teremim. Charlie Watts fez os desenhos da contracapa – e seu desempenho no disco é um dos melhores de sua (longa) carreira.
Voodoo Lounge [1994]
Voodoo Lounge é um álbum especial para mim, porque foi o primeiro disco dos Rolling Stones que comprei em CD quando do lançamento, e rendeu a turnê que me permitiu assistir a banda ao vivo pela primeira vez. “Love is Strong” é a melhor faixa de abertura em um disco deles desde “Start me Up”, e músicas como “You Got me Rocking”, “I Go Wild”, “Out of Tears” e “The Worst” podem figurar em uma coletânea do grupo sem problemas. Claro, há alguns erros, como o insuportável funk “Suck in the Jugular” e a desnecessária “Sweethearts Together”, mas no todo o disco se segura muito bem e manteve a banda em evidência. As sessões de gravação renderam alguns B-Sides de singles que mostram que o grupo estava afiado, como “Jump on Top of Me, Baby” e “The Storm”. Após Voodoo Lounge, a banda lançou Stripped, com antigas composições rearranjadas, algumas ao vivo no estúdio, outras tiradas de shows, e uma seção extra a ser acessada por um drive de CD-Rom. A versão em box set (Totally Stripped) é bem mais interessante, com DVDs de shows e mais gravações ao vivo.
A Bigger Bang [2005]
O último disco de material original de estúdio com Charlie Watts traz sobretudo os três membros originais, com Ronnie contribuindo em apenas 10 das 16 músicas e uns poucos convidados como Chuck Leavell e Darryl Jones. É um bom álbum que abandona os modismos e se concentra no que a banda faz de melhor, nada revolucionário – mas também pouco marcante. Mick Jagger brilha no blues “Back of my Hand”, Richards emociona com “This Place is Empty” e a banda está a todo vapor em “Rough Justice”, “Oh No, Not You Again”, “Driving too Fast” e “Look What the Cat Dragged In”. Mas uma das melhores músicas ficou relegada ao CD-Rom que acompanha a edição deluxe original, “Under the Radar”. É um disco de rock’n’roll de meia-idade, como convinha aos então sessentões, mas espero que não seja o último disco de inéditas da banda, porque eles merecem mais. A Bigger Bang gerou uma box de DVDs ao vivo, bem como o filme de Martin Scorsese, Shine a Light, acompanhado por um CD duplo ao vivo. A Bigger Bang in Copacabana traz o famoso show na praia do Rio, e dá uma boa ideia do que eram os shows da época.
Aftermath [1966]
O segundo melhor disco da fase Brian Jones é o primeiro álbum inteiramente composto por Jagger e Richards. A versão britânica traz 14 músicas, a americana, apenas 11 (“Mothers Little Helper”, “What to Do”, “Take it or Leave it” e “Out of Time” desapareceram do álbum, e “Paint it Black” foi acrescentada). Aftermath traz alguns clássicos como “Lady Jane”, “Out of Time”, “Mothers Little Helper” e “Under my Thumb”, e as muito boas “Flight 505”, “I Am Waiting” (regravada por Lindsey Buckingham do Fleetwood Mac), “Think” e “It’s Not Easy”, que seria regravada ao vivo pelo Blue Öyster Cult. Além disso, tem a jam “Goin’ Home”, que, com mais de 11 minutos de duração, é a maior música gravada pelos Stones em estúdio – destaque para Brian, que sola quase sem parar a sua harmônica ao longo da canção. As músicas que faltavam seriam juntadas com as duas que não entraram no Between the Buttons americano com mais três inéditas até então e formariam a coletânea Flowers.
Black and Blue [1976]
Este disco cresceu muito na minha avaliação ao longo dos anos. Gravado ao longo de múltiplas sessões e com a participação de três guitarristas diferentes (Harvey Mandel, Wayne Perkins e Ronnie Wood), além de Billy Preston e vários outros convidados, Black and Blue é um amálgama de ritmos, trazendo desde a jazzística “Melody”, o reggae de “Cherry Oh Baby”, a proto-disco “Hot Stuff”, a funkeada “Hey Negrita”, e o território mais familiar das baladas “Memory Motel” e “Fool to Cry” e dos rocks “Crazy Mama” e “Hand of Fate”. Jagger mostra boa variação nos vocais, Keith domina a cena em “Crazy Mama” e canta junto com Jagger em “Memory Motel”; Charlie e Bill saem de suas zonas de conforto para lidar com a multiplicidade de ritmos nas diferentes músicas, entregando algumas de suas melhores performances em todos os tempos. Nas guitarras solo, Ronnie decepciona em relação a Mandel e Perkins (o solo deste em “Hand of Fate” é excepcional), mas sua capacidade de interagir com Keith Richards fica nítida nas músicas que gravou. Este é um álbum que gostaria de ver relançado em box set porque há muitas músicas que ficaram de fora – será que a gravação com Jeff Beck tem alguma chance? Após este álbum, o duplo ao vivo Love You Live foi lançado, mas só traz “Hot Stuff” deste disco.
It’s Only Rock’n’Roll [1974]
O mais fraco dos discos lançados com Mick Taylor é, ainda assim, muito bom e merece estar no Top 10 dos Stones. A faixa-título é um clássico indiscutível, mas mostra-se um tanto clichê. “If You Can’t Rock Me”, “Ain’t too Proud to Beg”, “Dance Little Sister” são outros rocks de boa qualidade, ao passo que “Luxury” é a primeira incursão da banda no reggae. Já “Short and Curlies” remete ao passado e traz um ótimo solo de Taylor. Por outro lado, “Fingerprint File” aponta para o futuro, com os Stones buscando ritmos diferentes. Mas, para mim, o destaque absoluto do álbum são as baladas: “Time Waits for No One”, pivô da saída de Mick Taylor da banda, traz outro solo monumental do guitarrista; “If You Really Want to be my Friend” destaca os vocais do grupo Blue Magic e a guitarra de Keith tocada por meio de uma câmara Leslie; por fim, “Till the Next Goodbye” é, para mim, a música mais linda que a banda gravou em toda a sua carreira. A letra dolorida é cantada com muito sentimento por Jagger, Richards leva no violão e Taylor entrega uma guitarra precisa, na medida, que pontua toda a música, enquanto Charlie e Bill fazem a base perfeita, discreta e delicada. Mas, honestamente, ninguém compra um disco dos Stones por causa das baladas.
Goat’s Head Soup [1973]
O cinquentão do ano, quero escrever uma resenha mais completa para comemorar. Este disco cresceu demais no meu conceito nos últimos anos, pois antigamente não ficaria nem entre os dez mais. Na época foi considerado um fracasso artístico, e de fato o álbum é inferior ao quarteto fantástico que vai de Beggar’s Banquet a Exile on Main St. Mas ainda assim é um disco sensacional que está sendo recuperado atualmente por muita gente. A razão para ele ter entrado para os meus favoritos é simples: mr. Michael Kevin Taylor. O que o guitarrista fez neste disco ninguém conseguiu superar na história dos Rolling Stones. Ouça os solos de “Winter”, “100 Years Ago”, “Hide Your Love” e me diga se não tenho razão. E ainda tem “Doo Doo Doo Doo (Heartbreaker)”, “Dancing with Mr. D”, “Coming Down Again”, “Silver Train” e, obviamente, “Angie”. A única música que eu dispensaria é a enjoadinha “Can You Hear the Music” – mas logo depois dela vem “Star Star”, que fecha o disco fazendo a gente sentir vontade de botar para tocar novamente. O disco foi gravado na Jamaica, mas não tem nenhum reggae. E a turnê de lançamento foi a última com Mick Taylor, que ainda permaneceria para mais um disco, saindo no final de 1974. Ambos saíram perdendo, o guitarrista e a banda.
Tattoo You [1981]
Composto por músicas que tinham sobrado de discos anteriores, desde as sessões para Goat’s Head Soup, Tattoo You é considerado por muita gente o último grande disco da banda. O álbum tem dois lados bem distintos, um mais roqueiro e o outro mais baladeiro. Difícil é dizer qual é o melhor! O clássico “Start me Up” abre o disco a mil por hora, e daí em diante tem-se um desfile de boas músicas, com destaque para as lindas “Worried About You” e “Waiting on a Friend”, o blues envenenado “Black Limousine” (se você acha que Ronnie Wood não toca nada, ouça essa música), a quase punk “Neeighbours” e a balançada “Little T&A”, com Keith Richards cantando uma letra sem-vergonha. Claro, ainda tem Pete Townshend e Sonny Rollins em “Slave”, a bela “TOPS” e a curtinha “Hang Fire”. O disco rendeu uma turnê americana em que a maioria dos shows eram à tarde, imortalizada no álbum ao vivo Still Life e no filme Let’s Spend the Night Together.
Some Girls [1978]
O melhor disco gravado com Ronnie Wood na banda. Abrindo com a dançante “Miss You”, Some Girls traz a energia que os punks tanto exigiam das bandas antigas em músicas como “When the Whip Comes Down”, “Respectable”, “Lies” e “Shattered”, paga uma homenagem à música negra americana em “Just my Imagination”, emociona com “Beast of Burden”, exorciza os demônios de Keith Richards em “Before They Make me Run” e enfureceu as feministas com a faixa-título. Para completar, ainda tem a baladinha country “Faraway Eyes”, com sua letra divertida e Ronnie dando um show na pedal steel guitar. “Some Girls” provocou celeuma com a capa, pois várias atrizes retratadas não tinham liberado as fotos, e uma edição original, sem as fotos censuradas, vale uns bons trocados no mercado. Mas acredite: você não quer se livrar de um disco destes.
Beggar’s Banquet [1968]
O canto do cisne de Brian Jones com a banda traz seu maior momento como instrumentista: o bottleneck na maravilhosa “No Expectations”. Após o experimentalismo de Their Satanic Majesties Request veio este disco quase acústico, voltado para as raízes, stoneano até a medula. Abrindo com a incrível “Sympathy for the Devil”, Beggar’s Banquet é obrigatório em qualquer coleção que se preze, trazendo as não menos fantásticas “Stray Cat Blues”, “Street Fighting Man”, “Salt of the Earth” e “Prodigal Son”. “Factory Girl” e “Dear Doctor” são incursões na country music e a safadeza própria de Jagger e Richards se mostra a mil em “Parachute Woman”. A famosa capa do banheiro grafitado, censurada pela Decca, tornou-se padrão nos CDs, fazendo com que a originalmente lançada (que lembra um convite, até com RSVP) se tornasse um item de coleção. Com este álbum, os Stones iniciaram uma sequência praticamente perfeita de álbuns que se encerraria com o terceiro colocado desta lista.
Exile on Main St. [972]
Dos álbuns duplos, normalmente se afirma que escondem um ótimo álbum simples. Não é o caso de Exile on Main St. Gravado em condições complicadas (a banda tinha se autoexilado para fugir das taxas absurdas de impostos), na casa de Keith Richards no sul da França, “Exile…” é esplêndido do início ao fim: “Rocks Off”, “Rip This Joint”, “Happy”, “All Down the Line”, “Soul Survivor”, os rocks são ótimos; as baladas “Let it Loose”, “Loving Cup”, “Tumbling Dice”, “Shine a Light”, são lindas; “Ventilator Blues” (única música com coautoria de Mick Taylor), “Stop Breaking Down” e “Hip Shake” mostram que a banda não se esquecera de como fazer blues. E o que dizer de “Sweet Virginia”, “Torn & Frayed”, “Casino Boogie”? Se você não conhece, pare de ler e vá atrás no Spotify (ou seu fornecedor favorito). Mas antes de emitir uma opinião, ouça algumas vezes, porque este álbum foi mal recebido pelas críticas e foi crescendo até se tornar, para muitos, a obra-prima dos Stones. Mas não para mim!
Sticky Fingers [1971]
O disco com a capa de Andy Warhol e o zíper na calça jeans (não, não é o Mick Jagger; as teorias variam, mas tudo leva a crer que o modelo era um dos amantes de Warhol). O disco traz blues, balada country, rocks direto na veia, e a música mais linda que Jagger e Richards compuseram, “Wild Horses” (pausa para um comentário pessoal: Mick Jagger nunca reproduziu a fragilidade do vocal original nos shows, motivo pelo qual a banda devia aposentar essa música). Mick Taylor estreia de fato em estúdio neste álbum, e seu cartão de visitas traz a coda de “Can’t You Hear me Knocking”, o solo absurdo de “Sway” e a etérea “Moonlight Mile”. Keith domina “Bitch”, clássico absoluto da banda, e o disco ainda tem “Brown Sugar”, cancelada recentemente pelos desocupados que se ofendem com a história. Se fosse de outra banda, Sticky Fingers seria provavelmente o melhor disco dela. Mas os Stones fizeram coisa melhor.
Let it Bleed [1969]
A obra-prima da banda, na minha opinião. Começando com a tensa “Gimme Shelter” e terminando com a emocionante “You Can’t Always Get What You Want”, o disco é uma aula de tudo o que se pode imaginar em uma banda de rock dos anos 60. Blues? Quer algo melhor do que “Love in Vain”? Rock’n’Roll safado? Ouça “Live With Me”. Country? “Country Honk” é absolutamente debochada ao transformar “Honky Tonk Woman”. Balada? “You Got the Silver” é Richards na melhor forma. E ainda tem “Midnight Rambler”, “Monkey Man” e a faixa-título. “Let it Bleed” é perfeição do primeiro ao último segundo de música, e traz simultaneamente o último registro de Brian Jones e a estreia de Mick Taylor. À exceção de “Country Honk”, que nunca seria repetida nesse arranjo, todas as outras foram tocadas ao vivo pelos Stones ao longo dos anos. O álbum seria seguido por Get Yer Ya-Ya’s Out, ao vivo no Madison Square Garden em novembro de 1969.
Deluxe Edition bonus track: Stones ao vivo
Get Yer Ya-Ya’s Out é indispensável, ponto final. A versão em box set traz alguns bônus e as apresentações de B. B. King e Ike & Tina Turner, mas o álbum original é suficiente. Da fase com Mick Taylor, apenas outras duas gravações oficiais estão disponíveis: Live at Marquee ‘71 e Brussels Affair. Ambas são boas, mas a segunda(de 1973) é a melhor.
Com Brian Jones, Got Live if You Want It é energia pura, mas a má qualidade de gravação depõe contra. Mais interessantes são o segmento da banda em The Rolling Stones Rock’n’Roll Circus e o CD que acompanha a box comemorativa do filme Charlie is My Darling, de 1965. Por fim, a versão em CD duplo das BBC sessions, The Rolling Stones On Air, é provavelmente a melhor opção.
Já com Ronnie Wood, há muitas opções. O CD que acompanha o DVD Some Girls Live in Texas e o duplo El Mocambo ‘77 são as melhores pedidas, mas pode-se também destacar o CD duplo que acompanha a box de Tattoo You como provavelmente a melhor gravação das turnês de 1981-82. Steel Wheels Live, gravado em 1989, é muito bom e traz a versão de “Salt of the Earth” com Axl e Izzy do Guns ‘n Roses, além de Eric Clapton em “Little Red Rooster”. O recente GRRRR Live, gravado em 2012 e lançado neste ano, é muito bom em termos de repertório e recheado de convidados especiais.
Super Deluxe Edition bonus tracks: Coletâneas e box sets
Não faltam coletâneas dos Stones. Big Hits, de 1966, é fantástica e merece estar em sua coleção. Dos anos 70, Made in the Shade, lançada em 1975, é a melhor – mas se você conseguir a edição japonesa, Time Waits for No One é uma ótima adição. Jump Back, lançada pouco antes de Voodoo Lounge, tem um encarte excelente e cheio de informações sobre as músicas, e merece ser buscada.
Forty Licks, lançada em 2002 originalmente, ainda é imbatível por cobrir praticamente toda a carreira da banda de maneira muito mais interessante do que GRRRR, lançada dez anos depois, e Honk, última tentativa de compilar o grupo, que fazem algumas escolhas questionáveis no repertório. Mas se você quiser algo que cubra somente os anos iniciais, Hot Rocks e Rolled Gold são as melhores escolhas.
Há, ainda, compilações de raridades a destacar: Metamorphosis, de 1975, traz muitas músicas que Jagger e Richards escreveram para outros artistas, e somente Mick Jagger canta acompanhado por músicos de estúdio. As músicas gravadas pelos Stones, por outro lado, variam do interessante (“Downtown Suzie”, outra composição de Bill Wyman) ao excelente (a versão para “I Don’t Know Why”, de Stevie Wonder). Sucking in the Seventies, de 1981, traz músicas editadas e algumas raridades, como a versão ao vivo (muito boa, por sinal), de “When the Whip Comes Down”. Por fim, Rarities 1971-2003 não cumpre o que promete, deixando de lado “Think I’m Going Mad”, por exemplo, para incluir músicas de Stripped e Love You Live.
Em termos de box sets, The London Years cobre todos os compactos até 1971 e é excelente. Outras compilações de singles foram lançadas, mas são mais caras e mais difíceis de encontrar. The Rolling Stones in Mono traz as versões em mono dos discos da banda até Let it Bleed e um CD (“Stray Cats”) com faixas “avulsas” e de compactos, e no caso dos discos até Aftermath, a qualidade de gravação é melhor do que nos “reprocessados” em estéreo. Dos álbuns relançados em box set, Sticky Fingers, Goat’s Head Soup e Tattoo You são muito boas, embora um tanto caras; Beggar’s Banquet, Let it Bleed e Their Satanic Majesties Request decepcionam por só trazerem as versões mono e estéreo dos discos, sem nada a mais.
Depois que entreguei a matéria, os Stones anunciaram “Hackney Diamonds”, novo disco de estúdio. A conferir se será uma despedida mais digna do que “A Bigger Bang” teria sido!
Estou curioso para ouvir Stones sem Watts. É mais uma banda que já podia ter pendurado as pantufinhas
Lista um tanto quanto polêmica, hauhaauhahua. Certamente mostra que o Marcello é um grande fã da fase Taylor (o que não tiro como negativo de forma alguma) e que a lista é feita no gosto pessoal do consultor. Está certíssimo. Mas ter apenas um da fase Jones entre o Top 5 me surpreendeu, e o top 3 com 3 Taylors me surpreendeu mais ainda.
Me surpreendeu tb o Their Satanis Majesties ficar tão abaixo. Entendo as justificativas do Marcello, as é justamente as explorações que nos fazem sentir saudades do blues que me fazem curtir tanto o disco. A boa vontade com os discos novos é curiosa tb, e concordo que realmente são ótimos discos. Agora, o Pior disco é com certeza Dirty Work, isso ninguém duvida.
Minha lista seria isso (Do Pior Ao Melhor)
Dirty Work
Undercover
Emotional Rescue
Steel Wheels
Rolling Stones (1°)
Black and Blue
Tatto You
A Bigger Bang
Bridges to Babylon
Blues and Lonesome
Rolling Stones 2
It’s Only R’n’R
Exile on Main St.
Out of our Heads
Goat’s Head Soup
Between the Buttons
Let It Bleed
Some Girls
Aftermath
Beggar’s Banquet
Their Satanic Majesties Request
Sticky Fingers
Não vi polêmica alguma, os quatro melhores da banda são esses mesmo – só não sei se nessa ordem. Em qual posição entraria Hackney Diamonds?
Estranho que a maior discografia desta seção seja a com menos comentários.
Acredito que muita gente não consegue sequer questionar isso. Discografia muito longa e muita gente sequer ouviu alguns dos discos. Por isso que gera poucos comentários
É possível, Fernando. Imagina se fosse a discografia do Frank Zappa ou do Rick Wakeman!
Se não me engano, tinha mais comentários, mas alguns foram perdidos por causa de um problema no site, mas não tenho certeza. Eu hoje colocaria Hackney Diamonds logo depois de Aftermath e antes de A Bigger Bang. Valeu pelo comentário, Sábio!
Só vi hoje essa postagem!!!!! Como Stones é minha banda preferida, gostei DEMAIS do cuidado da postagem e parabenizo!! E acho que concordei com tudo, sobretudo na ordem da lista dos 10. A minha é igual. Eu fiquei um pouco surpreso com o “Bigger Bang” vir na frente do “Voodoo Lounge” (concordo demais com a boa apreciação de ambos, mas acho que colocaria o contrário. Ou, talvez, o “Voodoo” numa posição ainda melhor). E fiquei mais surpreso ainda de não ter citado “Thru and Thru”, pra mim uma das melhores do Keith, sem dúvidas. E no “Bigger Bang”, também surpreendi com não citar a “It wont take long”, que, no meu gosto, é a melhor música do disco e digna de qualquer antologia da banda.
Por fim, sobre o “Hackney Diamonds”, concordo em vir antes de A Bigger Bang. Mas, se tratando desses senhores, ainda acredito que podem lançar outro álbum pra fechar melhor sua discografia.
Legal, Bruno! Bom ver as preferências dos fãs! Alguns discos são bem difíceis de posicionar e acabam mudando depois de algum tempo, se eu fosse refazer essa lista talvez mudasse umas posições…
Sobre as músicas que você mencionou, confesso que não me lembrei de “It won’t take long”, de fato uma grande música que por alguma razão acabei me esquecendo de mencionar. Quanto a “Thru and Thru”, desculpe a nossa falja” Também adoro….