Dez Anos Sem Lou Reed (02/03/1942 – 27/10/2013)
Por Micael Machado
Há 10 anos, no dia 27 de outubro de 2013, falecia, aos 71 anos de idade, o cantor e letrista nova-iorquino Lou Reed. Mais conhecido por seu trabalho liderando o grupo Velvet Underground no final dos anos 1960, e também por uma errática carreira solo após sair da banda na década seguinte, Reed era considerado um dos mais talentosos e ásperos compositores de sua geração.
Tendo nascido Lewis Allan Reed a 02 de março de 1942, Lou iniciou-se na carreira musical como compositor para a Pickwick Records em 1964. Após gravar um single para a canção “The Ostrich” no mesmo ano, que obteve uma boa repercussão, formou o grupo The Primitives para promovê-lo. Isto o levou a conhecer o músico galês John Cale, a quem se uniria para formar o Velvet, grupo que não conseguiu muito reconhecimento à época, mas hoje em dia é considerado como um dos mais importantes e influentes da história do rock. Durante aproximadamente cinco anos, Reed lançou quatro álbuns com o grupo, sendo que os dois primeiros, The Velvet Underground and Nico, de 1967, e White Light/White Heat, de 1968, foram recentemente eleitos dentre os dez melhores lançamentos de seus respectivos anos nas eleições efetuadas aqui mesmo no site Consultoria do Rock.
Após deixar o Velvet, Lou iniciou uma carreira solo, a princípio apadrinhado por David Bowie e sua poderosa produtora Main Man. Mergulhando de cabeça na onda glam, Reed lançou Transformer em 1972, disco que continha aquela que seria sua composição mais conhecida, chamada “Walk On The Wild Side”. Em 1973, veio Berlin, álbum conceitual que trouxe enorme reconhecimento ao seu talento como compositor. A partir de então, seguiria uma carreira inconstante nas décadas seguintes, alternando álbuns reconhecidos a outros incompreendidos ou quase inaudíveis, como o duplo Metal Machine Music, de 1975, composto apenas de ruídos de feedback e registrado em forma de protesto contra sua gravadora à época.
Após uma reaproximação com Cale em 1990, lançou Songs For Drella, dedicado a Andy Warhol, padrinho musical e artístico do Velvet em seus primeiros anos, o que o levou a uma turnê ao lado de seu antigo grupo em 1993, em um retorno que acabou frustrado devido às diversas diferenças pessoais entre os integrantes do conjunto, com Reed retornando então à sua carreira solo.
Em 2011, atraiu a atenção da mídia mundial ao ter o Metallica como grupo de apoio no álbum conceitual Lulu, que recebeu pesadas críticas da imprensa especializada, que não compreendeu a ideia nem a forma “falada” que Lou utilizou para recitar suas letras no disco, algo que não era, de forma alguma, novidade para seus fãs. Não que o álbum fosse assim uma maravilha, ou que as críticas tenham sido completamente infundadas, mas o preconceito com o registro acabou não dando oportunidades a algumas boas composições, como “Iced Honey” ou “The View”.
Casado com a compositora e instrumentista Laurie Anderson (com quem se relacionava desde a década de 1990) desde 2008, Reed havia passado por um transplante de fígado em maio de 2013, e sido internado em julho com um severo quadro de desidratação. Dias depois, Laurie confirmou que Reed tinha câncer no fígado, e que “Nunca vi uma expressão tão maravilhada como a de Lou Reed quando ele morreu. Suas mãos estavam fazendo a formação 21 do tai chi, de água corrente. Seus olhos estavam totalmente abertos. Eu estava segurando nos meus braços a pessoa que mais amei no mundo, e falei com ele enquanto morria. Seu coração parou”. Partiu um músico extremamente talentoso, muitas vezes incompreendido, com um talento ímpar e enorme no mundo do rock. Mas, com certeza, morreu com ele uma parte da história do estilo, sem deixar um substituto à altura para tomar seu lugar.
Tenha uma boa caminhada no lado selvagem, Lou!
Doo, doo-doo, doo-doo, doo, doo-doo, doo…
A morte de Lou Reed me pegou de jeito, lembro-me de a ter sentido mais do que outros artistas dos quais até gostava mais, talvez por não esperá-la. Lou para mim estava no patamar de Keith Richards e Lemmy: se houvesse uma guerra nuclear, os três se encontrariam nos escombros e um diria para o outro “por que demorou tanto para chegar?”
Independentemente, Lou Reed ainda tinha potencial de fazer música nova e instigante, e embora tenha até vivido bastante para alguém que abusou tanto do organismo, ele nos deixou cedo demais. A maioria dos artistas da sua geração tinha atingido um patamar em que cada disco novo era medido contra os clássicos dos anos 70, mas eu o comparava com os excelentes “New York” e “Magic & Loss” – obras-primas tardias, de um artista maduro e entrando no que seria o quarto final de sua vida. Poucos conseguiram isso, e Dylan, com “Time Out of Mind” é o único que se compara.
Você esqueceu o Iggy Pop!!!
De fato!! Esse é outro que precisava ter o corpo doado à ciência após morrer para que se pudesse descobrir de onde vinha tanta resistência…
Lou Reed odiava “Beatles”. Não desconsiderando suas colocações. Mas boa parte da cultura marginal (underground), musica de vanguarda contemporânea sofreria mudanças significativas com esta banda!!!! (o V.U.!!). O “Disco da Banana”, pra mim é o melhor album de rock do mundo e o mais profético, tem uma musica que fala de ocultismo. Pra mim das melhores que escutei até hoje!!!! – marcio ‘osbourne’ silva de almeida – jlle – sc
Valeu pelo comentário, Márcio! Esse primeiro do Velvet é um disco que eu acho sensacional, também! Tivesse saído em 1966, quando gravado, teria mudado muita coisa no campo da música da ´época… mas, como acabou saindo apenas em 1967, junto a tantos outros lançamentos maravilhosos daquele ano, acabou sendo apenas “mais um” no meio de tanta coisa boa… E se a banda tivesse divulgado mais o Loaded ao invés de se separar, penso que teria atingido um público bem maior do que o que tinha na época, e ter construído um legado ainda maior!
Sinceramente, não acredito. Se hoje, décadas após o lançamento e com status indiscutível de clássico seminal, ainda há quem questione o poder e influência do Velvet Underground (sim, pessoas idiotas, mas existem), imagine na época?
Acho que não dá mesmo pra se ter tudo, infelizmente. O VU causou uma revolução nada silenciosa na música, e claro que isso repeliu muita gente – afinal, a arte do Velvet não era sobre virtuosismo e muitas vezes sobre o lado desgraçado de nossas vidas. Só nos resta agradecer! Obrigado, Lou, Nico, John, Maureen, Sterling, por inspirarem tanta gente! Obrigado por mostrarem que existia algo além de solos de guitarra em pentatônica e canções polidas! Obrigado! E uma banana aos que questionam!