Shows Inesquecíveis: 10 Anos de Titãs em Porto Alegre

Shows Inesquecíveis: 10 Anos de Titãs em Porto Alegre
Por Micael Machado
Dez anos atrás, os Titãs apresentavam o show “Titãs Inédito” na cidade de Porto Alegre, em show realizado no Auditório Araújo Vianna. A proposta do espetáculo era apresentar dez composições ainda não registradas então pelo grupo, e que viriam a fazer parte de um novo disco de estúdio, prometido para 2014 (o qual acabou sendo o aclamado Nheengatu), em uma espécie de “teste” das mesmas junto ao público dos paulistas antes de seu lançamento. O espetáculo ocorria numa época onde a banda, formada então por Paulo Miklos (voz e guitarra), Branco Mello (voz e baixo), Sérgio Britto (voz, teclados e baixo), Tony Bellotto (guitarra) e Mário Fabre (bateria), vinha de uma turnê comemorativa aos trinta anos do grupo (e da qual você pode ler uma resenha aqui), com a apresentação da qual tratamos aqui tendo acontecido no dia 1 de novembro de 2013.
Com os tradicionais vinte minutos de atraso tão comuns no Brasil, o quinteto entrou no palco com “Eu Me Sinto Bem”, que soou como um ska acelerado com guitarras um pouco mais pesadas que o normal em se tratando do grupo. Logo ao término desta, já se pode ouvir pedidos de “Polícia” e “Marvin”, obrigando Sérgio a ir ao microfone e anunciar que, “como vocês sabem”, a primeira parte seria composta de dez canções inéditas, mas “depois a gente toca tudo o que vocês pedirem”. O show continuou com “Fala, Renata”, que já havia sido apresentada na capital gaúcha em 2012, e seguiu desfilando as novas “crias” do grupo, sendo a cada final educadamente aplaudidas pelo público (que não chegou a lotar o local, embora tenha comparecido em bom número), o qual, porém, parecia desconfortável por não estar conferindo os “sucessos”, sendo que conversas e outros burburinhos podiam ser entreouvidos durante as execuções das músicas.
Quanto a estas, posso dizer que, apesar de novas para quem assistia ao show, já me passavam a impressão de serem canções típicas dos Titãs. Como ficou comprovado quando lançadas em suas versões “oficiais”, eram, compreensivelmente, inferiores à produção oitentista do grupo, mas estavam em um patamar acima daquele alcançado com os dois últimos discos de estúdio até então (Como Estão Vocês, de 2003, e Sacos Plásticos, de 2009). Embora à época eu tenha gostado muito de “Mensageiro da Desgraça” (com letra “de protesto” cantada por Miklos, ainda hoje uma das minhas favoritas no track list de Nheengatu) e de “Terra À Vista”, outro ska agitado, cantada por Branco, da qual a versão de estúdio, oficialmente chamada “Chegada ao Brasil (Terra à Vista)”, já não me agradou tanto, parecia já ali complicado afirmar que alguma delas poderia se tornar um clássico da banda, como o futuro acabou provando, visto que, hoje, o álbum é mais lembrado por músicas como “Fardado”, “a cover para “Canalha”, ou a “polêmica” “Pedofilia”, composições que sequer chegaram a ser apresentadas naquela noite. Um fato que achei curioso à época foi que, quando Paulo anunciou “Flores Para Ela”, a galera (perceptivelmente, estando em sua maioria em uma faixa de idade acima dos trinta e cinco anos, mostrando que o quinteto já tinha desde então certas dificuldades para renovar o seu público, algo que, a meu ver, só se acentuou nos anos vindouros) deve ter pensado que viria “Flores”, e vibrou intensamente, se calando logo em seguida ao perceber seu equívoco, em um certo retrato do que foram os primeiros trinta minutos da apresentação….
Os Titãs no palco do Araújo Vianna
“Lugar Nenhum” iniciou a segunda parte da apresentação, sendo seguida por “Aluga-se”, de Raul Seixas, onde o show começou “de verdade” para boa parte do pessoal, que levantou das cadeiras e cantou e agitou junto com o grupo. “AA UU” deu início então a uma sequência de hits que seguiria até “Comida”, agradando em cheio aquela parcela do público que queria apenas ouvir suas músicas favoritas e “chacoalhar o esqueleto”, como parecia ser o caso de uma tiazona à minha frente que, ao lado do marido barrigudo, balançava as pelancas e jogava as mãos para cima no maior clima “deixei as crianças em casa com a babá e vim aqui curtir um rock, baby!”. “Desordem”, segundo Britto “de 1989, mas que, por incrível que pareça, parece que foi escrita para os dias de hoje” (e que, dez anos depois, ainda soa atual), foi o momento em que a tiazona e boa parte do pessoal aproveitou para tirar fotos, conferir o facebook ou transitar entre as fileiras de assentos para ir ao bar buscar uma bebida. “Vossa Excelência” foi dedicada aos políticos corruptos e “àqueles que não vestem a carapuça, mas na qual ela serve perfeitamente bem”, precedida por um discurso sarcástico de Miklos onde ele parecia imitar a então Presidente Dilma Rouseff, e “Cabeça Dinossauro”, outra canção que não teve a repercussão merecida por parte do pessoal, parecia antever que a banda enveredaria de vez pelos lados B de sua discografia, algo que já havia sido insinuado antes por Sérgio.
Mas aí, infelizmente, o mesmo Britto iniciou os acordes de “Epitáfio”, que, compreensivelmente, teve ovação geral por parte da imensa maioria do público, tão “bunda mole” quanto esta canção cheia de sacarose. Foi o “momento romântico” da noite, sendo cantada em uníssono, com direito a mãozinhas “para lá e para cá” e tudo mais. “A Melhor Banda…” não conseguiu baixar a adrenalina do pessoal, que, em “Marvin”, já estava amontoado à beira da grade de proteção do palco, jogando para o espaço os limites estabelecidos pelo auditório entre as diferentes seções de plateia. Recuperando um pouco a raiva da turnê anterior, a apresentação caminhou para o final com três músicas de Cabeça Dinossauro, as quais, hits que são, deixaram todos contentes, até a tiazona aquela do início do relato.
Após o tradicional “vai e volta” do palco, o grupo retornou com “Família” (surpreendentemente cantada por Britto), invertendo a ordem prevista para o bis. Branco assumiu a voz em “O Pulso”, e Miklos encerrou tudo com “É Preciso Saber Viver” (outra canção feita sob encomenda para o tipo de público presente na noite, que, é claro, a recebeu com entusiasmo), música do rei Roberto Carlos, que o cantor chamou de “um dos nossos maiores ídolos”, dizendo que estes não precisam se preocupar com “biografias não-autorizadas, pois elas não irão manchar aquilo que nosso coração sente por eles”, em referência à uma polêmica que tomou conta das manchetes na semana que antecedeu ao espetáculo. Curioso é que o set list oficial contava com outras três músicas (sendo duas mais “desconhecidas” e “agressivas”), as quais a banda preferiu não tocar, por certo entendendo que o público “família” e “bunda mole” do local não se interessaria por elas. Talvez este não tenha sentido sua ausência, mas eu senti!
Flyer e Set List do show, do qual três músicas foram ignoradas
Ao final, ficou a sensação de ter presenciado uma banda lutando bravamente para continuar relevante, mas obrigada a viver das glórias de um passado remoto (à exceção das inéditas, as quais ainda acho bastante interessante ter ouvido em primeira mão meses antes de seu lançamento oficial, algo que permanece marcante na minha relação de fã devoto dos Titãs, apenas cinco músicas foram gravadas depois de 1989) para agradar um público que parece ter parado de escutar os discos novos do grupo ainda no século passado. Como as digressões posteriores à de divulgação de Nheengatu comprovariam (incluindo a mais recente e ainda inacabada turnê de reunião), este público, apesar dos merecidos elogios dados ao disco onde as músicas apresentadas nesta noite seriam registradas oficialmente e lançado meses depois deste show, ainda não se animou a ir atrás da discografia da banda fora da sua década de ouro nos anos 1980, ou da trilogia Acústico MTV, Volume 2 e As Dez Mais. Como já afirmei tantas vezes neste site, algo lamentável em se tratando de uma banda tão importante e relevante quanto os Titãs já foram um dia, e que tenho sérias dúvidas se voltará a ser algum dia. Uma pena!
“Quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?”
Set List:
1. Eu Me Sinto Bem
2. Fala, Renata
3. Terra À Vista
4. Senhor
5. Baião de Dois
6. Mensageiro da Desgraça
7. Quem São os Animais?
8. Não Pode
9. Flores Para Ela
10. República dos Bananas
11. Lugar Nenhum
12. Aluga-se
13. AA UU
14. Diversão
15. Flores
16. Soníera Ilha
17. Comida
18. Desordem
19. Vossa Excelência
20. Cabeça Dinossauro
21. Epitáfio
22. A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana
23. Marvin
24. Homem Primata
25. Polícia
26. Bichos Escrotos
Bis
27. Família
28. O Pulso
29. É Preciso Saber Viver

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