Melhores de 2023: Por Mairon Machado

Melhores de 2023: Por Mairon Machado

2023 foi um ano de retornarmos ao “normal”, após tantas perdas da pandemia. E também foi um ano que musicalmente marcou o retorno de vários medalhões, alguns um tanto quanto inesperados, vide Shákti, PIL e Depeche Mode. Ouvi diversos lançamentos de 2023, e minha lista final traz diversos dinossauros, sendo talvez a lista com mais artistas renomados. Mas claro, sempre tem uma que outra novidade por aqui.


Uriah Heep – Chaos & Colour

O Uriah Heep é uma das poucas bandas dos anos 60 que, ainda na ativa, estão lançando discos regularmente. E o melhor de tudo, discos MUITO bons. Chaos & Colour mantém o alto nível que vem desde Into the Wild (2011), passando por Outsider (2014) e Living the Dream (2018). “Save Me Tonight” é uma ótima faixa de abertura, assim como o álbum inteiro mantém tudo o que queremos de Uriah Heep, ou seja, solos de wah wah, Hammond a 1000 e belas composições e harmonias vocais. Curti muito “Hurricane” e “Fly Like An Eagle”, mas é inegável que os grandes destaques vão para as longas “You Never Be Alone” e “Freedom To Be Free”. Difícil dizer qual das duas é minha favorita, mas é fácil dizer que a resenha do Marcello para este álbum é simplesmente perfeita! Lançado em 27 de janeiro.


Depeche Mode – Memento Mori

O Depeche Mode achei que não iria mais existir após a morte de Andy Fletcher, mas Dave Gahan e Martin Gore manteram o barco na ativa, e entregaram para os fãs um lindo disco. Faixas sombrias (“My Cosmos Is Mine”, “Don’t Say You Love Me” e “Never Let Me Go”) me fazem pensar que Memento Mori poderia ter sido uma deliciosa sequência para Violator, caso lançado no início dos anos 90. Melhores faixas para mim são “Caroline’s Monkey” e “My Favourite Stranger”, desse álbum que é para mim a obra-prima do DM neste século. Lançado em 24 de março.


PIL – End of World

Após 8 anos de What the World Needs Now …, John Lydon voltou contudo nesse End Of World. É outro álbum que poderia muito bem ser uma sequência de um clássico da banda (no caso, End of World cairia muito bem após o lançamento de The Flowers Of Romance), vide as excelentes experimentações musicais que o grupo traz ao ouvinte, como na ótima sequência “Car Chase”, “Being Stupid Again” e “Walls”. Fiquei impressionado com o peso de “Penge”, e principalmente, quando os uivos de “North West Passage” começaram a rodar, a casa caiu. Discaço, e fica a pergunta, só eu senti que Lydon fez uma despedida em “Hawaii”? Tomara que eu esteja enganado. Lançado em 11 de agosto.


Hawkwind – The Future Never Waits

Aaaaah o Hawkwind. Ame-o ou odeie-o. Quem não conhece a banda, os clássicos discos do início dos anos 70, jamais irá gostar deste disco, o qual talvez foi o que mais ouvi. Longos improvisos, adrenalina correndo solta, é o Hawkwind com tudo o que eu gosto de ouvir. Comentei mais sobre ele aqui, e só não entrou no meu Top 3 por que os carinhas acima realmente detonaram. Lançado em 28 de abril.


Greta Van Fleet – Starcatcher

A trupe dos irmãos Kiszka segue cada vez mais seu afastamento das origens Zeppelianas que os atingiram quando na sua formação, e felizmente para os fãs (e infelizmente para os detratores), estão conseguindo manter-se com um som sensacional e muito original. Faixas curtas e certeiras estão em Starcatcher, que pouco lembram os dois full-lenghts antecessores, mas que ainda sim é de uma qualidade fantástica, e de uma evolução que para mim sempre soou natural. Ouçam “Fate of the Faithful”, “The Falling Sky” e “Meeting the Master” e comprovem por que o Greta Van Fleet é atualmente a melhor banda de rock deste século. Lançado em 21 de julho.


Rolling Stones – Hackney Diamonds

Eu jurava que os Stones nunca mais iriam lançar algum disco após a morte de Charlie Watts. Mas não! O bisavô (!!) Jagger, acompanhado dos igualmente veteranos Richards e Wood, trouxeram Steve Jordan para o banquinho, e Bingo! Mais um álbum certeiro, roqueiro e puramente Stones. Canções sensacionais, misturando blues e rock como só eles sabem fazer, diversos convidados (Elton John, Paul McCartney, Lady Gaga, Stevie Wonder, …) mas com certeza, os maiores destaques vão para as despedidas de Watts na bateria, “Mess It Up” e “Live By The Sword”. Belíssimo disco, e mais uma bela resenha de Marcello. Lançado em 20 de outubro.


Ricardo Dias Gomes – Muito Sol

Ricardo surgiu para mim através da extinta banda Cê. Vendo os DVDs da banda gravados no Multishow, sempre o achei o mais introspectivo dos três (a saber Pedro Sá nas guitarras, Marcelo Callado na bateria e Ricardo no baixo e teclados) e capaz de seguir a proposta sonora que o grupo entregou principalmente no excelente (2007). Eis que em carreira solo vem Muito Sol, disco que é um choque. se Ricardo não é um exímio vocalista, por outro lado ele cria camadas sonoras envolventes e viajantes, em uma mistura de jazz com samba que me faz entender por que Caetano ficou tanto tempo tocando com os caras. Disco absurdamente surpreendente, e recomendo ouvir “Muito Sol”, “Morrerei por isso”, “Fllux”, “Invernão Astral” e a excepcional “Com 6 Anos”. Lançado em 8 de junho.


Rodrigo Y Gabriela – In Between Thoughts… A New World

Conheci essa dupla num dos Melhores de Todos os Tempos que rolou por aqui, e fiquei impressionado com a virtualidade do (ex)-casal. O grupo voltou a lançar mais um álbum em 2023, e como é legar ver que a batida de Gabriela continua inquestionavelmente irreproduzível, enquanto os solos de de Rodrigo estão como sempre afiados. Porém, o que me chamou a atenção aqui é que há a presença de guitarras (“Egoland” tem até wah-wah), além de uma sensacional presença da Bulgarian Symphony Orchestra em faixas como a bela “True Nature”, a embalada “Seeking Unreality” (também com guitarras) e na épica “Descending To Nowhere”. Destaque maior para a pesada “Broken Rage”, combinação excelente de violões, orquestra e guitarra! Único pecado é ser um disco muito curtinho (32 minutos apenas). Lançado em 21 de abril.


Moon Coven – Sun King

Estes suecos têm tudo para ser uma das grandes bandas dessa década, graças aos riffzões de baixo e guitarra, com uma distorção fodida, e uma bateria mais que pesada que emanam em faixas como “Wicked Words In Gold They Wrote”, “Behold the Serpent”, “The Lost Color” e “The Yawning Wild”. O melhor fica para “Guilded Apple”, uma amostra grátis do que o Black Sabbath foi para quem só quer ouvir novidades no streaming. Outro disco que ouvi bastante, e que comentei mais aqui. Lançado em 25 de agosto.


Yes – Mirror to the Sky

Ok, ok, ok, o Yes já não é mais o mesmo há muito tempo. Ok, ok, ok, Steve Howe está mantendo o nome da banda sem necessidade nenhuma, já que não há nenhum membro original no grupo. Ok, ok, ok, Geoff Downess está longe de ser um dos três melhores tecladistas do Yes, e Bill Bruford faz muita falta (assim como Alan White) na bateria, e Billy Sherwood JAMAIS será um Chris Squire. Mas puta merda, ouvir a faixa-título e “Unknown Place” foi de um prazer inenarrável que somente as lágrimas de saudades dos bons tempos da banda puderam acalmar. Lançado em 19 de maio.


ADENDO: VERGONHAS DO ANO

REGRAVAÇÕES DE CLÁSSICOS POR U2 E ROGER WATERS.

Não preciso dizer mais nada … Bom 2024 à todos

17 comentários sobre “Melhores de 2023: Por Mairon Machado

  1. Confesso que não esperava o Uriah Heep no topo da sua lista!! Não sabia que o PIL andava por aí, preciso dar uma conferida. Esse álbum do Depeche Mode, se eu tivesse conseguido ouvir mais vezes, possivelmente teria entrado nos meus dez primeiros, em vez de somente ganhar menção. Não conheço o Ricardo Dias Gomes (como também não me lembro da banda Cê) nem o duo (“dupla” é para sertanejo, hehehe) Ricardo Y Gabriela, mas vou ver se consigo ouvir. Obrigado pela menção à resenha do Uriah Heep!!

    1. Fala Marcello, valeu pelo comentário. O PIL voltou e inclusive está fazendo alguns shows. Estou torcendo que venha para o Brasil, afinal, pelo que senti é o fim da carreira do Lydon.
      A Banda Cê foi um projeto que o Caetano Veloso montou na segunda metade da década 00, lançando três discos de estúdio (Cê, Zii e Zie e Abraçaço) e 3 ao vivos das turnês desses mesmos discos. O Cê para quem curte Los Hermanos e O Terno é indicadíssimo. Os outros dois já são mais versáteis. É uma banda que estou pensando em fazer Discografia Comentada, até por que são poucos discos.
      Rodrigo Y Gabriela é algo a ser descoberto. Tente ouvir principalmente os primeiros álbuns, é um absurdo.
      Por fim, não citar suas resenhas seria como ir num rodízio de sushis e não comer temaki

      Abraço

      Pergunta: Qual você achou que ficaria em primeiro?

      1. Pensei que a lista estava ordenada… Achei que fosse o Uriah Heep! Agora relendo com isso em mente arriscaria o Greta Van Fleet.
        Agora, quando eu coloquei na minha lista a decepção do ano como sendo o disco do Steven Wilson, confesso que não me lembrei do chute para fora do estádio do Roger Waters… Seria difícil classificar como decepção porque não esperava muito, mas que merecia o puxão de orelha, isso merecia. Sobre o U2, o tempo passou e mais uma vez não consegui ouvir os quatro discos duma vez só!!

        1. Eu ouvi os 4 na sequencia, e digo com convicção: tempo perdido. O Uriah lançou o disco muito cedo, acho que isso ajudou a ouvir bastante ao longo do ano

  2. greta van fleet evoluiu muito. as comparações zeppelianas o incomodava muito. Muitos o viam como uma banda sem personalidade. no começo da carreira é bom esse tipo de Comparação, até que faz bem. mas o tempo foi passando e essas comparações foi ficando abusiva. eles teve que arregacar a manga e mostrar a sua personalidade ,a verdadeira cara pra fugir dessas comparações. as garras. esse album é libertador para a banda pois é a autoarfirmação da bsnda ( tipo eu sou eu e zeppelim é zeppelim) e no futuro será lembrado como GRETA VAN FLEET e não como uma banda zeppeliana .
    entrou na minha lista de top 10 pelo excelente trabalho .

    1. Assino embaixo gugu. Penso q a partir de agora irão cada vez menos ter essas comparações com o Zeppelin. Meu receio é q justamente por conta disso parem de dar espaço pra eles, já q achei q starcatcher foi pouco comentado.

      Valeu

  3. Ótima lista! Achei que só eu ouvia essa galera nacional recente, também gostei muito do disco do Ricardo Dias Gomes. Tem um pernambucano chamado Martins que lançou em 2023 o “Interessante e Obsceno” e que, na minha humilde opinião, é absurdamente bom, uma das melhores coisas que ouvi nos últimos 10, 12 anos em termos de MPB – é impossível ouvir e não cantarolar junto… A todo mundo que apresento, causa boa surpresa.
    Quanto ao Uriah Heep, também gostei do álbum, mas não o colocaria em uma lista de melhores de 2023; já o ouvi na íntegra umas 3, 4 vezes e não me pegou. está na lista dos bons apenas.
    Quanto ao Yes, tô contigo, achei que também era um dos únicos empolgados com o disco deles.
    Greta Van Fleet, Moon Coven e Rolling Stones estão na minha lista de 10 preferidos, nem vou chover no molhado.
    PIL e Hawkwind estão em uma prateleira na qual também coloco bandas como Van der Graaf Generator, Thin Lizzy, King Crimson e algumas outras que chamo de “ame ou deixe”, sem meio termo, e sou da turma do “deixe”… Sei que são boas, mas jamais estão na minha opção quando penso “Agora, vou sentar e colocar um som para ouvir”, jamais. Vou ouvir os álbuns somente porque os listou, mas não creio mais em milagres.
    Muito obrigado pela lista e por tê-la compartilhado conosco.

    1. Valeu Marcelo. Legal saber que alguém mais curtiu o Ricardo Dias Gomes. Qual sua opinião sobre o projeto Cê?

      Vou atrás desse Martins ai. Fiquei curioso

      Abração e obrigado pelo cometário

      1. Mairon, já na época eu tinha gostado e, com o passar dos anos, essa sonoridade desses discos só melhora para mim – ontem, estava com minha esposa revendo o “Multishow Cê Ao Vivo” de 2007, já viu? Altamente recomendado. A costura que ele faz com sua própria obra e o que acabara de lançar é linda.

        Poxa, torço para que curta o Martins e seria uma honra saber da sua opinião sobre ele.

        1. Curto muito Marcello. Acho o melhor da trilogia ao vivo não só pelo resgate de “Nine out of Ten” e “You don’t Know Me”, mas pela mescla que você cita. Zii e Zie tem a excelente versão de Maria Bethânia, e apesar da excepcional sequência de “O Comunista” , “Triste Bahia”, “Estou Triste” e “Odeio” do Abraçaço, acho que Cê Ao Vivo é uma obra mais completa.

  4. Um adendo, ao ler sobre os comentários de vocês sobre Greta Van Fleet X O Led Zeppelin: não é a ironia da vida?! Reza a lenda que, se dependesse do Keith Moon, o Led Zeppelin não teria nem dado certo… No entanto, os caras tornaram-se uma das bandas mais bem-sucedidas da história da humanidade e contribuíram com outras 3 ou 4 a criar o mundo sonoro daí em diante tal qual o conhecemos. E a troco de quê? A troco de plágio, cópia, roubo intelectual, apropriação cultural, chame do que quiser algumas das ações mais negativas em toda a história da música do século XX. E o que temos hoje? Toda a coleção do Led em casa e os adoramos ao ponto de serem… Referência cabal a tantas e tantas bandas posteriores… Vida longa, portanto, ao Greta van Fleet / Led Zeppelin, Crown Lands / Rush, Siena Root / Deep Purple e Rival Sons, Blood Ceremony, Mondo Drag… A lista de referências das referências é longa! Abraços a todos.
    PS: enquanto escrevo, está rolando no toca-discos “End of the road”, do Crown Lands – é Led? Rush? Yes? Genesis? É nada, é Crown Lands mesmo, bom pra caramba!

  5. Rapaz, eu que adoro Rodrigo y Gabriela e esse disco novo deles me passou batido? E com guitarras ainda?

    Aliás, não disse até agora, mas fui atrás de todos os discos de todas as listas aqui citadas, incluindo as menções honrosas. Exceto daqueles gêneros que não gosto, peguei quase todos.

    Bela lista Mairon!

    PS: Yes também me passou batido!

    1. Então André, fiquei curioso de o disco não ter entrado na sua lista, até pq foi vc quem me apresentou o duo (aprendi Marcello, hehehe). Vá atrás, vc vai curtir

      1. É isso aí! Reserva o termo “dupla” para os sertanejos, que gostam tanto do formato!
        Sobre o Yes, eu fiquei em dúvida se cabiana minha lista, mas ouvi várias vezes depois daquele artigo com o Jethro Tull e continuou sendo um 11° ou 12° lugar… Se for o último, será uma despedida digna.

        1. O do Tull nem cogitei. O do Yes quase ficou de fora para entrar o do Shákti, mas quando ouvi de novo a faixa-título, daí decidi por ele. O novo do Shákti não se compara a trilogia clássica mas é bem interessante. Outro que quase entrou foi o 72 Seasons. Eu gostei do disco do Metallica, mas alguma coisa me fez tirar ele na última hora, e honestamente, não sei dizer o que foi. É um bom disco, é, mas acho que to numa outra vibe em relação ao que quero ouvir e curtir de verdade

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