Datas Especiais: 30 anos de Killers e Maiden Japan (Iron Maiden)

Datas Especiais: 30 anos de Killers e Maiden Japan (Iron Maiden)

Encerrando nossa série de resgate de primeiras matérias, após um mês dessas lembranças, é a vez de trazer a primeira matéria publicada Por Pablo Ribeiro (Publicada originalmente em 18 de junho de 2011)

Trinta anos atrás a Donzela de Ferro lançava o segundo (e último) full-lenght com seu primeiro vocalista oficial: Paul Di’Anno. Gravado entre novembro de 1980 e janeiro de 1981, Killers foi lançado no dia 2 de fevereiro de 1981 no Reino Unido, com 10 faixas. O mercado norte-americano só viu o lançamento doméstico do disco quatro meses depois, em 6 de junho de 1981, incluindo uma canção extra: “Twilight Zone”.

Curiosamente, todas as músicas, com exceção de “Murders in the Rue Morgue” e “Prodigal Son”, foram escritas ainda na época do primeiro álbum da banda, o também seminal Iron Maiden, embora tenham sido profissionalmente registradas somente nas sessões para Killers – com exceção de “Wrathchild”, que, em uma versão um pouco diferente, havia sido gravada para a coletânea Metal For Muthas, lançada em 1980.

Women in Uniform

Ainda antes do disco, em outubro de 1980, a Donzela soltou o single para “Women in Uniform”, cover da banda glam australiana Skyhooks, originalmente editda dois anos antes. No lado B, uma inédita de Harris, “Invasion”, e uma versão ao vivo de “Phantom of the Opera” gravada ao vivo no Marquee Club de Londres, no mesmo ano. Detalhe para a capa da bolachinha: O monstrengo/mascote Eddie agarrado em duas moças de olhar apaixonado, enquanto a “dama de ferro” Margareth Thatcher (primeira-ministra britânica na época) espreita em uma viela logo à frente, munida de uma metranca de respeito, devidamente fardada com uma improvável vestimenta militar – com direito à quepe, inclusive. Nenhuma das faixas do single foi incluída originalmente em Killers, mas foram acrescentadas a um CD bônus das edições especiais duplas do Iron Maiden, lançadas em 1995.

Quatro meses depois da prévia com o single supracitado, e com o novo guitarrista Adrian Smith no lugar de Dennis Stratton,  chegou às lojas britânicas o petardo completo: Killers. Na capa, um Eddie com um semblante muito mais cínico que no primeiro disco segura uma machadinha ensanguentada tendo como pano de fundo uma Londres decadente. Uma vítima ainda agonizante (Thatcher?) usa de suas últimas forças para puxar a camiseta do mascote. A edição original em LP do álbum, e reedições do mesmo formato, traziam na contracapa uma foto de toda a banda ao vivo, e miniaturas individuais de cada um dos responsáveis pelo disco e suas respectivas funções. A saber: Paul Di’Anno nos vocais, o “chefão” Steve Harris no baixo, Dave Murray e o novato Adrian Smith nas guitarras, e Clive Burr na bateria. Já as edições em CD contavam apenas com um fundo azul escuro, com o nome das faixas e sua respectiva duração em branco. A imagem da contracapa do LP original, no entanto, passou a ser parte interna do encarte. Em 1998, juntamente com a maior parte do catálogo da donzela, Killers foi novamente relançado, com as 11 faixas da versão original norte-americana, sem CD bônus, e com sua contracapa contando com um fundo predominantemente vermelho, com uma foto da banda e as informações impressas em preto. Essa edição conta ainda com vídeos multimídia para “Wrathchild” e “Killers”. Essa é a edição que ainda se encontra em catálogo no mercado.

Killers

 

O track list de Killers é praticamente uma aula fundamental de NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), com uma dose de atitude punk que diferenciava o Maiden daquela época das demais bandas do estilo. “The Ides of March” é a primeira faixa: uma introdução instrumental curta, mas muito eficiente. A influência de Thin Lizzy nas guitarras gêmeas é evidente. Além de dar uma ideia do que vem pela frente, está emendada naquela que é, para muitos (incluindo eu), a melhor musica da era Di’Anno no Maiden: “Wrathchild”. Uma palavra para definir a música? CLÁSSICO (assim, em letras maiúsculas mesmo)! “Wrathchild” se tornou presença garantida na maioria das turnês da banda desde então, recebendo, inclusive, uma versão com os vocais de Bruce Dickinson. Essa variante na verdade não tem nada de muito revolucionária, pelo contrário, uma vez que o instrumental da versão de 1981 está intacto. Apenas a voz de Di’anno foi limada, dando lugar aos vocais de Dickinson. Essa pseudo-regravação foi lançada em um single promocional, em 1999, e na coletânea/game Ed Hunter, do mesmo ano. A versão original é um verdadeiro hino, não só do hard/heavy, mas da música pesada em geral. Curiosamente, apesar de ser uma música fortíssima, “Wrathchild” foi lançada em single apenas como lado B de “Twilight Zone”… Vai entender.
O disco segue com “Murders in the Rue Morgue”, com sua letra baseada na obra de Edgar Allan Poe. Outra pedrada do Maiden, rápida, pesada e com uma dose de referências a filmes de terror, presentes nos primórdios da banda, que foram perdendo força a cada lançamento. Há uma versão ao vivo dessa música gravada em 12 de outubro de 1984 no Hammersmith Odeon de Londres. Essa faixa pode ser encontrada no labo B do single ao vivo para “Sanctuary”, editado em 1985. Novamente, a versão original presente em Killers é superior. “Another Life” é a próxima do track list. Outra pedrada que não deixa a peteca cair. Logo depois temos mais uma instrumental, “Genghis Khan”, seguida de outra baita música: “Innocent Exile”. Apesar de não constituir um hit, nem ser um dos standards que mereceram ser tocados ao vivo em grande parte das turnês, é outra tremenda música, figurando muitas vezes entre as prediletas dos iniciados em Iron Maiden.
Edição dupla remasterizada de Killers

 

Mais um clássico vem em seguida. A música que dá nome ao disco começa com uma introdução de baixo que (também) já ficou na história… É daquelas canções das quais bastam alguns segundos de audição para se perceber que se trata de um torpedo sonoro digno dos melhores momentos da Donzela. Vira e mexe retorna ao set list das apresentações dos caras. Em seguida – na versão original inglesa – temos a balada (sim, balada!) do disco. “Prodigal Son” é outra puta música. Se nao traz o peso e agressividade das canções até aqui, sua letra encontra paridade com as mesmas. Di’Anno assume a persona de um homem atormentado, arrependido por ter se envolvido com algo que não podia controlar… Resta a ele apenas as súplicas de ajuda à Lâmia (espécie de mulher-demônio devoradora de crianças, mito na Grécia antiga). A junção música/letra aqui é de arrepiar (milhões de anos luz de uma “Wasting Love”, por exemplo). A penúltima canção do disco é “Purgatory”, mais um clássico instantâneo, com uma pegada claramente punk, licks de guitarra ágeis e eficientes, e refrão melódico. Di’Anno dá um show nessa. Fechando o disco temos “Drifter”, onde baixo e guitarras dialogam de maneira ímpar.
Contracapa original de Killers
Killers é um disco indispensável do início ao fim, e um retrato perfeito de uma época na qual o Iron Maiden detinha uma urgência e uma agressividade ímpares. Detalhes que acabaram ou se perdendo no tempo, ou sendo substituídos por outras nuances musicais e líricas no decorrer da história da Donzela.
Track list:
1. The Ides of March
2. Wrathchild
3. Murders in the Rue Morgue
4. Another Life
5. Genghis Khan
6. Innocent Exile
7. Killers
8. Twilight Zone [presente na edição original norte-americana e em subsequentes edições remasterizadas para todo o mundo]
9. Prodigal Son
10. Purgatory
11. Drifter
Maiden Japan

 

Ainda em 1981, mais precisamente em agosto (apenas dois meses após o lançamento doméstico de Killers na América do Norte), a Donzela de Ferro jogou mais um torpedo sonoro no mundo do rock ‘n’ roll: O EP ao vivo Maiden Japan. Com um título inspirado no clássico ao vivo Made in Japan, do Deep Purple, gravado e lançado em 1972, o EP foi editado em duas versões diferentes: Uma standard, para o mercado japonês, com quatro faixas, em LP de 45 rotações, e uma outra, com cinco faixas, lançada originalmente na América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Brasil. As músicas foram gravadas em 23 de maio de 1981, no Kosei Nenkin Hall, em Nagoya, Japão. A príncípio, a banda resistiu ao lançamento, mas a pressão do mercado japonês era muito grande, e a gravadora EMI acabou lançando o EP. Maiden Japan é uma poderosa demonstração dos shows do grupo à época. Tanto a qualidade do registro quanto a performance dos músicos é soberba.
Edição venezuelana de Maiden Japan

Quanto à arte gráfica, a capa trazia uma ilustração do mascote Eddie empunhando uma Katana (sabre típico japonês), em uma ameaçadora posição de ataque, contra um fundo avermelhado, iluminado por spots do show da banda. Curiosamente, na Venezuela o disco trazia uma capa diferente, com o monstrengo Eddie segurando uma cabeça decepada. Na contracapa, uma foto grande do quinteto juntamente com Eddie, e logo abaixo mais quatro fotos da banda ao vivo, e uma dedicatória aos fãs, onde a banda agradece à todos os “headbangers”, “earthdogs” e “metal merchants” de todo o mundo por fazer da primeira turnê mundial dos caras um sucesso. Com canções como essas, não poderia ser diferente!

Originalmente lançado apenas em EP de 12″, Maiden Japan nunca foi editado em CD como um lançamento independente, mas quando da reedição de Killers de 1995, Maiden Japan foi incluído em um CD bônus, juntamente com “Woman in Uniform”, “Invasion” e a versão ao vivo de “Phantom of the Opera”. Mas atenção: Somente a reedição lançada pela gravadora Castle conta com as faixas do EP; a edição lançada pela EMI contém apenas os lados B de Killers, com Maiden Japan sendo inexplicavelmente limado.
Para os apreciadores de bootlegs, vale a pena uma garimpada nas duas edições de Maiden Japan (volumes 1 e 2) da gravadora Tarantura. Enquanto o segundo volume traz o show do EP oficial na íntegra (29 faixas), o primeiro volume traz o show do dia anterior (sim, foram duas datas em Nagoya!), com 27 faixas. Esses shows capturam com fidelidade a energia e e a garra do Iron Maiden ao vivo, em seus primeiros anos.

Maiden Japan, apesar de curto, assim como Killers é obrigatório!Track list:

1. Running Free
2. Remember Tomorrow
3. Wrathchild [somente nas edições para a América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Brasil]
4. Killers
5. Innocent Exile
Contracapa de Maiden Japan

2 comentários sobre “Datas Especiais: 30 anos de Killers e Maiden Japan (Iron Maiden)

  1. Matéria incrível, com detalhes para os fãs de primeira linha, mais uma vez obrigado pelas repostagens! Quando era adolescente, meu batismo deu-se com o primeira LP dos caras, que meu tio tinha comprado e que o pessoal da loja vendia em um saco preto, por conta da agressividade da imagem! Eram outros tempos, e o Iron Maiden soube representar bem essa época – se hoje não os escuto muito (raramente, na verdade) e sequer conheço a discografia deles inteira, o fato que é as lembranças daquele moleque que os ouvia dia sim, dia também, permanece intacta! Os 4 primeiros discos deles eram trilha sonora da gente, só andava na nossa turma que os conhecesse, os que não tinham grana para os discos compravam fitas cassetes e os gravavam… Bons tempos… E, obviamente, “Killers” era obrigatório em qualquer encontro e reunião. Certa vez, estava voltando do colégio com o meu “Piece of Mind” surrado e, numa carona (“carona” era uma prática comum no mundo até meados dos anos 90, quem viveu, viveu) de volta para casa (isso me garantia guardar a grana das passagens para revertê-la em discos), o cara ficou extremamente contente comigo por estar ouvindo “rock de verdade” e não as “porcarias que tocavam nas FM’s”! Quando desci do carro, ele ainda teve tempo de me recomendar o “Made Japan” – que eu não tinha, pois ele saiu caro na época…
    Um abraço a todos vocês!

    1. O comentário do Marcelo Freire me transportou de volta aos anos 80, quando a garotada se reunia no intervalo das aulas e trocava os LPs que tinha na coleção para poder ter acesso a outras coisas. E dá-lhe fita cassete para gravar o que a gente gostava!! Eu tinha o “Live After Death”, que, por ser duplo, não era muito comum, e emprestei para muita gente boa – um colega levou o disco e me emprestou o “Piece of Mind”, outro emprestou o “Powerslave” e o “The Number of the Beast”, e um terceiro me emprestou os três discos com o Paul Di’anno nos vocais, incluindo os dois dessa matéria. Quem viveu realmente não esquece nunca mais…

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