Accept – Breaker [1981]
Por Daniel Benedetti
No ano de 1981, o Accept já havia lançado seus dois primeiros álbuns de estúdio: Accept [1979] e I’m Rebel [1980], ambos pelo selo Brain Records e sem atingir o sucesso esperado.
Após a tentativa frustrada de uma abordagem mais comercial em I’m a Rebel, o Accept decidiu não permitir que pessoas alheias à banda influenciassem novamente no direcionamento do grupo. Os caras se reuniram em meio a um inverno muito frio, concentrando-se em fazer o disco que ficou conhecido como “o álbum eles queriam fazer”.
Udo Dirkschneider, vocalista do grupo na época, chegou a afirmar: “Seguindo nossas experiências com I’m A Rebel, estabelecemos como objetivo não sermos influenciados musicalmente por ninguém de fora da banda desta vez.” Boa parte do álbum traz um tom raivoso e, especialmente “Son of a Bitch”, é repleta de palavrões. Udo descreve a letra dessa música como “absolutamente anti-gravadora”.
Wolf Hoffmann, guitarrista do grupo, explica o motivo dessa música ser a única que não teve sua letra impressa dentro do álbum: “No lançamento inicial, pensamos que seria uma boa ideia basta colocar ‘Censored’ no encarte para evitar qualquer controvérsia. Bem, acontece que causou mais polêmica dessa forma, com todos querendo saber quem a censurou”.
Uma versão alternativa intitulada “Born to Be Whipped” foi gravada com letras mais amenas. Wolf relembra: “Tivemos que mudá-la porque os britânicos eram tão tensos com esse tipo de coisa que não seria possível lançar o disco lá com uma música chamada Son of a Bitch.”. O grupo trazia a mesma formação do disco anterior, I’m a Rebel: Udo Dirkschneider nos vocais, Wolf Hoffmann e Jörg Fischer nas guitarras, Peter Baltes no baixo e backing vocals e Stefan Kaufmann na bateria e backing vocals.
O disco foi gravado no Delta Studio, em Wilster, na Alemanha, entre dezembro de 1980 e janeiro do ano seguinte. Seu lançamento oficial aconteceu 16 de março de 1981, outra vez pelo selo Brain Records. A produção ficou por conta do famoso produtor Dirk Steffens.
“Starlight” é uma porrada bem direta, abrindo o disco com peso e identidade. A faixa-título, obviamente “Breaker”, traz mais velocidade e um riff afiado, com ótima atuação da dupla de guitarristas.”Run If You Can” mantém a mesma pegada e conta com um refrão magnético. “Can’t Stand the Night” é uma balada de atmosfera mais sombria e bons vocais de Udo. “Son of a Bitch” é um Heavy Metal tradicional com bons solos. “Burning” é ótima, com boas doses de agressividade e um refrão pegajoso, no melhor sentido. “Feelings” mantém o peso, mas aposta em uma dinâmica mais lenta, novamente com vocais inspirados. “Midnight Highway” é um Hard Rock, fugindo da sonoridade predominante do disco, mas não passa de regular. “Breaking Up Again” é outra balada, bem suave, cantada pelo baixista Peter Baltes. O disco é encerrado com a muito boa “Down and Out”.
Breaker é a primeira vez em que o Accept foi, de fato, o Accept, na forma em que a banda seria mais conhecida, especialmente nos anos 1980. Um álbum consistente, calcado em uma sonoridade Heavy Metal (com singular influência do Judas Priest), apostando em riffs ferozes e uma seção rítmica sólida e pesada, uma pegada que seria ainda melhor trabalhada nos álbuns seguintes, especialmente Restless and Wild (1982) e Balls to the Wall (1983). E, claro, o vocal único do grande Udo Dirkschneider.
“Burning” foi o single principal para promoção do disco, com “Breaker” sendo lançada como single no Japão e “Starlight” no mercado europeu. Accept foi convidado para se juntar à World Wide Blitz Tour, do Judas Priest, e obteve atenção fora da Europa pela primeira vez. Restless and Wild foi lançado em 1982, embora Jörg Fischer tenha saído da banda pouco tempo antes da gravação.
Uma curiosidade para se encerrar a resenha: Udo acredita que Breaker está entre os melhores discos do Accept e marca o início da era de ouro da banda que duraria até 1985 – o título do álbum mais tarde se tornaria o nome do selo do Udo, a Breaker Records.
Udo tem razão, este é um dos melhores álbuns do Accept. Lembro-me de ter visto a capa do disco na coleção de um amigo (acho que o LP não saiu no Brasil na época) e ter tido pesadelos com a ideia do arame farpado atravessando a cabeça da garota. É verdade que o Accept só iria estourar de fato com “Balls to the Wall”, mas os elementos fundamentais do som já estavam todos aqui. Boa lembrança, fez-me ir atrás do disco para ouvir pela primeira vez em sabe-se lá quantas décadas!!
Dos álbuns com o Udo, eu também acho um dos melhores mesmo. Sempre curti bastante a banda.
Disco sem firulas de um metalzão pesado mas ao mesmo tempo pegajoso. E tá ótimo desse jeito!
É uma boa definição.
Taí uma banda que já devo ter ouvido algumas vezes o primeiro ou o segundo álbum deles, nem lembro, e nunca ter me chamado a atenção… Com essa resenha, quem sabe mudo de ideia, ouvirei e verei. Muito obrigado pelo texto.
Eu que agradeço. O Breaker é uma boa pedida pra começar a ouvir novamente a banda.
Marcelo
Aproveito para indicar um outro texto sobre a banda e o UDO que gostei muito de ter feito.
https://www.consultoriadorock.com/2020/07/05/a-relacao-udo-x-accept/
Opa, que honra! Lerei com o maior prazer, muito obrigado, Fernando!
Gosto bastante desse disco. Para mim, é o início da fase clássica da banda. Para mim, o auge do Accept vai desse disco até o Metal Heart.
Sim, eu concordo. Até acho bem legal a fase atual, curtindo uns álbuns mais e outros menos, mas esses discos desta fase que você citou são os meus preferidos também.
Do meu top 5 dos álbuns clássicos do Accept com o lendário Udo, este Breaker ocupa a quinta posição, por três motivos: primeiro, a sua capa tosquíssima – a de Balls to the Wall (1983) superaria-a neste quesito – e assustadora (no bom sentido); segundo, “Breaking Up Again” (baladinha xarope cantada pelo Peter Baltes, que até hoje faz uma falta danada na banda) é totalmente dispensável em um disco de puro heavy metal (o “primeiro” da banda nesse caso) como esse; terceiro, uma outra faixa de Breaker que eu acho horrível é “Son of a Bitch”. Nossa, que musiquinha abominável essa, e a letra então nem se fala! Apesar destes problemas, temos aqui um ótimo álbum, mas não recomendável para se iniciar na obra do Accept em sua fase “antiga”. Melhor começar com Restless and Wild (1982), Metal Heart (1985) ou com o já mencionado Balls to the Wall. Tem também o Russian Roulette (1986), mas isso não vem ao caso, apenas porque a parada desse disco é bem diferente se comparar com os anteriores…