Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Radiohead – Pablo Honey [1993]
Por Fernando Bueno
O Radiohead é mundialmente conhecido hoje em dia e muito do seu sucesso se deve ao mega aclamado disco OK Computer, lançado em 1997. Basta dar uma olhada no Rate Your Music para comprovar o sucesso desse álbum já que ele lidera o ranking de melhores discos de todos os tempos do site na frente do, por exemplo, incontestávelThe Dark Side of the Moon. Esse foi o terceiro álbum da banda e tinha um direcionamento musical diferente dos dois primeiros discos. The Bends, seu antecessor, também recebe muita atenção e é o disco da música “Fake Plastics Tree”, que ficou muito famosa aqui no Brasil por conta dela ter aparecido em um comercial de televisão que falava da Sindrome de Down. Lembram? A música do Marquinhos.
Porém me impressiona o quanto seu disco de estréia, Pablo Honey (1993) é praticamente ignorado pelo grande público. Muitas vezes ele nem é citado, mesmo contendo um dos maiores sucessos da carreira da banda, “Creep”. Talvez seja por conta da distância com as experimentações eletrônicas com que a banda é marcada atualmente que iniciou-se justamente com OK Computer.
Formado por alunos de uma escola pública só para rapazes chamada Abingdon, na cidade de Oxford, reuniam-se todas as sextas feiras para tocar, ainda na metade dos anos 80. Por esse motivo eles se chamavam de On A Friday e já tinham em sua formação Thom Yorke (vocal e guitarra) e Colin Greenwood (baixo) que eram do mesmo ano, Phil Selway (bateria) e Ed O’Brien (guitarra), mais velhos que os dois primeiros e Jonny Greenwood (guitarra) o mais novo de todos. Depois que todos se formaram eles reuniram o On A Friday e gravaram uma demo e fizeram alguns shows. Chamaram a atenção da EMI e foram contratados, porém a gravadora sugeriu uma troca de nome e Radiohead foi escolhido tendo uma música do Talking Heads como inspiração.
O primeiro EP, Drill (1992), não chamou muito a atenção do público, assim resolveram trocar os produtores para o lançamento seguinte, Creep(1992), outro EP. Porém a faixa título não tocou o suficiente nas rádios porque as pessoas achavam a música exageradamente depressiva. Mesmo assim agora pelo menos eles eram notados pela crítica britânica. Pouco tempo depois o primeiro álbum completo da banda é lançado com 12 faixas e aproveitando cinco delas dos dois EPs lançados anteriormente. Apenas as faixas “Inside My Head”, “Million Dollar Question” e “Stupid Car” não fazem parte de Pablo Honey.
O álbum foi lançado e, igual a muitos outros exemplos, a banda acabou sendo bem recebido no outro lado do Atlântico exatamente com a faixa “Creep” que por algum motivo agora recebeu reconhecimento, mesmo que tardio, e rolava direto na MTV. Essa faixa foi inspirada por um fora que Yorke tomou de uma garota e foi composta logo no começo da banda. Seu andamento lento combinado com a voz triste de Yorke certamente fez muita gente mergulhar em uma fossa daquelas.
O som do Radiohead em Pablo Honey foi muito comparado com o que as bandas grunge estavam fazendo. E podemos dizer que quem fez a comparação não estava errado até porque as influências do Radiohead são as mesmas das várias bandas americanas que compunham o movimento: The Smiths, R.E.M., Pixies, Sonic Youth, entre outras. A faixa de abertura, “You”, está entre os maiores destaques do disco e começa com uma melodia simples e com a voz calma de Yorke com uma tensão crescente. Em seguida vem a já citada “Creep”. A tensão de “You” somada à melancolia de “Creep” prepara o espírito do ouvinte para o restante de Pablo Honey. Frases como “I want you to notice, when I’m not around”, “I wish I was special” e “What the hell I’m doing here?” é de cortar os pulsos.
Em “How do You?” a semelhança com o grunge aparece. “Stop Whispering” poderia ser um clássico assim como é “Creep”. A voz de Yorke é o que dá a tônica da canção, cantando baixo, quase sussurando, e atingindo notas mais altas, enquanto os instrumentos apenas fazem a melodia de fundo. Pode não ser uma música que faria sucesso no rádio, mas é ótima. Depois disso “Thinking About You”, novamente centrada na voz acompanhada de um violão e a adição de notas simples de uma guitarra com bastante efeito dando um clima.
Daí chegamos à música que para mim é a melhor do disco e que poderia ter tido muito mais destaque nas rádios, “Anyone Can Play Guitar”. Thom Yorke canta que gostaria de ser Jim Morrison em um hino para quem quer pegar uma guitarra e montar uma banda. Saber tocar nesse caso seria apenas um detalhe.
O restante do disco é pouco inferior à primeira metade, mas isso se deve à uma má distribuição de faixas. Montaram o track list com todas as melhores faixas entre as seis primeiras e deixaram outras seis boas músicas, entretanto inferiores às outras, por último. Os destaques dessa segunda metade do disco fica para as músicas “Vegetable”, “I Can’t” e “Blow Out”.
Longe de ser o álbum mais fraco da banda como dizem alguns, Pablo Honey pode ser uma excelente porta de entrada para o interessante mundo musical do grupo. Como disse, não encontramos aqui as experimentações que deixaram a banda famosa, mas, principalmente para quem não está habituado ao tipo de som de discos como OK Computer e Kid A, pode ser que com esse disco de estréia o ouvinte seja fisgado e, assim como eu, se tornar fã. Após o sucesso de “Creep” muitos disseram que a banda poderia ser mais uma One Hit Wonder, mas eles estavam errado já que nesse mesmo disco podemos tirar outras faixas que pode rivalizar com a qualidade dessa música. A carreira da banda também provou que essas pessoas estavam erradas tendo criado melodias que, mesmo depressivas, são cativantes e letras bastante inteligentes. Fico imaginando a garota que deu o fora em Yorke, será que agora ela se interessaria por ele?
Track List
1. You
2. Creep
3. How Do You?
4. Stop Whispering
5. Thinking About You
6. Anyone Can Play Guitar
7. Ripcord
8. Vegetable
9. Prove Yourself
10. I Can’t
11. Lurgee
12. Blow Out
Lembro bem desse álbum porque o clip de “Creep” passou até a exaustão na MTV na época, e meus irmãos acabaram comprando-o porque gostavam da música. Eu gostei do disco, mas não chegou a me chamar muito a atenção, para ser honesto; Radiohead nunca foi muito do meu agrado, nem com os discos que fazem um monte de gente babar por eles, tanto que só tenho uma coletânea da banda. Muito legal o texto, coloquei o disco na lista de próximas audições para ver se mudo de opinião depois de tanto tempo sem ouvir. É até meio difícil de acreditar que já se passaram mais de 30 anos desde o lançamento de “Pablo Honey”. Bom, não tenho culpa de que eles envelhecem, parafraseando o Mick Jagger…
Esse disco é muito bom. Essa fase inicial do Radiohead é muito bacana. O problema, para mim, é do Kid A em diante. Até o Ok Computer, eu gosto bastante.
Um disco ok com uma capa horrenda.
Realmente a capa é qualquer nota mesmo….rs
Esse disco é incrível e é muito mais que somente o álbum que tem Creep. Thinking About You é linda e o disco não sofre com produção vacilante. E o que falar da linha melódica e das guitarras de Anyone Can Play Guitar? Não acho que esse seja um disco mediano. Só não é tão bom quanto Kid A ou OK Computer, mas aí, é o mesmo que dizer que, sei lá, Animals não é um bom disco só porque o Pink Floyd lançou The Dark Side of The Moon e The Wall…