War Room: El Efecto – Pedras e Sonhos [2012]

War Room: El Efecto – Pedras e Sonhos [2012]

Por Mairon Machado
Convidados: Bruno Marise e Ulisses Macedo

Como é bom conhecermos bandas novas, que estão galgando seu espaço e lançando materiais bastante inovadores. Muitas estão escondidas na obscuridade de palcos do Brasil afora, e uma delas é o grupo carioca El Efecto, que consta em sua Discografia de cinco álbuns oficiais. Seu terceiro disco, Pedras e Sonhos, foi responsável por tornar o grupo mais conhecido em outros estados, e foi assim analisado por nossos convidados.


1. O Encontro de Lampião com Eike Batista

Ulisses: Já gostei do nome da música.

Bruno: Essa foi a primeira música que eu conheci da banda. Paixão a primeira ouvida.

Mairon: Essa foi a primeira música que eu conhecida da banda. Paixão a primeira ouvida. [2]

Bruno: Olha isso.

Mairon: A letra é fantástica, e a mistura de ritmos é sensacional.

Ulisses: Eita gota, olhas as batidas. Não esperava isso cara, muito bom.

Bruno: A faixa começa num dedilhado simples de guitarra, e desemboca num baião.

Mairon: Eu gosto muito desse vocal.

Bruno: Se falasse que a banda era nordestina eu acreditaria fácil.

Ulisses: Não é??

Mairon: É carioca Ulisses.

Bruno: Mais uma mudança de estilo repentina.

Mairon: Cara, que letra, e que virada agora, da porra do caralho!

Bruno: Sensacional!

Mairon: Olha o peso dessa ignorância!

Ulisses: Quando você está se acostumando à sonoridade, eles mudam.

Mairon: O diferencial que me fez gostar do El Efecto, além das letras, é a mudança constante de ritmos, sendo impossível respirar.

Bruno: Entra uma guitarra psicodélica e depois vem uma pancada cheia de distorção, pra depois desembocar numa viagem quase progressiva.

Mairon: Que letra meus caros, QUE letra!

Bruno: A letra é descaralhante, sem dúvida.

Mairon: Quantos estilos já ouvimos com apenas 4 minutos? Baião, rock, samba, progressivo, heavy metal, thrash, …, e fora essa letra incrível.

Bruno: E agora começou a pancadaria percussiva, coisa linda!

Ulisses: Olha o peso.

Mairon: Sepultura, APRENDE!!!!

Bruno: Olha, eu falo sem medo que essa é a melhor música feita no brasil nos últimos 15 anos. Fácil.

Mairon: “EIKE EIKE EIKE RESISTIR = GENIAL”. Nos últimos 15 não digo, mas dessa década, fácil.

Bruno: Guitarras gêmeas.

Mairon: E os caras tocam muito, para piorar a coisa. Não tem como não ficar apavorado com isso.

Bruno: O baixista é um monstro também.

Mairon: Agora virou Novos Baianos.

Bruno: Todos tocam muito.

Mairon: Ulisses, estás vivo ainda depois dessa pancadaria? Ainda vem mais.

Ulisses: Essa é a primeira e a mais longa, e o disco já vale só por ela, imagina as outras 8.


2. Pedras e Sonhos

Mairon: Essa então foi a que me casei. Essa introdução me arrepia. Lágrimas correm aqui.

Bruno: Segunda faixa começando num reggaezinho, e tome paulada!

Mairon: E dê-lhe arrepio com essa paulada surpreendente assim, sem cuspe. Cús arrombados sem dó! Que coisa LINDA!

Ulisses: A sonoridade me engana o tempo todo.

Mairon: E mais uma letra fantástica.

Bruno: Riffs pesados e harmonias de guitarra típicas do heavy metal oitentista e aí DO NADA, vira som nordestino.

Mairon: OLHA ISSO MEU DEUS!! OLHA QUE COISA LINDA!!! E essa viagem prog no solo?

Bruno: Parece Genesis hehehe.

Mairon: Essa da pedra é fantástica! Tudo é fantástico, chega ser repetitivo, mas esses caras são GÊNIOS! Eita porra!

Ulisses: Delícia.

Bruno: Esse disco eu ouvi quando saiu, e depois acabei botando na fila pra ouvir melhor depois, e acabei esquecendo. Redescobrir essa maravilha tá sendo lindo demais

Mairon: Esperava esses metais mexicanos, Ulisses?

Ulisses: Adoro esse baixo assim na cara.

Mairon: Viram? E vocês acham que eu não gosto de coisas novas. O problema é descobrir algo tão bom quanto isso.

Ulisses: Pancada voltou.

Bruno: E os vocais? Todos cantam muito bem.

Mairon: “LI-BER-DA-DE (quem tem medo dela)”. SENSACIONAL!!!! Esse final é de chorar!

Ulisses: Essa doidera logo me remeteu ao System of a Down, só que aqui num nível muito maior.

Mairon: Sertanejo universitário com rock, mas muito bem feito, e com uma letra arrepiante. Disco fantástico!

Bruno: Pô Mairon, que ofensa! Sertanejo universitário é a coisa mais desprezível existente na música popular hoje.

Ulisses: “sertanejo universitário”.

Mairon: Cara, dê-lhe arrepio! “PÕE PÕE, PÕE PÕE”!. Que massa meu. Baita letra, baita vocalização, baita tudo! Pode não ser universitário, mas tem uma pitada de sertanejo.


3. Adeus Adeus

Bruno: Essa intro destruidora de batera dá impressão de que vem por aí uma porrada, mas o que se ouve é uma intro meio soul, bem parecida com o que a Banda Black Rio fazia.

Mairon: Fusion?? Isso ainda não tinha aparecido antes. O que virá pela frente? Depois da pancadaria das duas primeiras, a coisa acalma bastante, mas as críticas sociais ainda continuam, agora atacando as igrejas.

Bruno: E essas harmonias vocais são MUITO anos 70.

Mairon: Vocalizações gospel.

Bruno: Guitarras com timbre bastante jazzístico.

Mairon: Virou Gentle Giant.

Bruno: Cara, é muito difícil descrever as faixas. As mudanças são muito constantes e imprevisíveis.

Ulisses: Muitas influências, muitas texturas, muitos sons, muitas surpresas.

Mairon: Essa é muito bonita. O arranjo instrumental se sobressai nos vocais, e essa declaração para Deus é mágica.

Bruno: Esse cara tem muita personalidade como vocalista. Entrega absurda.

Mairon: Com certeza. Perfeita descrição Bruno!

Bruno: Bluezão.

Mairon: PUTA QUE O PARIU!

Bruno: Olha, nem Novos Baianos tem tantas mudanças de estilo dentro das mesmas faixas hehehe.

Mairon: Não tem nada igual a isso. E olha a crítica da letra cara.

Ulisses: Começou com aquela enganadinha gospel para descambar numa crítica ao lado religioso.

Mairon: Eu adoro esse tipo de letra, e ainda mais quando ela é surpreendente dessa forma.

Bruno: Puta que pariu! Que solo maravilhoso! O timbre de guitarra é de arrepiar!

Mairon: Lindíssimo! Essa é uma banda para o Marco se derreter de amores!

Bruno: PQP! Estou sem palavras!

Mairon: CARALHO!! Que solo LINDO!

Bruno: “SERÁ QUE É PECADO CRER QUE É NA GENTE QUE A GENTE DEVE CRER?”. Essa estrofe é genial!

Mairon: Três músicas, vinte e cinco minutos, a casa caiu. Disco fantástico, mas ainda tem mais!


4. Cantiga de Ninar

Mairon: Essa me lembra o Los Hermanos de 4.

Bruno: Esse começo é BEM Los Hermanos.

Mairon: Pensamos a mesma coisa.

Bruno: Olha aí hehe

Mairon: Mas ela vai se transformando, hehehe

Bruno: Olha aí, vem um riff de guitarra pesadíssimo e o baixo no slap.

Mairon: Olha a pancadaria. E as percussões!

Bruno: É claro que os caras iam surpreender.

Mairon: Para de pular pela casa e comenta aí Ulisses.

Bruno: A letra é mais fraca, mas creio que seja meio irônica mesmo. Vale pelo instrumental. Impecável!

Mairon: Concordo Bruno.

Ulisses: Pensei o mesmo que o Bruno. Era melhor ter deixado instrumental , mas tudo bem.

Bruno: E essa valsinha macabra?

Mairon: Mais intrincada que muito disco do King Crimson.

Bruno: Lembra King Crimson mesmo.

Capa - Verso
Contra-capa de Pedras e Sonhos

5. Prelúdio em HD

Bruno: Cara, eu sinceramente não sei o que é isso. É coco?

Mairon: Cara, que viagem essas vocalizações.

Bruno: É algum tipo de música regional pernambucana.

Mairon: É música afro, coco é meio-samba. Isso é coisa de quilombo.

Bruno: Verdade, meio de macumba.

Mairon: É, macumba, oxangô, algo assim, só preparando o terreno.

Ulisses: Gostei das nuances do vocal, o cara é muito bom.

Mairon: Mas como o Bruno disse antes, o vocal se entrega total.

Ulisses: O nome da próxima faixa já entrega o por quê dessa.


6. N’hangadê

Bruno: Intro com bastante influência de música latina e africana. Bicho, isso aqui é inclassificável hahahaha.

Mairon: Considero essa a mais fraquinha. Podiam ter feito algo mais chocante do que essa guitarrinha sem graça. E dessa vez os vocais saltam aos ouvidos.

Bruno: Realmente, é a música menos empolgante até agora, mas não deixa de ser legal. E o vocalista dá um show, mais uma vez.

Mairon: Se a banda fosse sobreviver dessa música, não ia conseguir.

Bruno: Caramba, que mudança!!!

Ulisses: Olha a guitarra.

Bruno: Riffs pesados e interlúdios com wah-wah.

Mairon: Caiu a casa, mudou tudo. Instrumental enlouquecedor, e e dê-lhe porradaria.

Bruno: Esse vocalista é um monstro! Momento Sepultura total.

Mairon: Putz, retiro o que disse. Essa segunda metade tá valendo a audição. Que loucura isso, meu Deus!

Bruno: Retiro o que eu disse [2].

Ulisses: Essa partezinha é sinistra.

Bruno: E daí, vira um Paralamas do Sucesso hehehehehe. Mais uma faixa genial.

Mairon: Os caras são fora de série.

Ulisses: Eu não tava achando chato no começo, não.

Mairon: A letra é uma baita crítica também. Muito boa.

Bruno: PUTA QUE PARIU!!! Acabei de descobrir que eles tocaram em Bauru há duas semanas, e eu nem fiquei sabendo. Que bosta!


7. A Caça que se Apaixonou pelo Caçador

Mairon: Essa para mim é a melhor do CD, ou uma das melhores, não sei. Essa introdução é uma loucura.

Bruno: CACETE!!!! QUE PORRADA!

Ulisses: Esse Nu Metal aí hein?

Bruno: E dá-lhe baixão. E daí entra um ska.

Ulisses: Eita!

Mairon: É tudo inesperado, e variável!

Bruno: Meu Deus!

Mairon: Dê-lhe Los Hermanos.

Ulisses: Essa banda é uma viagem.

Mairon: Letra incrível, mais uma vez. Agora virou Sepultura. O que é essa ignorância jazzística da segunda parte dela? Jazz com frevo?

Ulisses: Quando a gente vai comentar uma determinada aparte, eles mudam totalmente logo em seguida.

Bruno: Os timbres de guitarra são absurdos.

Mairon: Me enganei, não é a melhor do disco não. Gostei mais da primeira vez que ouvi, mas “Pedras e Sonhos” hoje passou ela.


8. Consagração da Primavera

Bruno: Mais uma intro com bastante influência de Los Hermanos.

Ulisses: Gostando do violino.

Bruno: Acho que é cello, não?

Mairon: O que que eu vou dizer sobre isso? Orquestrações inesperadas.

Ulisses: No arquivo de letras tem dizendo violino.

Mairon: É violino, mas tem um quarteto de cordas. Ou não? Será que é violino duplicado?

Bruno: Tem razão, agora deu pra sacar. Um show de orquestrações.

Mairon: O fagote e o clarinete enlouquecem.

Ulisses: Orquestração encantadora. Mas a cada paradinha eu me pego esperando a mudança inesperada.

Mairon: Depois de tudo o que ouvimos antes, essa não precisa mudar inesperadamente. Ela já é inesperada

Bruno: Exatamente. Quem imaginaria depois de tudo que já ouvimos, uma faixa totalmente composta de vocais e orquestrações? Sensacional!

Mairon: E nada de pancadaria.


9. Os Assaltimbancos

Bruno: Esse começo parece The Knack, e vira um hardcore!!!!

Mairon: Não sei o que dizer.

Bruno: Post-punk, hardcore, progressivo e Iron Maiden em uma música só.

Mairon: Estou chocado!

Ulisses: Achei que esta música seguir tão bruscamente depois de “Consagração” foi muito anti-climático. Só que “bruscamente” é a palavra de ordem aqui.

Mairon: Só consigo comentar sobre a letra, mais uma vez, genial. Mas dá música, não consigo falar nada menos que INCRÍVEL! Chico Buarque deve ter orgulho desses caras.

Bruno: Cara, o negócio virou um funkão!

Mairon: Porra meu, eu não consigo descrever isso. Estou de cara. Que coisa LINDA!!!

Bruno: Essa guitarrinha lembra Mr. Big Stuff! Puta que pariu!

Mairon: Não sei por que não consegui ouvir essa musica antes como ouvi agora.

Ulisses: The end. Estou maravilhado.


Considerações finais

Bruno Danton (guitarra, cavaquinho, trompete e voz), Eduardo Baker (baixo), Tomás Rosati (voz, percussão e clarinete), Gustavo Loureiro (bateria) e Pablo Barroso (guitarra e voz)
Bruno Danton (guitarra, cavaquinho, trompete e voz), Eduardo Baker (baixo), Tomás Rosati (voz, percussão e clarinete), Gustavo Loureiro (bateria) e Pablo Barroso (guitarra e voz)

Ulisses: Caras, eu realmente não esperava algo assim. Foi muito bom, muitas surpresas. Interessante é que mesmo com todo o caos sonoro, me peguei curtindo mais as orquestrações de “Consagração da Primavera”.

Mairon: Banda surpreendente, embasbacante, e que mostra que no Brasil existe alguém capaz de fazer algo inovador. Não tem como classificar o grupo, e só resta os parabéns para eles por Pedras e Sonhos. O primeiro álbum é muito bom, mas esse aqui é uma completa obra-prima. Sensacional.

Ulisses: Passou rápido até, apesar do impacto. Ouviria tudo de novo facilmente.

Bruno: Já conhecia o El Efecto e tinha ficado impressionado da primeira vez que eu ouvi, mas foi incrível reouvir esses caras. Esse é daqueles discos que você redescobre e se apaixona a cada ouvida. A riqueza de ritmos e influências é gigantesca. As faixas passeiam por infindáveis gêneros, e as mudanças de estilo dentro de cada música te pegam de surpresa a todo momento. Todos os músicos são de primeira, sem excessão e as letras são uma aula de composição. Críticas ácidas, divertidas e inteligentíssimas. A partir de hoje o El Efecto é uma das minhas mais novas bandas nacionais favoritas. Parabéns para os caras por realizarem um trabalho de tão alto nível e serem um oásis de qualidade e bom gosto na música brasileira.

Mairon: A definição que eles se dão no próprio site é perfeita para o que o El Efecto é: “Plural, um remelexo no lixão da história mundial, são riffs, é flauta, é frevo, violino, sertão, cotidiano, cajón, cavaquinho, um batidão, tango argentino, subversão, cúmbia, catarse, religião, interrogação, transgressão, trompete, trapézio, blues, televisão, miséria, mazelas, pedras, sonhos, ciclos, o caçador e a caça, diversão de graça,fim de tarde na praça, domingo no circo, debate, abate, minoria, poesia, utopia, movimento anti-paralisia, as pessoas e suas (des)humanidades. Tudo junto e harmonizado, sem perder a coerência jamais.”

Bruno: Depois dessa eu vou até comprar o disco.

Mairon: Acho que vale a pena indicar o site deles né?

Bruno: Sem dúvida.

Ulisses: Com certeza.

Mairon: http://www.elefecto.com.br/

Bruno: Recomendo à todos.

Ulisses: Os leitores TEM que ouvir. Recusar não é uma opção.

Mairon: Vou comprar o disco também, e recomendo. Aos que prezam pela boa música, e não querem se dizer cavernosos, é uma das melhores descobertas dos últimos vinte anos, ou mais. Creio que desde o surgimento de Bloco do Eu Sozinho que nao ficava de quixo tão caído.

Ulisses: Valeu pelo War Room. Eu não podia ter começado melhor.

Mairon: Ah é, o Ulisses perdeu o cabaço, hehehehe. Comigo e só disco bom Bruno. Se deixar o Bruno ou o Bernardo escolherem, vem merda pela frente, heuaheuahe.

Bruno: Preciso ir pessoal. Até a próxima.

Mairon: Beleza, valeu gurizada. Abração e um ótimo fim de semana.

3 comentários sobre “War Room: El Efecto – Pedras e Sonhos [2012]

  1. Nunca tinha ouvido falar dessa banda, descobri a mesma na noite do último Sábado, 23/03/2024, ao ler essa excelente matéria.
    Ouvi o disco em questão e achei excelente! Letras bem acima da média, instrumental fabuloso, misturas de estilos musicais bem interessantes, uma boa descoberta (ainda que tardia) dentro desse marasmo que tem sido a música nacional (principalmente o rock).
    Observação: as duas primeiras faixas e a faixa 7, são obras primas!

    1. Valeu Rodrigo. Obrigado pelo seu comentário. Recomendo os dois últimos também (A Cantiga É Uma Arma e Memórias do Fogo). Tão bons quanto este. Abraços

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