O Inesperado Sucesso do Rammstein
Por André Kaminski
Nessa nossa vivência dentro da música, sempre detectamos alguns “padrões” que quase todas as bandas e cantores devem seguir para almejar o tão buscado “sucesso”. Talvez nem todas querem fama, mas no mínimo desejam um público suficiente para consumir seus produtos e shows para pagarem suas contas e contar com aquele dinheirinho extra para uns carros de luxo e uns iates.
Uma minoria da minoria consegue. Ainda mais se tratando de rock e heavy metal nos dias atuais. Entretanto, uma banda alemã esquisita vinda da Alemanha Oriental recém unificada com a mais endinheirada Ocidental conseguiu um público gigante e fervoroso cantando em alemão, com letras para lá de polêmicas e um visual muitas vezes duvidoso e com clipes de mal gosto.
Fazer sucesso mundial sem cantar primariamente em inglês é quase impossível. Quase. As vezes algum cantor ou música italiana consegue algo. Talvez a turma do K-Pop da Coréia do Sul consiga algo com o idioma local. Mas justo com o alemão, uma língua bastante estranha para nós de origem latina, é ainda mais surpreendente.
Não me lembro de muita coisa com alguma fama em antes do Rammstein cantando em alemão. A galera do “Krautrock” fez um sucesso bem nichado dentro do progressivo. O Kraftwerk conseguiu algo mais dentro da música eletrônica, porém, também tiveram que apelar para o inglês para abrir novos mercados. O Lacrimosa, banda surgida um pouco antes, também usa primariamente o alemão, mas é outra nichada dentro do segmento gótico. Já o Rammstein também usa outros idiomas como o russo, o inglês e o espanhol, mas em canções bem específicas. O grosso da banda segue sendo a sua língua materna.
Mas precisamos lembrar que o alemão é o segundo idioma mais falado na Europa, após o russo, e países como Alemanha, Áustria, Liechtenstein, Bélgica, Suíça, Luxemburgo e partes da Holanda, Polônia, Dinamarca e França é amplamente falado como língua oficial ou segunda língua. Ou seja, na Europa tá tudo certo.
Mas e no restante do mundo? Pois é, conseguiram vencer a barreira do idioma e adentraram a América e o Japão. Seus fãs fazem questão de traduzir suas letras cheias de piadas ácidas, putarias, controvérsias e veneno. No Brasil vieram para abrir os dois shows do Kiss em 1999 (tour do Psycho Circus) e conseguiram causar as mais diversas reações ao público, para o bem ou para o mal (o Mairon com certeza irá nos deliciar com suas experiências com o show nos comentários).
Contando com Till Lindemann e sua voz cavernosa e um instrumental bastante original para a época, não foi só com suas polêmicas que a banda se sobressaiu. Se não inventaram, praticamente popularizaram o chamado “Metal Industrial” em que une fortes elementos eletrônicos ao peso das guitarras do heavy metal. Eu particularmente conheço pouquíssima coisa contemporânea a eles, lá em 1994-1995, que se assemelha ao seu som. Quando se pensa em Metal Industrial, logo se pensa em Rammstein. E tem sido assim desde seu surgimento.
Em 30 anos de carreira, lançaram 8 álbuns de estúdio, o que considero pouco pela longevidade e fama que a banda possui. Sem ter medo de colocar o dedo na ferida, fazendo uma sonoridade bastante original para a época e com um vocalista que se destaca nos shows como frontman, aliado a pirotecnias e efeitos luminosos, o Rammstein conseguiu sair da vala comum e criou uma base de fãs bastante numerosa e que segue sustentando essa bizarrice germânica que quebrou todas as “regras” do sucesso.
Já falei várias vezes que ouvi o Rammstein pela primeira vez ao vivo no show do Kiss de 1999, e a sensação foi tão brutal que nunca consegui gostar dos caras desde então. Até me esforcei, mas não me passa. Acho uma sonoridade muito ruim e difícil de aguentar.
Como o André me citou, e agradeço a citação, só digo que foi algo de ir do céu ao inferno em instantes. O início com o vocal pegando fogo e as flechas de fogo jogadas em direção a plateia foram chocantes, assim como o peso musical, mas com as adições de eletrônicos, e principalmente quando o vocalista comeu o tecladista e depois ejaculou na própria boca, daí acabou. Aquilo ali para mim foi muito além do que eu podia esperar para uma apresentação que era para ser do Kiss. Entendo a “revolução” proposta, mas não curto.
O texto do André pega pontos interessantes, e eu já tive a experiência de ver alunos do ensino médio venerando o Rammstein seja pelo comportamento, seja pelas letras. Enfim
Pra mim o Rammstein bebeu total no som do KMFDM, a diferença são as letras em alemão e o Rammstein e um pouco mais pesado.
Com certeza!
De fato, não só o RAMMSTEIN, como também os citados MINISTRY e NINE INCH NAILS, beberam muito na fonte do KMFDM. Acontece que à banda francesa, por ter um som bem mais experimental e seguindo a sina dos artistas ditos desbravadores, foi relegado um pé de página na história. Não podemos nos esquecer que o KMFMD está nessa praia desde o final dos anos 1970! O que a banda fez, e muito bem, foi radicalizar os experimentos do KRAFTWERK.
Também precisamos citar o Einstürzende Neubauten, lenda da música industrial e também alemã.
Sim! Mas o EINSTÜRZENDE NEUBAUTEN é tão conceitual e atonal que a banda é um caso à parte na cena da música eletrônica. Comparada com a doideira do som desses alemães, tanto MINISTRY, NINE INCH NAILS ou RAMMSTEIN, e até mesmo o KMFDM, são coisas do jardim da infância. Se o EINSTÜRZENDE NEUBAUTEN influenciou alguma dessas bandas, esta influência foi tão diluída para se tornar palatável que nem a percebemos.
Claro, sem dúvidas. Só quis apontar que estão em algum ramo da árvore genealógica. Abração!
Fala André,
Bacana o texto e essa é uma banda que apesar de eu não curtir, reconheço o valor dos caras. Também assisti o show deles aqui no Brasil, quando vieram como número de abertura do Kiss, e também não curti. A parte visual era bacana, os caras tocavam bem, mas achei o repertório apresentado bem fraco (para o meu gosto). Agora, não colocaria eles como inventores do metal industrial e nem acho que eles foram responsáveis pela popularização do gênero. Quando eles vieram para cá, eu já conhecia o estilo através de bandas como Ministry e Nine Inch Nails, por exemplo. Considero eles um representante da segunda fase do estilo.
Por isso até que citei “se não inventaram, popularizaram” porque não sou profundo conhecedor do estilo. Eu não considero o Nine Inch Nails com a mesma proposta, mas você tem razão quanto ao Ministry (que eu havia me esquecido) que já fazia o que seria o metal industrial pelo menos uns 5 anos antes.
Godflesh também. Nunca teve o sucesso comercial do Ministry, mas ganhou fãs de respeito como Max Cavalera & Mike Patton (que a chamava de “a banda mais pesada do mundo”).
Também tem o Fear Factory, que conseguiu certa exposição midiática via Roadrunner.
Gostei do texto e da linha de raciocínio; não gosto muito da banda, mas admirei o que escreveu, muito obrigado pelo texto, André.