Bruce Dickinson – The Mandrake Project [2024]
Por Marcello Zapelini
Bruce Dickinson não lançava um álbum-solo desde 2005, quando Tyranny of Souls deu as caras. Confesso que ouvi o disco na época, não gostei muito e esqueci completamente dele. Como aquele álbum, este The Mandrake Project (lançado em 1º de março) traz músicas de Bruce mescladas com parcerias com Roy Z (que também se responsabiliza pelas guitarras e baixo, além da produção). Outra consoante, Gus G, aparece como convidado fazendo um solo de guitarra, e o disco se completa com Dave Moreno na bateria e Mistheria nos teclados, ambos velhos colegas de Roy Z. Em “Eternity has Failed”, Sergio Quadros aparece na flauta e Chris Declercq é outro guitarrista convidado, fazendo um solo em “Rain on the Graves”.
O primeiro single, “Afterglow of Ragnarok” abre (muito bem) o álbum, mostrando que a voz de Bruce parece não envelhecer; boa escolha para promover o álbum, pois chama a atenção do ouvinte de imediato. “Many Doors to Hell” e “Rain on the Graves”, que vêm na sequência, têm um clima mais soturno do que a abertura, sendo que a segunda não teria ficado ruim num álbum do Black Sabbath da fase com Tony Martin nos vocais. “Resurrection Men” traz uma batida meio tribal, e foi, na primeira audição do disco completo, a primeira música a me chamar a atenção, com ótimo desempenho de todos os músicos envolvidos.
“Fingers in the Wounds” coloca os teclados em destaque na sua imponente introdução – e esta é daquelas músicas que o Iron Maiden jamais gravaria, mas é muito boa! Em seguida, tem-se “Eternity Has Failed” – baseada na versão original que Dickinson registrou em demo tape para usar em sua carreira solo e foi “apropriada” pelo Maiden, tornando-se “If Eternity Should Fail”, que abriu The Book of Souls; gostei mais da versão do Iron, mas essa também está boa. Na sequência, a emocionante “Mistress of Mercy” me impressionou logo de cara, com um verso que chamou muito a atenção: “have to believe there’s a God in this world”.
“Face in the Mirror” é uma quase-balada com o piano em destaque, que faz par com “Shadow of the Gods”, também mais lenta, também baseada no piano e nos teclados, ganhando peso aos 4 minutos. O disco se encerra com “Sonata (Immortal Beloved)”, outra música com ritmo mais lento que, na minha opinião, iria se beneficiar muito de um bom solo de guitarra – Roy Z é bom, mas nem tanto. Tudo considerado, The Mandrake Project é um bom álbum, à altura da carreira do grande Bruce, mas confesso que teria preferido um álbum novo do Iron Maiden. O problema é que Steve Harris não gravaria muitas das músicas que comparecem neste “Mandrake Project”, e seria pena perdê-las.
Bruce Dickinson continua um dos melhores vocalistas de heavy metal do mundo, e seu novo disco é garantia de muitas audições para os fãs do Maiden (não sei se ele tem muitos fãs exclusivos…). Mas, francamente, prefiro Dave Murray e Adrian Smith (e Janick Gers, por que não?) a um Z-mané qualquer tecendo as guitarras sob seu vocal! Para quem duvidar, sugiro comparar as duas “Eternity”; a nova versão é mais criativa no arranjo, mas a anterior é melhor.
Track list
- Afterglow Of Ragnarok
- Many Doors To Hell
- Rain On The Graves
- Resurrection Men
- Fingers In The Wounds
- Eternity Has Failed
- Mistress Of Mercy
- Face In The Mirror
- Shadow Of The Gods
- Sonata [Immortal Beloved]
O disco no geral é bom, mas Sonata me decepcionou bastante. Vi a resenha da Roadie Crew dizendo que era a música mais bonita de 2024. Vi o Bruce falando dela como se fosse outra Empire of Clouds. Achei ruim, com gravação típica de demo. Para finalizar queria deixar claro que Roy Z está longe de ser um Zé Mané. Prefiro todos os guitarristas do Maiden à ele, mas mesmo assim…
Pois é… como disse, o cara é bom, mas nem tanto assim. Pensei que iam pegar também no pé por causa da “outra consoante”…
Nenhum disco solo do Dickinson consegue superar The Chemical Wedding e Accident of Birth (sua “dose dupla de ouro”), e esse novo Mandrake Project infelizmente não cumpriu essa expectativa… Sinto muito em dizer isso, mas é verdade!
Nem acho que isso tenha sido um objetivo. Difícil comparar discos que ouvimos por duas décadas, conhecemos todas as passagens e já temos registrado na memória serem clássicos com um que acabou de ser lançado.
Concordo contigo, Fernando, em suas duas ponderações: além de também não achar o Roy Z um “Zé Mané”, um lançamento sempre carecerá de tempo de maturação – para o bem ou para o mal. Quanto ao disco, achei-o excelente e, tal qual quando assisto a um filme oriundo de uma adaptação de um livro, dissociando um do outro, aqui ouvi-o desvinculado da banda-matriz do vocalista, e confesso que é um ótimo disco, com músicas muito boas e um hard rock afiado e em consonância tanto com timbres mais clássicos quanto com sons mais contemporâneos. Boa resenha, Marcello, obrigado por compartilhá-la.
Boas reflexões! Obrigado pelo comentário!
Eu confesso que a primeira audição não me disse muito, mas da terceira em diante o disco subiu no meu conceito, o que é um bom sinal. Mas, de fato, como disse o Fernando Bueno, é difícil comparar um disco novo com aqueles que a gente já conhece e gosta faz tempo. Se este “The Mandrake Project” vai ganhar status de clássico do Bruce no futuro, só o tempo dirá!
Impressionante que um medalhão como Bruce tenha feito um disco com produção tão raquítica quanto THE MANDRAKE PROJECT…O cara demora 19 anos para nos entregar um trabalho qualquer nota desse!!!!!!!?????????????
A bagaça me lembrou a produção do NO PRAYER FOR THE DYING, só que com músicas bem menos inspiradas ou sem inspiração nenhuma, então haja pobreza!!
A pomposidade com que o disco foi embalado deixa tudo muito constrangedor, senão ridículo, dado a falta de qualidade das músicas do produto ofertado (e não vou nem falar dos clips divulgados até agora, trasheiras involuntárias de primeira).
Como certamente dinheiro não foi problema, não sei onde o pessoal estava com a cabeça pra fazer um trabalho tão porco e desleixado assim. Me parece que os envolvidos só se preocuparam com o acabamento da embalagem do disco, mas como não são a capa ou o encarte que vamos ouvir, só podemos concluir que, apesar de muito apresentável por “fora”, o disco é uma tristeza “por “dentro”, ou seja, bonito, mas ordinário.
Quer saber o resultado da junção de músicas fracas e produção preguiçosa? Eu te respondo: THE MANDRAKE PROJECT(que nominho soberbo, meu deus do céu!!!!!!!!!!).
O fato dessa joça estar recebendo elogios superlativos em quase todos os lugares é algo incompreensível!
Concordo com o comentário sobre a arte da capa, que realmente ficou muito boa, e também não gostei da produção, mas pelo menos ainda gostei de várias músicas. Não li muitas resenhas sobre o álbum, nem antes nem depois de escrever a minha, mas se está assim, não vai me surpreender se aparecer na lista dos melhores do ano no final de 2024… Obrigado por comentar!
Cara, para ficar apenas em dois exemplos, as críticas da ROADIE CREW e do RÉGIS TADEU para THE MANDRAKE PROJECT pesaram tanto a mão nos elogios que pensei que elas estavam se referindo ao THE NUMBER OF THE BEAST, MASTER OF PUPPETS ou REIGN IN BLOOD, talvez até mesmo a qualquer obra prima dos BEATLES.
O negócio é constrangedor, vai por mim!
Valeu, Cleibsom! Vou atrás dessas reviews, agora fiquei curioso.
Não entendo suas reclamações, amigo. O nome mesmo já diz: um projeto mandraque! KKKKKKKKKKKKKKKKK!!!!!!!!!!!! A verdade é que o Iron Maiden constitui quase que uma religião no Brasil e, com isso, o fanatismo latente – basta ver aqui mesmo, onde o fraco The Book of Souls teve dois votos como um dos melhores discos da década passada.
Iron Maiden tem um exército de fãs bastante fiéis, mesmo. Admiro bastante a banda que consegue alcançar algo assim. Mas eu gosto do “Book of Souls” também…
Quando vi que seria um vinil duplo com só 10 faixas fiquei com o pé atrás…Afinal, os últimos 3 ou 4 discos do Iron Maiden são chatos justamente porque a banda deixou de fazer grandes músicas para fazer músicas grandes. Mas o disco é, no geral, bom. Está longe dos outros trabalhos solo do Bruce, mas é legalzinho. Pelo menos, é bom ouvir a voz do Bruce sem aquele instrumental enfadonho que caracteriza os últimos 3 ou 4 discos do Maiden.
Já eu gosto mais do Iron Maiden do que da carreira solo do Bruce, mas acho que esse álbum foi uma chance de ele colocar algumas músicas que, de outra forma, não iriam parar no mercado porque o Maiden não gravaria. Obrigado pelo comentário!
Inovação, ou melhor, deixar de lado o “mais do mesmo” é sinal de amadurecimento.
Bruce Dickinson é Bruce Dickinson, assim como, Iron Maiden é Iron Maiden.
Mudar a abordagem da obra, para muitos, principalmente para aqueles fãs mais “doentes” da donzela, pode parecer traição. Parece que a relação entre o músico e os seus fãs já não falam a mesma língua. É necessário um mínimo de esforço para tentar entender qual a mensagem do artista, neste momento. Nos anos 90 o mundo era outro. Talvez as mensagens de 20 ou 30 anos atrás já não tenham mais sentido.
Um album bastante interessante. A produção pode ser meio tosca, mas, diante do cenário, pode ser proposital.
Essa questão da produção tá me pegando viu. No fim das contas até são válidas, nesse quesito, as críticas à Roy Z.
Valeu pelo comentário, Paulo! Bruce conseguiu manter uma identidade própria na sua carreira solo, mas acho que ele nunca vai deixar de ser conhecido como a voz do Maiden. Sobre a produção, concordo, deve ser o que ele procurava mesmo.
A “mensagem” que o artista quer passar para mim não tem importância alguma! Se o disco é bom, é isso que importa, independente se o artista quer passar a “mensagem” de paz, guerra, amor, ódio ou dos prazeres do café da tarde com a vovó. Aliás, nesse caso, que “mensagem” seria essa que você diz? Que produções digitais demais são ruins e que boas mesmo são as produções “analógicas”? Ocorre que uma produção tão mandrake (sem trocadilhos) (aí SÁBIO, obrigado!!!) como a desse disco escancara justamente o contrário disso…
Não creio que o intento do BRUCE tenha sido fazer um disco tão tosco desse e, enfim, produtores existem para, além de fazer o que o artista quer, lhe dizer verdades, por mais duras que sejam…
ROY Z é isso aí mesmo, afinal, como já disseram há muito tempo atrás, de onde não se espera nada é que não sai nada mesmo!
THE MANDRAKE PROJECT é tão datado que parece que foi feito na época em que os dinossauros ainda andavam na Terra, ou seja, é um disco de tiozão. Se era isso que BRUCE queria, sem dúvida que ele conseguiu, mas isso não torna o disco bom, de maneira alguma.
No quesito produção não achei tão diferente dos anteriores, Roy Z nunca foi um primor nesse quesito, só achei ele muito complicado, os anteriores te cativavam na primeira audição, esse foi mais complicado, precisei escutar algumas vezes até captar a mensagem. Resumo, é um ótimo disco, mas esquecivel, complexo sem necessidade pra isso , p
Eu também senti que o disco cresceu com mais audições. Gosto bastante quando isso acontece, porque motiva a ouvir mais vezes depois de passar o impacto da novidade. Obrigado por comentar, Alex!