Maravilhas do Mundo Prog: King Crimson – Red [1974]

Maravilhas do Mundo Prog: King Crimson – Red [1974]

Por Mairon Machado

Chegamos na última Maravilha Prog criada pelos ingleses do King Crimson. Depois de cinco Maravilhas em sequência (“Epitaph“, “Pictures of a City“, “Lizard“, “Islands” e as duas partes de “Lark’s Tongues in Aspic“), mais um perrengue aparecia para o guitarrista Robert Fripp. Dessa feita, ele via-se acompanhado apenas por John Wetton (baixo, vocais) e Bill Bruford (bateria, percussão). Brigas internas fizeram com que o violinista David Cross abandona-se a barca logo após o lançamento de Starless and Bible Black, um disco de menor valor dentro da carreira do grupo, e como uma cruz a ser carregada, a dúvida na sequência do trabalho pairou no ar novamente.

Porém, apesar de todos os problemas, a fama do grupo não parava de crescer. O último show de Cross com a banda foi no Central Park de Nova Iorque, e nos Estados Unidos, o grupo assinou um contrato de distribuição de seus álbuns com a gravadora Atlantic, além de antecipar um dinheiro extra para a gravação de um novo álbum.

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Uma das últimas fotos com David Cross: John Wetton, David Cross, Robert Fripp e Bill Bruford

Esse compromisso praticamente obrigou o trio a entrar nos estúdios, e Fripp não exitou em pedir ajuda para vários amigos, que auxiliaram no complemento daquele que se tornou o último álbum de estúdio do King Crimson nos anos 70. Fripp estava cada vez mais desiludido com o mundo da música, e agora, dedicava sua atenção para as escrituras místicas de George Gurdjieff, passando a viver quase como em um retiro espiritual, deixando para Bruford e Wetton a tarefa de comandar as sessões de gravação.

Inesperadamente, quando as gravações acabaram e a mixagem estava pronta, dias antes do lançamento do mesmo álbum, Fripp veio a imprensa, em 24 de setembro de 1974, anunciar o encerramento das atividades do King Crimson. Bruford passou a integrar (temporariamente) o Gong, indo posteriormente parar no Genesis, enquanto que John Wetton substituiu Gary Thain no Uriah Heep, enquanto Fripp abandonou a música, mas antes, em 8 de outubro de 1974, Red, o derradeiro álbum do Crimson chegou às lojas.

14. King Crimson
Bill Bruford, Robert Fripp e John Wetton

A influência de Bruford e Wetton nas composições torna-se evidente nas duas principais faixas do Lado A do LP, que levam o nome do álbum. Uma delas é a Maravilhosa faixa de abertura, “Red”, que é verdadeiramente uma obra-prima feita por um power-trio inconformado com o visível final da banda, e jogando seu suor com uma garra e raiva incomuns nas canções do Crimson, tanto que por conta dela, muitos acabam confundindo com uma banda de Heavy Metal em uma audição sem conhecimento de causa.

A faixa-título é um petardo instrumental que surge com a guitarra fazendo um tema inicial, em um breve crescendo acompanhado pelo baixo, que imita as mesmas notas, mas carregado de distorção, enquanto Bruford detona seu kit em várias viradas. A partir de então, o baixo (sempre com distorção) e a bateria conduzem um andamento simples para Fripp criar o tema principal através de seus acordes, com muito peso sendo expelido por parte do trio. Destaca-se os bends de Wetton, a precisa marcação de Bruford e as belas mudanças de acordes de Fripp.

O tema central repete-se integralmente, e ao seu final, o andamento muda, com um crescendo dos acordes da guitarra levando ao viajante tema central, com Wetton usando um arco de violino para emitir as notas do baixo, imitando um violoncelo, enquanto a guitarra fica fazendo uma repetição de acordes que hipnotiza. O clima é de tensão e agonia, em uma espécie de filme de suspense, e o mesmo é quebrado pelo retorno do tema central, que repete-se por mais duas estrofes com Bruford novamente dando show nas suas viradas, encerrando essa Maravilhosa canção com a repetição do tema da introdução, após quase sete minutos de duração que mais parecem sete segundos tamanha sua influência dentro da mente do ouvinte.

Não à toa, “Red” tornou-se favorita dos fãs do grupo. Seu peso, sua simplicidade e principalmente, os acordes de guitarra misturados com os bends do baixo e as viradas da bateria. Tanto que depois que o grupo retornou as atividades, a canção esteve presente em quase todos os setlists dos shows da banda. Fallen Angel” segue o álbum sendo uma canção mais amena, trazendo na sua introdução uma gravação de improvisos por Jamie Muir e David Cross, além de Robin Miller no oboé e Mark Charig na corneta. Essa foi a última canção do Crimson a ter Fripp nos violões. “One More Red Nightmare” é a outra violenta faixa do Lado A, com a participação de Ian McDonald no saxofone, e responsável por encerrar os trabalhos.

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John Wetton, Robert Fripp e Bill Bruford

No lado B estão os improvisos de “Providence”, gravada ao vivo em na cidade de mesmo nome, no dia 30 de junho de 1974 e ainda com Cross no violino, e o álbum encerra com “Starless”, a despedida do mellotron cercada de muita improvisação e uma interpretação vocal fabulosa de Wetton.

Em 1975 foi lançado o ao vivo USA, com a turnê de Starless and Bible Black sendo registrada em um belo álbum simples. Um longo hiato de cinco anos ocorre, e em 1980, Fripp retorna com o King Crimson, tendo na formação novamente Bill Bruford na bateria, e agora Tony Levin (baixo) e Adrian Belew (guitarra, vocais), criando uma nova etapa na carreira da banda, odiada por muitos, adorada por vários, e que lançou a trilogia Discipline (1981), Beat  (1982) e Three of a Perfect Pair (1984).

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Bill Bruford, Adrian Belew, Robert Fripp e Tony Levin. Um novo King Crimson, em 1982

Mais idas e vindas ocorreram na carreira do grupo a partir de então, mas nada de Maravilhoso pode ser encontrado na Discografia de um dos cinco grandes nomes do prog dos anos 70.

Daqui há um mês, começamos nossa viagem pelas quatro Maravilhas Prog gravadas pelo grupo Genesis, o penúltimo dos Gigantes Britânicos do Rock Progressivo.

5 comentários sobre “Maravilhas do Mundo Prog: King Crimson – Red [1974]

  1. Maravilhosa faixa-título de um disco absolutamente fantástico do King Crimson. Esse é daqueles álbuns que me lembram um sanduíche meio bagunçado: a primeira e a última músicas são como um pão delicioso envolvendo um recheio muito bom, mas que não está à altura da qualidade do pão (pensa numa baguete francesa envolvendo duas fatias de queijo mussarela e um presunto comum, hehehe). “Red” e “Starless” são composições à altura do que o Crimson fez de melhor, e a primeira é uma aula de peso com elegância.

    1. Muito obrigado pelo comentário Marcello. Adorei a analogia com a baguete. Das cinco Maravilhas Prog apresentadas aqui, relativas ao KC, qual sua favorita? A minha é “Lark’s Tongues”. Abraços

      1. Essa é uma pergunta difícil. Acho que vou acompanhar o voto do relator, fico com “Larks Tongues in Aspic” também!!

  2. Red foi o primeiro disco do King Crimson que escutei. Consequentemente, foi a faixa título (primeirona do lado A) quem me apresentou à banda! Ainda hoje é minha música favorita na discografia do Rei Escarlate (ao lado de “Starless”, confesso), naquele que considero não só o melhor disco do grupo, mas um dos meus Top 5 quando se trata de progressivo. Faixa linda, pesada, empolgante, tensa, enervante, que “diz” tudo o que precisa mesmo sem usar de palavras! “Starless” é maravilhosa, também, uma obra prima de uma das melhores bandas que o mundo já viu, em um disco que, se tivesse a versão completa de “Providence” (lançada anos depois no box Great Deceiver), ou a mesma substituída por “Dr. Diamond” (que, infelizmente, nunca teve versão de estúdio lançada oficialmente), seria ainda mais perfeito do que já é! Clássico, sem dúvidas!

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