Renaissance – Academy Of Music 1974 [2015]

Renaissance – Academy Of Music 1974 [2015]

 

Por Micael Machado

Há exatamente 50 anos, em 17 de maio de 1974, o grupo inglês Renaissance, formado à época pela cantora Annie Haslam, pelo violonista Michael Dunford, baixista Jon Camp, tecladista John Tout e pelo baterista Terence Sullivan, aportava na opera house The Academy of Music, em Nova Iorque, para duas apresentações em sequência, uma iniciando às oito da noite, a outra às onze e meia, ambas com abertura do também britânico Fairport Convention. O quinteto já havia tocado no mesmo local em março daquele ano, mas esta ocasião seria especial por, pelo menos, dois motivos: estariam apresentando as músicas do então recém lançado Turn of the Cards (ou ainda por lançar, pois Dunford chega a citar, antes de introduzir a canção “Black Flame”, que “o novo álbum saiu alguns dias atrás, eu espero!“), e, mais importante que isto, estariam se apresentando ao lado de uma orquestra de 24 músicos, ideia sugerida pelo promotor do concerto, Howard Stein, ainda na apresentação de março. O primeiro dos dois shows foi transmitido pela rádio WNEW, e, depois de ser disponibilizado em vários bootlegs diferentes ao longo dos anos, foi lançado oficialmente em 2015 pela gravadora Purple Pyramid, nos formatos CD e vinil (ambos duplos) com o título bastante genérico de Academy Of Music 1974, e uma arte de capa de gosto “duvidoso”, para dizer o mínimo, além de, em 2020, ser incluído na versão expandida (com 3 CDs e um DVD) do citado Turn of the Cards.

Mas, se título e capa deixam a desejar, o conteúdo musical apresentado nas bolachas é extremamente recomendável. Mostrando a confiança do grupo no novo material, cinco das seis faixas de Turn of the Cards fizeram parte do repertório da noite em questão. Ainda que sem maiores diferenças em relação aos arranjos de estúdio, é bastante curioso ouvir futuros clássicos como “Running Hard”, “Things I Don’t Understand” e, principalmente, “Mother Russia” (onde, na introdução, Dunford pede uma merecida salva de palmas para a orquestra que acompanha o grupo, sendo que, justamente esta faixa, é uma das quais ela possui maior destaque no disco inteiro), serem tocadas em frente a uma plateia que, em sua maioria, estava sendo apresentada a eles naquela noite (sendo que muitos ali, certamente, nunca haviam ouvido tais músicas antes). A já citada “Black Flame” (uma das minhas favoritas na discografia da banda) e a versão do grupo para o “Adagio in G minor” de Albinoni (que, segundo a wikipedia, foi na verdade composto por Remo Giazotto), chamado “Cold Is Being” (onde, na introdução, Dunford diz que “acredito que já tenhamos tocado esta na vez anterior em que estivemos aqui, o que faz com que seja a segunda vez que a interpretamos ao vivo”) se tornariam bastante raras em set lists futuros, tornando suas presenças aqui ainda mais especiais.

O Renaissance em 1974: John Tout, Annie Haslam, Terence Sullivan, Jon Camp e Michael Dunford

Aos fãs que a banda já havia conquistado anteriormente, apenas quatro músicas foram apresentadas, mas as escolhas não deixam motivos para nenhum ressentimento. Começando pela maravilhosa abertura com os quase doze minutos de “Can You Understand”, passando pela belíssima “Carpet Of The Sun”, e culminando em uma fantástica versão de mais de vinte minutos para “Ashes Are Burning” (que conta com a presença do próprio promotor Howard Stein no segundo piano, além da participação, assim como na versão de estúdio, de Andy Powell, do Wishbone Ash, na guitarra elétrica, em uma das raras performances desta faixa com este instrumento durante a versão setentista da banda), a qual, ao lado da citada “Mother Russia”, já bastaria para indicar a aquisição deste disco a qualquer fã da banda. O álbum e a apresentação (que totaliza pouco menos de noventa minutos) se encerram com outra magnífica versão, desta vez para “Prologue”, onde Annie, no mais impecável ao longo de todo o show, dá um verdadeiro “baile” em muita cantora operística de banda de gothic metal do século XXI com o poder de sua abençoada garganta!

Como escrito na contracapa da versão em LP, Academy Of Music 1974 encontra o Renaissance em um momento de virada, prestes a atingir a consagração com os álbuns posteriores Scheherazade and Other Stories e Novella, mas ainda desconhecidos o suficiente para estarem com o “sangue nos olhos” de uma banda que ainda tem conquistas a alcançar. Ainda citando a contracapa do LP, “podem haver outros registros ao vivo da banda tão bons quanto este, mas eles são de um momento posterior em sua carreira, com a banda já seguramente encaixada na posição de destaque que alcançaram. Aqui, o Renaissance ainda não havia atingido este status, e isto torna tudo diferente!” E, também, ainda mais especial, acrescento eu, cinquenta anos depois!

Contracapa da versão em vinil de Academy Of Music 1974

Track List (versão em CD):

CD1:

1. Can You Understand

2. Black Flame

3. Carpet Of The Sun

4. Cold Is Being

5. Things I Don’t Understand

6. Running Hard

CD2:

1. Ashes Are Burning

2. Mother Russia

3. Prologue

8 comentários sobre “Renaissance – Academy Of Music 1974 [2015]

  1. O que dizer mais? Resenha primorosa, disco idem, só tenho a agradecer a postagem! Todos que curtem rock e passam pelo progressivo, um dia, hão de desembarcar no Renaissance… Sugiro calma, falta de pressa e espírito contemplativo.

    1. Grato pelo comentário, Marcelo! Realmente, o Renaissance exige outro nível de atenção, mesmo para quem gosta de prog… sempre achei curioso o fato das músicas (pelo menos da maioria delas) serem levadas por piano e violão ao invés de teclados e guitarra, como é mais comum no mundo do progressivo… mesmo assim, as músicas não deixam de ser altamente recomendáveis, e Annie é uma fada cantando..

  2. O Renaissance foi uma banda única ao juntar os arranjos acústicos à voz feminina – acho que o único paralelo seria o Pentangle, mas nesse caso o som era voltado para o folk e não para o clássico. A banda tinha músicos de altíssimo padrão, com destaque para o ótimo baixista Jon Camp (um músico um pouco subestimado, na minha opinião) e para o excepcional John Tout, cujo piano foi o que me atraiu para a banda de cara, quando comprei o “Prologue” em vinil numa promoção – nunca tinha ouvido a banda antes, só tinha lido a respeito. Esse “Academy of Music” está no nível do “At Carnegie Hall”, na minha opinião.

    1. Tirando Annie, o grande destaque da banda, para mim, sempre foi o piano de Tout, um daqueles casos de músico que deveria ter um reconhecimento maior do que aquele que possui! Quando ao nível dos discos, sem dúvidas ambos são altamente recomendáveis, mas, por causa do repertório, ainda prefiro ouvir o álbum do Carnegie Hall! Grato pelo comentário, Marcello!

    2. No YT, há um vídeo com uma versão ao vivo de “Ashes are burning”, do ano de 1976. Essa versão tem aproximadamente 30 minutos. E nela Jon Camp brilha com um solo excelente de contrabaixo. Recomendo.

  3. Concordo com tudo – o piano do John Tout é reflexo de muita erudição clássica, façam o teste: tirem uns 2, 3 dias ouvindo com frequência as obras para piano de Beethoven, Schubert e Brahms, por exemplo, e depois coloquem o Renaissance na vitrola. Não tem erro.

  4. Que noite primorosa foi essa! Sorte de quem pôde ouvir as vozes de duas cantoras maravilhosas (e hoje em dia um tanto subestimadas): Sandy Denny e Anne Haslam.

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