Jethro Tull – Heavy Horses [1978]
Por Daniel Benedetti
Heavy Horses é o décimo primeiro álbum de estúdio da banda Jethro Tull, lançado em 10 de abril de 1978. Foi o primeiro álbum gravado pelo Jethro Tull no recém-construído estúdio Maison Rouge, em Fulham, Londres, um estúdio de gravação personalizado que foi financiado e de propriedade de Ian Anderson.
Grande parte do álbum foi gravado à noite, pois Anderson sentiu que o horário diurno no estúdio precisava ser deixado disponível para clientes empresariais em potencial. A tecladista Dee Palmer relembrou suas anotações no diário no momento da gravação dizendo que “Eu começaria às 19h e voltaria para casa às 7h!”. É aqui que Anderson começou a ter problemas vocais, o início de uma doença que se tornaria mais grave na década de 1980 e mais tarde evoluiria para a doença pulmonar obstrutiva crônica. Como resultado, os vocais de Anderson soam mais nasais e ásperos em algumas faixas do álbum, especialmente na faixa-título.
Tal como acontece com o álbum anterior da banda, Songs from the Wood, outros membros do conjunto, além de Anderson, estiveram envolvidos na composição das músicas para o disco, com o guitarrista Martin Barre compondo partes da faixa-título e de “No Lullaby” e Palmer escrevendo arranjos de cordas para a maioria do álbum, bem como a ponte instrumental de “And the Mouse Police Never Sleeps”. Darryl Way do Curved Air é um convidado no disco, tocando violino na faixa-título e em “Acres Wild”. O Jethro Tull era formado pelo Ian Anderson (vocais/flauta), pelo guitarrista Martin Barre, pelo baixista John Glascock, pelo pianista John Evan, pela tecladista Dee Palmer e pelo baterista Barriemore Barlow.
Várias músicas foram gravadas, mas abandonadas ou cortadas do álbum durante as sessões de gravação, incluindo o lado B “Beltane”, uma música completamente finalizada intitulada “Everything in Our Lives” e uma versão acústica inicial de “Jack-a-Lynn”, uma faixa que mais tarde seria regravada durante as sessões do álbum de 1982 da banda, Broadsword and the Beast.
Muitas das canções inéditas gravadas durante as sessões do disco foram posteriormente lançadas na coletânea de aniversário de 20 anos do Jethro Tull, em 1988, e na edição “New Shoes” do 40º aniversário do álbum, em 2018. Após a remixagem do disco para a edição de 40º aniversário, foi descoberto que as fitas masters originais de “Moths” e de “Rover” estavam ligeiramente danificadas, provavelmente como resultado de um gravador com defeito. As versões remixadas das faixas incluídas no relançamento do álbum foram ligeiramente reduzidas para se corrigir isso.
Ao continuar o estilo folk rock de Songs From the Wood, Heavy Horses vê uma mudança tonal para temas mais terrenos e realistas da vida country, em comparação com a fantasia e mitologia do álbum anterior. Anderson foi novamente inspirado pela vida cotidiana em sua propriedade rural recentemente adquirida em Buckinghamshire. Várias das canções do álbum foram diretamente inspiradas na vida pessoal de Anderson na propriedade: “…And the Mouse Police Never Sleeps” foi por seu gato Mistletoe, “No Lullaby” foi escrita como uma “anti-canção de ninar” para seu filho e “Rover” foi imaginada em seu cachorro Lupus.
Outras canções do álbum, como “Weathercock” e a faixa-título, pintam um quadro frio e prático da vida no campo. As letras de outras faixas foram inspiradas na literatura, como “One Brown Mouse”, no poema de Robert Burns, To a Mouse, e “Moths”, no romance de John le Carré, The Naïve and Sentimental Lover. Anderson afirmou que a gravação do álbum ocorreu em um momento em que outros artistas estavam se movendo em direção às novas tendências da música, e a banda decidiu que não queria “parecer que estávamos tentando entrar no estilo pós-punk que era usado pelos The Stranglers ou The Police”.
O disco é aberto com a interessante “…And the Mouse Police Never Sleeps”, uma faixa com a flauta de Anderson comandando a canção. O clima continua inebriante com outra energética música,”Acres Wild”. Na ótima “No Lullaby”, a guitarra de Barre aparece com mais personalidade e peso. “Moths” é basicamente uma canção acústica, com ótima atuação de Anderson nos vocais e bonitos arranjos. Com presença incrível da guitarra de Barre, a cativante “Journeyman” é uma das preferidas do disco. “Rover” é extremamente divertida, com boas doses de criatividade.
A suave “One Brown Mouse” tem a flauta de Anderson novamente como mola propulsora da canção. A faixa-título é mais contida e suave, em um momento de muita beleza do disco, com alguma pegada prog. Outra linda música, “Weathercock”, encerra o disco com alto nível. Ao rechear Heavy Horses de melodias de inspiração folk, com várias passagens de suas canções apostando em uma musicalidade acústica – e por vezes bucólica – o Jethro Tull construiu um álbum tocante e sensível e que, ao menos na minha “bolha”, é menos apreciado do que eu julgo ser merecido. Como foi afirmado, a beleza sutil de suas melodias são cativantes.
Heavy Horses atingiu a 19ª posição na principal parada de discos norte-americana, conquistando a 20ª em sua correspondente britânica. “Moths” foi o principal single escolhido para promover o trabalho. A crítica contemporânea da Rolling Stone foi positiva, chamando os arranjos instrumentais de luxuosos e afirmando que Heavy Horses e o gênero folk, como uma continuação de Songs from the Wood, combinavam perfeitamente com o Jethro Tull.
A banda continuou em turnê e em 1978 lançou um álbum duplo ao vivo, Bursting Out, que foi gravado durante a etapa europeia da turnê Heavy Horses (em 1978). Durante a parte norte-americana desta turnê, em 1979, John Glascock sofreu problemas de saúde e foi substituído pelo amigo de Anderson e ex-baixista do Stealers Wheel, Tony Williams. Heavy Horses, segundo estimativas, ultrapassa a casa de 500 mil cópias vendidas apenas nos Estados Unidos.
Track List
1. …And the Mouse Police Never Sleeps
2. Acres Wild
3. No Lullaby
4. Moths
5. Journeyman
6. Rover
7. One Brown Mouse
8. Heavy Horses
9. Weathercock
“Heavy Horses” é um dos meus preferidos do Jethro Tull. Lembro que quando o comprei um dos meus amigos comentou que era o último disco bom da banda, e eu discordei por adorar o “Broadsword and the Beast”, o “A” e o “Crest of a Knave”. De todo modo, representa o fim de uma era para a banda, pois “Stormwarch” já aponta para os rumos deles nos anos 80. E essa box set que você cita é excelente!
Valeu, Marcello. Também não acho que seja o último disco bom da banda, embora tenha o Heavy Horses em contas mais altas que a maioria, pois, para mim, ele é muito bom.