Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Carnegie Hall

Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Carnegie Hall

Por Marcello Zapelini

O teatro nova-iorquino foi inaugurado em 1891, após uma doação de mais de dois milhões de dólares (da época!!) feita pelo milionário Andrew Carnegie (que normalmente financiava bibliotecas pelos EUA), para hospedar eventos musicais. Com capacidade para mais de 3600 pessoas sentadas, o Carnegie Hall não impressiona pela arquitetura nem pelo tamanho, mas possui uma rica história em termos dos eventos que hospedou em mais de 130 anos de história. Naturalmente, a música erudita dominou os trabalhos no Carnegie Hall nas primeiras décadas de sua história, mas sempre houve abertura para música popular.

E neste sentido, um dado interessante é que já em 1892 uma cantora negra, Sissirietta Jones (uma soprano que ganhou fama na ópera ainda bem jovem), se apresentou no Carnegie Hall – diferentemente de outros teatros e casas de espetáculos pelos EUA, não havia segregação racial nele. E em 1912 houve um espetáculo de jazz conduzido por James Reese Europe (que, durante a Primeira Guerra Mundial, conduziria uma orquestra de músicos negros na França, que se tornaria conhecida como “Hellfighters”, e faria os franceses se apaixonarem por jazz – o livro “Soldados do Jazz”, de Thomas Santouiren, narra essa fascinante história). Falando em jazz, em 1938 ocorreu um evento histórico, um concerto de jazz como nenhum outro até então, organizado por Benny Goodman e seu empresário, que pode ser considerado como um marco na popularização do ritmo entre o grande público americano.

O rock’n’roll entraria no mundo do Carnegie Hall já em 1955, com Bill Haley and His Comets. Mas até os Beatles se apresentarem lá em fevereiro de 1964, concertos de rock eram raridade. O sucesso dos Quatro Cabeludos de Liverpool (essa é velha…) fez com que as portas se abrissem, e várias bandas consagradas se apresentaram lá. Um detalhe curioso: de acordo com a Wikipedia, os responsáveis pela casa não tinham uma lista dos eventos que lá ocorreram até 1986, tornando a história do Carnegie Hall algo bem mais difícil de se recontar do que vários outros lugares. A lista que preparei, curiosamente, só traz álbuns dos anos 70 (só me dei conta disso depois de montá-la) – e como bônus, uma homenagem ao jazz no Carnegie Hall, pois a maioria dos grandes jazzistas se apresentou por lá, e a lista de discos gravados é impressionante, incluindo Dave Brubeck, Dizzy Gillespie, Gerry Mulligan, Chet Baker, Alice Coltrane, Billie Holiday, Chick Corea.


Jethro Tull – Live at The Carnegie Hall 1970 [2015]

Em 1970, Jethro Tull realizou um concerto beneficente no Carnegie Hall, que foi registrado profissionalmente, e teria uma confusa história de lançamentos: em 1972, o lado A do segundo LP de Living in the Past trouxe “By Kind Permission Of” e “Dharma for One”; em 1993, a box set 25th Anniversary Box Set trouxe o resto do show; em 2010, a reedição de 40º aniversário de Stand Up ofereceu todas as músicas em um único CD, ainda que com alguns edits; por fim, em 2015, um álbum duplo, Live at Carnegie Hall 1970, traria pela primeira vez todas as músicas em vinil (e também foi a primeira vez que o show foi lançado individualmente) – mas também com alguns edits, em especial entre as músicas. Nessa época, o Jethro Tull trazia em sua formação, além do fundador e chefe geral Ian Anderson, Martin Barre na guitarra, Glenn Cornick no baixo, Clive Bunker na bateria e John Evan no órgão e piano. O ótimo Cornick sairia (ou seria expulso) pouco depois e o não menos excelente Bunker, após o 4º LP, Aqualung. Aliás, “My God”, que sairia nesse LP, era apresentada no show como introdução para o solo de flauta de Anderson. O resto do repertório consiste em “A Song for Jeffrey” e “Dharma for One” (com direito a um solo memorável de Bunker) do primeiro álbum, This Was, “Nothing is Easy”, “We Used to Know e “For a Thousand Mothers”, de Stand Up, e “To Cry You a Song” “With You There to Help Me” (parcialmente tocada, pois leva ao solo de piano de Evan – e seus improvisos com Anderson – em “By Kind Permission Of”) e “Sossity: You’re a Woman” (com um trecho de “Reasons for Waiting”, de “Stand Up”, no meio), de Benefit. Uma instrumental de Barre, simplesmente intitulada “Guitar Solo”, completa o programa. O Jethro Tull, jovem e no pique, é quase imbatível, e a performance do grupo é simplesmente fantástica ao longo dos cerca de 80 minutos que compõem o show. Infelizmente, nenhum dos lançamentos está 100% completo, pois “Dharma for One” tem menos de dez minutos em Living in the Past contra mais de treze nas outras edições; o ideal seria montar um arquivo ou gravar um CD duplo usando a parte que compôs o CD 3 da box do 25º aniversário e as músicas da edição especial de Stand Up. Pior, quando os álbuns do Jethro Tull (Stand Up e Benefit) foram relançados nas boxes comemorativas, o show do Carnegie Hall se perdeu – e estamos falando aqui de um que é superior a todos os concertos disponíveis nessas boxes. Dificuldades à parte, a qualidade de gravação é muito boa, embora haja pouca participação da plateia, e a apresentação é fantástica.

Ian Anderson (vocais, flauta, violões), Martin Barre (guitarra), Clive Bunker (bateria), Glenn Cornick (baixo), John Evans (piano)

  1. Nothing Is Easy
  2. My God
  3. With You There To Help Me/By Kind Permission Of
  4. A Song For Jeffrey
  5. To Cry You A Song
  6. Sossity, You’re A Woman/Reasons For Waiting/Sossity, You’re A Woman
  7. Dharma For One
  8. We Used To Know
  9. Guitar Solo
  10. For A Thousand Mothers

Chicago – At Carnegie Hall/Chicago IV [1971]

Não sei quanto a vocês, mas o primeiro nome que vem à minha cabeça quando se fala em álbum ao vivo no Carnegie Hall é esta magnífica box com 4 LPs do Chicago (veja o vídeo do Mairon Machado no “Minha Coleção”, bem como o texto do “Datas Especiais” sobre os cinquenta anos do disco). A banda vinha de três álbuns duplos em sequência, e essa primeira gravação ao vivo oficialmente lançada por eles traz a formação original em uma série de shows em abril de 1971, que inclui todas as músicas diferentes gravadas nos oito concertos originais. Se alguém achar pouco, há uma box set (que é um sonho de consumo meu…) com 16 CDs trazendo tudo o que foi apresentado em cada um dos shows. Mais de 14 horas de música!! É incrível imaginar que uma box de 4 LPs tenha chegado ao 3º lugar da parada americana, mas esta chegou. No começo dos anos 70, o Chicago era uma banda que, além de ser formada por músicos excelentes, unia a musicalidade do jazz à atratividade do pop, com generosas doses de rock’n’roll (em especial nas guitarras e vocais do eternamente subestimado Terry Kath e na bateria de Danny Seraphine). O resultado era um sucesso impressionante para um grupo cujos três álbuns anteriores tiveram como pior posição na Billboard o 17º lugar (do disco de estreia) e que atravessaria os anos 70 como uma verdadeira hit machine, com mais de 40 milhões de discos vendidos só nos EUA. Quanto a este álbum, é verdade que a qualidade da gravação não é tão boa quanto os outros desta lista, mas ainda assim não entendo por que James Pankow, Lee Loughnane e Peter Cetera o criticam tanto. É difícil apontar destaques quando se tem um altíssimo nível de interpretação em todas as músicas – eu, pessoalmente, prefiro as versões ao vivo às de estúdio. As composições mais longas, como “Ballet for a Girl in Buchanon”, “Sing a Mean Tune, Kid”, “It Better End Soon” e “South California Purples”, são especialmente impressionantes, pois a banda se mantém impecável durante toda a execução. Para mim, Terry Kath e Robert Lamm são os principais destaques, tocando muito do começo ao fim, mas os metais soam como se a seção fosse formada por mais de três músicos (Loughnane, Pankow e Walter Parazaider – este brilha sobretudo nos seus solos de flauta, que para mim são melhores do que no sax, seu instrumento primordial), e os vocais de Lamm, Kath e Cetera estão muito bons, no nível das gravações originais. A cozinha formada por Cetera e Seraphine está perfeita – não sou muito fã da voz do baixista, mas ele é muito bom no seu instrumento e se entende muito bem com o baterista, armando as bases para os metais, a guitarra e os teclados brilharem (e como brilham, aliás! Em cada música há pelo menos um momento impressionante). Quer saber de alguma coisa? Se alguém te encher a paciência, desprezando o Chicago por causa da melosa baladinha “If You Leave Me Now”, ponha este álbum para rolar. A fusão de banda de rock com metais, que começara com o Electric Flag e o Blood, Sweat & Tears, atingiu com a banda da Windy City a sua expressão mais perfeita.

Terry Kath (guitarra, vocais), Peter Cetera (baixo, vocais), Robert Lamm (piano, vocais), Walter Parazaider (flauta, saxofone, clarinete, percussão, vocais de apoio), Lee Lughnane (trompete, percussão, guitarras, vocais de apoio), James Pankow (trombone, percussão, vocais de apoio), Danny Seraphine (bateria)

  1. In The Country
  2. Fancy Colours
  3. Does Anybody Really Know What Time It Is? (Free Form Intro)
  4. Does Anybody Really Know What Time It Is?
  5. South California Purples
  6. Questions 67 And 68
  7. Sing A Mean Time Kill
  8. Beginnings
  9. It Better End Soon
  10. Introduction
  11. Mother
  12. Lowdownd
  13. Flight 602
  14. Motorboat To Mars
  15. Free
  16. Where Do We Go From Here
  17. I Don’t Want Your Money
  18. Happy Cause I’m Going Home (Ballet For A Girl In Buchannon)
  19. Make Me Smile
  20. So Much To Say, So Much To Give
  21. Anxiety’s Moment
  22. West Virginia Fantasies
  23. Colour My World
  24. To Be Free
  25. Now More Than Ever
  26. A Song For Richard And His Friends
  27. 25 or 6 To 4
  28. I’m A Man

Ike & Tina Turner – What You Hear Is What You Get – Live at Carnegie Hall [1971]

Em 1971, a versão do duo para “Proud Mary” (do Creedence) vendeu bem, e Ike & Tina Turner capitalizaram esse sucesso com um duplo ao vivo no Carnegie Hall. Se a capa traz a bela Tina dançando em várias imagens, o tríptico interno coloca Ike em destaque em fotos de estúdio – afinal, ele se achava o chefe… O álbum começa com as Ikettes em “Piece of My Heart” e “Everyday People”, de Janis Joplin e do Sly & The Family Stone, e o DJ que anunciou o início do show chama a estrela para “Sweet Soul Music”, que depois comanda a plateia em “Ooh Poo Pah Doo”. Tina dá um banho em Mick Jagger ao interpretar “Honky Tonk Women”, e revisita a Motown em “A Love Like Yours”, que fora sucesso com Martha & The Vandellas. “Proud Mary” ganha uma versão de mais de 6 minutos, que inicia lenta e com a voz grave de Ike acompanhado pelas cantoras, com Tina ficando cada vez mais proeminente, até explodir em energia. A música se interrompe, o público aplaude, mas a banda a puxa novamente e Tina retoma a letra em um “encore” de 2’35”; com uma continuação no lado C com mais três minutos, a música consome 20% do tempo total de duração do álbum. O blues “I Smell Trouble”, uma das músicas que mais gosto do duo, ganha uma versão definitiva no segundo LP, que ainda inclui outra música de Sly & The Family Stone, “I Want to Take You Higher”, que se não chega a botar o público para pular como em Woodstock, não decepciona em termos de energia e balanço funky; o curioso é que são as cantoras que fazem todos os vocais (Ike poderia ter cantado no barítono de Larry Graham sem problemas). Por fim, o quarto lado traz duas composições de Otis Redding, “I’ve Been Loving You Too Long”, que ganhava uma longa versão em cada show que eles faziam, e “Respect”, que começa semelhante à original de Otis, ganha uma parte intermediária com Tina animando a plateia, e, no todo, conta com uma interpretação vocal que perde apenas para a versão de Aretha Franklin (mas aí também é covardia). Sem dúvida, Ike era um cafajeste, mas era um excelente músico e sabia formar ótimas bandas (seus “Kings of Rhythm” estavam à altura das bandas de James Brown e as Ikettes eram excelentes cantoras); Tina deu a volta por cima nos anos 80, lançando discos de grande sucesso e se estabelecendo como uma estrela de primeira grandeza nos céus do rock, vindo a falecer em 23 de maio de 2023, aos 83 anos. Ike & Tina Turner lançaram vários álbuns de boa qualidade antes do duo se desfazer em 1976, quando ela finalmente se livrou do abusivo marido, mas este What You Hear is What You Get é um dos melhores. É verdade que Ike & Tina Turner in Paris, lançado exclusivamente na Europa um pouco depois deste álbum é ainda melhor – mas essa lista se refere ao Carnegie Hall, e este álbum é um bom exemplo do que se pode fazer lá.

  1. Introduction
  2. Piece Of My Heart
  3. Everyday People
  4. Introduction To Tina
  5. Doin’ The Tina Turner
  6. Sweet Soul Music
  7. Ooh Poo Pah Doo
  8. Honky Tonk Women
  9. A Love Like Yours
  10. Proud Mary
  11. (Encore Of) Proud Mary
  12. Proud Mary (Continued)
  13. I Smell Trouble
  14. Ike’s Tune
  15. I Want To Take You Higher
  16. I’ve Been Loving You Too Long
  17. Respect

Bill Withers – Live At Carnegie Hall [1973]

O cantor americano só se aventurou no mundo da música aos 33 anos, e seu terceiro álbum é este duplo ao vivo gravado em 1972 – pero no mucho, pois as seções de cordas e metais foram acrescentadas posteriormente em estúdio. Eu tinha vontade de ouvir o álbum sem a orquestração, honestamente: Bill cria um clima incrível de camaradagem e intimidade com a plateia, e sua banda (que incluía um guitarrista solo, baixo, bateria, teclados e percussão) é fenomenal: já na faixa de abertura, o público bate palmas, canta junto, tornando este um álbum que reflete bem a experiência de um show (apesar da maldita seção de cordas!!) em que o artista está em conexão com seu público. Bill Withers não era exatamente um cantor excepcional, mas sua voz e violão são seguros, e nessa altura ele já tinha várias músicas de sucesso, tornando este álbum obrigatório para quem quer conhecer seu trabalho no auge da carreira. “Use Me” abre o álbum e dá o tom do show, incluindo um false ending e um pouquinho de papo de Bill com o público. As músicas que se sucedem se dividem em material dos dois LPs anteriores dele e algumas músicas inéditas até então, mas, apesar disso, o público se mantém em alto astral do começo ao fim. As músicas mais conhecidas do cantor, como “Grandma’s Hands”, “Lean on Me” e “Ain’t No Sunshine” são apresentadas para o deleite dos sortudos que assistiram este concerto maravilhoso, e o final com “Harlem/Cold Baloney” faz com que você queira ouvir o disco novamente. Há que se mencionar “I Can’t Write Left Handed”, em que Bill canta sobre um veterano da guerra do Vietnã que perdera a mão direita em combate, e os músicos de apoio mantêm um tom fúnebre nos backing vocals, em uma das músicas mais tocantes que ouvi sobre a trágica guerra. A percussionista Bobbye Hall cria um contraponto perfeito com a letra de “Grandma’s Hands”, tornando essa versão bem superior à original. O catálogo de Bill Withers é relativamente magro, mas os quatro primeiros álbuns que lançou (incluindo este) são essenciais para quem curte soul music do começo dos anos 70. Bill Withers Live at Carnegie Hall ocupou a 27ª posição numa lista dos 50 melhores ao vivo de todos os tempos feita pela Rolling Stone em 2015, mas não foi um sucesso comercial – não figurou na parada da Billboard e na Inglaterra atingiu apenas o 80º posto. Isso não tira o brilho do álbum – apenas indica que qualidade nem sempre se reflete em vendagem. Eu confesso que comprei o CD praticamente no escuro: vi o nome “Ain’t No Sunshine” na contracapa e pensei que era uma música que conhecia, gostava muito e não sabia de quem era. Ao chegar em casa e ouvir o álbum, fiquei duplamente contente: primeiro porque tinha achado a música que gosta e, segundo, porque tinha músicas ainda melhores do que aquela.

Bill Withers (vocais, violão), Melvin Dunlap (baixo), Ray Jackson (piano), Benorce Blackmon (guitarra), James Gadson (bateria), Bobbye Hall (percussão)

  1. Use Me
  2. Friend Of Mine
  3. Ain’t No Sunshine
  4. Grandma’s Hands (With Rap)
  5. World Keeps Going Around
  6. Let Me In Your Life (With Rap)
  7. Better Off Dead
  8. For My Friend
  9. I Can’t Write Left Handed
  10. Lean On Me
  11. Lonely Town Lonely Street
  12. Hope She’ll Be Happier
  13. Let Us Love
  14. Harlem/Cold Baloney

Renaissance – Live at Carnegie Hall [1976]

Renaissance no auge, com direito ao acompanhamento de uma orquestra, é o que se tem neste belíssimo álbum duplo. A formação é a clássica com Annie Haslam nos vocais, Michael Dunford no violão, John Tout no piano e demais teclados, Jon Camp no baixo e Terrence Sullivan na bateria – os quatro músicos são responsáveis pelos backing vocals. A New York Philharmonic Orchestra, regida por Tony Cox, acompanha o quinteto nestas apresentações inesquecíveis. Do início com “Prologue” ao final com uma longa versão (quase 24 minutos) de “Ashes are Burning”, esse álbum oferece uma aula de musicalidade, recheada de belas melodias, vocais impecáveis e um instrumental preciso e elegante. O Renaissance ainda não tinha lançado seu álbum Scheherazade ao gravar essas apresentações, datadas do final de junho de 1975 e lançadas praticamente um ano depois, mas tanto a suíte que deu nome ao álbum quanto “Ocean Gypsy” se fazem presentes. Do primeiro álbum com Annie, tem-se “Prologue”, a faixa-título, e de “Ashes are Burning”, além da faixa-título, tem-se “Carpet of the Sun” e “Can You Understand”. Por fim, de Turn of the Cards, há “Running Hard” e “Mother Russia”. Na versão em CD triplo, que foi lançada em 2019, “Kiev”, de “Prologue”, também foi incluída como bonus track, e o terceiro CD traz um show posterior, com praticamente o mesmo repertório, gravado para a BBC em março de 1976. Mais uma vez, como no caso do Jethro Tull, a qualidade de gravação é muito boa, e a performance dos músicos é arrasadora; Jon Camp faz um longo solo no seu Rickenbacker durante “Ashes are Burning”, John Tout é irrepreensível ao longo de todo o show e Annie mostra que sua voz é tão boa ao vivo quanto em estúdio. Após este disco, o Renaissance ainda soltou o bom Novella, mas os discos seguintes não mantiveram o nível da produção 1972-1977. E este Live at Carnegie Hall é um belíssimo testemunho de uma época em que cantoras confiavam na sua voz e não nos seus quadris para chamar a atenção do público.

Annie Haslam (vocais), John Tout (piano, vocais), Jon Camp (baixo, vocais), Michael Dunford (violões, vocais), Terrence Sullivan (bateria, percussão)

  1. Prologue
  2. Ocean Gypsy
  3. Can You Understand
  4. Carpet Of The Sun
  5. Running Hard
  6.  Mother Russia
  7. Scheherazade
  8. Ashes Are Burning

BONUS TRACKS:
Como bônus, dois álbuns essenciais de jazz gravados no Carnegie Hall, pois ele sempre foi uma das casas favoritas para os grandes jazzistas. Isso fica demonstrado pelo primeiro disco-bônus desta lista:


1) Benny Goodman – The Fames 1938 Carnegie Hall Jazz Concert 1950

O grande mestre da clarineta no jazz nos anos 30 organizou este concerto legendário. Lançado em disco pela primeira vez em 1950, como um dos primeiros álbuns duplos da história do jazz, The Legendary Carnegie Hall Concert traz Benny Goodman e seu quarteto, posteriormente sua orquestra e, sobretudo, a participação especial de músicos das big bands de Count Basie e Duke Ellington, bem como a cantora Martha Tilton, que cantou a tradicional “Loch Lomond” e fez o público vir abaixo. O concerto mesclou clássicos do jazz (uma das partes era dedicada a uma breve história do ritmo) a sucessos de Goodman, e entre os músicos participantes, algumas das figuras mais conhecidas do estilo nessa época, como o baterista Gene Krupa, os pianistas Teddy Wilson e Count Basie, os saxofonistas Lester Young, Harry Carney e Johnny Hodges, os trompetistas Harry James e Cootie Williams, e o guitarrista Freddie Green. Nenhuma coleção de discos de jazz está completa sem uma cópia deste concerto, disponível em várias edições ao longo dos anos (e com uma qualidade sonora surpreendente para uma gravação tão antiga), mas a maioria delas traz um pequeno truque: Benny introduzindo as músicas, coisa que ele não fez durante a apresentação original. Carnegie Hall Concert esteve entre os primeiros LPs a venderem mais de um milhão de cópias e Benny Goodman, The King of Swing, continuaria gravando e se apresentando ao vivo até praticamente sua morte aos 76 anos, em 1986 – com direito a um novo concerto para comemorar os 40 anos do evento original, em 1978.


2) Miles Davis – Miles Davis at Carnegie Hall: The Legendary Performances of May 19, 1961 [1962]

Em 1961, Miles se apresentou majestosamente no Carnegie Hall com acompanhamento de Gil Evans e sua orquestra (com quem ele vinha colaborando desde 1957 em vários projetos), e esse concerto rendeu dois álbuns Miles Davis at Carnegie Hall, lançado em 1962, e Live Miles: More Music from the Legendary Carnegie Hall Concert (1987). Em 1998, os dois LPs foram reunidos em um CD duplo que se tornou a edição padrão, inclusive porque apresenta as músicas na ordem original do show. Em 1961, Miles tinha um quinteto formado por Wynton Kelly no piano Paul Chambers (Mr. P. C.) no contrabaixo, Jimmy Cobb na bateria (Chambers e Cobb vinham acompanhando-o regularmente e Kelly participara brevemente das sessões de Kind of Blue, substituindo Bill Evans) e, no lugar do grande John Coltrane, o bom (mas não tão criativo) Hank Mobley. Já a orquestra de Gil Evans incluía alguns músicos bem conhecidos na época, como Bill Barber, Ernie Royal, Romeo Penque e Danny Bank. No repertório, composições bem conhecidas e associadas a Davis, como “Oleo”, “So What”, “Walkin’”, “No Blues”, além dos arranjos para o adagio ao “Concierto de Aranjuez” e “Someday My Prince Will Come” (da trilha sonora de “Branca de Neve”). Miles estava em período de transição, como mostram os múltiplos álbuns ao vivo que lançaria nos anos seguintes, e logo formaria seu segundo grande quinteto com Wayne Shorter, Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Williams, mas a beleza dos arranjos de Evans, a musicalidade sutil da orquestra e os solos reflexivos do trompete do líder fazem deste concerto um acréscimo importante nas coleções de álbuns de jazz. Mas, em tempo: eu sou o único que vê na capa do disco um elefante segurando Miles nas presas?

7 comentários sobre “Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Carnegie Hall

    1. Essa sua pergunta é dificílima, tenho 3 álbuns de sua lista…
      Bom, para mim, o melhor é o do Jethro Tull e você está de parabéns no destrinchamento dos detalhes que cercam essa apresentação e suas várias formas de ter sido disponibilizada em álbuns distintos, revelou não só um apuro nas informações como o típico prazer que nós, amantes de música, temos.
      Já o meu favorito de sua lista é o do Chicago – que se peca na qualidade sonora (ao menos no LP), para mim ganha em “clima de show”.
      Por fim, o que mais ouço dos 3 é o do Renaissance, o que é aquilo, meu Deus?! Acho a gravação excepcional e entro em verdadeiro transe, ouço-o sem pular nenhuma música.
      No entanto, mais legal do que a sua escolha são os seus ótimos textos e o que eles revelam – por exemplo, nunca fui atrás da versão em CD do álbum do Renaissance e descobri contigo que ele tem um excelente bônus, já pedi o meu em um site de compras; além disso, me fez querer ouvir o do Ike & Tina Turner, que não conhecia, e de enveredar, quem sabe, pelos de jazz que acrescentou ao fim.
      Portanto, mais uma vez, parabéns pela postagem e muito obrigado por compartilhar.

      1. Obrigado, Marcelo! Acho que dos dois discos de jazz que recomendei, o do Miles é o que mais vale a pena, o de Benny Goodman tem um valor histórico incalculável, mas se trata de jazz mais primitivo ou de big band, se você curte esses estilos é legal de conferir. Mas o de Miles é muito bonito!
        Eu tenho um fraco por esse do Jethro Tull; acho que seria meu favorito na lista, mas o Renaissance e o Chicago também são bons demais. Valeu pelo comentário!

  1. Dois grandes discos do Carnegie Hall, e que praticamente me apresentaram ao mundo das Big-Bands, são os que cobrem a apresentação de Duke Ellington na noite de 11 de dezembro de 1943 São dois volumes, sendo que o primeiro, com maravilhas como “C Jam Blues” e “Black Brown & Beige”, um álbum a ser apresentado para qualquer um que desconheça o que é jazz tradicional

    Valeu pela citação ao meu texto do Chicago Marcello, e sinto-me igualmente honrado por ter as versões em vinil e CD desta caixa riquíssima de material musical e memorabilia

    1. Que legal, Mairon, esses álbuns do Duke eu só conheço de nome, mas imagino que seja coisa finíssima… Gravações posteriores que tenho dele já mostram uma banda sensacional, então preciso dar uma pesquisada.
      Quanto ao Chicago, não poderia deixar de fazer menção ao texto, que vai bem mais fundo na descrição dos concertos e da performance (sensacional) dos músicos, e no caso do vídeo, para apresentar o material adicional que a banda inclui além da (ótima) música e deixar todo mundo babando… Ainda vou conseguir comprar a box com os 16 CDs que trouxe tudo o que eles apresentaram!!

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