Neil Young With Crazy Horse – Early Daze [2024]

Neil Young With Crazy Horse – Early Daze [2024]

Por Micael Machado

O bardo canadense Neil Young continua escavando seus arquivos musicais, e saindo de lá com pepitas de alto valor histórico para seus fãs. O mais recente lançamento (pelo menos no momento em que escrevo) saído desta aparentemente interminável mina de tesouros são os primeiros registros do cantor e compositor ao lado do Crazy Horse, grupo que iria ser a sua principal banda de apoio nos últimos 55 anos, desde que se uniram pela primeira vez para as gravações do que viria a ser o álbum Everybody Knows This Is Nowhere, lançado em 1969. As faixas que compõem este Early Daze (lançado em CD e vinil, além das hoje obrigatórias plataformas digitais) foram registradas naquele mesmo ano, com o Cavalo Doido ainda contando com sua formação original, com Billy Talbot no baixo, Ralph Molina na bateria (ambos até hoje ao lado de Young no Crazy Horse) e Danny Whitten nas guitarras, músico que viria a falecer em 1972, sendo que as três primeiras músicas ainda contam com Jack Nitzsche no piano, ele que era parte da primeira formação do Cavalo Doido, mas não chegou a participar do primeiro álbum de Young junto ao grupo.

Embora nenhuma música seja realmente inédita (embora a maioria das versões que aparecem no álbum não tenham sido lançadas anteriormente), algumas poderão soar como novidades aos menos atentos à carreira e à discografia de Young. É o caso de “Everybody’s Alone”, faixa que parece uma sobra de estúdio do Buffalo Springfield, a banda anterior de Young, e que já havia sido lançada anteriormente (ainda que com uma mixagem diferente) no box Neil Young Archives Volume 1, de 2009, ou de “Look At All The Things”, cantada por Whitten, e que já havia sido registrada no autointitulado primeiro álbum “solo” do Crazy Horse, de 1971. Por outro lado, esta versão de “Cinnamon Girl” (aqui em uma versão mono) já havia sido lançada em compacto em 1970, e “Down By The River” tem aqui uma mixagem diferente da que aparece no citado Everybody Knows This Is Nowhere, mas, estruturalmente, não apresenta muitas variações em relação à versão original.

Neil Young with Crazy Horse em 1969: Ralph Molina , Billy Talbot, Danny Whitten, Neil Young e Jack Nitzsche

As maiores “diferenças” que pude perceber encontram-se em “Wonderin’”, faixa que teria um registro oficial apenas em 1983, no controverso álbum Everybody’s Rockin’, e que aqui aparece quase acústica e bem menos “rockabilly” que a versão daquele disco; “Winterlong”, cujo lançamento oficial seria apenas na coletânea Decade, de 1977, e que aqui aparece um pouco mais lenta, com um arranjo vocal diferente e mais solos de guitarra que em sua versão mais conhecida;e “Birds”, faixa lançada apenas em 1970 no álbum After the Gold Rush, e que aqui tem o piano trocado pelos violões, além de um novo arranjo que a deixou ainda mais melancólica, contando com a participação de todos os membros da banda (com destaque para a bateria de Molina), o que, a meu ver, a tornou ainda melhor (pois a original contava apenas com Young ao piano e vocais – cabe lembrar que esta versão já havia aparecido, com uma mixagem diferente, no citado box Archives Volume 1). No mais, temos uma versão mais roqueira e menos country de “Dance Dance Dance”, faixa que aparece em vários registros ao vivo de Young (e também no já citado primeiro álbum “solo” do Crazy Horse), mas que nunca havia tido um registro de estúdio “oficial” anteriormente; uma versão de estúdio mais crua, mas basicamente igual, de “Come On Baby Let’s Go Downtown”, que, além de também aparecer no primeiro registro do Cavalo Doido, conta com uma versão ao vivo lançada no álbum Tonight’s the Night, de 1975; e uma versão com um arranjo instrumental diferente (e, aos meus ouvidos, ainda mais tocante) de “Helpless”, cujo registro “oficial” apareceria apenas em 1970 no álbum Deja Vu, do super grupo Crosby, Stills, Nash & Young.

Early Daze é um disco que, para os já iniciados na obra de Young, servirá para que eles, assim como eu, apreciem faixas já conhecidas em versões ainda iniciais, além da sempre bem vinda possibilidade de, mais uma vez, testemunhar o talento de Danny Whitten nas seis cordas e nos vocais, talento este que o mundo da música perdeu tão precocemente, infelizmente. Para aqueles não tão familiarizados assim com a discografia do canadense (especialmente aquela tendo o Crazy Horse como companhia), será apenas um bom álbum de uma grande banda saída diretamente do final dos anos 60, fazendo rock and roll como se fazia naquela época, com talento, garra, suor e tesão, ingredientes muitas vezes em falta na música atual. Em ambos os casos, seguramente, vale a audição!

Contracapa de Early Daze

Track List:

1. Dance Dance Dance
2. Come On Baby Let’s Go Downtown
3. Winterlong
4. Everybody’s Alone
5. Wonderin’
6. Cinnamon Girl
7. Look At All The Things
8. Helpless
9. Birds
10. Down By The River

3 comentários sobre “Neil Young With Crazy Horse – Early Daze [2024]

  1. Ouvi o disco poucos dias atrás, mais um belo lançamento dos arquivos inesgotáveis do velho Neil. Gostei muito da resenha, porque algumas músicas eu fiquei com aquela cara de “Onde foi que já ouvi isso” e confesso que fiquei com preguiça de procurar! Agora dá para colocar as músicas num contexto mais adequado, valeu!! E é bom ver Danny Whitten receber o destaque que merece. Por outro lado, também gostaria de saber a quantas anda a discografia oficial dele, já deve ter passado dos 80 lançamentos.
    O repertório do álbum é muito bom e faz a gente ficar pensando se não teria sido melhor, artisticamente falando, que Neil Young tivesse se dedicado à sua carreira solo e com o Crazy Horse em vez de se juntar ao Crosby, Stills & Nash. Não me entenda errado, adoro o CSN e o CSNY, mas o trio ganhou mais com a adição de Young do que este com eles. De todo modo, eu estou entre os poucos que querem ver um lançamento da caótica turnê que rendeu “Time Fades Away”, um disco que gosto bastante e é meio desprezado até pelo próprio Neil. Mais shows com o Crazy Horse nas turnês de “Rust Never Sleeps” e “Freedom” também seriam boas escolhas! Espero que a gente chegue lá um dia…

    1. Obrigado pelo comentário, Marcello!

      Eu confesso que não tenho ideia do número de discos que o Neil Young já lançou. Cada ano saem uns 4 ou 5, fica muito difícil de contabilizar!

      Da turnê que gerou o Time Fades Away ele já lançou um ao vivo desses arquivos, o duplo (em vinil) Tuscaloosa, que até já resenhei aqui!

      Eu nunca entendi muito a união do Young com o CSN, porque concordo com o que você coloca, de que o trio ganhou mais com ele do que Young com o trio. Mas penso (não vivi a época) que a exposição que Neil Young teve ao se juntar ao CSN foi muito maior do que aquela que ele tinha até então, e pavimentou o sucesso para o reconhecimento de álbuns como “After de Goldrush” ou “Harvest”, além de ele sempre ter sido muito amigo dos três. E Young sempre foi “inquieto” musicalmente, buscando novas parcerias permanentemente, além de sonoridades que, por vezes, não sei se caberiam bem no Crazy Horse (que, sempre defendi, é a melhor banda de apoio pro Young, apesar das boas participações do Pearl Jam e do Promise of the Real em suas respectivas épocas).

      Da tour do Rust não sei se rola algo, até porque o Live Rust já é um clássico, não sei se ele arriscaria a “reputação” desse disco. Da tour do Freedom sim, seria bem legal, mas temos o Weld e o Way Down In The Rust Bucket, que são da turnê posterior, dois discos ao vivo que eu gosto muito na carreira do canadense!

      E os arquivos do cara parecem ser inesgotáveis, mesmo! Todo mês ele anuncia algo novo, fora o que é anunciado e depois postergado… de todo modo, quanto mais, melhor…

      1. Dei uma consultada nas discografias e cheguei a um total de 86 álbuns de estúdio, ao vivo, coletâneas, boxes e lançamentos de arquivos. Para guardar tudo isso vai ter que ter espaço…
        De fato, tinha me esquecido do “Tuscaloosa”. Fazia bastante tempo que o tinha ouvido e fui atrás para escutar novamente! Os discos da turnê do “Ragged Glory” são bem legais, mas ouvi um pirata da turnê do “Freedom” e gostei muito, por isso fico na esperança que o cara lance algo dela também.
        Quanto ao Crosby, Stills & Nash (& Young), concordo – a exposição que ele ganhou na mídia foi algo sem preço na época, acho que é a chave por trás de ele se juntar ao grupo. Lembro-me de ter lido numa velha revista que ele aceitou o convite porque lhe ofereceram colocar o nome no grupo, diferentemente do que ocorreu com o baterista Dallas Taylor e o baixista Greg Reeves.

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