Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Marquee

Cinco Discos Para Conhecer:  Templos do Rock – Marquee

Por Marcello Zapelini

O grande templo do rock britânico na década de 60, o lugar onde quase todos os cantores, instrumentistas e bandas que se prezavam nas ilhas se apresentaram. Localizado no Soho, em Londres, o Marquee foi aberto em 1958 por um contador que adorava jazz. E jazz ele hospedou por quatro anos, até que em 1962 uma noite de rhythm’n’blues foi estabelecida, e pouco depois as bandas de rock começaram a se apresentar. Uma lista dessas bandas formaria um “who’s who” do rock inglês até a década de 90, e isso fez com que se privilegiasse, neste artigo, os álbuns de artistas britânicos. Um aspecto interessante do Marquee é que ele cobrava entradas bem baratas do público, permitindo acesso de todas as classes sociais. Melhor ainda, os principais músicos iam lá não só para se apresentarem, mas também para conferir as bandas novas que surgiam. Muitas são as histórias de músicos que saíram de bandas desconhecidas para outras famosas porque foram vistos no Marquee, e muitas foram as conversas entre músicos famosos no pequeno clube londrino. E por décadas ele se manteve como um dos principais endereços da música britânica, até fechar definitivamente em 2008 – até hoje não me conformo por não ter conseguido ir a Londres antes do fechamento do Marquee, nem que fosse para passar pela frente.

Embora o clube tenha mudado de endereço algumas vezes, formalmente ele não comportava mais do que 300 pessoas, embora fosse muito comum encontrar mais de 800 nos shows mais concorridos – o calor se tornava tão forte que o Marquee chegou a ser apelidado de “The Soho Sauna”! Interessantemente, ele não teve licença para vender bebidas até 1970, e por isso o público e os artistas se dirigiam a um bar próximo para poderem tomar uns tragos; isso não prejudicava a fama do lugar, que lotava praticamente todas as noites e era o “sonho de consumo” de todo aspirante a rockstar na Inglaterra. Bandas famosas estrearam no Marquee, como o Fleetwood Mac, que ainda contava com Bob Brunning no baixo; outras acabaram lá, como o Thin Lizzy, que fez o último show com Phil Lynott no pequeno palco. Artistas estrangeiros como AC/DC, INXS, ZZ Top, Dream Theater, também se apresentaram no templo do rock londrino. E todos os ritmos tiveram seu lugar lá: do rock’n’roll dos Stones, The Who (em sua fase “Maximum R&B”), The Kinks, ao heavy metal do Led Zeppelin, passando pelo progressivo do Yes e do Pink Floyd, pelo glam de David Bowie (que filmou um especial para a TV lá) e do T. Rex, pelo punk dos Stranglers, Sex Pistols e Sham 69… Nos anos 80, R.E.M., Ultravox, The Police, The Jam, Iron Maiden, Motorhead, Def Leppard, todos tiveram seu lugar no simpático clube.

Uma nota de rodapé antes de passarmos para a lista dos discos: durante boa parte dos anos 60 o manager do Marquee era um certo Mr. John Gee. Para você não coçar a cabeça até esfolar o cocuruto pensando de onde conhece esse nome, “One for John Gee” é o lado B do primeiro compacto do Jethro Tull, aquele com “A Song for Jeffrey” (não se esqueçam que o compacto com “Sunshine Day” e “Aeroplane”, pela MGM Records, foi creditado ao Jethro Toe por causa do produtor Derek Lawrence – se você tiver umas mil libras sobrando dá para comprar o disquinho).


The Tardbirds – Five Live Yardbirds [1964]

Quer saber como Eric Clapton ganhou o apelido de “God”? Ouça dois discos: John Mayall’s Bluesbreakers with Eric Clapton e este Five Live Yardbirds. A formação inclui, além do Slowhand, Keith Relf (vocal e harmônica), Chris Dreja (guitarra rítmica), Paul Samwell-Smith (baixo) e Jim McCarty (bateria). Gravado em 10 ou 20 de março de 1964 (a primeira é a data oficial, a segunda foi dada pelo empresário Giorgio Gomelski), e lançado em dezembro do mesmo ano, este foi o primeiro LP do grupo, que até então só tinha lançado compactos, e tem a distinção de ser um dos primeiros álbuns ao vivo de uma banda de rock inglesa – além de, é claro, ter dado o primeiro empurrão na carreira do Clapton. The Most Blueswailing Yardbirds começam o álbum com um bom rock’n’roll, “Too Much Monkey Business”, de Chuck Berry, com belo solo de Clapton. “Got Love if You Want it” inicia com a harmônica de Relf (que era melhor nesse instrumento do que como cantor, na minha opinião), e começa a derivar o som para o blues que Clapton tanto amava – o que fica mais escancarado em “Smokestack Lightning”, de Howlin’ Wolf, em que tanto as guitarras quanto a harmônica brilham, mas os vocais de Keith Relf estão muito abaixo do que a música demanda. “Respectable”, dos Isley Brothers, acelera tudo até a banda quase se esgotar – com mais de cinco minutos de duração, a música é curiosamente longa para aquela época, mas há outras duas que superam essa marca, “Five Long Years” (blues rasgado de Eddie Boyd que dá chance a Clapton de fazer outro bom solo) e “Here ‘Tis” (outra em que a banda engata a quinta marcha), de Bo Diddley, responsável também por “Pretty Baby” e “I’m a Man” – esta, outro ponto alto do álbum. “Louise”, de John Lee Hooker, é outro clássico do blues que colocar Relf e Clapton em evidência (a guitarra do Slowhand, no fundo da gravação, faz a gente pedir para Relf calar a boca…). No todo, Relf e Clapton são os astros do álbum, Dreja e Samwell-Smith têm pouquíssimo destaque e McCarty se mostra um baterista capaz de levar as músicas onde a banda desejava, e se sobressai em “Here ‘Tis”. Five Live Yardbirds tem boa qualidade de gravação (ainda que o vocal seja um pouco alto demais na mixagem) para um álbum de 60 anos atrás, e é muito legal ver o quanto o público curtia a banda e as músicas, aplaudindo com vigor, em especial quando o MC anuncia, no começo do álbum, os músicos. O álbum está disponível em várias edições, e inclusive numa delas há a apresentação da banda antes de acompanharem Sonny Boy Williamson – essa edição vale bastante, pois acrescenta cerca de meia hora de música. Ninguém poderia prever a estatura que Eric Clapton atingiria pouco tempo depois, mas se você ouvir com atenção, as sementes estão aqui – e ele, que era tão inseguro quanto a seus vocais, divide o microfone com Relf em “Good Morning Little Schoolgirl”.

Keith Relf (vocal e harmônica), Chris Dreja (guitarra rítmica), Eric Clapton (guitarra), Paul Samwell-Smith (baixo),  Jim McCarty (bateria)

  1. Too Much Monkey Business
  2. I Got Love If You Want It
  3. Smokestack Lightnin’
  4. Good Morning Little Schoolgirl
  5. Respectable
  6. Five Long Years
  7. Pretty Girl
  8. Louise
  9. I’m A Man
  10. Here ‘Tis

The Rolling Stones – The Marquee Club (Live in 1971) [2015]

Em 1971, The Rolling Stones anunciaram que iam se mudar de país para fugir da taxação absurda imposta pelo governo britânico, que chegava a alíquotas de mais de 90% dos seus ganhos, e anunciaram a turnê “Goodbye Britain”, que passou pelo Marquee em 26 de março e foi filmada profissionalmente. À época, a banda optou por não lançar um álbum ao vivo oficial (até porque apenas um disco de estúdio tinha sido lançado desde Get Yer Ya-Ya’s Out!), e eventualmente, em 2015 a série From the Vault Collection dedicou um combo CD+DVD a este show. A apresentação, em si, era emblemática, pois a banda estreara no Marquee em 14 de julho de 1962 – e não voltara a se apresentar lá até este que seria o último show na Inglaterra (como se sabe, já em 1973 eles estavam de volta, mas isso é outra história). Esse álbum merece destaque por conta do ótimo desempenho da banda, com Mick Taylor mostrando toda sua habilidade, e pelas raridades que ele traz: a versão ao vivo de “I Got the Blues”, com direito a um belo solo de sax de Bobby Keys no lugar do original de Billy Preston no órgão, e “Let it Rock”, um rock’n’roll bem ao estilo de Chuck Berry que só encontrou lançamento oficial (em versão gravada no auditório da universidade de Leeds, poucos dias antes) no single de “Brown Sugar” e “Bitch” (e ainda assim, não aparece em todas as edições). A versão de “Satisfaction” apresentada pela banda nesta época é, na minha opinião, uma das melhores (mas o show de Leeds, lançado na box set de Sticky Fingers, traz a melhor de todas!) da longa carreira da banda, perdendo apenas para aquela com Stevie Wonder que encerrava a turnê de 1972. “Midnight Rambler” ainda está próxima daquela de Get Yer…, mas é mais longa e mais generosa em termos de solos. Como o show foi filmado para a TV, há takes alternativos de “I Got the Blues” e “Bitch” completando o CD, e, embora um pouco precária, a filmagem é boa e dá uma ideia da banda no palco, com Mick Taylor e Bill Wyman estáticos em lados opostos do palco, e Keith Richards e Mick Jagger comandando a plateia (há rumores de que havia um verdadeiro ABC do rock inglês da época assistindo aquela que deveria ter sido a última apresentação ao vivo dos Stones na Inglaterra). De minha parte, acho que os fãs dos Stones merecem mais; todos os shows foram gravados pela banda, assim, mais apresentações dessa turnê de 1971 deveriam ser lançadas. Uma curiosidade: o The Groundhogs abria os shows, e no de Leeds, o engenheiro de som pediu a Mick Jagger para gravar a abertura, de modo a testar o equipamento; apesar da fama de pão-duro, Mick não apenas autorizou, como ainda mandou prensar 300 cópias em vinil e as entregou a T. S. McPhee, para que ele distribuísse em gravadoras, rádios, e para os amigos. Hoje, The Groundhogs Live at Leeds 1971 está disponível em CD (e, aliás, altamente recomendado).

Mick Jagger (vocais, harmônica), Keith Richards (guitarras, vocais), Mick Taylor (guitarras), Charlie Watts (bateria), Bill Wyman (baixo)

Nicky Hopkins (teclados)
Jim Price (trompas)
Ian Stewart (piano)
Bobby Keys (saxofone)

  1. Live With Me
  2. Dead Flowers
  3. I Got The Blues
  4. Let It Rock
  5. Midnight Rambler
  6. (I Can’t Get No) Satisfaction
  7. Bitch
  8. Brown Sugar
  9. I Got The Blues (Alternative Take 1)
  10. I Got The Blues (Alternative Take 2)
  11. Bitch (Alternative Take 1)
  12. Bitch (Alternative Take 2)

Van Der Graaf Generator – Vital [1978]

Em 1977, o Van Der Graaf Generator, sem seus dois ases Hugh Banton e David Jackson, encurtou seu nome para Van Der Graaf, recrutou um violinista com cara de leprechaun (Graham Smith), gravou um disco muito malhado pelos fãs – mas eu, pessoalmente, gosto dele (The Quiet Zone/The Pleasure Dome) – e saiu em turnê. No meio daquele ano, um quinto músico se agregou, o violoncelista Charles Dickie, e no início de 1978, a banda se apresentou no Marquee com um convidado especial, David Jackson, que foi contribuir nos shows gravados especialmente para um álbum ao vivo. Jackson tinha esperança de retornar em definitivo, mas Peter Hammill acabaria por decretar o fim do grupo. O Van Der Graaf Generator era considerado uma banda “extrema” no palco (o que rendeu a admiração de ninguém menos do que Johnny Rotten), mas, afora sessões para a BBC e dois shows de 1975 e 1976, bem como duas filmagens de 1972 e 1975, não há registros oficiais ao vivo na sua época áurea. Vital, assim, é criticado por não estar à altura dos shows anteriores, mas quero defendê-lo, pois há várias músicas raras, inéditas ou registradas na carreira-solo de Hammill. Além disso, as músicas antigas, rearranjadas para a nova formação, são bem interessantes, e se deve destacar a boa forma vocal de Peter, bem como a alta qualidade da performance dos demais músicos. “Vital” abre e fecha com duas músicas bem pesadas para o Van Der Graaf Generator, “Ship of Fools” e “Nadir’s Big Chance ”, revisita o começo da carreira com uma longa versão para “Pioneers Over C” e um trecho de “A Plague of Lighthouse Keepers” (que a banda, nos anos 70, só tocou ao vivo completa uma vez, ainda que tenha revisitada no século XXI na formação de trio), com Peter ao piano, e chega num período mais recente com “Still Life” (com uma interessante introdução com vocal, violino e violoncelo), “Door” (não registrada em estúdio), o medley “Urban/Killer/Urban” e “Last Frame”. “Mirror Images” (em que Jackson sobe ao palco) e “Sci-Finance” seriam posteriormente regravadas por Hammill em seus álbuns-solo. É verdade que o Van Der Graaf Generator progressivo tinha sido enterrado após World Record, mas isso não significa que o Van Der Graaf que circulou entre 1977-78 não tenha sido interessante. E Vital é uma prova disso. Quem tiver orçamento para tanto, recomendo a box The Charisma Years 1970-78, que tem a melhor qualidade sonora de todas as versões em CD que ouvi; mas, se o orçamento só permitir a versão em CD simples, economize para tentar comprar o duplo com o repertório original completo, pois é muito mais interessante.

Peter Hammill (vocais, guitarras, teclados), Nic Potter (baixo), David Jackson (saxofones, flauta), Guy Evans (bateria), Charles Dickie (violoncelo, teclados, piano elétrico), Graham Smith (violino)

  1. Ship Of Fools
  2. Still Life
  3. Last Frame
  4. Mirror Images
  5. Medley:
    A Plague Of Lighthouse Keepers
    The Sleepwalkers
    Pioneers Over C
  6. Sci-Finance
  7. Door
  8. Urban
  9. Nadir’s Big Chance

Magnum – Marauder [1980]

Magnum é uma banda relativamente pouco conhecida no Brasil, que se manteve ativa por mais de 40 anos e recentemente perdeu um de seus fundadores, o guitarrista, vocalista e compositor Tony Clarkin. Marauder é seu terceiro álbum, e o primeiro gravado ao vivo (em 15/12/1979), tendo sido lançado em 1980 com produção de Leo Lyons (ex-Ten Years After) e engenharia de som de Chris Tsangarides, que se tornaria um produtor bastante requisitado na década de 80. A banda, liderada por Bob Catley (vocal) e Clarkin, contava ainda com Wally Lowe no baixo, Kex Gorin na bateria e Richard Bailey nos teclados e flauta. O som do Magnum é mais próximo de bandas americanas como o Styx e o Journey do final dos anos 70 – começo dos 80 do que da cena britânica da época, em especial pelos teclados e sintetizadores proeminentes, a guitarra distorcida, e sobretudo pelo belo vocal de Catley, apoiado pelos fortes backing vocals de Clarkin, Lowe e Bailey. À época, a banda tinha feito pouco sucesso (Kingdom of Madness, o primeiro LP, atingira o 58º lugar na parada britânica, mas Magnum II falhara miseravelmente. Com o lançamento de Marauder, o Magnum conseguiu alcançar o 34º posto, suficiente para levá-los em turnê britânica como abertura para o Def Leppard, que aumentou a exposição da banda, mas não o bastante para segurar Richard Bailey, que foi substituído por Mark Stanway. Marauder, em sua configuração original, traz seis músicas de II e apenas duas do primeiro LP; bandas que lançam um álbum ao vivo como seu terceiro disco não são muito comuns (Rainbow e Ozzy me vêm à mente), ainda mais sem incluir nada de novo no repertório. De todo modo, ouvindo as versões de estúdio em comparação com as deste disco, é preciso reconhecer que o palco fez bem às músicas, que ganham em energia sem perder a musicalidade original. Por exemplo, “If I Could Live Forever”, que inicia Marauder, é mais interessante do que em estúdio, em que soa mais leve. Outros destaques incluem “Reborn” (com direito à flautinha de Bailey), “The Battle”, “Changes”, todas composições de II que dão uma goleada no original. O Magnum lançou diversos álbuns ao vivo posteriormente, mas este, para mim, é o melhor, com uma banda ainda jovem e querendo provar ao mundo que merecia um lugar ao sol. Ainda iria demorar para o Magnum fazer sucesso (e, mesmo assim, não chega a ser aqueeeeele sucesso…), mas Marauder mostra que eles tinham condições de atingir lugares mais elevados nas paradas.

Bob Catley (vocais),  Tony Clarkin (guitarra, vocais), Wally Lowe (baixo, vocais), Kex Gorin (bateria), Richard Bailey (teclados e flauta)

  1. If I Could Live Forever
  2. The Battle
  3. Foolish Heart
  4. In The Beginning
  5. Reborn
  6. Changes
  7. So Cold The Night
  8. Lords Of Chaos

Dream Theater – Live at the Marquee [1993]

Gravado em abril de 1993 e lançado cinco meses depois, este é o primeiro dos muitos álbuns ao vivo do Dream Theater. Tocar na Europa era, de acordo com Mike Portnoy, um dos pré-requisitos para que eles pudessem ser uma banda de verdade e, especificamente, tocar no Marquee era um dos desejos deles. Como no caso do Magnum, a banda só tinha dois discos de estúdio lançados até então, mas pelo menos Live at the Marquee traz a instrumental “Bombay Vindaloo”, nunca registrada em estúdio e poucas vezes apresentada ao vivo, e “Another Hand”, que servia de “ponte” instrumental entre “Another Day” e “The Killing Hand” (mas a primeira só aparece na edição japonesa, diferentemente da lançada no resto do mundo). O resto do repertório se divide entre composições de When Dream and Day Unite (“A Fortune in Lies” e a já citada “The Killing Hand”) e Images and Words (“Pull me Under”, “Metropolis Part I” e “Surrounded”. Neste sentido, também se pode dizer que há algo novo nas músicas de When Dream…, pois, afinal, as versões de estúdio traziam os vocais de Charlie Dominici. Por fim, deve-se destacar que se trata do único ao vivo oficial do grupo com o tecladista original, Kevin Moore, tornando o álbum mais especial para os fãs do grupo. O que se tem neste pequeno álbum é basicamente o único sucesso comercial do grupo (“Pull Me Under”), um aceno ao passado ao revisitar as músicas de Dominici, um momento de puro exibicionismo (“Bombay Vindaloo”, em que, se alguém tinha dúvidas, é possível perceber o quanto Mike Portnoy idolatra Neil Peart, ainda que John Petrucci seja o astro) e boas músicas de “Images and Words”, que permitiam ter uma ideia de como a banda era no palco no começo da carreira. Entretanto, há um caveat emptor: é um fato bem conhecido que James LaBrie regravou quase todos os seus vocais em estúdio – entretanto, não sei o que ocorreu, se houve falha técnica, ou se a performance do moço não satisfez a banda e o produtor. Gosto bastante da versão de “Metropolis”, ainda que praticamente igual à original, e de “Surrounded”, que sempre achei uma bela música; também prefiro LaBrie a Dominici nas versões das músicas do primeiro álbum. No todo, acho que este álbum poderia ter ganhado uma reedição mais caprichada, com bonus tracks, pois o setlist da época indica que 13 músicas foram apresentadas. Particularmente, gostaria de ver este álbum com “Ytse Jam”, “Take the Time” e “Learning to Live”. Quem sabe um dia rola uma edição Deluxe? Por enquanto, Dream Theater Live at Marquee permanece como um testemunho de uma banda que ainda estava cavando seu lugar ao sol e que circula até hoje dividindo os ouvintes em diferentes facções.

James LaBrie (vocais), John Petrucci (guitarras), John Myung (baixo), Mike Portnoy (bateria), Kevin Moore (teclados)

  1. Metropolis
  2. A Fortune In Lies
  3. Bombay Vindaloo (Improv. Jam)
  4. Surrounded
  5. Another Hand – The Killing Hand
  6. Pull Me Under

Bonus tracks

Como bônus, selecionei dois álbuns que, por motivos diferentes, merecem ser abordados aqui – e foi difícil escolhê-los porque temos muitas outras opções bem interessantes. Um deles é, até onde eu pude apurar, o primeiro disco a trazer o nome “Marquee” na capa, e o outro apelou fundo para o velho coração deste escriba.


1) Alexis Korner’s Blues Incorporated – R&B From The Marquee [1962]

O mais antigo dos álbuns nesta seleção traz duas figuras seminais para o desenvolvimento do blues na Inglaterra, o guitarrista e vocalista Alexis Korner e o gaitista e vocalista Cyril Davies. Juntos eles lideravam o Blues Incorporated, uma banda quase mítica na história do rock britânico, que teve entre os músicos que colaboraram com eles Mick Jagger, Charlie Watts, Dick Heckstall-Smith, Jack Bruce, Ginger Baker, Long John Baldry, Graham Bond, dentre muitos outros. Korner e Davies tinham a política de permitir que os jovens aspirantes a músicos participassem dos shows, o que fez com que sua música atingisse um público bem maior. A razão pela qual este álbum tão importante não aparece na lista principal é bem simples: ele não foi gravado no Marquee, e sim ao vivo no estúdio da Decca. A banda tocava toda semana no clube, e provavelmente isso foi o que determinou o título. Deixando esse detalhe de lá, o que se tem é um álbum essencial para o desenvolvimento do blues britânico, com a gaitinha de Cyril Davies a todo vapor, o violão bluesy de Korner, uma cozinha segura formada por Spike Heatley no baixo acústico e Graham Burbidge na bateria. Dick Heckstall-Smith no sax e Keith Scott no piano completam a formação. Davies faz o vocal solo em cinco músicas e Long John Baldry, em outras três. É interessante observar que, das 12 músicas do LP original, três são de autoria de Alexis e duas de Davies, com outra composta por Baldry – ou seja, metade do álbum é formada por composições originais, o que é importante, em se tratando de uma banda inglesa no começo dos anos 60. Dentre as covers, três são de autoria do grande Willie Dixon, “I Got My Brand on You”, “Tiger in your Tank” e “Hoochie Koochie Man”, que estão entre os destaques do álbum. “Got My Mojo Working”, que Muddy Waters tornou famosa, ganha um arranjo vocal que traz, entre outros, Big Jim Sullivan (nada menos que um dos caras que ensinou Ritchie Blackmore a tocar guitarra). Das composições originais, indubitavelmente as melhores são de Cyril Davies, pois as de Korner são instrumentais bem simples. O Blues Incorporated sofreria um forte golpe em 1964 com a morte de Cyril por conta de problemas cardíacos agravados pelo consumo excessivo de álcool. Alexis Korner continuou sua carreira, tendo formado outras bandas (bem como encontrando e apoiando músicos iniciantes) e inclusive investindo na rádio como DJ, e faleceu em 1º de janeiro de 1984 de câncer no pulmão. E esses dois heróis improváveis, um inglês mal-humorado com uma harmônica na mão e um francês expatriado, deram origem ao blues britânico, com este belo álbum para provar.


2) Gary Moore – Live at the Marquee [1983]

O guitarrista irlandês entrou nesta lista por um motivo sentimental: o LP lançado no Brasil nos anos 80 foi o primeiro disco ao vivo gravado no Marquee que eu tive. Ou seja, o lugar que eu tanto lia a respeito estava indiretamente à minha disposição! Moore tem muitos discos ao vivo lançados no começo dos anos 80, e especificamente esse Live at the Marquee (ou, como também é conhecido, Gary Moore Live), é tão bom quanto os demais. No final dos anos 80, alguns discos de Moore, até então inéditos no Brasil, foram lançados, e este foi um deles, pela antiga gravadora Estúdio Eldorado. O álbum foi gravado ao longo de dois shows no clube em novembro de 1980, mas seu lançamento só ocorreu em setembro de 1983, inicialmente só no Japão. Deve-se notar que o álbum saiu apenas alguns meses depois de Rockin’ Every Night, também ao vivo, mas gravado no Japão e também inicialmente restrito a esse país. Moore contava com Kenny Driscoll nos vocais, Andy Pyle no baixo, Tommy Aldridge na bateria e Don Airey nos teclados; à época, Gary não parecia muito seguro de sua capacidade como vocalista e preferiu se concentrar nos backing vocals, mas na guitarra ele está perfeito como sempre. No repertório, Back on the Streets é representado pela faixa-título e pela parceria com Phil Lynott em “Parisienne Walkaways” (em versão instrumental, com Moore dando um show incrível na sua guitarra); Dirty Fingers por “Run to Your Mama” e “Nuclear Attack” (que Moore regravaria com Greg Lake para o primeiro álbum-solo do baixista e vocalista do ELP); G-Force por “Dancin’”, “You” e “She’s Got You”, em versões bem menos comerciais do que nesse disco, um projeto fracassado com Mark Nauseef, Willy Dee e Tony Newton. Por fim, tem-se a paulada de “Dallas Warhead”, com um solo animalesco de Tommy Aldridge, que não tinha saído em disco de estúdio. O LP brasileiro era chocho para caramba, com uma contracapa toda branca que só trazia os títulos das músicas. Para piorar, mutilou o solo de Aldridge, reduzindo a duração de “Dallas Warhead” em quase dois minutos. Mas ajudou a me transformar em um fã do irlandês até hoje. Duas curiosidades: a produção é do mesmo Chris Tsangarides do Marauder, e o vocalista Kenny Driscoll substituíra John Sloman no Lone Star quando o último foi para o Uriah Heep gravar o malfadado Conquest. Em “Rockin’ Every Night”, cuja gravação é posterior, Sloman tinha substituído Driscoll!

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