10 Anos de Pitty em Porto Alegre

10 Anos de Pitty em Porto Alegre
Por Micael Machado
Depois de “dar um tempo” na carreira em 2011 para se dedicar ao Agridoce (projeto em dupla junto ao guitarrista Martin, de seu grupo principal), a cantora Pitty colocou no mercado o álbum Setevidas no início de junho de 2014, saindo em turnê de lançamento do mesmo pelo país, sendo que, no dia 21 de agosto daquele ano, foi a vez de Porto Alegre reencontrar a “trupe delirante”, em um Bar Opinião com ingressos esgotados há semanas, e uma grande expectativa por parte dos fãs da vocalista, que não encontravam com a baiana há pelo menos três anos quando deste show!
A apresentação iniciou pontualmente no horário marcado (as 23h), mas, infelizmente, o telão utilizado na apresentação apresentou algum problema, e o vídeo preparado especialmente para abertura dos shows daquela turnê não pode ser exibido, sendo reproduzido apenas o seu áudio, que trata dos vários significados do número sete no nosso dia a dia, enquanto os músicos (o citado Martin Mendonça na guitarra, o baterista Duda Machado e os então “novatos” Guilherme Almeida, baixista, e Paulo Kishimoto, nos teclados e percussão, dispostos no palco de maneira bastante incomum, com a bateria e o teclado nos flancos, tendo baixo e guitarra a seu lado) improvisavam uma espécie de jam session, até a gravação acabar e Pitty adentrar o palco, iniciando o show com a faixa título de seu então novo disco, e levando o pessoal ao delírio (público este predominantemente adolescente, embora, claro, a galera estivesse um pouquinho mais velha que nas turnês anteriores a esta). O telão, misteriosamente, começou a funcionar logo a seguir, e, ao longo da noite, iria apresentar algumas imagens (a maioria feita por computação gráfica) que contribuiriam bastante para o aspecto “visual” da apresentação, especialmente nas músicas do disco promovido.
Pitty e banda no palco do Opinião (foto retirada da página do facebook da cantora)
Já no aspecto musical, Pitty e sua turma mostraram que a noite seria memorável logo na sequência da abertura, emendando “Anacrônico”, “Admirável Chip Novo” e “Semana Que Vem”, três de seus maiores sucessos na carreira! O público, ensandecido, cantava as canções a plenos pulmões, por vezes quase ofuscando a voz da baiana, e demostrando que o período longe de sua musa não fora suficiente para diminuir a devoção do séquito de seguidores da cantora na capital gaúcha! O repertório da noite foi extremamente bem escolhido, e, embora o foco estivesse nas músicas de Setevidas (do track list do álbum, apenas a faixa “Lado de Lá” não foi executada), as demais selecionadas foram, todas elas, canções “conhecidas” mesmo pelos menos fanáticos, o que fez com que a vibração do público estivesse em alta durante praticamente toda a noite, com o pessoal “soltando a voz” com vontade mesmo nas faixas mais novas! Pessoalmente, gosto muito quando um artista resolve inserir algumas faixas mais “lado B” em seu repertório ao vivo, mas é inegável que um show nos moldes de um greatest hits, como foi o caso deste, é sempre bom de assistir!
Com o público na mão, a cantora se mostrou segura e confortável em seu retorno aos palcos após a fase mais "calma" com o Agridoce. Embora não tenha se comunicado tanto assim com o pessoal (o tradicional "boa noite", por exemplo, veio apenas depois da quarta canção), não deixou de dedicar atenção aos presentes quando necessário, e agradecer muito pela presença de todos e por terem esgotado os ingressos daquela noite, em um local onde o grupo “se sente em casa”, como declarou. A baiana também ainda continuava se arriscando na guitarra base (como sempre, uma linda Gibson SG, e, fazendo jus ao instrumento, com bons resultados), embora menos que em fases passadas, com sua participação ao instrumento se resumindo às faixas “Teto de Vidro” (uma das surpresas da noite, anunciada por Pitty como “um som das antigas”, e que, logo depois de acabar, viu a vocalista fazer um trocadilho com o último verso da canção e o nome da casa de shows onde estava, cantando “e isso é só porque eu tô no Opinião”) e “Olho Calmo”.
Pitty no show de Porto Alegre, com Martin ao fundo (foto retirada da página do facebook da cantora)
Aliás, foi antes desta que houve a única exceção ao set list previsto para o show: após encerrar a faixa anterior (“Boca Aberta”), Pitty disse que a banda estava de volta “com tudo diferente” “após um tempo sem vir aqui”, e que o pessoal não conhecia “alguns desses caras” no palco. Ao apresentar o gaúcho Guilherme (responsável por “altas costelas nos ensaios, segundo a cantora), ela foi surpreendida pelo coro de “ah, eu sou gaúcho” do pessoal, incentivado pela marcação de Duda na bateria e pelos gestos do baixista. Pitty então disse que gosta muito do rock feito no Rio Grande do Sul (que tem “altas bandas incríveis”, segundo ela), e que a banda havia pensado em tocar uma canção “que é meio hino prá gente, que ouve lá prás tantas da madrugada e acha demais”, mas que não haviam tido tempo de ensaiar. Ao dizer que a tal música era “Lugar do Caralho”, do Júpiter Maçã, ela perguntou se o público a conhecia, e foi meio que surpreendida por Duda e Guilherme iniciando a canção, seguidos por Martin. Aí, não teve jeito, e a vocalista acabou cantando a música inteira, “de improviso”, segundo ela, mas de um jeito que, para mim, pareceu foi “bem ensaiadinho”, inclusive com Martin executando pelo menos dois dos melhores solos da noite ao longo da faixa! Outras pequenas “fugas” ao roteiro estabelecido vieram através de citações a “Ando Meio Desligado”, dos Mutantes, no meio de “Memórias”, e a “Venus In Furs”, do Velvet Underground, no início de “Na Sua Estante” (a qual, precedida por “Equalize”, configurou junto a esta o “momento romântico” da noite, para o delírio das menininhas no Opinião), mas acredito que poucos dos presentes as tenham reconhecido, infelizmente!
“Máscara”, que normalmente encerrava os shows nas turnês anteriores, desta vez foi a penúltima a ser executada, e, assim como ocorre em Setevidas, a quase melancólica “Serpente” (com algumas partes percussivas feitas por Pitty e Paulo) foi a encarregada de encerrar a apresentação, sem que a banda retornasse para o bis, após pouco mais de uma hora e meia que, apesar de parecerem pouco pelos anos que o pessoal ficou longe da baiana, certamente foram suficientes para "matar as saudades" dos fãs da cantora. Um outro show desta mesma turnê, gravado quase um ano depois, em julho de 2015 no Audio Club, em São Paulo, acabaria eternizado no DVD Turnê Setevidas – Ao Vivo, e, desde então, muita coisa rolou na carreira da baiana e de sua banda, como o lançamento de novos discos, e até outras apresentações em Porto Alegre (algumas no auditório Araújo Vianna, com capacidade de público maior que a do Opinião, o que mostra o acréscimo de popularidade da trupe junto aos gaúchos), mas este ainda é um show que guardo com carinho na memória, pois faz parte daquela que considero uma das melhores fases da discografia da cantora (afinal, não foi à toa que coloquei Setevidas no pódio da minha lista de “melhores discos nacionais dos anos 2010), e que, para mim, ainda não foi superada desde então!
“Agora que eu voltei, quero ver me aguentar”…
Set list da apresentação
Set List:
1. Setevidas
2. Anacrônico
3. Admirável Chip Novo
4. Semana Que Vem
5. A Massa
6. Deixa Ela Entrar
7. Teto De Vidro
8. Memórias
9. Boca Aberta
10. Lugar do Caralho
11. Olho Calmo
12. Pouco
13. Me Adora
14. Pulsos
15. Pequena Morte
16. Equalize
17. Na Sua Estante
18. Um Leão
19. Máscara
20. Serpente

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