As discografias britânica e americana das bandas dos anos 60: Por que as diferenças?

As discografias britânica e americana das bandas dos anos 60: Por que as diferenças?

Por Marcello Zapelini

Introdução

A vida do colecionador de discos, qualquer que seja a mídia, não é das mais fáceis: os álbuns entram e saem de catálogo, as edições “definitivas” dos clássicos são suplantadas por novas reedições com mais material ou remixados/remasterizados, muitos discos lançados em LP não são facilmente encontrados em CD, outros nunca foram reeditados, alguns discos são relançados em LP e não estão mais disponíveis em CD, e, atualmente, os lançamentos e relançamentos em LP custam muito caro para a maioria das pessoas… E se alguém coleciona as bandas inglesas da década de 60, há um problema adicional: é muito comum haver diferenças significativas entre os originais britânicos e seus equivalentes americanos. Por que existem essas diferenças? E o que preferir se não for possível ter todas as edições? Quais são os casos mais significativos?

A explicação das diferenças entre as edições britânicas e americanos nunca foi bem estabelecida. Há quem aponte um aspecto artístico: até aproximadamente 1965-66, os LPs eram secundários no mercado britânico, e os artistas se concentravam nos compactos; nos EUA essa distinção ficara para trás nos anos 50. Na Inglaterra, os compactos eram lançados com grande frequência, e se algum deles saísse no LP contemporâneo, o comprador estava recebendo uma música que já tinha. Por outro lado, eu especulo também uma razão econômica e outra cultural; economicamente, já no final do século XIX o Produto Interno Bruto dos EUA era maior do que o britânico e, embora se tivesse uma variação significativa nas taxas de crescimento do produto nos dois países ao longo do século XX, a economia americana cresceu mais. Some-se a isso que as taxas de desemprego, após a Grande Depressão, oscilaram menos nos EUA do que na GB, e até meados dos anos 80, a carga tributária média cobrada sobre bens de consumo variou relativamente pouco nos EUA, enquanto tinha picos na GB. Dessa maneira, não apenas a renda do consumidor americano era maior, como tamb  ém o volume de recursos disponíveis para investir nos bens era maior na América.

Em termos culturais, os EUA se tornaram, no século XX, uma nação de consumidores: a disponibilidade de renda, a ampla variedade de produtos e o crédito relativamente barato encorajavam o consumo, e isso se refletia também nas compras de discos. Pegue dois adolescentes na década de 60, um inglês e um americano; ambos compravam o novo compacto dos Beatles, por exemplo. Mas, na hora de comprar o novo LP dos Fab Four, o americano não se importava de ter o compacto repetido no 12 polegadas, mas o inglês se sentia tapeado! Além disso, tudo considerado, havia mais probabilidades de o garoto britânico só comprar os compactos, mais baratos, do que o americano, que preferia os LPs. Aliás, de acordo com os executivos americanos, a presença do compacto de sucesso “puxava” a venda do LP – já os britânicos viam compactos e LPs como entidades distintas.

O LP só se tornara realmente viável no mercado de rock com Elvis Presley nos anos 50; um álbum como For LP Fans Only, lançado em 1959 e que só trazia músicas previamente disponíveis em compactos, atestava que o mercado começava a preferir o bolachão às bolachinhas de 7 polegadas e 45 RPM. Artistas como James Brown chegavam a lançar cinco LPs por ano nos EUA durante os anos 60, um ritmo de deixar até jazzista com inveja. E na Grã-Bretanha? The Beatles seriam os grandes responsáveis pela popularização do formato no mercado britânico, mas os compactos que eles lançavam normalmente não saíam nos LPs, nesse país – e mesmo a banda tinha a estratégia de reservar algumas músicas para compactos e outras para LPs. Já nos EUA, isso não ocorria; um compacto tinha cara de subproduto, enquanto o LP imperava. E nos EUA havia uma exclusividade: compactos promocionais com mixagem em mono e estéreo da mesma música, pois a maioria dos jukeboxes reproduzia melhor o som em mono.

Assim, essa semana vamos dar uma olhada em alguns casos significativos de diferenças entre as discografias americana e britânica. Como é impossível cobrir todos os lançamentos da época, selecionei os três gigantes da British Invasion, Beatles, Stones e Who, e algumas bandas importantes que tiveram discografias bem diferentes. Quem conhecer um caso interessante manda um comentário!

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