Zakk Sabbath – Doomed Forever Forever Doomed [2024]
Por Micael Machado
Desde 2014, o músico Zakk Wylde (também do Black Label Society, ex-Ozzy Osbourne e Pride & Glory) mantém um tributo ao Black Sabbath chamado Zakk Sabbath. Além de um single e de um EP ao vivo, o trio, formado atualmente, além de Wylde nas guitarras e vocais, por Blasko (também da banda de Rob Zombie e ex-Ozzy Osbourne, dentre outros projetos) no baixo e Joey “C” Castillo (ex-Queens of the Stone Age e Danzig, dentre outros projetos) na bateria, já havia lançado em 2020 o álbum Vertigo, no qual fazia uma releitura na íntegra para o disco de estreia do quarteto de Birmingham. Em março deste 2024, foi lançado Doomed Forever Forever Doomed, álbum duplo (nas versões CD, vinil e K7 – este simples) que traz o Zakk Sabbath reinterpretando tanto o segundo quanto o terceiro discos do quarteto inglês (aos mais desinformados, chamados Paranoid, de 1970, e Master of Reality, de 1971, respectivamente), embora as músicas não estejam na mesma ordem dos álbuns originais.
Eu mesmo cheguei a assistir a um show do Zakk Sabbath em Porto Alegre no ano de 2017, onde o trio interpretou músicas dos quatro primeiros discos dos ingleses em um Bar Opinião praticamente lotado. Naquele concerto, ficou claro para mim que Blasko e Castillo formam uma cozinha sólida e respeitável, mas que o grande destaque é e sempre será o “chefão” Wylde, que, se como cantor consegue não soar muito distante dos registros originais das canções (no início da carreira do Black Label Society, eu achava a voz de Zakk muito semelhante à de Ozzy, e, embora seu registro vocal tenha mudado um pouco com o passar do tempo, não se alterou tanto assim para se afastar de vez desta semelhança), como guitarrista (e um dos melhores de sua geração, como é praticamente consenso), mostra ser plenamente capaz de reproduzir perfeitamente os riffs e passagens originais do mestre Tony Iommi, além de, muitas vezes, “estender” os solos de algumas músicas para agregar suas próprias características, como os vibratos e harmônicos que o tornaram tão famoso no meio do heavy metal.
E é mais ou menos a mesma coisa que se encontra neste novo registro desta banda tributo. A maioria das versões pode ser descrita da mesma forma: baixo e bateria seguindo quase fielmente as linhas originais das canções do Sabá Negro, assim como as linhas vocais (que, como já escrevi, não chegam a causar um estranhamento maior devido à semelhança dos cantores) e as letras das músicas, que, aparentemente, não sofreram alteração alguma. Já as partes de guitarra também soam bem próximas das originais nos riffs e frases das faixas (respeitando-se as questões de timbres e estilos de tocar, pois Zakk aqui e ali “encaixa” algumas passagens e “barulhos” que não existem nos discos homenageados), sendo nos solos que se encontram as maiores diferenças, onde, quase sempre, Wylde inicia os mesmos respeitando as versões gravadas por Iommi, mas logo os subvertendo para transformá-los em algo próprio, mais adequado ao seu próprio estilo de tocar, o qual, por vários momentos, se diferencia bastante daquele usado pelo guitarrista do quarteto inglês.
Curiosamente, são nas músicas mais “calmas” que notamos as maiores mudanças nestas versões do Zakk Sabbath em relação às da banda inglesa. O timbre do violão utilizado em “Embryo”, e, também, em “Orchid”, é diferente do instrumento utilizado nas versões originais, sendo que, na segunda, senti falta daquele “roçar” dos dedos no instrumento que Iommi registrou originalmente. “Planet Caravan” ganhou linhas de piano (segundo a contracapa, a cargo do próprio Wylde) e mais partes de guitarra (além de um longo solo deste instrumento), além do vocal ser menos “etéreo” que o original, apresentando até algumas partes dobradas, as quais também aparecem em “Solitude”, levada quase toda ao piano, com um vocal bem mais grave que o da original, e apresentando algumas linhas de guitarra que não aparecem na versão de 1971. Já em “Rat Salad”, Wylde aproveita o trecho inicial para criar passagens de guitarra diferentes da versão original (algo que também acontece no início de “Fairies Wear Boots”), com o solo de Castillo também sendo diferente (e mais curto) do que aquele registrado por Bill Ward no disco de 1970.
Muitos podem questionar qual a função de um disco como este em pleno 2024, pois já existem os registros originais destas canções, presentes em álbuns considerados como “clássicos” ainda hoje, além de diversas versões ao vivo e de covers espalhadas em vários tributos e álbuns pelo mercado (e, na minha opinião, nenhuma das presentes aqui consegue superar suas “concorrentes” lançadas no primeiro Nativity in Black: A Tribute to Black Sabbath, de 1994). Mas, já que não temos mais nem o Black Sabbath, nem a banda de Ozzy Osbourne excursionando regularmente pelo mundo, esta é uma maneira de manter o legado do quarteto de Birmingham vivo, além de, talvez, ser uma forma de apresentar estes clássicos a uma nova geração que, possivelmente, seja fã do Black Label Society (e, por consequência, de Zakk Wylde), mas que, por algum motivo obscuro, não tenha sido apresentada ao Sabbath original (embora eu mesmo tenha minhas dúvidas se existe alguém assim). De toda forma, é bastante divertido tentar descobrir para onde Zakk levará seus solos de guitarra a cada “desvio” do “caminho” original das canções, e ver como o estilo e a percepção de cada artista pode criar algo novo e fascinante mesmo sobre uma fundação já plenamente estabelecida, como a destas canções clássicas. Se quiser experimentar a sensação, tenho certeza que conseguirá apreciar a jornada por estas “novas” versões, ainda que as originais permaneçam imbatíveis em sua memória!
Track List
CD 1: Doomed Forever
1. War Pigs
2. Paranoid
3. Planet Caravan
4. Iron Man
5. Electric Funeral
6. Hand Of Doom
7.Rat Salad
8. Fairies Wear Boots
CD 2: Forever Doomed
1. Sweet Leaf
2. After Forever
3. Embryo
4. Children Of The Grave
5. Orchid
6. Lord Of This World
7. Solitude
8. Into The Void