Rush: Cinco Músicas Injustiçadas
Por André Kaminski
Uma coisa que sempre admirei no Rush foi que eles respeitavam seus próprios lançamentos e confiavam em suas músicas. Nas tours de promoção dos discos, eles realmente dedicavam uma boa parte do setlist para mais da metade senão o disco inteiro em seus shows, quer os fãs gostassem ou não. Bem diferente de outras bandas que acostumaram seus fãs tocando apenas 2 ou 3 músicas de seus discos novos com aquela desculpinha de quem paga o show só quer ouvir os “crássicos” cof cof cof Iron Mai.. cof cof cof Metalli… cof cof cof. Mesmo que isso significasse que aquela música só apareceria naquela tour e nunca mais.
Mas o Rush sempre gostava de desenterrar uma vez ou outra algumas daquelas canções. Mas aí é que vejo como problema ou injustiçada: todas as músicas que cito aqui deveriam ter sido tocadas no mínimo 10 vezes mais. Segue a minha lista de músicas que o Rush deveria ter tocado mais e/ou mesmo os fãs darem mais atenção a essas canções que são excelentes mesmo em alguns discos não tão bons assim (exceto Signals, o meu favorito).
Malignant Narcissism (Snakes & Arrows – 2007)
Este álbum está entre os discos que menos gosto do Rush, mas olha… se tem uma faixa com o carimbo de injustiçada desde o primeiro dia que este disco foi lançado com certeza esta música merece. São 3 gênios geniando em pouco mais de 2 minutos instrumentais. Por que caralhos vemos tão pouco de baixo fretless no rock atual? Aliás, por que o Geddy usa tão pouco de fretless se ele simplesmente apavora neste petardo? Que riffs de Lifeson! Que pegada de Peart!
Countdown (Signals – 1982)
Nunca aceitei muito bem que a minha segunda faixa favorita da fase tecladeira da banda fosse tão diminuída na discografia da banda e nos shows ao vivo, aparecendo aqui e acolá, mas pouco consistente enquanto a banda ainda era ativa. Lindos teclados, letras marcantes e, claro, mais um show de técnica de Peart.
The Body Electric (Grace Under Pressure – 1984)
Até entendo quem não gosta muito dessa música (e do álbum) mas eu sempre achei a vibe meio psicodélica desta canção muito marcante. Uma intro forte, um refrão robusto e mais uma faceta do Rush em destaque numa época em que este tipo de pegada meio psico estava ultrapassada desde a década anterior. Talvez se fosse lançada em um dos discos setentistas, o pessoal a consideraria melhor.
Driven (Test for Echo – 1996)
Dentre as faixas de destaque de um disco, esta é uma das que menos vejo amor por parte dos fãs por estar em um álbum não tão apreciado pelos próprios. Mas é um Rush pesado, heavy metal, com uma vibe meio alternativa típica ali do meio dos anos 90, mas que como é o Rush, sempre é sinônimo de coisa interessante. Ah… Geddy Lee e suas gracinhas no baixo… será que algum dia surgirá outro Marquito das 4 cordas que possa, ao menos, lembrar um pouco de suas técnicas e habilidades?
Best I Can (Fly by Night – 1975)
Todo mundo ama o Rush técnico-prog, ou o tecladeiro new wave dos anos 80, ou aquele mais cru dos anos 90… mas é necessário lembrar que o Rush tem músicas daquele puro suco de rock ‘n’ roll dançante, chacoalhador de esqueletos, direto e sem muitas firulas por parte deles (exceto Peart, ele sempre arruma uma desculpinha para enfiar algum groove a mais, ou uma viradinha ali que ninguém previa e tal) do início de carreira. Parece que poucos lembram. Mas eu lembro e posto aqui.
Ótima lembrança da “Best I Can”! “Fly by Night” é um excelente disco.
Valeu Jorge!
“Malignant Narcissism” e “Best I Can” foram boas lembranças, André!
“Driven” sempre foi uma de minhas favoritas na carreira do Rush. mas não a considero tão injustiçada assim. A banda a tocou por várias turnês, e ela aparece em álbuns ao vivo. Para mim, a música mais injustiçada do Test for Echo é “Dog Years”, a qual acredito que a banda não chegou a tocar ao vivo nem na turnê do disco, e que eu sempre curti muito.
“Countdown” saiu como single e tem até clipe, mas raramente foi tocada depois da turnê do Signals, sendo que sempre foi uma das minhas favoritas daquele disco. Outra que poderia ser considerada injustiçada nesse álbum é “Losing It”, que só veio a ser tocada ao vivo na última turnê da banda, infelizmente, pois é uma das mais lindas baladas da banda.
Falando em baladas, “Different Strings” sempre teve menos reconhecimento do que acho que merece. De toda a fase “prog” do Rush nos anos 70, acredito que apenas ela e “Entre Nous” poderiam ser consideradas “injustiçadas”, mas esta última ganhou algum destaque no documentário “Beyond The Lighted Stage”, quando o Billy Corgan do Smashing Pumpkins disse que ela era uma das favoritas dele. Já “Different Strings” quase nunca é citada em lugar nenhum, lamentavelmente.
Uma música do início do Rush que foi praticamente “abandonada” quando Peart se juntou ao trio é “Here Again”, que talvez esteja no meu Top 5 do Rush (se considerarmos apenas os cinco primeiros discos), mas acho que nunca mais apareceu ao vivo depois da tour do Fly By Night.
Outra música que gosto muito, e quase nunca é lembrada, é “Hand Over Fist”, do Presto. Ao que eu sei, é outra que nunca foi tocada ao vivo, e sempre me soou como um dos destaques deste disco.
Mas, para mim, a música mais injustiçada da carreira do Rush é “Cut to the Chase”, que eu nunca escutei ao vivo (parece que foi tocada em alguns shows da turnê do Counterparts, mas eu nunca ouvi nenhuma gravação) e é uma das músicas que eu mais curto não só nesse disco, mas em toda a discografia do Rush. Pena que poucos parecem concordar comigo, mas…
“Cut the Chase” seria uma escolha muito boa como injustiçada, mas do Counterparts eu provavelmente pegaria “Nobody’s Hero” que pelo que sei, foi tocada apenas na tour do disco e uns poucos anos depois e aí não achei mais registros.
Não curto muto “Different Strings” mas “Entre Nous” é uma bela lembrança também.
Aliás, citei “Driven” porque ao menos pelo que vejo, a banda tem mais consideração por esta música do que os fãs, que aliás, não parecem nutrir simpatia à nada do Test for Echo. Ela é meio que a “canção principal” de um disco mas que sempre me passou a impressão de pouco querida.
Mas se você fosse o autor da matéria, com certeza lembraria de várias faixas que mesmo eu provavelmente teria esquecido!
“Nobody’s Hero” foi praticamente a única música que “sobreviveu” à turnê do Counterparts, sendo tocada mais adiante, tem clipe, tem a letra bem comentada pelos fãs (no sentido de debateram seu significado e tal) e é, certamente, a música mais lembrada desse disco (ao lado de “Stick It Out”, outra “sobrevivente”). Não a considero injustiçada de modo algum, mas são diferentes visões sobre o mesmo tema…
Poxa, então viajei mesmo nessa. Bom saber e preciso rever minhas pesquisas.
Do Test For Echo, eu consideraria definitivamente Virtuality. Não sei se é apenas memória afetiva dos vídeos do Neil Peart no A Work In Progress, mas, além do trabalho dele na bateria, eu acho o riff de guitarra muito bom. A faixa título também merece menção honrosa, só foi tocada na turnê do Test for Echo mesmo.
Outras dessas que foram tocadas apenas na respectiva turnê ou pouquíssimas vezes, na ordem:
Do Rush, Take a Friend e Before and After
Do Signals, Chemistry
Do Hold Your Fire, Prime Mover
Do Presto, War Paint
Do Counterparts, Cold Fire
Do Vapor Trails, Ghost Rider
Das que nunca foram tocadas ao vivo, imediatamente me vem à cabeça as já citadas Different Strings e Hand Over Fist, além de Face Up, The Big Wheel, Cut to the Chase, Vapor Trail e Sweet Miracle.
Mas o problema do Rush é que eu definitivamente não abriria mão de um dos clássicos pra ouvir uma dessas raridades. O set deles precisaria ter umas 50 músicas por show, e ainda assim ia ficar coisa boa de fora.
Rush tem muitas músicas que pouca gente presta atenção, e algumas apareceram aqui ou nos comentários. Mas algumas músicas que eu gosto e parecem não ser muito lembradas são “War Paint” (sempre achei a letra muito interessante, e é uma das poucas músicas do “Presto” que nunca esqueci), “I Think I’m Going Bald” (que nunca entendi porque quase sempre aparece só nas listas de piores músicas da banda), “Freeze” (do “Vapor Trails”, um disco que considero bastante injustiçado no todo), “Chemistry” (muito legal! Eu admito que fui injusto com o “Signals” por muito tempo, é um disco que demorou a me pegar) e “You Bet Your Life” (que encerra o “Roll the Bones” em alto astral). Confesso que não fui verificar se essas músicas cumprem os pré-requisitos da seção, mas, de todo modo, são as que lembrei ao refletir sobre o texto do André.