Marillion & The Positive Light – Tales From The Engine Room [1998]
Por Fernando Bueno
Se levarmos ao pé da letra esse disco nem deveria estar sendo resenhado em um site como a Consultoria do Rock. Por quê? Porque não é rock!!! Mas é rock progressivo, o leitor mais criterioso poderia dizer. Afinal é um disco do Marillion. Aí é que está a história, o correto mesmo era disco nem ter saído com o nome Marillion na capa.
Vou explicar tudo.
This Strange Engine de 1998 era o então quinto disco gravado pelo Marillion depois da entrada de Steve Hogart na banda. Dos cinco, era o menos inspirado. Sem o Fish a banda já tinha feito um pouco e tudo nessa seara do prog, desde coisas até mais acessíveis do que já tinha feito no início da carreira, passou pelo har progressivo e progressivo de fato, ou sinfônico, daqueles direcionados para os mais aficionados fãs do estilo. Aquele progressivo de bandas como Tangerine Dream era algo que eles ainda não tinham feito. Aí apareceram os caras do The Positive Light.
The Positive Light era formado por dois músicos/produtores chamados Marc Mitchell e Mark Daghorn, ambos fãs declarados da banda de Steve Rothery. Por algum motivo conseguiram o direito do material gravado no então mais novo disco do grupo para usarem da forma que quisessem. E esse disco é exatamente isso, uma reinterpretação das músicas de This Strange Engine feito por um grupo ligado ao universo de música eletrônica.
Na época desses discos o Marillion passava por uma fase de transição e estava aberto a mudanças de paradigmas do mercado musical. Um texto sobre o período e algumas das ações que a banda tomou o leitor pode encontrar aqui. Acredito que essa liberação dos direitos de sua música para serem usados por artistas de outros estilos pode ter feito parte dessa tentativa de se adequar ao mercado do período, em um rompante de criatividade que talvez não tenha chegado em um objetivo esperado. Tentaram seguir caminhos ainda não percorridos.
O sentimento é que os climas das versões originais das músicas do álbum original se perdem em um mar de batidas dançantes monótonas e notas de bateria acentuadas, muitas vezes resultando em versões estendidas das músicas de This Strange Engine. No fim das contas a faixa que tem algum ganho é mesmo, e não estou falando do quase dobro tempo de duração dela, é a de abertura “Estonia”. Porém, o que é o diferencial nessa faixa, se torna repetitivo nas seguintes fazendo a animação cair ao longo do disco até chegar em um ponto em que você já está torcendo para ele chegar ao fim em “Eighty Days”. A então faixa título que já tinha seus mais de quinze minutos ganham mais cinco extras de batidas, overdubs e climas repetitivos.
Para completar todo cenário de confusão com o álbum e provando que o Marillion não tinha mais nenhuma responsabilidade e interesse pelo lançamento, na sua edição lançada oito anos depois na Holanda resolveram mudar a capa. Já havia outras duas versões: a original, que ilustra e é capa desse texto, com a imagem de uma espiral, provavelmente uma interpretação da curva de Fibonacci, e a versão alemã, de 2005, com uma foto de uma sala vista de uma janela basculante sobre a foto dos membros da banda fazendo um gesto com as mãos junto aos olhos imitando a criança da capa de Marbles de 2004. Por se tratar de um remix de um disco lançado bem antes, já seria algo bastante estranho usar essa iconografia de um álbum subsequente. Mas aí temos a versão que saiu na Holanda. Lançada em 2006 eles simplesmente usaram o antigo logo do Marillion, que havia sido usava somente até o Season’s End (1989), ou seja, já abandonada há muito tempo na sequência da carreira com Steve Hogart, e uma foto da banda em que o seu antigo vocalista está presente. Isso mesmo! Depois de quase vinte anos com Fish fora da banda, os responsáveis pelo lançamento do disco provavelmente não ficaram sabendo da troca. Resumindo, uma salada completa. O que me espanta é o interesse que esse disco despertou para o seu relançamento anos depois do fracasso retumbante de 1998.
No fim, o disco acaba gerando apenas como algo desejado por colecionadores completistas. Porém, se você é uma pessoa que gosta de progressivo e de trance pode encontrar aqui uma mistura que vá te agradar. Quem sabe?
Concordo com a crítica ao disco. Esse foi um experimento fracassado que fica melhor esquecido. A mesma coisa com os dois discos eletrônicos do Wishbone Ash. Mas discordo da crítica ao This Strange Engine, que acho o quarto melhor com o Steve Hogarth, perdendo somente para Brave, Season’s End e Marbles. Mas é questão de gosto pessoal mesmo!
Eu falei que era o menos inspirado até o seu lançamento. Depois eles fizeram outros disco que brigam por essa posição.