The Allman Brothers Band – Manley Field House, Syracuse University, April 7 1972 [2024]

The Allman Brothers Band – Manley Field House, Syracuse University, April 7 1972 [2024]

Por Micael Machado

Existem vários discos ao vivo no mercado registrando apresentações ao vivo da Allman Brothers Band, seja com o saudoso Duane Allman nas guitarras, seja com as diversas formações que compuseram o grupo depois da passagem de um dos seus músicos mais carismáticos. Porém, há um curto período de tempo na história da banda que, oficialmente, ainda não havia aparecido em disco. São os meses em que o grupo atuou como quinteto entre 1971 e 1972, ou seja, depois da morte de Duane (ocorrida em 29 de outubro de 1971, sendo que, ao que conta a história, o grupo voltaria aos palcos apenas três semanas depois da tragédia) e antes da entrada de Chuck Leavell nos teclados. Neste período, Gregg Allman (vocais e teclados), Dickey Betts (guitarra), Berry Oakley (baixo), Jaimoe (bateria e percussão) e Butch Trucks (bateria) compuseram e gravaram as músicas que fariam parte de Eat A Peach, álbum duplo lançado em fevereiro de 1972, o qual seria o primeiro registro do grupo sem Duane (embora com várias faixas ao vivo registradas ainda com o saudoso guitarrista em shows no Fillmore East ainda em 1971), e excursionou pelos EUA para divulgar o seu então “novo” disco. Pois esta lacuna na história da banda foi sanada em janeiro de 2024, com o lançamento de Manley Field House, Syracuse University, April 7 1972, álbum que já era “velho conhecido” dos bootleggers de plantão, mas que ganha o mercado em uma versão “oficial” em CD duplo com áudio remasterizado e lançado pela The Allman Brothers Band Recording Company, gravadora responsável ao longo dos anos por resgatar outros registros de importância histórica deste lendário grupo da Flórida.

O repertório do CD compreende as sete faixas já presentes na versão original do sensacional álbum ao vivo At Fillmore East (lançado em 1971) mais duas faixas presentes em Eat A Peach (“Ain’t Wastin’ Time No More”, aqui contando com um trabalho sensacional de Betts no slide, e o cover para “One Way Out”, faixa que já era executada ao vivo pelo grupo ainda nos tempos com Duane na formação), além de uma versão para “Midnight Rider” (faixa do segundo registro da ABB, e que só foi aparecer em algumas das versões estendidas de At Fillmore East) e de uma jam improvisada que, apesar de ter quase seis minutos de duração, é pouco mais que uma introdução, já no bis, para o encerramento do concerto com uma linda rendição de “Hot ‘Lanta”.

A Allman Brothers Band em 1972: Jaimoe, Dickey Betts, Berry Oakley, Butch Trucks e Gregg Allman

É claro que a maior curiosidade ao escutarmos o CD é saber como a ABB soa no palco sem um de seus principais músicos. Honestamente, os únicos momentos em que senti falta da guitarra de Duane ao longo do disco foram na hora das “guitarras gêmeas” em “In Memory of Elizabeth Reed”, e em algumas partes durante os improvisos de “Whipping Post” (que, aqui, assim como em At Fillmore East, passa dos vinte minutos de duração). No restante das faixas, Gregg parece ter ganho mais espaço para solar em seu Hammond B3, e o próprio baixo de Oakley (mixado com um volume bem alto e claro neste registro, o que faz com que o trabalho do músico se destaque em relação a outros trabalhos ao vivo do grupo) parece querer “tapar o buraco” deixado pela guitarra do saudoso Allman. Mas é Dickey Betts quem ganha os principais méritos pela ausência de seu parceiro de seis cordas não ser tão sentida quanto poderia ser. Se “virando nos trinta” para dar conta de suas partes e das de Duane, o músico (que viria a falecer também em 2024, poucos meses depois do lançamento deste álbum ao vivo) é o maior destaque deste show, executando solos e mais solos com sua reconhecida competência, além de segurar as bases quando necessário para Gregg cantar ou solar nos teclados. Tenho certeza que mesmo o maior fã de Duane há de reconhecer que Betts “dá conta do recado” de manter a música do grupo viva apesar da falta de uma segunda guitarra, instrumento tão marcante no grupo tanto com o sexteto original quanto com as formações que vieram posteriormente a este registro.

Com uma qualidade sonora que, apesar de “melhorada” para o lançamento oficial, não deixa de soar como um “bootleg oficial” (embora qualquer “incômodo” que o registro analógico original possa causar aos ouvidos mais sensíveis – e mais acostumados às “gravações digitais” da era moderna – suma logo depois de uma ou duas faixas), Manley Field House, Syracuse University, April 7 1972 é, como já escrevi, um registro histórico de uma curta e marcante época na história da Allman Brothers Band, e que foi muito importante para permitir sua continuidade ao longo das décadas que se seguiram. Poucos meses depois desta apresentação, em setembro de 1972, a ABB voltaria a ser um sexteto com a entrada de Chuck Leavell nos teclados, apenas para, no começo de novembro daquele ano, perder tragicamente mais um de seus membros, desta vez o baixista Berry Oakley, morto, assim como Duane, em um acidente de motocicleta. O grupo seguiria em frente, entre altos e baixos, até se aposentar em 2014, com Gregg Allman e Butch Trucks vindo a falecer em 2017, e deixando um legado enorme ao mundo da música, especialmente ao gênero southern rock. Que sua música nunca morra!

Contracapa de Manley Field House, Syracuse University, April 7 1972

Track List:

Disco 1

1. Introduction
2. Statesboro Blues
3. Done Somebody Wrong
4. Ain’t Wastin’ Time No More
5. One Way Out
6. Stormy Monday
7. You Don’t Love Me

Disco 2

1. In Memory of Elizabeth Reed
2. Midnight Rider
3. Whipping Post
4. Syracuse Jam
5. Hot ‘Lanta

2 comentários sobre “The Allman Brothers Band – Manley Field House, Syracuse University, April 7 1972 [2024]

  1. A Allman Brothers Band é maravilhosa e tem presenteado os fãs com muitos lançamentos de arquivo. O problema é que esses álbuns do começo dos anos 70 acabam tendo repertórios muito parecidos, fazendo com que fique difícil escolher algum para comprar! A resenha do Micael deixou bem claro que há ótimos motivos para ir atrás desse aqui! Vou em busca do CD…

    1. Realmente, Marcello, boa parte dos repertórios da ABB ao vivo, especialmente neste período, é bastante repetitivo. São as mesmas músicas, mas, como o grupo tinha a “manha” de como improvisar e embarcar em longas “jams” em cima de um palco, as versões acabam sempre tendo algo de diferente entre si, pois o grupo não era muito afeito a repetir “nota por nota” nos palcos o que havia registrado em estúdio.
      O grande diferencial deste álbum resenhado é mesmo não contar com uma segunda guitarra, o que é bastante incomum em se tratando de ABB. Porque, se o sujeito for procurar alguma “raridade” ou faixa mais “lado B” nestes discos ao vivo de arquivo, é bastante improvável que encontre o que está buscando. No mais, como acredito ter deixado claro na resenha, achei um disco ao vivo bastante honesto e apreciável, mesmo tendo um repertório já bem conhecido de outras apresentações!

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