Melhores de 2024: Por Marcello Zapelini
2024 foi um ano particularmente interessante em termos musicais, e a lista que preparei com os melhores lançamentos traz algumas escolhas que, se considerar o meu gosto musical, vão até soar surpreendentes para quem me conhece bem. Claro, os velhos medalhões se fazem presentes, mas tem espaço para coisas mais novas nessa listagem, e até para uma agradável surpresa vinda de um ex-integrante de uma banda da qual não gostava. Por outro lado, infelizmente, por várias razões pessoais, 2024 foi um ano em que não consegui assistir um show internacional sequer… Até tinha adquirido ingressos para o Living Colour em SP em outubro, mas por motivos profissionais tornou-se impossível viajar para lá; Iron Maiden em dezembro, até tentei, mas não consegui adquirir os ingressos. E também foi um ano complicado em termos de box sets, pois dois bons lançamentos do ano nessa área eu não consegui comprar antes de receber a desagradável mensagem “produto indisponível”.
Ainda assim, teve muita coisa boa lançada que consegui ouvir vezes suficientes para poder formar uma opinião bem fundamentada, e eu quero destacar primeiro os dez melhores discos do ano no meu ponto de vista pessoal, e no final,
como bonus tracks, os famosos discos que quase entraram na lista, a melhor box set, o melhor lançamento de arquivo e as maiores decepções do ano.
10) Ohio Players – THE BLACK KEYS
Dan Auerbach e Patrick Carney ao mesmo tempo voltam aos bons tempos de El Camino (um dos melhores discos da década passada, na minha opinião) e tentam trilhar novos caminhos nesse seu 12º álbum de estúdio, que traz a participação especial de Beck (coautor de nada menos do que sete das 14 músicas) e Noel Gallagher (que também assina duas composições com Dan e Patrick), além de vários outros músicos e colaboradores. A capa decididamente retrô já indicava que a banda iria olhar para o passado no novo disco, o que se casa perfeitamente com a proposta musical dos rapazes. Este é outro dos discos em que é difícil de se destacar uma música em especial, mas a abertura com “This is Nowhere”, a cover para “I Forgot to be a Lover”, balada soul de William Bell do final dos anos 60, “Beautiful People (Stay High)”, “Only Love Matters” (também com forte influência soul), “Live Till I Die” (a melhor, com guitarras surpreendentemente pesadas) e “On the Game” são as que mais gosto. Mas há duas músicas completamente dispensáveis, “Candy and her Friends” (que começa bem e se prejudica por um rap desnecessário) e “Paper Crown” (outra com rap, mas essa nem mesmo começa bem). Ohio Players atingiu apenas o modesto 26º posto na parada da Billboard, pior desempenho de um disco do grupo em muito tempo, e o Black Keys acabou cancelando sua turnê americana, declaradamente por conta das baixas vendas de ingressos; a banda não estava conseguindo lotar teatros e arenas de maior porte, e inclusive rompeu com seus managers.
9) Humanoid – ACCEPT
Confesso que passei anos sem prestar muita atenção ao Accept. Conheci a banda nos anos 80 e a deixei de lado quando Udo Dirkschneider saiu pela primeira vez. Erro meu, pois a banda lançou vários discos bons, e a formação atual, embora já não tenha mais quase nada do grupo que fez sucesso no começo dos anos 80 com seu heavy simples, mas muito bem feito, não deixa nada a desejar, especialmente porque Mark Tornillo honra o pequeno grande homem Udo. A dupla Hoffmann-Tornillo escreveu a maioria das músicas. Da abertura com “Diving into Sin” (ótima, por sinal) até o final com “Southside of Hell”, passando pela faixa-título, por “Man Up”, a quase balada “Ravages of Time” e “Straight Up Jack” (que tem um sabor de AC/DC clássico), o que se tem é um conjunto de músicas muito boas, dignas da história do grupo, que mostram que apesar dos reveses o carequinha Wolf Hoffmann tem todo o direito de manter o Accept em funcionamento, pois Uwe Lulis (coautor da boa “Frankenstein”), Martin Motnik (que coescreveu quatro músicas) e Christopher Williams são bons músicos. Claro, Peter Baltes faz falta, e quem conheceu a banda no seu período clássico sempre vai lembrar de Udo, Jörg, Stefan ou Herman Frank, mas o Accept atual cumpre muito bem o seu papel. A produção de Andy Sneap homenageia o som clássico do Accept e valoriza as guitarras de Wolf e Uwe (como deve ser, aliás), além de destacar bem os vocais animalescos de Mark Tornillo. Com cerca de 48 minutos de duração, Humanoid está na medida certa para fazer os fãs de heavy metal felizes e calar a boca daqueles que, como eu, achavam que o grupo não devia ter continuado com a saída de Peter Baltes, penúltimo integrante do grupo original.
8) Keep me Fed – THE WARNING
As meninas mexicanas do The Warning chegam a seu quarto disco com um som um pouco mais elaborado, e bem agradável de ouvir. Claro, é fácil desprezar um grupo que chamou atenção por causa de um vídeo caseiro com três garotinhas tocando Metallica, e que parece confiar na beleza das agora moças, mas, após ouvir os quatro álbuns na sequência, considerei este último o melhor, mais bem produzido (por Anton DeLost, que confesso desconhecer totalmente), indicando que o grupo tem futuro. Daniela “Danny” Villareal continua não sendo nenhuma maravilha como guitarrista (ela se sai bem no ritmo, mas raramente se arrisca num solo), mas está cantando cada vez melhor; Alejandra “Ale” Villareal é uma baixista discreta, mas segura, ancorando bem o som do grupo; e Paulina “Pau” Villareal é uma baterista que, se não enfeita muito as músicas, tem um estilo surpreendentemente pesado para uma garota tão pequena, e se mostra uma boa vocalista em “Sharks”. “S!CK”, “Qué Más Quieres”, “Sharks”, “Burnout”, “More” e “Hell You Call a Dream” são os destaques deste álbum que chegou ao 1º lugar da parada de heavy metal da Inglaterra e ao 59º da Billboard, além de render uma indicação ao Grammy latino para “Qué Más Quieres”. E “S!CK” chegou ao 8º lugar da parada de singles (Mainstream Rock) da própria Billboard. The Warning pode até ser o resultado de boa promoção em redes sociais, mas as garotas mandam muito bem e por isso o disco conquistou um lugar na minha lista.
7) V – BLACK COUNTRY COMMUNION
Maldito sejas, Joe Bonamassa, por privilegiares tua carreira solo. O Black Country Communion seria uma daquelas bandas boas demais para ser verdade e provavelmente faria shows memoráveis, mas a banda se reúne para gravar esporadicamente (é o quinto disco de estúdio em 15 anos, mas o anterior – BCC IV – saíra em 2017) e praticamente não se apresenta ao vivo. O novo álbum começou a ser ventilado já em 2018, mas os conflitos de agenda entre os músicos e a pandemia de Covid-19 foram postergando as gravações, que acabaram ocorrendo em 2023; em janeiro de 2024 o disco foi anunciado, e o lançamento ocorreu em junho. De uma banda formada por Glenn Hughes, Joe Bonamassa, Jason Bonham e Derek Sherinian pode-se esperar coisa boa, e V não decepciona, trazendo oito novas composições de Hughes e Bonamassa (e outras duas creditadas somente a The Voice of Rock) que fazem bonito na comparação com os dois primeiros (e melhores) discos deles. “Enlighted” começa meio zeppeliniana, mas ganha corpo e se torna um dos maiores destaques do álbum, que ainda traz as ótimas “Stay Free”, “You’re Not Alone”, “The Open Road” e “Love and Faith” (único momento em que Glenn divide o vocal principal com Bonamassa). Preciso dar um destaque especial para Derek Sherinian, cujo órgão pontua as músicas com classe e bom gosto, em alguns momentos lembrando John Paul Jones se aventurando no instrumento nos tempos do Led Zeppelin. A boa produção de Kevin Shirley deixou o som claro e pesado, como deve ser (não adianta, não consigo esquecer do fracasso de Roy Z no disco do Bruce Dickinson…), fazendo com que V merecesse mais do que obteve em termos de sucesso comercial: foi o primeiro disco do Black Country Communion que não figurou na parada da Billboard. Não sei se o BCC tem futuro, pois Glenn Hughes anunciou uma turnê de despedida para 2025, mas se este for o último álbum da banda, ela terá acabado dignamente.
6) Age of the UFOnaut – JUPITER CYCLOPS
Não conhecia a banda e após ler uma resenha favorável no Musoscribe do incansável Bill Kopp, fui atrás do disco cuja capa parecia de relançamento de disco ao vivo do UFO britânico, devidamente aposentado após os problemas de saúde de Phil Mogg impedirem o grupo de encerrar sua turnê de despedida. Provavelmente o lançamento mais obscuro dos que selecionei para minha lista dos dez mais, Age of the UFONaut destila as influências de heavy metal clássico e da New Wave of British Heavy Metal do começo dos anos 80 do som deste quarteto de Phoenix (Arizona) formado por Aaron Peltz (vocais), Dustin Lyon (guitarra), Jake Melius (baixo) e Kyle Eades (bateria), que pelas (poucas) informações que obtive são todos músicos veteranos de outras bandas que não conhecia. Com letras que exploram teorias da conspiração e extraterrestres demoníacos, as oito músicas que formam este ótimo disco apresentam um alto nível em cada momento, com destaque absoluto para os excelentes vocais de Peltz e os riffs pesados de Lyons, os principais compositores, que tornam músicas como “Doomed” e “Way Down Below” quase impossíveis de se esquecer. A bluesy “Chemical Voodoo” mostra que o grupo consegue variar o som sem perder o foco, e “Lumerian Nights”, outra música muito interessante, mostra que os rapazes ouviram muito as primeiras bandas de rock pesado do final dos anos 60 (o primeiro disco do Bang me veio à cabeça, não sei por que). O Jupiter Cyclops não veio revolucionar o rock, nem tenta ser a próxima maior banda do mundo, mas lançou um disco de estreia muito bom e que me faz esperar que não demorem muito para lançar outro.
5) =1 – DEEP PURPLE
Tratei mais a fundo deste disco, o primeiro da banda com Simon McBride na guitarra, em resenha para esta Consultoria. Contando mais uma vez com a boa produção de Bob Ezrin (que inclusive é creditado como coautor das músicas) e com uma arte de capa bastante primária, =1 é um bom disco de rock de uma banda madura, mas de Deep Purple tem basicamente o nome e algumas influências nas músicas que remetem ao passado. Desde aquela resenha, “If I Were You” cresceu na minha opinião, sobretudo pela interpretação de Ian Gillan, que usa a voz que sobrou magistralmente; as demais que destaquei (como “Portable Door”, “I’ll Catch You”, “Lazy Sod” e “Now You’re Talkin’”) na época continuam me agradando bastante, fazendo com que o disco do Deep Purple, parte por seus méritos, parte por ser o novo álbum de uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos, entre numa alta posição em minha lista.
4) From Hell I Rise – KERRY KING
Um amigo meu recomendou este disco, e fiquei curioso, afinal, nunca fui fã do Slayer (tive o Hell Awaits, que acabei vendendo por uma boa grana, ouvi toda a discografia, mas o grupo nunca me pegou). Ainda bem que ele me falou do álbum e eu fui atrás, porque este From Hell I Rise é uma paulada como há tempos não me chamava a atenção. King chamou o colega do Slayer, Paul Bostaph, para a bateria, e o grupo que o acompanha se completa com Mark Osegueda (vocais), Phil Demmel (guitarra) e Kyle Sanders (baixo). Gravado ao longo dos anos de 2020 e 2023, From Hell I Rise se mostra uniformemente bom do começo ao fim, e a produção de Josh Wilbur confere o peso necessário às músicas sem sacrificar a clareza na gravação dos instrumentos. “Diablo” abre os trabalhos sem deixar pedra sobre pedra, e daí em diante tem mais doze músicas pesadas, mas bem trabalhadas, com guitarras violentas, a bateria forte de Paul Bostaph e vocais que, mesmo sendo urrados como convém ao estilo, conseguem superar meus preconceitos. A faixa-título, “Everything I Hate About You” (há várias pessoas que merecem uma música dessas…), “Crucifixation”, “Where I Reign” e “Trophies of the Tyrant” são as canções que mais gosto, mas é difícil destacar alguma delas, pois se trata de um trabalho de alto nível. Espero que Kerry King consiga manter a banda unida e que não demore tanto para lançar o próximo álbum; os fãs do Slayer que me perdoem, mas para mim este disco é melhor do que os que a banda lançou – não nego que sejam extremamente influentes, especialmente os três primeiros álbuns de estúdio, mas não me atraem.
3) Luck and Strange – DAVID GILMOUR
Gilmour, com quase 80 anos nas costas, não tem mais nada a provar para ninguém, mas decidiu reaparecer com seu quinto disco de estúdio (numa carreira solo começada em 1978), quase um negócio de família, com os filhos participando dos backing vocals e das composições (colaborando com Polly Samson, esposa de Gilmour desde os anos 90, na letra de “Scattered”) e a filha Romany cantando e tocando harpa, assumindo o vocal em “Between Two Points”. O álbum traz uma música gravada com Rick Wright, a faixa-título, que aparece adicionalmente em sua versão original (basicamente uma jam session) como bônus, e que é um dos seus destaques. As instrumentais, sempre presentes nos discos do guitarrista, restringem-se a duas vinhetas, “Black Cat” e “Vita Brevis”. Aliás, a linda e melancólica “Yes I Have Ghosts”, dueto de David e Romany, também aparece como bônus. À parte “Dark and Velvet Nights”, todas as demais músicas são muito boas, ainda que um pouco uniformes, soando como Pink Floyd quando é preciso (nos arranjos e na guitarra sempre atraente de Gilmour), mas mantendo a identidade dos discos-solo anteriores. Luck and Strange é, provavelmente, o melhor álbum de David Gilmour, à exceção talvez de On an Island, e atingiu o primeiro lugar na Inglaterra (e o 10º na parada geral da Billboard dos EUA). Espero que ele mude de ideia e se apresente no Brasil em 2025!
2) Invincible Shield – JUDAS PRIEST
Um dos primeiros discos de 2024 que tive o prazer de ouvir, e que também resenhei. 19º álbum dos veteranos em 50 anos, Invincible Shield mantém o bom nível dos lançamentos recentes do Judas e vai até além dos excelentes Firepower e Redeemer of Souls (e, por que não, de Nostradamus, que eu gosto bastante apesar de ser muito malhado). Halford, Tipton, Faulkner, Hill e Travis, com o reforço do produtor e guitarrista (nos shows) Andy Sneap, honram a tradição do Judas Priest num disco que desde a primeira audição me soou como um dos melhores do ano, com músicas bastante fortes como “Crown of Horns”, “Panic Attack”, “Giants in the Sky”, “The Serpent and the King”, e nada que pudesse ser considerado como “filler”. O Judas Priest não ousou, não inovou, e se manteve na sua zona de conforto, mas é o clássico caso de “em time que está ganhando não se mexe” – aliás, quando a banda tentou inovar seu som, como em Turbo, Demolition ou Nostradamus, acabou sendo fortemente criticada. Poderia ter sido o primeiro lugar da minha lista, mas a terceira banda com “Black” no nome acabou se saindo melhor…
1) Happiness Bastards – THE BLACK CROWES
Pela enésima quarta vez, os irmãos Robinson fumaram o cachimbo da paz e trouxeram o Black Crowes de volta; espero que dessa vez para ficar, pois Happiness Bastards foi meu lançamento favorito do ano com sobras. O 9º álbum de estúdio dos corvos traz apenas Chris e Rich Robinson e o baixista Sven Pippien dos membros originais, com Nico Bereciartúa na guitarra, Erik Deusch nos teclados e Brian Griffin na bateria, mas o som remete aos primeiros (e melhores) álbuns da banda, no começo dos anos 90. “Bedside Manners”, “Rats and Clowns” e “Cross Your Fingers” formam a trinca matadora que inicia o álbum, chamando a atenção logo de cara, mas não é exagero afirmar que “Happiness Bastards” não tem nada ruim nos seus pouco menos de 38 minutos, encerrando com a ótima “Kindred Friend” – e ainda tem a fantástica “Wanting and Waiting”, possivelmente minha música favorita no álbum. Chris Robinson continua um vocalista de primeira, seu irmão Rich ainda é o Keith Richards da sua geração, empilhando riffs sobre riffs nas músicas do grupo, e o som continua remetendo aos bons tempos dos Stones e do Faces, com aquele clima de party rock que sempre caracterizou a banda – ou seja, para quem não curte, Happiness Bastards basicamente representa mais do mesmo, mas para quem gosta o álbum é um verdadeiro oásis de bom e velho rock’n’roll. Infelizmente, o sucesso comercial não veio, pois o disco atingiu apenas a modesta 97ª posição na Billboard. Isso pouco me importaria, se não fosse o fato de que o equilíbrio na relação dos irmãos Robinson é um tanto delicado e a falta de sucesso pode levar o grupo a parar novamente. Na turnê atual, o baterista Cully Symington substituiu Griffin, com Bereciatúa e Deutsch mantendo seus postos.
Outros lançamentos interessantes
Ian Hunter lançou Defiance Part 2, um pouco inferior à Part 1 do ano passado, mas ainda assim um bom disco que merece várias audições. Chegou perto de entrar na minha lista, mas acabou ficando de fora. Be Right Here, do Blackberry Smoke, é bom, mas um pouco aquém do potencial do grupo. O Pearl Jam saiu-se com o bom Dark Matter, mas não conseguiu entrar na minha lista principal. O veteranaço Bill Wyman (88 anos!!) lançou o divertido e inofensivo Drive My Car, com versos que concorrem ao prêmio de letra mais canalha do ano (“I’m a rough diamond baby, but diamonds are a girl’s best friend”). O U2 saiu-se com How to Reassemble an Atomic Bomb, com sobras e versões alternativas de músicas do How to Dismantle an Atomic Bomb, mas ainda não consegui ouvi-lo vezes suficientes para formar uma opinião. O Rival Sons voltou a lançar dois discos em um ano, com o ao vivo Pair of Aces parts 1 & 2, que também preciso ouvir mais vezes. Por fim, queria destacar o blues: logo no começo do ano Christone “Kingfish” Ingram nos entregou o ótimo Live in London, o guitarrista/vocalista Tab Benoit lançou um bom disco (I Hear Thunder), Nick Gravenites rompeu o silêncio com Rogue Blues (e infelizmente faleceu pouco depois) e há o bom trabalho dos veteranos do Canned Heat, em seu provável último álbum Finyl Vinyl (acho que já vi esse título antes, mas tudo bem…).
Melhor box set do ano
Em termos de produção, ela deixa a desejar: o livreto tem apenas 24 páginas, com poucas fotos, relativamente poucas informações sobre o álbum, e os CDs e o Blu-Ray acondicionados em envelopes de papel-cartão. Mas Bridge of Sights, em sua box comemorativa dos 50 anos do lançamento do álbum original, foi o melhor lançamento do ano no terreno das box sets, considerando aquelas que consegui comprar. Além do álbum original, tem-se várias versões alternativas e instrumentais, e um remix que acrescenta quase oito minutos a mais às músicas de Bridge of Sights, na maioria das vezes por meio de finais estendidos. O pacote se completa com um Blu-ray audio que traz mais versões alternativas, além das músicas originais, e um CD de 50 minutos com um show no Record Plant em 1974 que só não é perfeito porque a voz de Jimmy Dewar não está tão boa quanto o normal – mas instrumentalmente está impecável. Correndo por fora, outra box que me agradou bastante foi Live Bursting Out – The Inflated Edition, do Jethro Tull. O álbum ao vivo original de 1978 agora apresenta um show completo em dois CDs, contendo algumas gravações feitas em soundcheck para completá-los – e aí que está um dos atrativos da box, pois há versões instrumentais raras de “Botanic Man” e “4WD”, que só seria registrada em estúdio em 1980, no subestimado A. Além disso, há o áudio do show no Madison Square Garden transmitido via satélite em 1978, trazendo as músicas apresentadas, mas quase nada do bate-papo de Anderson. Os três DVDs trazem mais áudio e a filmagem do Madison, que já tinha sido lançada em DVD anteriormente. Ian Anderson afirmou que não há planos para mais álbuns do Jethro Tull serem relançados em box sets, mas será que não rolará Under Wraps, Crest of a Knave ou Rock Island? Tenho dúvidas, já que ele também dissera que Bursting Out não seria relançado em box…
Melhor lançamento de arquivo
One Hand Clapping, do Paul McCartney, chegou bem perto, mas o melhor lançamento de arquivo de 2024 para mim só poderia ser Live at the Wiltern, dos Rolling Stones. Gravado no final da Licks World Tour de 2002 em um pequeno teatro e recheado de músicas pouco executadas ao vivo, como “Neighbours”, “Dance Pt. 1”, “Hand of Fate”, “You Don’t Have to Mean It”, “Rock Me Baby” e a sensacional volta ao passado com “That’s How Strong My Love Is” e “Everybody Needs Somebody to Love”, interpretada pelo mestre Solomon Burke, bem como uma versão maravilhosa para “No Expectations”, o álbum é uma festa para os fãs dos Stones. Outros bons lançamentos de arquivo que tive a oportunidade de apreciar este ano incluem um álbum ao vivo de Lightnin’ Hopkins, Live from the Ash Grove… Plus! e o relançamento de um ao vivo de Mose Allison (quem?? O cara que compôs “Young Man Blues”, imortalizada pelo The Who em Leeds), Live 1978.
Maior decepção do ano
Fiquei entusiasmado com a notícia do lançamento de um novo álbum do Blues Pills, Birthday, já que todos os anteriores entraram nas minhas listas pessoais de melhores do ano. Entretanto, esse novo disco não me agradou, com músicas pouco atraentes e uma interpretação aquém do potencial da ótima vocalista Elin Larsson; o fato de o disco ter sido gravado ao vivo no estúdio também não ajudou. Correndo por fora, o novo álbum de Eric Clapton (Meanwhile) também não me agradou, mas ele não ganhou a medalha de ouro de decepção do ano porque não esperava muita coisa do velho Slowhand (ainda mais com aquela capa que parece foto tirada por celular). Por fim, o Hell, Fire and Damnation do Saxon não chega a ser ruim, mas como o anterior (Carpe Diem) era muito bom, o disco de 2025 acabou sendo decepcionante.
Bem legal.
Vou ouvir esse Jupiter Cyclops e o disco das meninas do The Warning. Até hj só vi coisas separadas no youtube e nada mais. Porém sua lista me apresentou a minha maior falha desse ano: eu ignorei completamente o Black Country Communion. Tenho que ir atrás. Foi lançado nacional?
Jupiter Cyclops foi uma surpresa muito agradável para mim, espero que goste! E o The Warning está crescendo no meu conceito; acho que as garotas têm futuro. Quanto ao BCC, infelizmente não saiu edição nacional até o momento; mesmo no exterior o álbum foi pouco promovido, o que é uma pena! Merece ser conferido com cuidado…
Da sua lista, ouvi David Gilmour, Kerry King, Judas Priest, Black Country Communion e Deep Purple. Não ouvi todos os medalhões como o Accept ou o The Black Crowes, mas irei atrás do restante como faço com todas as listas publicadas na Consultoria,
Pelo que vi em várias listas, Gilmour e Judas estão presentes em quase todas envolvendo rock. Quanto a outras bandas mais veteranas, as opiniões se dividem.
Rapazz!!! Muito boa lista! Alguns desses estão nos meus melhores também! Agora, eu amei o novo do Blue Pills! Achei que a gravação ao vivo deu um charme especial. hahaha! Mas ta valendo.
Olha só! Realmente é uma questão de gosto! Acho que o “ao vivo no estúdio” já funcionou bem para muita gente, mas no caso do Blues Pills não me agradou muito… obrigado por comentar!
Gilmour e Judas estão sendo arroz de festa mesmo! O Accept e o Black Crowes estão muito legais e merecem ser conferidos. E já que você pretende ouvir todos os da lista, desde já estou curioso para saber o que achou do Jupiter Cyclops, já que essa é a única banda obscura na minha lista!
Excelente lista!
o disco do Black Country Communion é o melhor de 2024! Nenhum outro disco deste ano rodou tanto aqui em casa quanto ele – e permita-me discordar de você: acho que eles são maravilhosos justamente porque são meio “deixados de lado”, meio “low profile” (na falta de termo melhor…), pois tenho a impressão de que só se juntam quando sabem que produzirão algo primoroso. Mesmo não estando bem posicionado em sua lista, fiquei feliz em vê-lo junto de outros ótimos álbuns!
“os fãs do Slayer que me perdoem, mas para mim este disco é melhor do que os que a banda lançou”
Isso não faz nenhum sentido, o material do disco é basicamente composto por sobras/ideias do Slayer. Deve ser broxante pro Death Angel ter seu vocalista surrupiado e reduzido a uma imitação do Tom Araya.
Se você adorou este disco, impossível não simpatizar, ao menos, com os 3 últimos do Slayer, que possuem produção e abordagens (mais sóbria, menos velocidade extrema) quase iguais.
Então, Sábio, eu ouvi todos os discos do Slayer em seu lançamento desde o final dos anos 80, e acabei por não curtir nenhum deles… talvez agora seja hora de ouvir novamente e ver se mudo minha opinião. O vocal continua sendo um problema para mim, mas gostei das músicas do Kerry a ponto de relevar. Li que esse disco teve uma gestação bem longa, começando antes mesmo da pandemia, e se foi mesmo assim, não admira que seja sobra do Slayer. Ainda assim, que sobras! Em tempo, você parece ser fã do Slayer, gostou do disco do Kerry King?
Ah, e o Jupiter Cyclops tem um outro disco lançado em 2021, “Prophets, Prospectors, & Madmen”, com praticamente as mesmas músicas deste de 2024.
Sua análise do BCC é bem certeira, parece que eles só se juntam quando têm algo a dizer. Mas que eu gostaria de vê-los ao vivo e de ter discos mais frequentes, ah eu gostaria! Quanto ao Jupiter Cyclops, não conhecia esse álbum de 2021, vou correr atrás! Obrigado pelos comentários e pela dica!
Boa Marcelão! O disco novo do Judas nem preciso comentar aqui, pois já comentei antes em sua resenha a respeito… Mas queria falar sobre o Humanoid, o novo do Accept (segundo sem o Peter Bales no line-up). A minha opinião é que com este álbum a trupe de Hoffmann superou muito bem o fraco e mediano Too Mean to Die, mas senti falta de uma canção um pouco mais “impactante” para fechar o tracklist de Humanoid (o mesmo pensamento recai também sobre o novo do Saxon).
Talvez se eliminassem daqui “Straight Up Jack” uma das canções mais bobas do Accept (tal qual “Overnight Sensation” e “Sucks to Be You” do álbum anterior), o repertório ainda assim seria melhor, com apenas 10 faixas. Apesar disso, eu gostei do Humanoid (talvez o melhor disco do Accept desde o Blind Rage – meu favorito da Era Tornillo, lançado dez anos antes).
Esse disco do Accept quase me passou desapercebido, demorei a ouvir pela primeira vez, mas virou audição constante. Espero que Wolf e Tornillo continuem nos brindando com discos bons assim!
Já eu ouvi o Accept e não ficou nada depois das audições. Nenhuma música memorável…
Também não me impressionou – ouvi quando ele saiu e reouvi ao vê-lo por aqui nas listas de melhores, mas… Continua esquecível para mim.
Não sei, cara… Eu acho que depois do Blind Rage, o Accept meio que perdeu um pouco da força que tinha antes, talvez pela troca de integrantes e a mudança na sonoridade, em que passaram a compor canções mais diretas em comparação com os três primeiros discos com Tornillo, em que tinham umas canções um pouco mais longas (e que não me incomodavam quando as ouvia). Mas repito que gostei do Humanoid, apesar de seus prós e contras.
Depois do Blind Rage, só se salvam poucas canções boas do Accept atual, Fernandão… Uma pena!
É interessante como as opiniões variam! O Humanoid eu curti muito por causa da qualidade das músicas no todo, mas concordo que não tem nenhuma com cara de música de pintar nos setlists futuros.
eu escutei a ccept também. não vingou não.
É aquela antiga verdade, gosto é igual a nariz, todo mundo tem um. E do resto da lista, curtiu algum dos discos?
Na parte que chama de “lançamento de arquivo”, o “One Hand Clapping”, do Paul McCartney, foi imbatível – consegui ver inclusive no cinema o filme, foi de chorar de emoção… Eu sugiro também nessa categoria o do Trapeze, “Lost Tapes Vol. 2”, que achei massa demais e não vi absolutamente ninguém na internet comentando…
Não conhecia esse do Trapeze, obrigado pela dica, Marcelo! Já o do Paul McCartney, o álbum é bom demais, o filme não assisti. Mas Stones é prata sa casa aqui, é difícil superar no meu gosto pessoal…
Huahehahehaha, é isso mesmo, acontece rigorosamente a mesma coisa por aqui com o Paul McCartney, ainda que outros possam e sejam melhores, ele sempre será meu favorito!
Um forte abraço.