Spirit – Twelve Dreams of Dr. Sardonicus [1970]

Spirit – Twelve Dreams of Dr. Sardonicus [1970]

Por Daniel Benedetti

Twelve Dreams of Dr. Sardonicus é o quarto álbum de estúdios da banda norte-americana Spirit, lançado em novembro de 1970, através do selo Epic Records. Clear, terceiro álbum de estúdios do Spirit foi lançado em agosto de 1969, com produção de Lou Adler e através do selo Ode, do próprio Adler. O disco atingiu a 55ª posição da Billboard 200. Vários membros da banda afirmaram que não houve tempo suficiente para desenvolver o disco após lançarem dois álbuns em 1968, gravarem uma trilha sonora (para o filme Model Shop) e fazerem turnês constantes.

Spirit no final dos anos 60, em sentido horário: Randy California, Ed Cassidy, Jay Ferguson, Mark Andes e John Locke

No final de 1969, Lou Adler mudou a distribuição de seu selo, Ode Records, da Columbia Records para a A&M Records. Como parte do acordo de rescisão, a Columbia foi autorizada a manter o Spirit sob contrato. Lançamentos futuros seriam transferidos para a Epic Records. Após o lançamento de Clear, o grupo gravou a música “1984”, composta pelo guitarrista Randy California e produzida pelo próprio grupo. Após ser lançada em fevereiro de 1970, ficou em 69º lugar na parada da Billboard Hot 100. A música finalmente seria lançada ao público em geral na compilação The Best of Spirit, em 1973.

Em 1970, o Spirit começou a trabalhar em seu quarto disco, Twelve Dreams of Dr. Sardonicus. A banda escolheu o colaborador frequente de Neil Young, David Briggs, como produtor por recomendação do cantor e compositor, um conhecido da cena de Topanga Canyon. A banda era formada por Jay Ferguson nos vocais, Randy California nas guitarras, John Locke nos teclados, Mark Andes no baixo e Ed Cassidy na bateria. “Nothin’ to Hide” traz um bom riff e ótimos vocais. A clássica – e ótima – “Nature’s Way” tem um ar bucólico e acústico cativante. A guitarra afiada de “Animal Zoo” é bem legal, sendo uma das melhores canções do disco. “Love Has Found a Way” é suave, com teclados mais proeminentes e um caráter mais experimental. “Why Can’t I Be Free” é acústica e possui cerca de 1 minuto. “Mr. Skin” é bem variada, com um certo balanço, o qual a torna bem divertida, com destaque para o saxofone.

Capa interna gatefold de Twelve Dreams of Dr. Sardonicus

“Space Child” é uma música totalmente instrumental, com domínio dos teclados de Locke. “When I Touch You” é uma canção mais viajante, muito interessante, com a guitarra de California bem afiada e ótimos vocais. “Street Worm” possui um toque suave e inventivo, com destaque para a bateria de Cassidy. “Life Has Just Begun” é praticamente uma balada, sendo bem bonita. “Morning Will Come” tem a cara do rock mais direto do final dos anos 1960. “Soldier” encerra o disco em um tom mais contido e mais tristonho, mas trazendo muita sensibilidade.

Twelve Dreams of Dr. Sardonicus mostra a capacidade do Spirit em elaborar canções que passeiam pelo psicodelismo, com toques generosos de rock progressivo, e letras que trazem temas universais como meio ambiente, solidão, liberdade e cotidiano. As guitarras de Randy California sempre são um show à parte, mas todo o conjunto tem uma atuação primorosa no álbum. Os vocais de Jay Ferguson são excelentes. Sem músicas de enchimento, este é um álbum que se aproxima do perfeito. Em termos de paradas de sucesso, o álbum conquistou a 63ª posição da norte-americana (permanecendo apenas quatorze semanas) e a 29ª colocação na britânica.  “Nature’s Way” se tornou uma das músicas mais famosas do Spirit, mas não foi um grande sucesso na época, chegando à 111ª posição na parada pop da Billboard em 1971.

Spirit no início dos anos 70

Para capitalizar o apelo duradouro do álbum, “Mr. Skin” (o lado B de “Nature’s Way”) foi  lançada como lado A em 1973 e também chegou às paradas, na 92ª posição. A Epic também lançou um mix inicial de "Animal Zoo" como single, mas ele só atingiu o 97º lugar nas paradas. Apesar dessas limitações comerciais, Twelve Dreams of Dr. Sardonicus teve uma veiculação significativa nas rádios FM universitárias e vendeu bem como um item de catálogo ao longo dos anos. Como Tommy do The Who e The Dark Side of the Moon do Pink Floyd, Twelve Dreams of Dr. Sardonicus é considerado pela crítica musical como um marco do chamado art rock, pelo seu amplo campo de temas literários sobre a fragilidade da vida e a complexidade da experiência humana, ilustrados pela letra recorrente “a vida acabou de começar”, e continuar a exploração pioneira do grupo por questões ambientais em suas letras. O álbum também é notável por sua produção inventiva e pelo uso de um sintetizador Moog modular.

Depois que o grupo empreendeu uma turnê para promover o álbum Twelve Dreams of Dr. Sardonicus, o vocalista Jay Ferguson e o baixista Mark Andes deixaram o Spirit, formando o Jo Jo Gunne. Randy California os acusou de conspirarem para tomar controle do conjunto. O show final com esta formação do Spirit ocorreu em 30 de janeiro de 1971, que quase terminou em uma briga de socos. Como curiosidade, o disco foi eleito o 332º colocado na terceira edição do All Time Top 1000 Albums (2000) do crítico Colin Larkin. Segundo estimativas, Twelve Dreams of Dr. Sardonicus supera a casa de 500 mil cópias vendidas apenas nos EUA.

Contra-capa do LP na versão estadunidense

Faixas:
01. Prelude – Nothin’ to Hide
02. Nature’s Way
03. Animal Zoo
04. Love Has Found a Way
05. Why Can’t I Be Free
06. Mr. Skin
07. Space Child
08. When I Touch You
09. Street Worm
10. Life Has Just Begun
11. Morning Will Come
12. Soldier

7 comentários sobre “Spirit – Twelve Dreams of Dr. Sardonicus [1970]

  1. Eu li que Randy California sofreu um acidente de equitação nessa época, tendo fraturado o crânio. Como ele pediu para que a banda não o substituísse, Ferguson e Andes montaram o Jo Jo Gunne… alguma informação sobre isso, Daniel?
    Independentemente dessas tretas, “The Twelve Dreams of Doctor Sardonicus” é um disco fantástico, um pouco mais pop do que seus antecessores, mas ainda trazendo a mistura de influências que fez a fama do Spirit. “Morning Will Come”, “Nothing to Hide”, “Mr. Skin”, “When I Touch You” (com o riff inesquecível de California), “Life Has Just Begun”, são todas músicas que não fazem feio diante do que o rock produziu de melhor em 1970. E acho muito legal que “Soldier” termina com os primeiros versos de “Nothing to Hide” – muitas vezes coloquei meu CD player no modo repeat ao ouvir este disco. Long live the Spirit!

    1. Massa, Marcello. As duas fontes que eu pesquisei não constam nada sobre acidente de equitação, então eu desconheço sobre isso.
      Abraço.

      1. Na box que me refiro abaixo li que o acidente ocorreu depois da saída de Andes e Ferguson, por isso Randy não participou de Feedback, último disco antes da dissolução temporária da banda.

  2. Gosto muito desse disco e tenho ele em CD. Encontrei o The Family That Plays Together em LP numa loja em uma viagem ao exterior. Tentei pegar o primeiro e o terceiro, mas nunca encontrei em preço convidativo. Porém, para mim é isso. Ouvi os que vieram depois do Dr. Sardonicus e nada me chamou atenção. Mais recentemente o primeiro disco apareceu mais por aí por conta da volta da polêmica com Stairway to Heaven.

    1. Se encontrar a box It Shall Be – The Ode & Epic Recordings a um bom preço, não perca. Contém os 4 discos clássicos, a trilha sonora do filme The Model Shop, o disco de 1972 (Feedback), gravado sem Randy California, a versão em mono do 1o. LP e algumas raridades em 5 CDs. Vale muito a pena!

    2. Se encontrar a box It Shall Be – The Ode & Epic Recordings a um bom preço, não perca. Contém os 4 discos clássicos, a trilha sonora do filme The Model Shop, o disco de 1972 (Feedback), gravado sem Randy California, a versão em mono do 1o. LP e algumas raridades em 5 CDs. Vale muito a pena!

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