Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Red Rocks

Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Red Rocks

Por Marcello Zapelini

De todos os templos do rock abordados até o momento, este é o mais diferente, pois se trata de um anfiteatro natural. Localizado em Morrison, cerca de 16 km de Denver, o Red Rocks foi transformado em um parque por seu proprietário em 1878, que o vendeu em 1906 para um empresário que queria organizar concertos no local, e o batizou de “Garden of Titans”; em 1927, o Conselho Municipal de Denver adquiriu-o por US$ 54,000 (uma soma que atinge quase um milhão de dólares atuais, considerando a inflação), que contratou arquitetos para transformá-lo em um anfiteatro adequado.

Em 1941, Red Rocks Amphitheatre foi inaugurado com uma apresentação da cantora lírica Helen Jepson, e ao longo dos anos, hospedaria múltiplos shows musicais. Dentro do mundo do rock, o Red Rocks começou a ganhar notoriedade já em agosto de 1964, pois os Beatles se apresentaram lá. Ringo Starr voltaria lá com sua All-Starr Band em 2000. E ao longo dos anos 60, muitas outras bandas conhecidas tocaram em Red Rocks, incluindo Jimi Hendrix, Diana Ross & The Supremes, Vanilla Fudge, mas em 1971, num show do Jethro Tull, cerca de mil pessoas que não tinham ingressos tentaram forçar a entrada e a polícia os expulsou abaixo de gás lacrimogêneo, o que levou o prefeito de Denver a proibir shows de rock no lugar por cinco anos. O Grateful Dead se apresentou lá pela primeira vez em 1978, tocando mais vinte vezes no local, e ao longo dos anos U2, Depeche Mode, Blues Traveler, Stevie Nicks, Dave Matthews Band, Rush, Primus, Earth Wind & Fire, dentre outras bandas, fizeram shows no anfiteatro. O recordista de apresentações lá é o Widespread Panic, que fez nada menos do que 72 shows. E o Phish carrega a “honra” de ter sido banido do Red Rocks por anos por conta de confusões num dos shows do grupo nos anos 90…

Naturalmente, muitos desses shows foram gravados oficialmente e disponibilizados para os fãs. A beleza e o exotismo do lugar contribuem para que vários desses concertos sejam filmados, e da lista abaixo os discos do U2, de Joe Bonamassa, do Moody Blues e de John Fogerty têm registros em vídeo oficialmente lançados. Como nos templos do rock anteriores, a lista foi montada de acordo com meu gosto pessoal, e se procurou incluir álbums gravados exclusivamente no Red Rocks; entretanto, essa regra será flexibilizada por motivos que, espero, fiquem claros. Uma nota adicional: Neil Young lançou o DVD ao vivo “Road Rocks Vol. 1” com um show gravado no Red Rocks, mas a versão em CD (com o mesmo nome e a mesma arte de capa) não tem sequer uma de suas músicas registrada lá! Não fosse este “pequeno” detalhe, esse álbum estaria na minha lista…


GRATEFUL DEAD – Red Rocks 7/8/78 (2016)

O Grateful Dead nunca tinha se apresentado no Red Rocks até 1978. Nos dias 7 e 8 de julho desse ano, fizeram dois shows, que foram gravados profissionalmente pela engenheira de som Betty Cantor-Jackson e disponibilizados na box set de 12 CDs “July 1978: The Complete Recordings”, lançada em 2016. O segundo show, de 8 de julho, foi disponibilizado à parte como um petisco para os fãs que não adquiriram a box completa (além do preço, o fato de ser uma edição limitada dificultou o acesso). Claro que um Deadhead precisa ter a box, mas como esta seção foi dedicada ao Red Rocks, vou ficar exclusivamente no disco disponibilizado para a “população em geral”. No ano de 1978, o Grateful Dead alternou bons e maus momentos nos palcos, diferentemente de 1977, em que os shows mantinham um nível elevado quase permanentemente. E a formação com o casal Keith e Donna Godchaux estava chegando ao fim, pois no início de 1979 os dois sairiam da banda e seriam substituídos por Brent Mydland. A banda vinha gravando pela Arista e iria lançar em poucos meses o controverso “Shakedown Street”, presença garantida entre os discos do grupo menos apreciados pelos fãs. Mas nenhuma de suas músicas apareceu no setlist (à exceção de “Good Lovin’”, mas a banda já a tocava desde o final dos anos 60), que começa com a simpática “Bertha” e segue com um repertório que mescla músicas bastante conhecidas com algumas surpresas. O LP de estúdio de 1977, “Terrapin Station”, fornece parte do repertório: “Estimated Prophet”, “Samson and Delilah” e “Terrapin Pt. 1”, apresentada em versão reduzida (cerca de 11 minutos contra os mais de 16 da original). O CD 2 traz um daqueles longos medleys que o Grateful Dead fazia, sobretudo na segunda parte de suas apresentações, pois não há intervalos entre “Estimated Prophet” e “Sugar Magnolia”, com direito ao dueto dos bateristas (Mickey Hart e Bill Kreutzmann) em “Rhythm Devils” e o improviso de Jerry Garcia, Bob Weir e Phil Lesh em “Space”. A apresentação se encerra com “Werewolves of London”, de Warren Zevon, que a banda não regravou em estúdio, mas apresentou ao vivo algumas vezes em 1978, e traz os vocalistas do grupo se divertindo para reproduzir os uivos do original. Com mais de 170 minutos de duração, “Red Rocks 7/8/78” sofre apenas com a falta da participação da plateia, mas isso é algo que a maioria dos discos ao vivo do Grateful Dead também enfrenta. E como lançamento individualizado da box set, cumpre muito bem o seu papel, pois embora haja sobreposição com os outros shows, a banda estava muito afiada neste em especial. Tocar no Red Rocks energizou a banda, pois os dois shows mais longos da box (que demandam três CDs contra dois dos outros) foram lá. Uma curiosidade: procure o setlist do outro show no Red Rocks, gravado no dia 7 de julho. Não há sobreposição entre as músicas (somente os segmentos “Rhythm Devils” e “Space” se repetem, mas são diferentes); o fã que assistiu aos dois shows teve acesso a mais de cinco horas e meia de música sem repetições. Quantas bandas faziam isso?


U2 – Live at Red Rocks/Under a Blood Red Sky (1983)

Under a Blood Red Sky” (um “mini-LP”, como se dizia nos anos 80) não se enquadra muito bem no meu critério de seleção, pois apenas duas das oito músicas foram gravadas no Red Rocks, “Gloria” e “Party Girl”, em 5 de junho de 1983. Mas o vídeo (originalmente com 13 músicas, depois expandido para 17) é integralmente retirado do show no Colorado. E o vídeo (que a Rede Globo exibiu num sábado à tarde em algum momento de 1985) foi a primeira vez que vi algo do Red Rocks, que me deixou bastante impressionado. E eu, que tinha me interessado pela banda ao vê-los na transmissão do Live Aid, fui atrás do disco, que imediatamente se tornou presença obrigatória lá em casa. O U2 é uma banda curiosamente carente em termos de discos ao vivo – embora não faltem vídeos de shows – e este pequeno álbum traz a energia jovial de Bono e sua turma em versões bem superiores às de estúdio, com destaque para “Gloria”, “New Years Day” e “Sunday Bloody Sunday”, e com um The Edge arriscando solos em “The Electric Co.”. Além das músicas dos três LPs de estúdio que a banda tinha lançado até então, há “11 O’Clock Tick Tock” e “Party Girl”, até então lançadas exclusivamente em compactos. O vídeo é outra história, muito mais interessante, incluindo várias músicas menos famosas, como “Surrender”, “Two Hearts Beats as One”, “A Day Without Me”, “Seconds” (com direito a The Edge cantando), “October”, dentre outras. A edição de aniversário em CD+DVD traz a versão quase completa do show (de acordo com o setlist.fm, “I Fall Down” foi tocada no show), com 82 minutos de duração no DVD (que acrescentara várias músicas ao VHS original), mas infelizmente não incluiu nenhum bonus track no CD. Uma pena, porque com menos de 34 minutos de duração, o disquinho podia incluir mais músicas desse show, ou então dos shows em Boston e na Alemanha que renderam o mini-LP original. “Under a Blood Red Sky” foi comercialmente bem-sucedido, e tornou o Red Rocks famoso no mundo inteiro, a ponto de ter sido considerado o show que pôs o anfiteatro no mapa do rock – ou, se me permitem a modéstia, digno de figurar nos “Templos do Rock” da Consultoria, hehehe. A banda ganhou visibilidade com esse lançamento e, embora tenha contribuído para transformar o Bono no “babaca com a bandeira branca” (palavras dele mesmo, antes que alguém fique ofendidinho), lançou as sementes para o U2 estourar mundialmente, sobretudo após “The Joshua Tree”. Uma curiosidade: embora já tenham sido convidados algumas vezes para voltar a se apresentar lá, Bono, Edge, Adam e Larry têm se recusado peremptoriamente a fazê-lo. O motivo? De acordo com eles, a primeira performance foi tão sensacional que não há como repeti-la, e a banda prefere deixar como está.


The Moody Blues – A Night at Red Rocks with The Colorado Symphony Orchestra (1993)

Em 1993, Moody Blues tinha apenas um álbum ao vivo oficial, “Caught Live + 5”, que trazia em três dos lados do vinil duplo original um show no Royal Albert Hall, com cinco músicas inéditas gravadas em estúdio formando o lado 4, lançado em 1977. O grupo tinha se transformado em quarteto após demitir o tecladista Patrick Moraz, que aparece em apenas três músicas do álbum de estúdio “Keys to Kingdom”, lançado em 1991, e excursionava com o apoio de dois tecladistas convidados, Paul Bliss e Bias Boshell, e de um segundo baterista, Gordon Marshall, bem como duas backing vocals. E em 9/9/92 a banda se apresentou com o apoio da Colorado Symphony Orchestra, gravando o show para o lançamento no ano seguinte. Posteriormente, o grupo faria mais diversos shows com participação de orquestras. Após uma abertura orquestral, que revisita trechos de várias músicas do grupo, a voz grave de Graeme Edge declama a letra de “Late Lament” sobre o arranjo orquestral feito originalmente por Peter Knight para o álbum “Days of Future Passed”. A banda completa inicia a bela “Tuesday Afternoon”, do mesmo álbum, que mostra que Justin Hayward ainda cantava como nos seus vinte anos, e o que se tem daí em diante é um desfile de músicas de todas as fases da carreira da banda, como as clássicas “Question”, “Ride My See-Saw", “I’m Just a Singer in a Rock’n’Roll Band”, “Lovely to See You”, “The Voice”, passando por sucessos dos anos 80 como “I Know You’re Out There Somewhere”, “Your Wildest Dreams”, “The Other Side of Life” e chegando, claro, a “Nights in White Satin”. Apenas uma música de “Keys to Kingdom” foi incluída, a balada “Lean On Me (Tonight)”, de John Lodge. Ray Thomas tem seu momento no vocal solo com “For My Lady”, e sua flauta é proeminente em várias músicas. As vozes de Hayward, Lodge e Thomas harmonizam muito bem com as duas vocalistas (Sue Shattock e June Boyce), e o grupo se vale da orquestra para substituir o mellotron do insubstituível Mike Pinder. O público reage bem às músicas e no todo se pode perceber que a banda e a plateia estavam tendo uma noite maravilhosa. O álbum foi acompanhado de um vídeo com algumas músicas adicionais e em 1994 as músicas que tinham ficado inéditas saíram num CD adicional da box set “Time Travellers”. Dez anos depois seria relançado dez anos numa Deluxe Edition com o show completo na ordem de apresentação, com quase duas horas de duração; as músicas adicionais revisitam várias fases da carreira da banda, mas há mais composições do então último álbum de estúdio, tornando esse lançamento essencial para os fãs. O álbum vendeu bem e rendeu um disco de ouro nos EUA aos britânicos, que posteriormente lançariam mais alguns discos ao vivo (mas somente dois de estúdio) antes de acabarem em definitivo com a aposentadoria de Graeme Edge. Tenho um carinho especial por este disco, já que foi meu primeiro CD da banda, mas, independentemente disso, é um belo show, que se sustenta por si só. “A Night at Red Rocks” é uma ótima escolha se alguém quer ter apenas um disco do Moody Blues, e não pretende investir em uma coletânea.


JOE BONAMASSA – Muddy Wolf Live at Red Rocks (2015)

O guitarrista e workaholic (36 álbuns oficiais ao vivo e de estúdio em pouco mais de vinte anos) tem se apresentado em todos os templos do rock da nossa lista, e não poderia faltar o Red Rocks Amphitheatre. Joe Bonamassa já gravou discos ao vivo acústicos, com orquestra, com covers de blues britânicos, e vai por aí afora, e nesse projeto específico ele queria homenagear dois de seus heróis, Muddy Waters e Howlin’ Wolf, e o resultado foi este CD duplo e DVD lançado em 2015. Acompanhado de uma ótima banda (com destaque para as feras Anton Fig na bateria e Reese Wynans nos teclados), acrescida de um naipe de metais, Joe dedica o CD 1 às músicas de Muddy Waters, com direito ao vozeirão do próprio em gravação no início. Ele revisita clássicos do grande Muddy, como “Tiger in your Tank” (que tem uma versão ao vivo sensacional no maravilhoso “Muddy Waters at Newport”, de 1960), “I Can’t be Satisfied” (que eu conheci primeiro na versão dos Stones…), “You Shook Me” e “All Aboard”. Uma bela – e merecida – homenagem a um dos maiores bluesmen de todos os tempos. O CD 2 é semelhante, com a voz inacreditável de Howlin’ Wolf abrindo os trabalhos. O repertório inclui músicas que muitos fãs de rock conheceram a partir de outros artistas, como “Killing Floor” (que ouvi pela primeira vez com Jimi Hendrix), “Spoonful” (que o Cream tornou sua), “How Many More Years” (“chupada” pelo Led Zeppelin para criar “How Many More Times”) e “Shake for Me” (essa conheci com John Hammond Jr., tendo como convidado especial Duane Allman). O concerto se completa com “Hey Baby (New Rising Sun)”, de Jimi Hendrix, e outras três músicas da carreira de Joe Bonamassa. Mas isso não significa o encerramento do CD2, porque ainda há “Mississipi Heartbeat” e “Muddy Wolf”, gravadas especificamente para o DVD, para a abertura e os créditos finais. Aliás, nunca assisti ao DVD, mas, como o áudio é muito bom, tudo me leva  a crer que o show também seja bem interessante. Joe Bonamassa é um músico um pouco controverso, já que alguns criticam sua abordagem do blues como inautêntica, e há quem considere estéril seu virtuosismo na guitarra. Eu, pessoalmente, gosto bastante do trabalho dele e considero que ele consegue dar um toque especial, bem particular, às canções de outros artistas que regrava, e tem lançado composições inéditas interessantes. Este álbum em particular foi criticado porque a quase totalidade das músicas teria recebido versões superiores de outros grupos de rock, e mesmo estas perderiam em relação às originais. De minha parte, acho uma bela homenagem, que ajuda a manter vivo o trabalho de dois dos maiores nomes do blues.


JOHN FOGERTY – 5O Year Trip Live at Red Rocks (2019)

O velho John não registrou muitos discos ao vivo (para falar a verdade, tampouco gravou muitos discos solo: dez álbuns de estúdio e três ao vivo desde 1973), mas um deles foi gravado no Red Rocks em junho de 2019 e lançado pouco depois. Comemorando 50 anos de carreira (o primeiro disco do Creedence saiu em 1968, mas parece que matemática não é o forte dos rockers…), John toca sobretudo material de sua banda, com poucas músicas de sua carreira solo: 16 do CCR contra apenas três, todas de “Centerfield”, de 1986. Sua voz envelheceu bastante, mas ele ainda canta acima da média (sobretudo para alguém com quase 75 anos), ainda que fique bem nítida a limitação da sua voz atual em “I Heard it Through the Grapevine”, e a banda, que inclui Bob Malone nos teclados, James LoMenzo (ele mesmo, do Megadeth) no baixo e Kenny Aronoff na bateria, mais três backing vocalists e um naipe de metais (com destaque para o ótimo saxofonista Nate Collins) é de primeira. Para destacar em especial a presença dos filhos Shane e Tyler Fogerty (o primeiro responsável pela guitarra rítmica, os dois nos backing vocals) e a produção da esposa Julie. O álbum abre com “Born on the Bayou”, que surpreende por não começar com o famoso riff de guitarra, e segue desfilando material do Creedence, com os teclados de Malone fazendo diferença em relação às versões originais. “Suzie Q” surpreende negativamente, pois John ficou num arranjo semelhante ao original, mas sem os solos incendiários da versão original. Felizmente, “Who’ll Stop the Rain” recoloca o disco nos eixos. “I Heard it Through the Grapevine” não é tão longa quanto a clássica versão de “Cosmo’s Factory”, mas ainda traz um bom solo do nosso herói, que divide os holofotes com o excelente Malone, que dá um show à parte no piano, e com LoMenzo. “Run Through the Jungle” e “Keep on Chooglin’” trazem John na harmônica, e a última ainda destaca o solo de bateria de Kenny Aronoff. O público canta junto “Have You Ever Seen the Rain”, e o show termina em altíssimo astral com mais duas músicas de “Centerfield” (a faixa-título e “The Old Man Down the Road”) e três das mais conhecidas do Creedence, “Fortunate Son”, “Bad Moon Rising” e “Proud Mary”. Diferentemente de outros álbuns ao vivo de John, este, como se pode notar, traz algumas músicas um pouco mais estendidas, mais longas, com um pouco mais de destaque para o instrumental. Será que é necessidade de descansar a voz que sobrou? John Fogerty lançou em 2020 “Fogerty’s Factory” com Shane e Tyler e a filha Kelsy, mais uma vez revisitando os clássicos do passado, e desde então não saiu mais nada dele. Se não tivermos mais lançamentos do veterano, “50 Year Trip” poderá ser um bom registro ao vivo final de um dos maiores músicos do rock americano.

Bonus tracks
Como sempre, gosto de incluir algumas guloseimas adicionais. Neste caso, trouxe duas, selecionadas dentre as várias gravações ao vivo disponíveis no Red Rocks. O que as une? Gosto de quem as gravou, gosto dos discos em si, mas não os tenho em CD…


DAVE MATTHEWS BAND – Live at Red Rocks 8.15.95 (1998)

Gosto da Dave Matthews Band – mas só ao vivo, quando a banda arrisca muito mais do que em estúdio. E este é o primeiro full lenght ao vivo dessa banda que tem montes de álbuns ao vivo (85, de acordo com a Wikipedia), gravado antes (mas lançado depois) do segundo disco de estúdio deles; como a banda encoraja as gravações dos fãs, a quantidade de piratas é ainda maior. A formação é a clássica com Matthews (vocal e violão), Stephan Lessard (baixo), Carter Beauford (bateria), LeRoi Moore (saxofones e outros sopros, infelizmente já falecido) e Boyd Tinsley (violino), além do frequente colaborador Tim Reynolds na guitarra. Como é comum nos álbuns ao vivo da DMB, a maioria das músicas ganha uns minutos a mais (“Proudest Monkey” é uma exceção notável, pois dura uns dois minutos a menos), com a banda improvisando no palco – Moore, Tinlsey e Lessard são excelentes músicos e tornam os shows bastante interessantes. O primeiro é o principal solista na maioria das músicas, tocando diferentes saxes – saindo-se bem em especial no soprano e no alto. O repertório mescla músicas dos dois álbuns de estúdio do grupo, mais algumas que não registraram em estúdio – e uma versão quase irreconhecível para “All Along the Watchtower”. Depois das primeiras duas músicas, tem-se o primeiro destaque do álbum, a boa “Satellite”, que não mudou muito em relação à versão original em “Under the Table and Dreaming”, primeiro álbum da DMB. “Two Step”, que sairia no segundo disco, “Crash”, também é bastante interessante, com destaque para Reynolds, que faz um bom solo. Moore é o destaque de “Lie in our Graves”, também de “Crash”, inclusive tocando um trecho de “Over the Rainbow” em seu solo. “Warehouse”, uma das músicas mais famosas do grupo, também se sai muito bem aqui, numa versão bem enérgica. “Lover Lay Down”, com bom desempenho vocal de Matthews, é outra música que, embora não se desvie muito da versão original, também se destaca no disco. “#36” (que futuramente se tornaria “Everyday”) abre com um curto solo do baterista Beauford e traz o violinista Tinsley no bandolim, e Dave se diverte fazendo umas brincadeiras no vocal. Gravar no Red Rocks foi interessante para a banda de Dave Matthews, pois o disco vendeu mais de dois milhões de cópias e é o ao vivo mais bem-sucedido deles. Dez anos depois eles lançaram “Weekend at the Rocks” em duas edições, um CD duplo com DVD e uma box set com oito discos e um DVD que não foi disponibilizada nas lojas físicas, somente online. Mas prefiro o mais antigo, inclusive pela presença do bom guitarrista Tim Reynolds, que frequentemente colaborava com o grupo e com Dave antes de ser efetivado no time. A Dave Matthews Band continua por aí com Matthews, Lessard, Beauford, Reynolds, Rashawn Ross no trompete, Jeff Coffin nos saxes, e o tecladista Buddy Strong, e continua lançando discos ao vivo na série Live Trax. Provavelmente ainda teremos mais álbuns gravados ao vivo por eles no Red Rocks…


BLUES TRAVELER – Live on the Rocks (2004)

A banda de John Popper soa melhor ao vivo do que em estúdio, indubitavelmente; o grupo tem vários álbuns ao vivo oficiais, mas, como no caso do Grateful Dead, os fãs podem gravar os shows, havendo uma quantidade imensa deles no Internet Archives – 1619 gravações, para ser preciso! O grupo (John Popper, vocais e harmônica; Ben Wilson, teclados; Chan Kinchla, guitarra; Tad Kinchla, baixo; Brendan Hill, bateria) se apresenta no Red Rocks todos os anos no feriado de 4 de julho desde 1994 (as exceções foram 1999, porque John Popper estava doente, e 2020, por causa do Covid-19), e este álbum foi gravado em 2003, embora tenha sido lançado (inclusive em DVD) exatamente um ano depois. O álbum começa com “Carolina Blues” e “Lost Me There” dando a tônica do que seguirá: um som gostoso de ouvir, com bom instrumental, vocais cheios de feeling e a harmônica incrível de John Popper. A rigor, o álbum é uma festa para quem curte uma harmônica, pois Popper é sem dúvida um mestre. “No Woman No Cry” (aquela mesma) traz Ziggy Marley dividindo os vocais com John, mas, como não gosto de reggae, não me chama a atenção – mas o público dá um show cantando “everything’s gonna be alright”. “Save His Soul” põe a banda de volta nos eixos, com bom solo de Chan Kinchla, que volta a se destacar no final de “Unable”. As alegres “Hook” e “Let Her and Let Go” exploram a faceta mais comercial do grupo, enquanto “Support Your Local Emperor” e “You Reach Me” (esta última com um balanço muito gostoso e ótimo solo de Chan) expandem um pouco mais – mas para quem quer conhecer o lado jam band do Blues Traveler é preciso buscar o duplo “Live from the Fall”, lançado quase trinta anos atrás e ainda o melhor álbum ao vivo do grupo. “This Ache” dá uma chance para Thad Kinchla brilhar com uma excelente linha de baixo. “Crashburn” é a mais rápida do disco, e mais uma vez John Popper faz jus à fama de “Jimi Hendrix da harmônica”, embora toda a banda esteja alucinada aqui.. O Blues Traveler engana um pouco, pois, pelo nome, as pessoas poderiam esperar um grupo de blues daqueles bem safados, bem Mississipi, mas eles pouquíssimas vezes usam esse estilo nas suas músicas. Não é uma banda para aparecer nas listas de melhores do ano, mas é formada por ótimos músicos e sempre faz algo interessante. Com mais de 2900 shows em cerca de 35 anos de carreira, o grupo merece mesmo ser ouvido ao vivo; como as probabilidades de aparecerem no Brasil são pequenas, resta ouvir discos como este “Live on the Rocks”.

2 comentários sobre “Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Red Rocks

  1. Bela seleção, Marcello! Dos discos citados, conheço apenas o do U2 (que tenho na citada edição de aniversário, em DVD+CD) e o do Bonamassa, que não faz bem meu estilo musical, assim como o das demais bandas citadas! Mas foi uma grande ideia dar destaque a este local tão importante para shows lá na terra do Tio Sam!

    Detalhe é que eu tenho tanto o DVD quanto o CD do Neil Young citados no começo do texto, mas não tinha essa informação de que o CD não era gravado em Red Rocks… cada dia se aprende uma coisa nova…

    Para terminar, uma provocação (pessoal de Curitiba que me confirme): seria o Anfiteatro de Red Rocks uma espécie de “Pedreira Paulo Leminski” com grife? Nunca estive em nenhum dos dois, mas as fotos e vídeos que vejo dão a entender que os dois locais são bem semelhantes, pelo menos na parte “natural” da coisa (Red Rocks me parece ter mais “estrutura” que a Pedreira, mas posso estar falando bobagem)…

  2. Obrigado pelo comentário, Micael! O álbum do Neil Young estava na lista original, e fui pesquisar sobre ele, e aí descobri que o CD não tinha sido gravado lá – e até hoje não sei onde foi. Coisas do velho Neil…
    Estive uma vez na Pedreira para assistir David Gilmour. O local é muito bonito e a acústica é boa, mas ficou muito socado de gente e estava muito quente, acabou ficando mais desconfortável que o normal. Em Red Rocks tem a possibilidade de se assistir um show sentado, o que para quem precisa esperar horas a fio antes de começar é bom…
    Espero que o texto o anime a conhecer os outros discos também!

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