Minhas 10 Favoritas do Pink Floyd

Por Mairon Machado
Começo hoje uma nova coluna aqui na Consultoria (15 anos depois e ainda estamos criando coisas, vejam só). Ouvindo frequentemente meus discos, após mais de 35 anos colecionando, certo dia me peguei ouvindo Pink Floyd, mais especificamente o Wish You Were Here, e fiquei ali viajando com “Shine On You Crazy Diamond”, pensando quanto eu gostava dessa música. Ela me influenciou portanto a criar essa coluna, onde já convido os meus colegas para se unirem, e trazerem suas listas de seus artistas favoritos.
Aqui a ideia não é destrinchar as canções, mas apenas citar quais as dez músicas favoritas de determinado artista, em que álbum ela se encontra (ou se for um single, que assim seja citado) e por que ela é uma de suas favoritas. Seguindo o padrão do Do Pior Ao Melhor, segue então minha lista das 10 canções do Pink Floyd que mais gosto, da décima ao primeiro lugar, e lógico, deixem nos comentários quais as suas listas.
10. “High Hopes” – The Division Bell (1994)
Para mim esta faixa é a última grande criação do Pink Floyd. Gilmour, Wright e Mason fizeram em The Division Bell um álbum muito bom, e “High Hopes” é o seu ápice de beleza. Aquele sino do início junto ao piano de Wright introduzem o que virou um grande clássico, e essencial nas posteriores turnês de Gilmour. A suavidade vocal, o refrão belíssimo e o solo com slide tornam essa faixa ainda mais bela, e fecha minha lista de dez mais podendo, talvez, estar em posições acima.
9. “Take Up and the Stethoscope Walk” – The Piper at the Gates of Dawn (1967)
Pode parecer surpresa para vocês essa faixa aqui, mas ela foi uma das primeiras músicas do Pink Floyd que eu realmente curti, e ainda curto. Inserida no lado B do álbum de estreia do Floyd, o que me chama a atenção e faz ela estar aqui é a crueza da canção, e claro, a viajante sessão instrumental onde Wright, Syd e Mason enlouquecem como nunca antes em suas vidas. É o Floyd psicodélico raiz, como os adoradores de Syd Barrett gostam, conduzidos por um único ser que está consciente ao longo dos 3 minutos da canção, que é o baixo de Waters. E é isso, são apenas 3 minutos de uma insanidade maluca, e que eu adoro!
8. “Us & Them” – The Dark Side of the Moon (1973)
Uma das especialidades do Pink Floyd era criar baladas progressivas marcantes, e “Us & Them” é fácil uma delas. Demorei muito tempo para curtir esta música, mas depois que ela bateu, entrou em minhas favoritas. O dedilhado suave da canção, a interpretação vocal de Gilmour e a participação arrepiante do saxofone de Dick Parry dão todo o charme viajando para uma das mais belas canções que o Floyd já produziu. Oitava posição para ela!
7. “Dogs” – Animals (1977)
Quando ouvi Animals pela primeira vez, fiquei impressionado com a ferocidade de “Dogs”. São 17 minutos onde o peso que o Pink Floyd entrega ao ouvinte é muito incomum, e melhor ainda, muito bem feito. Claro que os solos de Gilmour e os viajantes teclados de Wright dão todo o climão viajante que uma música do Pink Floyd precisa ter, tudo isso com uma letra fantástica e um final apoteótico. Tive a oportunidade de ver Waters interpretando ela ao vivo em 2018, em uma das sensações visuais/musicais mais incríveis de minha vida!
6. “Astronomy Domine” – Ummagumma (1969)
Abrindo o álbum de estreia do Floyd está esta faixa, mas a versão que eu gosto é a ao vivo de Ummagumma. E por que? Simples, por que ela é viajante demais, e o momento certo onde o quarteto Gilmour/Waters/Wright/Mason corta seu cordão umbilical junto ao passado lisérgico de Syd, com uma grande interpretação e uma certa homenagem ao criador da banda. Os vocais, a guitarra de Gilmour e o alucinante órgão de Wright, além das batidas raivosas de Mason e do longo trecho de improvisos, dão o toque psicodélico que essa primeira fase do Floyd se tornou tão reconhecida. Musicão perfeitamente para usar um alucinógeno qualquer (até uma ceva serve aqui) e delirar pela casa!
5. “Comfortably Numb” – Pulse (1995)
Se “Us & Them” é fácil uma das baladas mais marcantes do Pink Floyd, “Comfortably Numb” é com certeza A mais marcante. Mas eu não gosto tanto da versão do The Wall como gosto da versão do Pulse. E explico. Nesta apresentação ao vivo, Gilmour parece que se soltou de verdade, e faz do solo um êxtase de arrancar lágrimas. São quase cinco minutos de solo, onde ele usa e abusa da alavanca e bends como poucos têm coragem de fazer. A música, que já é linda naturalmente, ganha ainda mais dramaticidade e beleza graças aos uivos que Gilmour arranca de suas seis cordas, complementado com uma apresentação visual impactante. Versão fantástica, e Top 5 para ela!
4. “Atom Heart Mother” – Atom Heart Mother (1970)
Aaaaaah, Atom Heart Mother. Para mim o melhor disco da banda, e muito por conta da sua faixa-título. Magnífica e perfeita ao longo de suas seis partes e 23 minutos de duração. A presença da orquestra é fundamental para dar mais impacto a esta grande obra, mas não há como não considerar os belos solos de Wright e de Gilmour. O blues no meio da canção, o arrepiante arranjo vocal do coral, e o magistral e épico encerramento da canção são outros grandes momentos de uma obra-prima. Ao vivo, há algumas opções que se aproximam da versão original (principalmente uma registrada somente com o quarteto no Japão e 1971, com Gilmour solando como nunca, assim como a do Hyde Park de 1970 com orquestra, coral, tudo, e que precisam ser lançadas oficialmente), mas a versão de estúdio para mim ainda é a mais poderosa!
3. “The Great Gig In The Sky” – The Dark Side of the Moon (1973)
Tenho uma particular ligação com “The Great Gig in the Sky” que é o desejo póstumo de ser esta canção aquela que deve ser a última tocada no dia da minha cremação (sim, eu tenho uma lista de cinco músicas para alguém deixar rolando enquanto aqueles que gostam de mim se despedem, e vocês irão saber as outras quatro em outros posts). Já ouvi inúmeras versões, e nenhuma delas bate a original de The Dark Side of the Moon. O que Clare Torry faz vocalmente aqui é de arrepiar. Wright conduz a voz da menina com uma delicadeza ímpar, e o crescendo e a coda são de arrancar lágrimas até de um totem. Em 2005 vi a vocalista do The Australian Pink Floyd Show Band interpretar quase identicamente Clare, fantástico, mas o original é insuperável!
2. “Shine On You Crazy Diamond” – Wish You Were Here (1975)
Só de escrever o nome dessa música já me arrepio. O que coloco aqui é a versão inteira, os dois lados de Wish You Were Here. “Shine On …” é uma obra-prima sem tirar nem por. A longa introdução no único acorde em Gm que Wright coloca ao ouvinte, a entrada da guitarra de Gilmour abrindo espaço para um solo magnífico, Wright solando no sintetizador, Gilmour solando novamente, um arranjo vocal marcante e outro grande solo de saxofone de Dick Parry estão no lado A, e só isso seria suficiente para a canção estar por aqui. Mas ainda tem o lado B, onde quem manda é Wright, naquela que considero sua melhor performance, com solos e camadas de teclados exclusivos e inesquecíveis. Wright talvez seja o tecladista mais subestimado do rock progressivo, e seu trabalho em “Shine On …” mostra que ele é sim um dos grandes do instrumento.
1. “Echoes” – Meddle (1971)
“Echoes” desde a primeira vez que ouvi foi com aquela sensação de curiosidade e daquele “puta merda” sendo soltado a cada minuto. A curiosidade vinha de uma descrição que a revista Bizz fazia, dizendo que era uma música simples mas complexa (como podia esse paradoxo?), e o “puta merda” sendo soltado é por que ela é surpreendentemente exatamente isto. Cara, “Echoes” é tão simples, mas tão simples, que se torna complexo entender como fizeram algo tão simples em mais de 20 minutos. Que música fantástica, que arranjo, que tudo. Os vocais de Wright e Gilmour encaixados perfeitamente, as sequências de quebradas, os gritos das baleias, o final apoteótico, tudo, tudo em “Echoes” é perfeito, e por isso, primeiro lugar para ela!
Os épicos na lista!! A grande surpresa para mim foi a presença de “Take Up …”, que tive que ir atrás para lembrar qual era. Gosto demais de “Atom Heart Mother”, da música e do LP, e aplausos entusiasmados por vê-la na lista. E concordo com “Shine On…”: você tem que ouvir ela inteira, as nove partes na sequência, para realmente apreciar a majestade dessa criação. Quanto a “High Hopes”, o Pink Floyd sem Waters tem duas obras-primas: essa música (que minha irmã me chamou a atenção anos depois, pois não ligava muito para ela) e “Sorrow” – as demais não se comparam com essas duas. Por fim, quando vi o título, pensei que teria algo de “The Final Cut”…
Então Marcello, eu adoro o The Final Cut, mas como obra na íntegra. A melhor música do disco para mim é a faixa-título, mas o que ela tem de melhor, que é o solo e o dedilhado, é muito “comfortably numb” ao meu ver. Mas o disco na sua totalidade acho excelente. “Sorrow” também acho muito boa, e gosto bastante de “On The Turning Away”, apesar de já ter ficado manjada. Entraria num top 20, talvez. Abraços e obrigado pelo comentário.
Boas escolhas! Seção muito mais proveitosa que aquela babaquice de “a pior de cada disco”. Caberia um “Do Pior ao Melhor”…
Obrigado Sábio. Não lembro dessa coluna “A Pior De Cada Disco”. É daqui do site? O Do Pior Ao Melhor do Floyd já está na fila, mas temos outras anteriores. Fiz ela e deve entrar ali por julho/agosto. Abraços
Quais saem antes? King Crimson, Beatles?
alternamos o Do Pior Ao Melhor com Discografias Comentadas. Ainda temos a última parte da Discografia Comentada do Camel e mais uma outra curtinha de uma banda que, por questão de surpresa, só posso antecipar que é da alemanha. Daí sim virá o Do Pior Ao Melhor do Floyd.
Gostei Mairon
Fiquei tentando lembras as minhas preferidas também e praticamente é quase isso. Troco as músicas do primeiro álbum por mais alguma coisa do lado A do Meddle e talvez Fat Old Sun ou Summer 68… Sei lá!! É tanta música que eu gosto dessa banda. Também gosto demais do The Final Cut como uma obra completa.
Eu não consigo gostar da “Fat Old Sun” no Atom Heart Mother como gosto na versão da BBC, que também acho que só saiu pirata pelo que lembro. “Summer ’68” é lindíssima, assim como “If” e “Alan’s Psichedelic Breakfast”. Ou seja, o Atom Heart Mother inteiro é lindo!!
Já eu não sou muito chegado ao Café da Manhã Psicodélico do Alan…
Tenho um certo problema com o Pink Floyd. Sou de uma época em que o Pink era a síntese do rock viajante (de acordo com o linguajar da época). Mas nunca consegui gostar da banda, a ponto de considerá-la uma de minhas favoritas (Santana, Purple, Renaissance, Smiths, Rory Gallagher, Gentle Giant, Jethro Tull me fazem mais feliz). No entanto, posso facilmente listar músicas que considero brilhantes desse grupo. “Summer ’68”, “Pigs (three diferent ones)” e “Comfortably numb” são daquelas que me fazem parar para ouvir. Gosto de “Time”, “Hey you”, “Mother”, “On the turning away”, “Welcome to the machine”, “Shine on you crazy diamond” e “A great day for freedom”… Pronto. Tenho dez músicas favoritas do Pink Fluido.
Show Francisco, boa lista. Dessas aí só não sou muito de “Time” (joguem às pedras, é uma baita música, mas assim como “Another Brick in the Wall 2” já deu para mim). Purple dá de fazer um 10 favoritos fácil, assim como Santana e Tull. Gentle Giant já é difícil, pq curto muito muitas músicas. A primeira é fácil, mas as outras 9 eu peno para fechar
Vida longa a esta nova coluna!
Achei excelente a sua lista, Mairon, e desde que a li há alguns dias, fiquei me perguntando qual seria a minha lista… Lá vai:
10. “Sorrow” – A momentary lapse of reason (1987)
Ok, “High Hopes” é uma baita canção, mas ela é muito mais David Gilmour do que Pink Floyd, daria para encontrá-la tranquilamente em algum dos álbuns solos do guitarrista; “Sorrow”, não. Ela aponta para frente, para a lenha que o trio restante ainda tinha para queimar e, caso Waters ainda fizesse parte da banda, certamente tocaria e cantaria nele, diferentemente de “High Hopes”. Lembro-me de que todas as vezes em que colocava o LP para tocar (The Division Bell eu já não encontrei em LP, à venda só vieram os CD’s) ansiava pelo que eles ainda viriam a gravar. E o que dizer da guitarra afiada de Gilmour nessa canção? E a letra?! “O doce cheiro de uma grande tristeza escorre pelo ar / Colunas de fumaças sobem e unem-se no céu cinzento / Um homem deita e sonha com campos verdejantes e rios / Mas desperta desmotivado para uma manhã inútil / Ele é assombrado pela lembrança de um paraíso perdido / Não sabe se está na sua juventude ou nos seus sonhos / Ele está preso para sempre a um mundo que já se foi / Não é o bastante, não é o bastante”. Convido a quem quiser a pensar nesse homem que desperta desmotivado… Vejam que é um passeio por várias outras músicas do Floyd. Bateria marcial impecável de Nick Mason e discretos teclados de Rick Wright mantém a pancada dessa música que poderia, tranquilamente, ser uma sobra de estúdio de Animals, The Wall ou mesmo do razoável The Final Cut.
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9. “When You’re In” – Obscured by Clouds (1972)
Só o Pink Floyd poderia lançar este álbum de forma tão casual e depois ignorá-lo! Metade das bandas dos anos 70 dariam qualquer coisa por esse punhado de pérolas! Quem deixa de lado coisas maravilhosas como “Burning Bridges”? A faixa de abertura já seria um grande feito para bandas típicas de rock progressivo, mas seleciono “When You’re In”, pesada, sem vocais, teclado magistral, um rockão dos bons, como exemplo de banda que tem tanta, mas tanta coisa boa, que você se espanta quando vai tirar a poeira daqueles discos que raramente ouve… Experimente tocá-la para aquele seu amigo fã de um bom hardão, que não a conheça, e dê 3 tentativas para que ele adivinhe quem compôs essa pedrada – Pink Floyd, certamente, não será uma opção.
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8. “One of These Days” – Meddle (1971)
Se um dia precisar apresentar o que o Pink Floyd tem de original, único e inimitável, coloque “One of These Days” para tocar. Pesada, esquisita, misteriosa, psicodélica, progressiva. A força criativa instrumental desses caras era de outro mundo – em que outro disco de qualquer outra banda ouviríamos essa abertura de LP? Sim, porque se você não sabe o que era conceitualmente o LP na cabeça desses caras (e de quem viveu essa época), desista: estará criando listas de Spotify… 1971 era outro mundo e quem voltava da loja de discos com esse álbum de capa estranha e o colocava para tocar na agulha já se arrepiava todo com “One of These Days”.
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7. “A Pillow of Winds” – Meddle (1971)
Da mesma safra de “Grantchester Meadows” (outra obra-prima inclassificável), “A pillow of Winds” era tudo o que um jovem roqueiro gostaria de ter em sua arcádia pessoal: um tema pastoral psicodélico e viajante de uma delicadeza tão intensa quanto os temas progressivos mais extensos do Floyd. No entanto, diferentemente de “Grantchester Meadows”, nesta canção há uma tensão dessas que precedem a chuva… Ouvimos na expectativa de que haja uma virada rítmica, uma pancada chegando, sobretudo quando Nick Mason aparece – mas aí entendemos que ela não é de antes de uma tempestade, e sim de depois. Ouça-a no escuro de seu quarto e viaje nos vocais duplos de David Gilmour, que são, depois de Lennon e McCartney cantando juntos na década anterior, o que há de mais agradável de se ouvir nesses tempos ali pelo início dos anos 70… “Sleepy time when I lie with my love by my side”… Ah, a natureza… Deve ser difícil ouvir esta canção bucólica em plena cidade. Pink Floyd é viagem.
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6. “Childhood’s End” – Obscured by Clouds (1972)
Outro tesouro escondido no belíssimo Obscured by Clouds (ainda não o tem na sua coleção?!), Childhood’s End entraria em QUALQUER LANÇAMENTO DO FLOYD daí em diante, qualquer um, até mesmo nos discos sem Roger Waters. Se você é um floydmaníaco, sabe que os timbres, os sons, a letra, os vocais, bateria, baixo, teclados, tudo nessa canção está nas músicas do The Dark Side of the Moon (lançado 9 meses depois) em diante. Rock pesado, harmônico, bem gravado e gostosíssimo de se ouvir na estrada, vai por mim.
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5. “Grantchester Meadows” – Ummagumma (1969)
A pureza acústica dessa música é um oásis não somente no disco, mas na discografia inteira do Pink Floyd. Campestre até o talo, essa caminhada de Grantchester to Cambridge está na lista de coisas que quero fazer depois de aposentar e antes de morrer. Eu não consigo pensar em nenhuma outra canção de algum grupo de rock que seja tão atemporal quanto essa – ela tem 56 anos, mas poderia ter tranquilamente 100 anos ou mesmo ter sido lançada ontem no Spotfy. A letra é psicodelia, viagem e bucolismo em grau máximo, é uma pensa que essa canção dure somente 7 minutos e 27 segundos. Sempre que a ouço, sou transportado para algum campo sem pessoas. Se “Shine on you Crazy Diamond” é a 9ª sinfonia de Beethoven, “Grantchester Meadows” é a 6ª, a pastoral. Para quem, como eu, curte versões, há algumas bem bonitas no YouTube. Dá para imaginar que esses dois gênios que, em dado momento, canta suavemente juntos nesta música, iriam se afastar e brigar para ficarem o resto da vida sem se falar? Vocês conhecem Tír na Nóg? Sempre os ouço depois que coloco essa no toca-discos, vão atrás e me digam o que acham.
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Agora vamos aos cavalos de batalha do Pink Floyd…
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4. “Arnold Layne” – Relics (1967)
Eu ia colocar “Lucifer Sam” nesta posição, já tinha até escrito o texto, mas decidi trocar sei lá por quê – e acho que posso me arrepender, mas enfim, o solo de Richard Wrigth nessa música é de outro planeta! Aliás, o trabalho de teclado dele aqui é a alma da coisa. Certeza de que Eric Burdon era audição diária do Syd Barrett, essa música comprova isso. Quer coisa mais Barrett do que essa letra? Esse vocal dele e essa levada psicodélica QUE SÓ ENTENDE DIREITO QUEM A OUVE CHAPADO DE LSD? Se você é roqueiro de gin tônica e cerveja artesanal, desculpe… Eu sei exatamente o caminho de cada LP do Pink Floyd na minha estante: comecei com The Wall, pedido a um tio de presente depois de meu professor de história no colégio ter nos colocado para ver o filme numa TV com videocassete na sala de aula no longínquo 1980. Depois, obviamente, entendei que já conhecia a banda porque minha mãe tinha o The Dark side of the Moon em casa. Daí, comprei anos depois o The Final Cut e o Animals de uma lapada só – e me arrependi de ter jogado dinheiro fora no disco do Waters com o nome da banda. Hoje, até gosto de 2 músicas dele. Na sequência, vieram Meddle, Obscured by Clouds, Atom Heart Mother e só então descobri o Syd Barrett… Comprei primeiro o Relics e, meses depois, o The Piper at the Gates of Down. Curto demais a fase dele, mas ouço mais do Obscured até The Wall… O Pink Floyd com Syd Barrett era, das bandas da época, uma das melhores, mas tinha tanta coisa boa rolando… Eram geniais, mas as ideias desenvolvidas já a partir do A saucerful of Secrets e More não são mais dele – podem até ser a partir dele, mas ali já tem o estilo inconfundível do Gilmour e a angústia criativa do Waters, que, com Barrett, não teria espaço nem vez. Enfim, “Arnold Layne” é a pepita dessa época, explica o Pink Floyd safra 1967 com perfeição e é uma canção excelente! Vá por mim, arrume um LSD e experimente-a com, digamos, outros ouvidos – e olhos bem abertos, por favor –, aí fará sentido a doideira toda (literalmente) de Syd Barrett… Por sua importância histórica, inclusive, deveria ser a minha nº 1, mas como explicar o que veio depois?
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3. “Comfortably Numb” – The Wall (1979)
Eu sei a letra dessa música inteira, de trás para frente, traduzindo simultaneamente, canto igualzinho tanto as partes do Roger Wters quanto as do David Gilmour. Essa foi a última música que compuseram juntos (creio que para sempre). Embora Gilmour diga que a letra é de Waters e a música, dele, já li tantas entrevistas acerca disso que não sei o que pensar. Quando estou bêbado, canto essa música; na pandemia, comprei uma caixa de som, um microfone e todo santo dia, na quarentena, colocava essa música para tocar na varanda – primeiro deixava eles cantarem, depois colocava uma versão ao vivo e eu mesmo cantava. Sou de uma geração em que os professores de História colocavam esse filme nas aulas (meu primeiro contato com Pink Floyd foi assistindo The Wall na escola, minha porta de entrada para o quarteto foi audiovisual). Essa é a música mais linda do Pink Floyd. Deveria ser meu número 1, mas o que fazer com “Shine on you Crazy Diamond”? No entanto, é a melhor letra de Waters, o melhor solo de Gilmour e a mais bela parceria de ambos, o momento Lennon/McCartney deles. Tenho tanto a dizer sobre essa música que me calo.
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2. “Speak to Me” / “Breathe” – The Dark Side of the Moon (1973)
Deixa eu contar uma coisa aos que estão há menos tempo no planeta: de 1973 até o início dos anos 90, todo mundo tinha esse disco em casa. TODO MUNDO. Os sons deste álbum estão na memória afetiva de (por enquanto) alguns bons milhares de pessoas no planeta. Posto isso, depois de ouvir umas batidas do coração, uns sons esquisitos de máquina-registradora, vozes de pessoas conversando, umas risadas e um barulho que parece dessas máquinas colheitadeiras – e me assustar com um grito de mulher –, ao ouvir uma levada suave e etérea de uma bateria macia, baixo, teclados e guitarra em harmonia cósmica e os versos “Breathe, breathe in the air / Don’t be afraid to care / Leave, but don’t leave me / Look around Choose your own ground” eu tenho a certeza de que, se o céu existe, essa é trilha sonora do paraíso. Roger Waters é excepcional, mas David Gilmour é Deus. Quem canta e toca como ele?! No meu LP, as duas faixas são unidas por um acorde de piano sustentado, então eu nunca as entendi como coisas distintas. Sei que elas deveriam ser a minha nº 1, pelo que só o Floyd é capaz de fazer (considerando as duas músicas juntas), mas qualquer lista de melhores coisas do Pink Floyd sem “Shine on you Crazy Diamond” em 1º lugar é, para mim, heresia.
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1. “Shine on you Crazy Diamond (partes I-V)” e “Shine on you Crazy Diamond (partes VI-IX)” – Wish You Were Here (1975)
Os mais jovens não sabem o que é um álbum conceitual. Aliás, não sabem o que é um álbum. Quando coloquei pela primeira vez a agulha no LP que tenho até hoje e me preparei para ouvi-lo (os jovens de hoje não sabem o que é preparar-se, sentar-se e ouvir a um disco), eu não sabia sequer entender as emoções que me tomaram naqueles mágicos oito minutos e trinta segundos que antecedem a letra… Eu não sabia nem como ouvir aquela guitarra, aqueles teclados! Quando abre-se uma porta e começa “Welcome to the Machine”, eu levanto-me e volto a agulha para o início de “Shine on you Crazy Diamond”. Eu devo ter feito isso umas 7, 8 vezes, até ler no encarte que tinha a outra parte, e naquela tarde mágica de um sábado, ouvi a segunda parte mais umas 10 vezes e, já de noite, meus amigos todos estavam lá em casa com fitas cassetes para gravarem aquela obra-prima. Ouvimos o disco inteiro umas 3 vezes e, já na madrugada, depois de todos terem ido embora, eu não me recordava de absolutamente mais nada (e olha que estamos falando de “Welcome to the Machine”, “Have a Cigar” e “Wish You Were Here”!!) e, no silêncio da madrugada, fui ouvir mais algumas vezes as duas partes dessa sinfonia… Ouvia, levantava-me, trocava o lado, colocava na faixa final e ouvia… Não sei comentar essa música, sei apenas que triste é a vida de quem não a ouve, ao menos, uma vez por semana, tal qual a 9ª sinfonia de Beethoven. São músicas que definem o que é o humano. O álbum inteiro é primoroso, mas o destaque está aí.
Se todos os comentários no nosso site fosse desse nível eu acho que a gente não precisaria nem escrever a cada dois dias. Excelente Marcelo!!!! Quaseu um lista completamente diferente da do texto original. Confesso que estou escrevendo esse comentário ouvindo exatamente Atom Heart Mother, mas vou ter que ouvir algumas músicas que vocês citou pois nunca lembraria delas para uma lista dessa (Grantchester Meadows, Childhood’s End e When You’re In).