Altaria e a busca por repetir um passado recente

Por André Kaminski
Eu estava escutando o primeiro disco desta banda finladesa chamada Altaria e logo em seguida me veio um clique para escrever um pouco sobre a sensação que senti nesta audição.
Qual a importância do Altaria para o mundo da música e sobretudo o heavy metal?
Nenhuma ou quase nenhuma. É só mais uma banda comum de power metal com cinco discos lançados. Deve ter alguma importância para a cena finlandesa, mas que pouco respinga para o restante do mundo.
Ainda assim, ela existe. Ou existiu, desde 2022, após voltarem com seu quinto disco e alguns shows na própria Finlândia, não houve mais atualizações sobre o estado da banda desde este período.
Eles se formaram lá em 2000, lançaram 4 discos, encerraram em 2016, voltaram em 2019 e lançaram seu quinto disco em 2022, como já citei. Eles são liderados pelo baixista Marko Pukkila e o baterista Tony Smedjebacka. Outros caras conhecidos do metal finlandês gravaram este álbum Invitation [2003] que ouvi. Eram os guitarristas Emppu Vuorinen (Nightwish) e Jani Liimatainen (ex-Sonata Arctica). Na Finlândia é bem comum estas camaradagens entre os músicos da cena de tocar ou fazer participações especiais mesmo em bandas de menor porte de lá. Não a toa, a cena local dos nórdicos é forte.
Os dois líderes vieram de uma banda de AOR chamada Blindside que não vingou. E aí o que eles fazem? Olham para o maercado e hum… Stratovarius e Sonata Arctica estão com muito sucesso com shows em várias partes do mundo. Era uma época boa do Power Metal dos anos 90 e 2000. Vamos construir a nossa boquinha.
Tudo muito bem copiado. Bateria veloz, uns teclados, vocalista com agudos e guitarras melódicas. Temas religiosos ou fantásticos, óbvio. Achar uma gravadora agora e lançar uns discos.
Veio um pequeno sucesso, o suficiente para garantir alguns shows no próprio país. Não sei se a banda chegou a tocar em outros países. Mas seus discos foram lançados fora da Europa, inclusive no Brasil e Japão.
Mas aí a questão: porque músicos já de bandas gabaritadas resolvem ser mais uma banda que busca um sucesso seguindo o mesmo caminho de Stratovarius e tantas outras do power metal que já enchiam o mercado de discos do mesmo estilo ao qual os fãs já se fartavam com prazer?
Não sei ao certo, mas posso especular como qualquer um. Você gosta de um som que ouviu, tem a oportunidade de fazer uma banda, e logo quer imitá-lo e seguir pela estrada fácil que o próprio Stratovarius teve que roçar lá na Finlândia desde os anos 80 e boa parte dos anos 90 para chegar onde chegou.
A discussão que eu abro é: por que músicos tão gabaritados gastam seus minguados em um som que já está sendo tocado? Por que não acrescentar umas influências diferentes de outros estilos? Ou mesmo instrumentos diferentes como uns tambores africanos ou uma flauta turca?
Eu imagino que ser músico não seja nada fácil. Não depende só de boas composições mas também de sorte de estar no lugar certo, na hora certa, fazendo o som certo. Mas quando vejo o Altaria se repetir, visualizo tantas outras bandas de tantos outros gêneros, sendo rock ou qualquer outro, reprisando os mesmos erros e as mesmas sonoridades de bandas já estabelecidas no cenário que agora se dão o luxo de ficar eternamente tocando seus clássicos e vez ou outra lançar um disquinho novo para manter a criatividade em dia.
E depois, é a mesma situação de sempre. O dinheiro vem pouco, as brigas internas se acumulam, a banda acaba e a culpa é dos fãs do gênero que não apoiaram. Uma história que segue acontecendo em praticamente todos os cantos do mundo.
Mesmo que o mundo da música talvez seja um dos mais cruéis para se conseguir o sustento, muitos ainda se arriscam. Para mim como consumidor é ótimo, não quero ficar ouvindo as mesmas 10 bandas para sempre. Mas eu gostaria muito de ver tais bandas com grande potencial, sejam as de músicos novos ou novos projetos de músicos gabaritados, prosperarem e ter um público que as sustente. Entretanto, isso parece ser cada vez mais raro. O negócio é tentar aproveitar mesmo os poucos anos e discos que as bandas menores tem a oferecer naquele período e torcer para algumas delas avançarem.
Voltando ao Altaria e este primeiro disco, o som é bem legal. Um power metal bem melódico e que fica bastante naquela velocidade midtempo. Mas é para quem é escavador de discos como eu. O ouvinte médio não se interessará em nada.