Discografias Comentadas: Jethro Tull (Parte II)
Por André Kaminski
Como já avisado pelo Mairon na Parte I, eu darei continuidade na discografia dessa banda incrível. É de se notar que se antes o Jethro Tull funcionava mais como banda, agora começa-se a ficar mais com cara de projeto próprio de Ian Anderson, com o próprio protagonizando sozinho várias capas do Tull com sua tradicional pose de Pan. Muitos integrantes vem e vão a partir do final da década de 70, tendo mais o próprio Anderson e o guitarrista Martin Barre como músicos principais. Porém, nos primeiros discos desta parte, a formação considerada clássica contendo Barriemore Barlow, John Evan e Jeffrey Hammond-Hammond se mantém.
Concebido para ser a trilha sonora de um filme (que não conseguiram ninguém que os patrocinassem), War Child nos apresenta um disco orquestrado riquíssimo (liderado pelo futuro tecladista da banda David Palmer) e de músicas muito variadas no cardápio do Tull. Há o progressivo famoso dos discos anteriores, o folk rock animado que a banda consagrou nessa época e alguns resquícios do velho hard rock dos primeiros discos. O disco é curto, bem diferente das suítes longas de A Passion Play [1973]. Iniciada em uma levada de piano e saxofone “Warchild” surge em uma animação típica que a banda produz e que faz o progressivo soar bem diferente do que aquela aura “intelectualóide” que muitos criticam no estilo, abrilhantada ainda mais pela orquestração ao final, assim como “Queen and Country” demonstra uma riqueza instrumental grandiosa principalmente no uso do acordeão, violino e guitarra. O folk da banda se fortalece em “Ladies” com o violão, a flauta de Anderson, os sopros e cordas da orquestra se sobressaindo, além daquele naipe de metais divertido ao fim (pena que é curto). “Back-Door Angels” parece uma continuação da música anterior, com mais variações de velocidade instrumental e maior participação dessa vez da guitarra de Barre com solos bem hard rock setentistas. O lado sarcástico da banda surge em cheio com “Sealion”, uma curta faixa cujo tema é um leão marinho em um circo. Pois é, coisas de Anderson. “Skating Away in the Thin Ice of the New Day” dá uma baixada no clima em uma balada que particularmente não me apeteceu muito, enquanto que o hit do disco se chama “Bungle in the Jungle” música que apareceu bem posicionada nas rádios da época e divertidíssima como uma boa canção do Tull deve ser. “Only Solitaire” é uma curta acústica que precede as faixas finais “The Third Hoorah” que parece marchinha militar de soldadinhos de brinquedo e “Two Fingers” finaliza bem, com o baixo em destaque e o acordeão intervindo bem. Este disco é bastante “ame ou odeie” na discografia do Jethro Tull, com críticas fortes nas publicações especializadas e com alguns fãs o odiando até hoje, todavia, vejo que o disco está sendo melhor recebido em tempos mais recentes. Particularmente aprecio muito este disco, um dos melhores desta época.
O disco em seu relançamento veio com muitas faixas extras, algumas podendo fazer parte tranquilamente do tracklist, principalmente “Paradise Steakhouse” e “Rainbow Blues”, além de “Warchild Waltz” totalmente instrumental e orquestrada que está de arrepiar os cabelos da nuca. Recomendo bastante a parte bônus que melhora ainda mais a audição.
Minstrel in the Gallery [1975]
Considerado por muitos como um “retorno à boa forma”, este álbum resgata uma sonoridade mais próxima de Aqualung (1971) e faz uma mistura do progressivo e do rock clássico que o Jethro Tull costuma fazer, com a flauta ainda mais presente e aquela típica mistura da guitarra elétrica e da acústica. E sim, as intervenções de Barre e a agressiva bateria de Barlow deixaram o disco bastante hard rock principalmente nas três primeiras músicas. A faixa título que abre o disco deixa bem claro que o Jethro Tull também sabe tocar pesado e “Cold Wind to Valhalla” traz o bom e velho violão misturado a um quarteto de cordas liderado novamente por David Palmer. E obviamente, a guitarra de Barre despeja hard rock nessa que é minha música favorita do disco. Sem maneirar, vem “Black Satin Dancer” iniciando calmamente com a flauta, piano e um singelo vocal de Anderson para que sinos, e até um inesperado órgão hammond e belas guitarras nos brindem com um instrumental rico logo em seguida. Incrível como o Jethro Tull sabe misturar tanta instrumentação sem bagunçar ou encavalar um em cima do outro de forma que todos soem bem. “Requiem” é uma bonita balada enquanto “One White Duck/0^10 = Nothing At All” já nos apresenta o foco maior no folk rock que a banda nos apresentará principalmente nos álbuns finais da década de 70. “Baker St. Muse” é uma suíte de mais de 16 minutos que novamente demonstra a progressividade da banda de uma maneira bem folk, se é que isso é possível mas que não encontrei termos melhores para descrevê-la. O disco finaliza com a curtinha “Grace”.
O conteúdo bônus do relançamento deste disco não é tão rico quanto em War Child, com simples faixas de conteúdo acústico, mas “Pan Dance” é uma que vale a pena pelo seu instrumental belo.
Como profissionalismo não era lá o grande forte dos críticos da época (talvez não tenha mudado muito nos tempos atuais…) esses não perdoaram e malharam o disco e principalmente Ian Anderson, que obviamente alimentava mais com declarações ácidas sobre as críticas que recebia e respondia com ainda mais sarcasmo nas letras do Jethro Tull. Memórias das críticas ferrenhas de A Passion Play que atormentaram a banda por anos. O baixista Jeffrey Hammnond-Hammond (brincadeira com o seu nome devido a seu pai e sua mãe possuírem o mesmo sobrenome, antes mesmo de se casarem) deixa a banda em dezembro de 1975 para dedicar-se a sua paixão por pintura, largando o seu baixo e a música que não voltaria nunca mais. Para o próximo disco, este seria substituído por John Glascock.
Too Old to Rock ‘n’ Roll: Too Young to Die! [1976]
Com toda a boa vontade do mundo, dá para apreciar algumas partes acústicas e as poucas intervenções elétricas da guitarra de Barre, mas difícil não concordar com uma maioria que acha este álbum pouco inspirado. Mais um disco conceitual, a ideia de Ian Anderson era fazer um disco que tratasse da história de um velho rockeiro que volta à fama após anos de ostracismo. Tudo inspirado pela ascensão do punk rock justamente nesta época. O disco até abre bem com “Quizz Kid” que lembra as composições mais rockers dos primeiros álbuns da banda, mas depois simplifica demais com “Crazed Institution”. Sinto um pouco de falta de ousadia por parte dos membros em explorar outros instrumentos, coisa que qualquer fã do Jethro Tull espera de um disco clássico da banda. Eu aqui escutando o início de “Salamander” e minha mãe pergunta “ouvindo o Almir Sater?”. Olha, ser comparado ao Almir Sater é um baita elogio, porém, ainda acho que o nosso velho violeiro brasileiro trata melhor desse folk interiorano do que Ian Anderson nessa canção. Mais uma canção médio tempo, “Taxi Grab” anima mais pelas intervenções de guitarra, piano e gaita, apresentando um solo instrumental interessante (ainda que para alguns pareça bagunçado) e alguma malícia antiga nos vocais de Anderson. Entre canções lentas e sem nada aproveitável (“From a Deadbeat to an Old Greaser”, “Bad-Eyed and Loveless) e algumas médias que não me tocaram muito (a faixa título, “Pied Piper” e “The Chequered Flag (Dead or Alive)”), ainda posso destacar “Big Dipper” com um jeitão bem bluesy-folk que considero a melhor do álbum.
O tradicional espancamento crítico em cima da banda (a Rolling Stone britânica era famosa por suas resenhas ácidas na década de 70), vendas inferiores ao disco anterior (mas ainda relativamente boas se comparado ao desempenho de outros discos famosos contemporâneos) e a capa medonha não agradaram a ninguém. Por isso, hora de botar o coração folk/celta para bater e lançar o melhor disco da banda em anos.
Como fez bem o troca-troca de informações e ideias entre o Jethro Tull, Steeleye Span e o Fairport Convention na inspiração para as composições deste disco. Claro que o folk rock esteve presente desde os primeiros anos da banda, mas é aqui que botam o folclore cravado nos ouvidos de quem apreciar este disco com a vantagem de ter um Anderson, um Barlow, um Barrie, um Palmer (agora efetivado como membro permanente) e um Evan tocando para ti. Ah claro, backing vocals do baixista Glascock (presentes sem muito destaque no disco anterior), abrilhantam a abertura animada e encantadora de “Songs from the Wood” em que um incrível sintetizador (isso mesmo, álbum folk mas com sintetizadores) recheia o fundo de um trabalho vocal excepcional de Anderson e Glascock. “Jack-In-The-Green” é uma música curta em que Anderson toca tudo e nos lembra o já citado Steeleye Span na maneira como se conduz o instrumental. “Cup of Wonder” apresenta uma harmonia entre a flauta, órgão e vocais que é muito bacana. Uma canção deveras hard rocker sintetizada com Barriemore batendo agressivamente em sua bateria é o que temos nas excelentes “Hunting Girl” e “Ring Out, Solstice Bells” com a segunda parecendo uma continuação da primeira, exceto pelo ar mais “cristão” com sinos e atmosfera bem natalina. Já “Velvet Green” nos leva direto nas épocas do século XVI e XVII em que o sintetizador configurado como um cravo e as velhas violas nos levam àquelas rodas de música em volta da fogueira com colonos europeus dançando felizes após um dia cansativo de trabalho. Olha a animação em “The Whistler”, não consigo imaginar nada além de Ian Anderson ter encarnado o deus Pan e sair saltitando por um palco tocando sua flauta enquanto se equilibra em uma perna só. Após toda essa magia folk, uma intro de guitarra distorcida que passa a impressão de que Tony Iommi retornou ao Tull surge em “Pibroch (Cap in Hand)” uma faixa pesada sem deixar o folk de lado que mistura a singeleza do teclado e da flauta à uma guitarra áspera do rock. Um espetáculo. O disco ainda fecha com a ótima “Fire at Midnight”, acalmando um pouco o disco ainda que prossiga nas guitarras distorcidas da faixa anterior.
Este disco é fantástico, o meu preferido do Jethro Tull ainda que existam Thick as a Brick [1972], Aqualung [1971] e Stand Up [1969] que são os que mais gosto da primeira fase. Apenas o primeiro de uma trilogia de discos folk que a banda usou para contra-atacar o sucesso do punk no final da década de 70.
Podemos classificar este disco como uma sequência digna de Songs from the Wood. De fato, a estrutura e o estilo das músicas é bem parecido com o disco anterior, parecendo até que foram compostos juntos e aí Anderson resolveu guardar algumas para este ano. Claro que a temática folk deixa um pouco o medieval de lado e nos apresenta uma atmosfera mais “rural” contemporânea. Sem deixar-nos respirar, o disco já inicia com uma flauta e uma guitarra solando firme em “… And the Mouse Police Never Sleeps”, seguindo a tradição da banda de nomes esdrúxulos de músicas (mas que eu acho hilário). “No Lullaby” tem um baixo marcante e com uma estrutura bem típica progressiva dos discos do início da década de 70. Ideal para quem quer matar as saudades dessa época. “Moths” é uma pequena peça acústica e leve, com um arranjo orquestral de cordas simplesmente lindo. O lado acústico do violão nos passa a impressão de ter sido gravada em algum rancho velho inglês do século XX, porém, as orquestrações dão um toque de sofisticação que me fez ter a faixa como favorita do disco. “Rover” é bem diferenciada das demais, em que utilizam-se marimbas dando uma impressão meio latina que até me surpreende. “One Brown Mouse” talvez seja a única que eu não posso dizer que curti muito, talvez um ponto baixo que poderiam ter deixado de lado. Homenageando os cavalos do título, “Heavy Horses” tem uma característica diferente de várias outras canções do Tull: Ian Anderson parece cantar à la Waters no Pink Floyd, com um tom mais introspectivo nos momentos mais calmos ao invés do seu tradicional canto ao estilo “bardo europeu”. Outras que não falei anteriormente como “Acres Wild”, “Journeyman” e o encerramento com “Weathercock” não deixam o disco cair em nenhum momento, seguindo com aquele folk delicioso que o Tull nos proporcionou nesses tempos. Dentre as canções bônus do cd, que são mais duas, gostaria que “Broadford Bazaar” estivesse no lugar de “One Brown Mouse” e o disco original seria ainda melhor.
Depois de dois anos muito bons para a banda, começam a aparecer alguns problemas sérios: o baixista John Glascock começa a sentir a saúde piorar ao não conseguir completar a tour de promoção de Heavy Horses. Diagnosticado com um problema sério em sua válvula cardíaca, o baixista ignora as orientações médicas e continua levando a vida regada a álcool e festas. Sua saúde continua a deteriorar que este só consegue gravar os baixos de três canções do próximo disco, em que Ian Anderson se obrigou a gravar o restante.
O último disco da “trilogia do folk” mantém um ótimo nível, apesar de considerá-lo um pouco inferior aos dois anteriores. Porém, não são poucos os que alegam que a morte de John Glascock devido aos seus problemas cardíacos, poucos meses após o lançamento deste disco, levou consigo também a qualidade do Jethro Tull. Independente disso, Stormwatch foi bem recebido pelo público e pela crítica, finalizando aí o que seria uma época de “trégua” entre a banda e as publicações especializadas. O disco também é menos influenciado pelo folk se comparado com os dois últimos, sendo mais seco e mais direto principalmente na guitarra de Barre, que em muitos momentos usa o hard rock como base para melodias e solos mais pesados. “North Sea Oil” começa bem, com uma ótima pegada de bateria de Barlow que energiza a música. “Orion” varia entre singela e pesada, com o violão e os teclados de Evan e Palmer dando o toque singelo e o baixo e a bateria botando energia para fora quando exigidos. “Home” chega colocando uma atmosfera levemente bucólica em uma balada agradável, enquanto “Dark Ages” talvez seja uma das canções mais pesadas da carreira do Tull e a melhor do disco, usando uma base hard rock blueseira sem deixar de lado aquelas orquestrações de Palmer que costumam dar uma embelezada nas canções de grande parte dos discos. Uma pena que “Warm Sporran” que vem logo em seguida decepciona por soar bem deslocada do disco. Umas vozes masculinas misturadas a órgão, flauta e bateria lembrando fanfarra que não faço ideia do que faz aqui, logo após a pancada que foi “Dark Ages”. Prosseguindo com “Something’s On The Move” aqui seria mais uma faixa mediana, apesar de muitos apreciarem o jeito hard rockeiro da faixa, achei menos inspirada que muitas outras que a banda já lançou. “Old Ghosts” e “Dun Ringill” (sendo esta acústica) são mais lentas e mais simples que as anteriores e que embora não sejam lá grandes destaques do disco, são apreciáveis. O nível sobe bem com “Flying Dutchman” com tema marítimo (por sinal, como grande parte do álbum) em que a base lenta orquestrada de guitarra muitas vezes lembra canções do seu contemporâneo The Wall dos conterrâneos do Pink Floyd. “Elegy” finaliza o disco com uma canção instrumental composta apenas por David Palmer, um encerramento parecido com aquelas canções de final de filme, lenta e reflexiva, como se despedindo da banda que de fato ocorreria em breve.
As quatro canções bônus do cd apareceram originalmente no boxed set 20 Years of Jethro Tull e diferente da maioria das faixas bônus que normalmente são canções mais simples e menos trabalhadas, estas parecem ter sido deixadas de lado aqui por talvez não se encaixarem tão bem no tema náutico do disco. Não saberia dar uma resposta concreta sobre elas no momento.
Logo após a morte de John Glescock em 1979 – sendo seu substituto Tony Williams na turnê de Heavy Horses e logo após Dave Pegg seria efetivado como membro na turnê de Stormwatch – as coisas degringolaram para a banda ao fim da tour deste disco. O baterista Barriemore Barlow, deprimido pela morte do baixista do qual era muito próximo, discordando do direcionamento musical que Anderson queria para a banda e não muito contente com os contratos leoninos que o líder fazia os membros assinarem (ao qual lhes pagavam pouco), deixa a banda. Já comentando sobre os destinos de cada membro, Barrie se torna músico de estúdio tocando bateria para outros artistas-solo tais como Robert Plant, Jimmy Page e John Miles, também fundando um estúdio de gravação de discos que mantém até hoje. Os dois tecladistas-organistas John Evan e David Palmer acabam sendo demitidos visto Ian Anderson buscar outro tipo de direcionamento musical que falarei a seguir. A dupla tenta formar uma nova banda chamada Tallius, porém, sem conseguir levar adiante e sem deixar nada oficialmente lançado. John Evan hoje vive na Austrália e é dono de uma construtora. Já David Palmer voltou a fazer orquestrações para filmes e outras bandas, se tornou músico de estúdio e mudou de sexo em 2003, sendo agora chamada Dee Palmer.
Ian Anderson e Martin Barre, junto ainda a Dave Pegg, se encontram sozinhos com a banda. Como eu havia dito no início dessa matéria, Anderson já dava sinais de fazer o Jethro Tull funcionar mais como seu projeto pessoal e agora é o que a banda basicamente se torna. Entrando na década de 80, Anderson queria fazer um disco solo baseado em sintetizadores e no pop eletrônico, abandonando o folk e o progressivo de vez, algo que muitas bandas progressivas setentistas fizeram como o Yes e o Genesis. Pressionado pela gravadora para continuar a lançando sob o nome Jethro Tull, o trio corre atrás de novos membros e acaba recrutando o baterista Mark Craney e convidando o tecladista Eddie Jobson para gravarem o próximo disco.
Imagino o choque dos fãs ao botarem a agulha no vinil e ouvir sintetizadores tomando conta das faixas, guitarras de Barre apagadas e uma postura modernosa na sonoridade deste disco. Não vou dizer que esse disco é péssimo, porém, como gosto da new wave da época e dos típicos “tecladinhos anos 80”, posso dizer que Anderson teve boas ideias aqui (em algumas passagens mais space rock), embora sua execução não foi uma maravilha. Acho interessante a batida do baixo estar bem evidente e algumas boas tocadas de sintetizador, todavia, a voz e o jeito de cantar de Anderson não combinam nem um pouco com essa new wave já que este parece um tiozão maltratado soando moderno para a garotada. “Crossfire” e “Flyingdale Flyer” tem jeito de umas canções já sem ânimo do fim do boom da new wave lá perto dos anos 90. “Working John, Working Joe” é terrivelmente ruim, Desanimada, sem graça, nem uns poucos riffs de Barre salvam aqui. Estou de bom humor hoje, logo, vou pular para comentar as duas faixas boazinhas deste disco e deixar o restante de lado. “The Pine Marten’s Jig” é uma canção mais folk para relembrar tempos melhores da banda e a última “And Further On” que é uma balada levada no piano com boas melodias que se destaca (coisa não muito difícil) dentro desse disco. Curiosamente, nos tempos atuais tem se mostrado críticas mais favoráveis a este álbum como pude ler internet afora, mas a mim não teve efeito. Que sabe daqui mais uma década…
The Broadsword and the Beast [1982]
Após 12 anos em que todo ano a banda lançava um disco novo, eis que o ciclo se corta. Mark Craney deixa a bateria sendo substituído por Gerry Conway e Peter-John Vettese assume os sintetizadores neste disco em que Anderson prossegue pop eletrônico mas dessa vez tentando temperar um pouco mais com o conhecido folk que sempre acompanhou a banda. É um disco um pouco melhor que A, mas também não muito. Há umas guitarras mais proeminentes e eles voltam com a temática pirata já usada antes. “Beastie” até surpreende bem, com bons solos de guitarra e sintetizadores que até ficaram bons, embora eu ainda ache a voz de Anderson inadequada para o estilo. Porém, aqueles defeitos do disco anterior voltam a se sobressair em “Clasp” e “Fallen On Hard Times” com alguns efeitos vocais desagradáveis (já disse algumas vezes em várias matérias minhas que não curto vocal sintetizado em 95% das vezes) e um certo ar de desânimo. Não vou dizer que os sintetizadores são ruins, eu já disse que gosto da new wave oitentista. E eu sempre tento escrever ignorando passado e clássicos e focando apenas no disco em questão. E não dá, parece que não dá liga. Pouco me animo de comentar outras faixas, mas “Flying Colours” é uma boa canção principalmente com seu andamento de baixo e guitarra e “Watching Me, Watching You” é uma experimentação até interessante de sons dos sintetizadores que acredito que muita gente deve ter odiado, mas até que surpreendentemente me agradou. As outras músicas, em geral, são melhores que A porque tem umas guitarras de Barre aparecendo mais, pena que não é nada que se destaque ou que seja memorável na carreira do Jethro Tull.
Encerro esta segunda parte por aqui, em que a audição me foi agradável na maioria das vezes, com a fase folk da banda se sobressaindo. Na terceira e última parte teremos uns discos ainda mais polêmicos, dos quais muitos dos fãs da banda não perdoam até hoje. Volto em 15 dias!
Banda admirável!!Depois façam a resenha do VDGG!
Excelente trabalho! Parabéns, André!
Gostaria de tecer alguns comentários:
1)Dave Pegg participou da turnê de Stormwatch não na de Heavy Horses. Quem quebrou o galho nessa última foi Tony Williams, como pode ser visto no video Live At Madison Square Garden. Dave Pegg só foi efetivado na banda após a morte de John Glascock.
2) Na minha opinião Songs From The Wood foi o último disco brilhante da banda. Fizeram muitas coisas boas depois (e tb muitos discos decepcionantes), mas realmente SFTW foi o canto de cisne da banda, que é uma das minhas preferidas.
3)Concordo que Too Old To Rock’n’Roll é um disco mediano, poderia ser bem melhor. Tb tive um choque ao ouvir pela primeira vez o disco A, mas já me acostumei a ele e acho “Black Sunday” duca! Eu tinha em fita cassete uma gravação pirata de um show completo da turnê do A e era muito bom! Na versão mais atual em cd deste disco tem como bonus o dvd “Slipstram”, que apresenta algumas músicas de um show dessa turnê, bem como alguns clips.
4)As músicas que ficaram de fora de Broadsword And The Beast, são bem melhores que as que entraram no disco. Algumas saíram como B-sides e tb na caixa 20 Years Of Jethro Tull. A versão remasterizada desse álbum contem como bônus várias delas.
Abraços e não vejo a hora de ler a terceira parte!
Grande Zé Leonardo!
De fato foi um deslize meu com relação a entrada de Dave Pegg. Creio ter me confundido com as datas e daí achar que ele já havia entrado na turnê do Heavy Horses. Muito obrigado pela correção.
Por incrível que pareça, há um disco muito malhado na terceira parte da DC que eu particularmente gosto bastante. Encaixaria bem no esquema “Discos que parece que só eu gosto”. Tente adivinhar depois para ver se acerta!
Grande André!
Vai dizer que é o Under Wraps??? kkkkk Acho que só gosto de 3 músicas desse disco!
Eu tenho uma biografia muito boa da banda, Minstrels In The Gallery: A History Of Jethro Tull, David Rees (Firefly Publishing 1988). Não sei se existe uma edição mais atualizada. Recomendo!
Saberá se acertou daqui 15 dias!
Eu gosto do Under Wraps, e parabéns pelo trabalho André. Foi um orgulho ter dado o pontapé inicial para driblares todo mundo e meter uma bucha no angulo. Estamos melhores que nossos times …
Ah, das faixas bônus de Stormwatch, “A Stitch in Time”, saiu como single em 1978 (tendo como Lado B a versão ao vivo de Sweet Dream) e “King Henry’s Madrigal”, saiu no Ep Home de 1979, as outras duas, “Crossword” e “Kelpie” eram inéditas até o lançamento da caixa dos 20 anos.
Uma curiosidade existem duas versões de “A Stitch in Time”, uma com 3:40 minutos, e outra com 4:20! Ambas saíram em single, sendo a versão longa um bocado rara, mas apenas a versão curta foi disponibilizada em cd!
Quanto mais leio sobre os contratos que o Anderson empurrava na banda e o que ele fez recentemente limando até o Barre cm uma explicação fajuta, minha admiração por ele cai mais e mais. Não pela banda, claro. Pra mim a fase classica se encerra com Stormwatch, apesar de não gostar de War child e me decepcionado com Too Young…
Não por acaso, após o Stormwatch, infelizmente houve muitas trocas de integrantes.
Só consegui ler a matéria completa hoje. Lembro-me de quando comecei a ouvir progressivo e participava de algumas comunidades do Orkut onde vários dos participantes mais “experientes” sempre diziam-me para passar longe de A. E, talvez por isso, eu NUNCA o ouvi. Espero a terceira parte para saber o que vc acha de um disco que já pensei várias vezes em fazer para a coluna “Discos que Parece que só eu Gosto”. Mas como vc já falou algo parecido aí em um dos comentários não vou falar qual é para não influenciar no resultado….rs
Parabéns Mairon, pela primeira parte, e André, pelo que já publicou!!!
Acho errado dizer que o Ministrel foi um “retorno da banda” foi mais um aviso prévio que o espirito folk dominaria, no caso, chegando primeiro no instrumental… O disco é heterogenio mais o violão domina.
E não acho nada de hard rock no disco, só aura de folk e corpo porg, com a SUBESTIMADA Baker St. Muse, que acho que nunca foi tocada ao vivo… Que é uma musica do caralho.
É meu álbum preferido do Jethro..
Eu disse no sentido de “retorno a boa forma”, não que tenha retornado a um estilo antigo visto que na época “War Child” e mesmo “A Passion Play” foram muito criticados (apesar de não achar que não tenham de certa forma retornado, pois há partes progressivas que remetem discos mais antigos). No caso, Minstrel voltou a agradar uma maioria.
E como eu havia dito, o hard rock se faz presente quando entra as guitarras elétricas principalmente nas três primeiras canções que por sinal, são bem pesadas do que normalmente se encontra no prog e mais pesadas do que qualquer coisa que a banda tenha colocado em Aqualung por exemplo. Mas sim, a parte acústica de fato chama mais a atenção nesse disco.
Pod cre, entao, acho uma ponte para os tres ultimos discos da decada
Muito legal a matéria. E concordo em gênero, número e grau com o comentário do José Leonardo: a música Black Sunday é dez, e também devo gostar de umas três músicas do Under Wraps…
Apenas corrigindo, o André disse que “Minstrel in the Gallery” era um retorno à boa forma. Na verdade, até o Burting Out, eles sempre estiveram em boa forma.
“Entre canções lentas e sem nada aproveitável (“From a Deadbeat to an Old Greaser”, “Bad-Eyed and Loveless)”
Bah, eu gosto de ambas. A primeira eu acho muito linda, e a segunda, com sua levada bluesy, é uma das melhores do TOTRNR
Só eu acho que o King Crimson chupinhou o riff de “… And the Mouse Police Never Sleeps” em “Three of a Perfect Pair”, a música?
“Logo após a morte de John Glescock em 1979 – já substituído por Dave Pegg na turnê de Heavy Horses ”
Na verdade, quem substituiu o Glascock na turnê do Heavy Horses foi Tony Visconti (nada a ver com o cara amigo do Bowie). E curiosamente, para Martin Barre e Dee Palmer, “Moths” tb é a melhor faixa de Heavy Horses.
Essa correção o Zé Leo já tinha feito uns 4 anos antes. hahahahahahaha
😂😂
Tony Williams, na verdade. Pode-se conferir no livreto da box 25 Years of Jethro Tull, em que há uma foto dele. Williams (que não tem nada a ver com o baterista de jazz!) era um antigo colega do Ian Anderson.
E sobre “Black Sunday” André, qual sua opinião. Para mim é a melhor faixa do A. E lamentável não terem lançado “Coriusk” na edição original do A. Outra do A q eu acho legal é “Uniforme”, principalmente pelo violino
Metendo-me onde não fui chamado, Black Sunday é estupenda! Uma das melhores músicas do Jethro Tull, na minha opinião.
Pois olha Mairon, na época que eu escrevi essa DC (caralho, já fazem quase 7 anos) eu não andava muito pelo meio mais eletrônico, mas como ultimamente eu tenho gostado bastante da synthwave e essa música traz justamente essa vibe, acabei de reouvir e achei muito melhor do que quando a escutei nessa época.
boa
Gosto de todos esses discos (exceto por “A” que nunca ouvi direito, ainda mais por tê-lo feito em uma viagem virtual de ônibus pelo Google Maps na linha 199 da EMTU).
Bom, War Child, amei. Disco muito bom e tem grandes canções. Na versão bônus de Minstrel, Back-Door Angels, Skating Away e Bungle in The Jungle aparecem como faixas extras ao vivo (na versão de 45 anos, tem ao menos duas Skating’s). Já sobre o material extra de 2002, gosto bastante de Rainbow Blues, Paradise Steakhouse, Quartet e a versão instrumental de Sealion (colocada como Sealion II). No disco integral (sem as faixas extras) gosto de Sealion, Back-Door Angels, Queen and Country, Skating e The Third Hoorah.
Minstrel in a Gallery eu gosto desse álbum. A abertura mística, junto da quebra de ritmos até o refrão da faixa-título é muito boa. Já Cold Wind, eu acho épica, a música começando acústica e depois evoluindo pra uma instrumentação mais intensa e completa é muito boa. Já Black Satin eu acho ela… Desculpa… Foda! Tem uma instrumentação entristecida e melancólica (no mesmo passo de First Snow on Brooklyn de Christmas Album (2003)). Requiem, me lembra a china não sei porquê… Já a One White Duck/Nothing at All (nunca entendi o 0^”) é interessante e tem uma boa vibe calma. Baker St. Muse é boa também, embora eu precise ouví-la novamente (só me recordo de trechos). Grace é uma faixa curta que não fede nem cheira… Já o material extra compreende uma faixa chamada Sunnyday Sands (algo parecido), Pan Dance e um material ao vivo retirado de três shows diferentes. Nesse material, tirando a dos álbuns anteriores, temos uma suíte de 11 minutos de flauta, que possuí 5 músicas (Boureé, Quartet e outras 3), Critique Obelique e uma canção que lembra Wind Up de Aqualung que é num ritmo mais acelerado.
Já, Too Old to Rock’n’Roll, é uma situação idem a “A”, ainda não parei pra ver esse álbum, e só conheço a faixa-título e tenho vaga lembrança de Quizzy Kid.
Songs From The Wood é um álbum fantástico (quando eu vi que seria um trabalho folk (como os próximos dois após esse) eu achei que seria a base Voz, Violão e Flauta, sem nada demais (sim, é assim que eu encarava o folk)). Eu gosto bastante de Ring Out, Velvet Green (a faixa-título eu gosto mais da versão de Bursting Out), Jack on The Green e aquela espécie de Rave Medieval, Hunting Girl (embora também prefira a versão do Bursting Out). Essa última eu achava ser Velvet Green e que ficava em Heavy Horses. Outra do álbum que eu gosto bastante é No Lullaby.
Heavy Horses, gostei praticamente do álbum todo. A faixa-título é sensacional, Rover é incrível… One Brown Mouse e Broadford Bazaar também são encantadoras.
Stormwatch, último folk do JT, também é maravilhoso… North Sea Oil (crítica social referente ao derramamento de petróleo numa parte do mar na Europa (coincidentemente na crise do petróleo de 1979)) tem uma quebra de espectativa e uma abertura semelhante a de Rover (não sei pq, o JT, meio que se auto plagiou nesse álbum, Dun Ringil também lembra uma canção de Heavy Horses (na verdade é cópia descarada, exceto pelo interlúdio)). Elegy é boa, e como disseram no 80 minutos, aparentemente é uma canção que fica se desenvolvendo, mas não chega ao estágio final (igual ao duplex Industry/Dig Me do King Crimson em Three of A Perfect Pair de 1984). A maior daqui é o mini épico Dark Ages que como o nome sugere é uma canção sombria e até pesada. A sugestiva Warm Sporran (por isso sugestiva (risos)) eu gosto até… Não encaro como continuação de Dark Ages, é uma música bem independente. O solo de flauta dela é matador. Já aqui, no material extra, Broadford Bazaar volta e uma instrumental eletrônica de estúdio emenda numa versão ao vivo de Sweet Dreams (originalmente de Living in The Past (coletânea de raridades da banda de 1972)).
Broadsword é muito bom. Na época (e em Under Wraps foi mais rechaçado) criticaram bastante a direção eletrônica que a banda tomou. Mas de eletrônico, Broadsword não tem quase nada. Óbvio que os sintetizadores tomaram um papel maior, mas não foram invasivos como pregam. Slowing March Band é um exemplo, Jack-a-Lynn é outro. Até que eu gostei do Robot Ian em Clasp.
E é isso…
Esses discos que você comentou formam a fase de ouro do Jethro Tull. Adoro o “Minstrel…” também, acho a faixa-título uma das melhores coisas que o Jethro Tull fez em toda a sua vida. “Too Old…” é possivelmente o mais fraco do período, mas além das músicas que destacou, eu citaria a bela “Salamander”. Quanto ao “A”, recomendo ouvir com atenção, as músicas que formam o antigo lado A do LP original são matadoras, com destaque para a monumental “Black Sunday”; sugiro procurar a box set, pois o show incluído é matador (apesar de a voz de Ian se deteriorar progressivamente ao longo do concerto). Mesma coisa para “Broadsword and the Beast”, em que o material adicional é excelente e os dois CDs ao vivo (que montam um set list típico da turnê a partir de vários shows) são ótimos (ainda que mais uma vez se perceba uma queda nos vocais do Ian Anderson).
Esqueci de um detalhe. O nome da música é One White Duck/010 = Nothing at All, mas como 0 elevado a 10. A letra menciona “my zero to your power of ten equals nothing at all”, indicando que zero na potência 10 é zero do mesmo jeito (zero, nothing at all)!
André, prazer em conhecer este seu site que encontrei por acaso procurando algo sobre a banda Toad que um primo meu indicou. Sou muito conservador nas minhas escolhas, talvez seja por conta da idade. E para eu gostar de algo novo é difícil. Talvez por isso o seu site me chamou a atenção. Fui procurar Jethro Tull, pode-se dizer que é minha banda favorita, e lá estava esta resenha maravilhosamente escrita. Não sou crítico, muitas vezes relevo as letras em função da música, não toco nada, mas tenho um excelente ouvido.
A primeira vez que escutei Tull foi em 1977. Naquela época era comum irmos na casa do amigo rico que tinha a última aparelhagem lançada e curtir um lp. E foi assim que escutei Song From the Wood pela primeira vez. O disco foi empurrado por amplificador Pioneer, toca discos Technics e caixas IBS Tebas cujo woofer é de 15″. Aquele som simplesmente me envolveu. Fiquei maravilhado com Songs From The Wood e me tornei fanático pela banda. A sua crítica, cara… concordo 100%. É meu disco preferido deles. Difícil destacar uma música. E sim, falo com toda a certeza que os anos 70 foi a melhor fase da banda. Alguns discos nào tenho muita paciência de escutar e A Passion Play encabeça. Too Old vem em seguida. Os outros trabalhos são maravilhosos com Stormwatch sendo o canto do cisne. Incluiria Stand Up como outra obra-prima apesar de não estar neste resumo e sim no outro.
Parabéns pelo site, textos e pelo seu conhecimento👏👏👏👏