I Wanna Go Back: Survivor – Eye of the Tiger [1982]
Por Diogo Bizotto
“I was listening to the radio
I heard a song, reminded me of long ago”
É com os primeiros versos de “I Wanna Go Back”, canção alçada ao sucesso pelo vocalista, guitarrista e saxofonista norte-americano Eddie Money em 1986, que inicio os trabalhos na coluna de mesmo nome, prometendo trazer indicações, impressões, elogios e críticas a diversas obras de um dos mais malogrados gêneros musicais da atualidade: o AOR (Adult Oriented Rock ou Album Oriented Rock).
Mas por que “I Wanna Go Back”?
Característica percebida em grande parte, se não na maioria dos apreciadores do estilo, é a nostalgia em relação a uma época passada, trazida à mente por músicas que remetem a bons momentos, um tempo onde o AOR ocupava com frequência os primeiros postos das principais paradas musicais. Mesmo entre os mais jovens, que como eu eram crianças ou sequer nascidos quando o gênero ocupava lugar de destaque no mainstream, e grupos como Journey, Foreigner, Styx e Boston conseguiam colocar álbuns no topo da Billboard, existe esse sentimento de, através da música, sentir-se transportados a uma época distante.
Claro que isso não quer dizer que os fãs do estilo vivam apenas de passado. Apesar do AOR estar atualmente relegado ao underground, obrigando até mesmo os baluartes a batalharem por reconhecimento, existe uma persistente cena espalhada pelos mais diversos cantos do planeta, unindo bandas, publicações, gravadoras e fãs, que trabalham para mostrar sua música a um público que, apesar de mais reduzido, não esconde sua paixão nem sente vergonha das numerosas críticas que o gênero recebe desde sua incepção. Mas por ora chega de explicações, vamos à música!
E que melhor maneira para iniciar uma coluna sobre AOR do que com a banda que para mim epitomiza o gênero, e que desde seu primeiro álbum pratica uma sonoridade que pode ser encaixada nesse contexto? Formado em 1977 na cidade de Chicago, nos EUA, o Survivor contava, na época do lançamento de Eye of the Tiger, com o tecladista e guitarrista Jim Peterik, o guitarrista Frank Sullivan (os principais compositores do grupo) e o vocalista Dave Bickler, além do baixista Stephan Ellis e do baterista Marc Droubay. O que falar da faixa-título, que abre o disco com um dos riffs de guitarra mais presentes na memória de milhões de pessoas ao redor do mundo? Muitos que sequer sabem de quem é a canção vibram ao som de “Eye of the Tiger”, que fez parte da trilha sonora do filme “Rocky III”, dirigido e estrelado por Sylvester Stallone. Sucesso mundial, a música foi direto para o topo em diversos países, inclusive nos EUA, onde ficou no primeiro posto da Billboard por quatro semanas.
Survivor em 1982: Stephan Ellis, Frank Sullivan, Dave Bickler, Jim Peterik e Marc Droubay |
“Feels Like Love” dá sequência ao disco de maneira mais melódica e acelerada, com a guitarra apresentando um timbre mais cru e o teclado de Jim Peterik marcando a melodia vocal. A presença marcante de backing vocals no refrão é um convite a acompanhar a canção. De maneira mais simples, “Hesitation Dance” tem como principal elemento a inteligente linha vocal de Dave Bickler, que não se limita a cantar sobre o que os instrumentos fazem. A execução de pequenos licks por Frank Sullivan durante o refrão também empresta um tempero especial à faixa. Ao chegar em “The One That Really Matters”, o ouvinte já deve estar certo de que, ao contrário daqueles que pensam que o AOR é necessariamente carregado de teclados em excesso e tem suas canções baseadas nesse instrumento, isso é diferente em Eye of the Tiger. A guitarra de Frank Sullivan se revela cada vez mais o fio condutor das canções, com um timbre bem calcado em guitarra plugada no amplificador e nada mais, economizando no uso de efeitos. A faixa tem direito a um belo solo do guitarrista, que também é o produtor do álbum.
O grande destaque do disco para mim é a balada “I’m Not That Man Anymore”, que não se limita a um formato mais tradicional. Iniciando apenas com o teclado acompanhando o vocal e evoluindo em um crescendo, onde primeiro são introduzidos baixo e bateria para depois ceder espaço à cortante guitarra de Sulivan, culminando em um excelente refrão. Após dois minutos e vinte segundos a canção torna-se apenas instrumental, e é aí que reside o momento mais emocionante do disco, um belíssimo solo de guitarra que estende-se até o final da faixa, dividido em vários segmentos, sem nunca apelar para a fritação.
Os bons riffs não param por aí, e “Children of the Night” dá sequência ao álbum mantendo o bom nível. Prestem atenção a partir de dois minutos e vinte e cinco, e admitam que o Survivor sabe soar pesado à sua maneira, com um andamento totalmente hard rock! “Ever Since the World Began” é outra balada, dessa vez seguindo um andamento mais usual para canções nesse formato, e tem seu ápice no facilmente decorável refrão, com uma belíssima melodia. O segundo hit do disco surge com “American Heartbeat”, dessa vez tendo seu andamento mais calcado no teclado de Peterik e no baixo de Stephan Ellis. Boa música, no entanto mais repetitiva se comparada com as outras. “Silver Girl” abre com um pequeno solo de Frank Sullivan e encaminha-se para o refrão mais carregado de backing vocals de todo o disco. Os vocais conduzem a canção, que revela-se a escolha acertada para encerrar Eye of the Tiger, com mais um belo solo de guitarra.
Track List:
1. Eye of the Tiger
2. Feels Like Love
3. Hesitation Dance
4. The One That Really Matters
5. I’m Not That Man Anymore
6. Children of the Night
7. Ever Since the World Began
8. American Heartbeat
9. Silver Girl
Espero que tenham curtido a estreia da seção e a escolha desse disco para abrir os trabalhos. Nessa coluna pretendemos abordar uma gama variada de artistas que sempre ou em algum momento de suas carreiras tiveram discos que podem ser rotulados como AOR. Dessa maneira, podem aguardar desde álbuns de artistas mais identificados com a música pop até de bandas que conseguiram mesclar o gênero com o heavy metal ou com o rock progressivo. Possibilidades não faltam. Até a próxima!
eye of the tiger… a musica…. é uma daquelas poucas que não há o que falar…. é um HINO….
Realmente …
Uma coisa me me incomoda ao falar de AOR , assim como no Rock em geral , sao as modinhas , as pessoas curtem apenas o mainstream , as musiquinhas dos comercias do cigarro Hollywood , e inclusive atualmente , varias maravilhas do AOR tem saído ano após ano , destaco ja em 2011 o maravilhoso Last Autumn's Dream , e do final de 2010 um dos melhores do ano, o First Signal , além do MAravilhoso album do Michael Kiske em parceria com Amanda SOmmerville.
Quanto ao Survivor , assim como o Journey , classicos absolutos
Porra, o "First Signal" é muito legal, e o mais estranho é que o Harry Hess não é compositor de nenhuma das faixas! Fizeram na medida pra ele. O disco da Amanda MEUAMOUURR Sommerville com o Kiske também é interessante e merece boas audições. Vou atrás do Last Autumn's Dream!
Eye of the Tiger…um hino de uma geração!!
clássica demais!!!!!
O dono da Frontiers, Serafino, adora fazer isso. Contrata o Dennis Ward para escrever e produzir o disco, e pega os vocais que ele gosta para fazer um projeto novo. First Signal, Place Vendome…
Essa Frontiers chega a parecer mentira, olha o cast com o qual eles trabalham! Parece que a gravadora é maneira de lavar dinheiro da máfia napolitana, heheheh…
Falando sério, a gravadora geralmente tem se dado bem nesse intento: pega o primeiro disco do Place Vendome e o primeiro do From the Inside, apenas para citar dois exemplos… é brincadeira!
E tem o disco do WET também, com o Jeff Scott Soto… não é da Frontiers também?
Sim, é da Frontiers, e foi mais um projeto que o "chefe" idealizou, escolheu os musicos, as musicas, e mandou gravar. Mas ficou sensacional!
GRande disco…Alias o Survivor na fase Dave Bickler So lançou discos maravilhosos e emocionantes.Eye of the tiger é um hino da mesma proporção de hinos como Don't stop believin(Journey),Dust the wind(kansas),Rosana(Toto),I Want to Know What Love Is(Foreigner),Baby(Styx),More than a feeling(Boston),Only time will tell(Asia) e Can't Fight This Feeling(Reo speedwagon),so para citar os maiores hits das maiores bandas de Aor de Todos os tempos.Estas são musicas imortais que sempre constarão em nossas festas entre amigos ,nos nossos filmes prediletos etc…Clássico absoluto
Putz, lendo esses nomes que o Jr citou tive arrepios pelo corpo… não necessariamente de prazer…
E eu já curti todas essas quando tocaram nas rádios nos anos 80… vixe!
O Jr já fez a lista dos próximos I Wanna Go Back, hehehe
do Toto eu prefiro Pamela, assim como do Styx eu creio que Too Much Time on My Hands é a melhor da fase AOR. Senti falta de You've Lost that Loveling Feelin' do The Firm na lista, tinha outra banda com nome de estado americano q fazia sucesso, mas não me lembro o nome
Duvida: A-há foi AOR no início de carreira???
Belo texto Diogo, parabéns. Vou reouvir Survivor e comento com mais calma depois, estou delirando numa coisinha recente de 1973. E QUE COISINHA!! Lindia, hehehe
Micael, preste atenção que o Jr rotulou essas músicas como oa maiores hits das bandas citadas, e não suas melhores canções. Eu, por exemplo, das mesmas citadas, posso dizer que prefiro outras, como "Winds of March" (Journey), "The Wall" (Kansas), "Endless" (Toto), "Starrider" (Foreigner), "Suite Madame Blue" (Styx), "A Man I'll Never Be" (Boston), "Without You" (Asia) e "Roll With the Changes" (REO Speedwagon). Mas em se tratando de hits mesmo, a lista do Jr é quase indiscutível!
Mairon, eu diria que o primeiro álbum do A-ha não se enquadra como AOR, em especial por ser bastante calcado no Synth Pop, mas acredito que o segundo álbum, "Scoundrel Days", tenha uma forte relação com o gênero SIM, e já fica uma ótima sugestão para próximas colunas.
Diogo, lendo a lista do Jr eu descobri que conheço bem mais coisas de AOR do que pensava… me auto surpreendi!
Só falta eu começar a gostar da coisa… aí tô perdido!
Acho que em termos de maiores hits a lista é mais ou menos essa mesmo. Mas sei muito, mas muito bem, que "hit" não significa "melhor", ou por acaso a melhor música dos Ramones é "Pet Sematary"? Bem capaz…
A-ha AOR? Nossa, não vão me convencer disso não… discordo plenamente… A-ha é popzinho vagabundo calcado nos teclados e synths, mas eu gosto…
Não vou correr atrás de coisas do A-ha, mas aquele disco que tem Cry Wolf (e a propria Cry Wolf) sempre achei AOR, só que como não sou entendido, lanço aqui a pergunta. A-ha é popzinho vagabundo calcado nos teclados e synths, e eu NÃO GOSTO, mas ele e Depeche Mode fizeram algo na linha AOR. Fuçando até New Order deve ter algo AOR.
AOR não é a minha praia.