Maravilhas do Mundo Prog: Genesis – The Colony of Slippermen
Por Mairon Machado
Voltamos então ao ano de 1974, quando o grupo fazia sua primeira grande turnê mundial. Peter Gabriel consagrava-se como um dos maiores performancers daquele momento, utilizando fantasias e fazendo encenações que ilustravam as histórias das canções do grupo. Musicalmente, o quinteto estava afiado, vivendo um momento fantástico através de suas individualidades e também como conjunto.
Selling England by the Pound, o álbum que estava sendo excursionado, havia colocado o Genesis no Top 5 britânico, graças a gema pop “I Know What I Like (In Your Wardrobe)”, e tudo parecia correr bem no jardim inglês, até que veio a mais brilhante e ousada ideia da vida de Peter Gabriel: a narração de uma história fictícia envolvendo drogas, alienígenas, Nova Iorque e diversos outros atrativos. O projeto começou a ser criado de forma inconvencional: Após o término da Selling England by the Pound Tour, o grupo mandou-se para a fazenda Headley Grange (utilizada pelo Led Zeppelin para gravar parte de III, Led Zeppelin e Houses of the Holy), afim de descansar e viver em harmonia, e assim, começar a cômpor o sexto álbum do grupo.
Porém, a esposa de Gabriel estava passando por uma complicada gravidez, sendo que o bebê, quando nasceu, ficou três semanas na incubadora. Gabriel acabou não indo para a fazenda, e insistiu em criar as letras do novo álbum enquanto o grupo criava a música. A ideia não foi bem aceita, gerando o primeiro atrito na banda, principalmente entre Gabriel e Rutherford, já que o segundo havia proposto outro tema para o álbum, baseado em um conto inspirado na obra O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry.
Enquanto as canções eram criadas em Headley Grange, Gabriel anotava as principais partes da estranha história de Rael, um cidadão com origem porto-riquenha e que vive na cidade de Nova Iorque. Muitos fatos narrados na Maravilhoso e complicado texto da história foram retirados de sonhos que Gabriel teve durante a turnê, os quais ele escrevia logo após acordar, e agrupava de determinada forma que os mesmos só foram fazer sentido para o vocalista durante a turnê de promoção do novo álbum, batizado The Lamb Lies Down on Broadway, um dos mais significativos e importantes discos do rock progressivo.
Ao lado de Tales from Topographic Oceans (Yes), Thick as a Brick (Jethro Tull), The Wall (Pink Floyd) e 666 (Aphrodite’s Child), The Lamb Lies Down on Broadway é daqueles raros discos que ou você se envolve com a história e ama o mesmo, ou não entende nada e acaba odiando. No caso específico do álbum do Genesis, a longa (e complicada, como citada anteriormente) história de Rael em busca do irmão John nos túneis subterrâneos de Nova Iorque gera sentimentos opostos, não só pela letra, mas pelas músicas e o estilo diferente que o Genesis surgiu em 1974, quando o LP duplo chegou às lojas.
O grupo praticamente abandonou as longas suítes que eram o foco em Foxtrot e Selling England by the Pound, concentrando-se em canções com pouco menos de cinco minutos de duração, repetições de temas e excesso de sintetizadores, trazendo uma modernidade jamais ouvida no rock progressivo britânico até então (não daquela maneira).
Passear pelos caminhos percorridos por Rael é um desafio literário que não me atrevo a fazer nesse momento. O próprio Gabriel, autor da história, só conseguiu compreender e contar a mesma de forma clara anos depois do disco já ter sido lançado. Porém, um resumo tornasse necessário para entendermos o que ocorre na nossa Maravilha de hoje. O álbum começa portanto com Rael pelas ruas de Nova Iorque, um jovem delinquente, que faz pichações em metrôs e paredes tentando provar a si mesmo que sua origem caribenha não é algo a ser temido.
Repentinamente, uma nuvem negra transforma-se em um estranho balão que pousa no meio da Times Square, na rua 47, virando uma superfície rígida na qual mostra imagens de um outro mundo, expostas de forma tridimensional. A tela avança sobre Nova Iorque, sugando tudo o que vê pela frente, inclusive o próprio Rael.
Nosso herói caí no mundo subterrâneo dos alienígenas, em uma espécie de caverna, e lá passa por diversos apuros que são narrados nos mais de noventa minutos de duração do disco. A principal interrogação na história é se o que acontece é um sonho de Rael, uma alucinação ou realmente, todas as aventuras (e desventuras) de The Lamb Lies Down on Broadway estão ocorrendo.
O fato é que na caverna, Rael acaba vendo seu irmão, John, enquanto está aprisionado em uma jaula construída por estalagmites e estalactites. Ele clama por socorro, mas seu irmão foge do local (“In the Cage”). Após livra-se da jaula, Rael parte em busca do irmão em uma jornada na qual ele conhece seres inanimados (A “The Great Parade of Lifeless Packaging”, exposição para compra de pessoas normais que foram abduzidas e ficaram sem movimentos), tenta uma fuga frustrada através de uma câmara com trinta e duas portas (“Chamber of 32 Doors”), tem um encontro com a morte (com “Here Comes the Supernatural Anaesthetist”), e envolve-se em um relacionamento amoroso com sereias répteis (“The Lamia”) que é o ponto chave para a chegada na Maravilha de hoje.
Durante “The Lamia”, uma horripilenta relação sexual ocorre. As Lâmias (três sereias répteis com cabeças pequenas e seios de mulheres) estão em um lago de água rosada, com paredes cobertas de veludo e decorado com peças de ouro, local esse que aparece após a fracassada tentativa de voltar para a superfície. Ao ver as Lâmias, uma paixão incontrolável toma conta de Rael, que não resiste ao convite das sereias para provar a água do lado. Ao beber a água, gotas fluorescentes azuis brotam da pele de Rael, sendo as gotas lambidas pelas Lâmias, que envolvem o corpo de Rael como uma jiboia prestes a abocanhar sua presa.
Entregue à sedução das Lâmias, Rael não sente mais seu corpo, e mal percebe quando elas começam a morder seu corpo, arrancando gotas de sangue. O sangue é um veneno para as sereias, que começam a tremer, levando-as a morte. Em uma tentativa desesperada de trazer as lâmias de volta, Rael come os corpos das sereias, e abandona o lago através de uma passagem escura, que o leva para um bairro bizarro.
Essa é a colônia dos Slippermen, e a chegada na colônia é a primeira parte da Maravilha, chamada “The Arrival”. A canção surge com barulhos do moog e notas da guitarra, em um clima oriental, além de uma percussão imitando gotas, simulando a caverna das Lâmias da qual Rael está saindo, chegando então na colônia dos Slippermen.
Os Slippermen são monstrengos, figuras destorcidas grotescas, com o corpo cheio de partes inchadas e partes que estão em carne viva. Os lábios grossos envolvem boa parte da face, e uma gosma melequenta escorre pelas mãos e pés da criatura. É assim que Rael os narra no início durante as duas primeiras estrofes da canção, trazendo o órgão de Banks intercalando notas, enquanto Hackett dedilha a guitarra e a cozinha Rutherford/Collins constroí uma complicada base, com uma quebrada que demora para nossa mente assimilar.
Na segunda estrofe, Rael conta da aproximação de um dos seres. É interessante que na parte vocal, Gabriel tem a companhia dos vocais de Collins nas últimas sentenças de cada estrofe, dando um ar ainda mais festivo para o andamento cômico que leva os vocais. O saudoso Slipperman pede para Rael não ficar assustado, que todos são do bem, e que o que ele está vendo nada mais é do que sua própria figura, pois todos são iguais. A voz de Gabriel durante esse trecho é arrastada e nojenta, como de uma cobra falando nos filmes de história infantil, e nesse momento, “The Colony of Slippermen” ganha novos rumos com a entrada do moog.
A sequência de notas decrescentes no moog é acompanhada por marcações de guitarra, baixo e bateria, enquanto Rael se pergunta: “Eu? Igual a você? Desse jeito?”. O moog agora faz uma escala saltitante, enquanto a base guitarra, baixo e bateria, gera um tema tenso, de apreensão. O Slipperman tenta acalmar Rael, e mostra John entre os vários moradores da colônia. É o início da segunda parte de nossa Maravilha: “A Visit to the Doktor”
O Slipperman (Gabriel agora com a voz normal) apresenta a colônia. conta para Rael que todos que ali estão passaram pela mesma situação com as Lâmias, e que elas sempre se regeneram, mas por outro lado, o cidadão envolvido emocionalmente com as Lâmias acaba ficando daquele jeito (deformado). Rael e John lamentam a situação, mas o Slipperman informa que a única saída para livrarem-se da amarga vida de satisfazer a fome de emoções das Lâmias é visitar o temido Doktor Dyper, o qual tem a solução para os problemas: a castração. Ambos acabam concordando que é melhor estar castrados, e vão até o doutor, que o alerta: “É o fim do seu pênis” (Gabriel faz uma voz rouca para interpretar o doutor), mas Rael consente com a castração e encara a mesa de mármore do doutor.
Esse trecho musical é uma das partes mais belas de The Lamb Lies Down on Broadway. A voz cristalina de Gabriel personaliza-se entre as mágicas notas do moog de Banks, que é um espetáculo a parte na canção. As quebradas marcações de Hackett, Rutherford e Collins fazem a tensão aumentar ainda mais, e Gabriel esbanja dramaticidade para interpretar a agonia de Rael. O moog faz um breve tema, repetido quatro vezes com uma marcação pesada do trio citado anteriormente, destacando as viradas de Collins.
Resistindo a operação, recebem tubos plásticos amarelos esterilizados, na terceira e última parte de “The Colony of Slippermen”, chamada “Raven”. Os tubos contém o membro decepado de cada um, e ambosdevem ser carregados ao pescoço, mas repentinamente, um corvo gigante surge no local. O moog volta a saltitar notas, enquanto bateria e baixo mantem um ritmo cavalgante. Além disso, uma estridente guitarra executa algumas notas ao fundo, até o aparecimento do corvo, que é o solo central de “The Colony of Slippermen”, com Banks mandando ver no moog naquele que é considerado, ao lado de “The Cinema Show”, o solo mais marcante da carreira do tecladista. Sem virtuosismo, Banks apenas desliza seus dedos pelas teclas do moog, fazendo uma sutil escala, praticamente marcial, que ganha força com a entrada do órgão, e claro, com as viradas e batidas de Collins.
O corvo rapta o tubo de Rael, que decide perseguir a ave, para ver aonde a mesma irá aterrisar. Talvez seja a saída daquele local. Rael insiste para John segui-lo, mas John responde, dizendo que não irá segui-lo, e foge do local, abandonando Rael mais uma vez. Nesse trecho, o andamento é o mesmo da parte inicial de “Raven” durante o momento do rapto, e a fuga de John possui o mesmo andamento de “The Arrival”, com Collins e Gabriel dando um espetáculo de vocalizações.
Rael persegue a ave, e ruma em direção a possível saída, dando tudo o que pode para acompanhar o ritmo frenético do corvo, que acaba soltando o tubo em um lago localizado abaixo de uma grande ribanceira, impossível de ser escalada, e mais uma vez, o medo e a agonia tomam conta de Rael. Aqui, a parte musical é a mesma de “A Visit to the Doktor”, mostrando a genialidade maravilhosa de “The Colony of Slippermen”, quando suas três partes acabam fundindo-se em uma única e sólida composição.
Rael amargura novamente onde está, e ouve vozes que não sabe diferenciar se são reais ou sonho. Ao mesmo tempo, ouve gritos desesperados de John, boiando no lago. Rael mostra mais uma vez sua simpatia pelo irmão, e arrisca-se jogando-se do desfiladeiro no lago, que na verdade é um rio, o qual arrasta o corpo de John. Rael agarra-se a uma pedra, e consegue resgatar John, mas, ao ver o rosto do irmão, enxerga a si mesmo. John está morto, e Rael também irá morrer. Ambos os corpos começam a se desmanchar em formato de uma neblina, até dissolverem-se completamente, ficando no ar como uma venenosa e intoxicante precipitação. É o fim de uma das melhores obras da música em todos os tempos.
Com exceção da faixa de abertura, que é a faixa-título, todo o resto do álbum é narrado em primeira pessoa, ou seja, Rael está contando a história, o que deixa a dúvida se realmente ele presenciou os fatos ou os mesmos eram sonhos (ou alucinações) que esteve em sua mente.
A parte teatral de The Lamb Lies Down on Broadway foi o auge da carreira performática que o grupo apresentou nos palcos. A disposição era simples, com quatro pequenas elevações estavam dispostas: duas para Gabriel, uma para Rutherford e uma para Hackett. Cada detalhe do palco, como andaimes e cornetas dos alto-falantes, era pintado de preto, com a intenção de absorver o máximo possível de luz, preservando a imagem de Gabriel (ou Rael).
Além disso, o Genesis apresentou uma grande novidade na época: um enorme telão que imitava a capa do álbum, contando com três diferentes projeções. Neste telão, 1.450 slides diferentes, distribuídos em 18 cassetes, eram projetados por projetores no estilo carrosel (os mais jovens não sabem do que eu estou falando, certamente), que ficavam localizados atrás da banda.
A intrincada engenhoca era conduzida por Dave Lawrence, que seguia fielmente uma sinopse com três páginas dizendo quais slides deveriam aparecer em determinadas parte de uma canção que estava sendo apresentada. Os cassetes eram sempre modificados nos intervalos, onde Gabriel seguia a narrativa da próxima etapa (ou lado) do álbum. Obviamente, em muitos lugares a sequência não deu certo, mas mesmo assim a visão que se tinha daqueles slides era impressionante. Pela primeira vez o público experimentava a sensação de estar ao mesmo tempo em um cinema e num show de rock.
Por fim, as fantasias de Gabriel tornaram-se caprichadíssimas. Travestido de Rael, ele encarnou o personagem de forma única. No início das apresentações, Rael surge apenas com jaqueta e calça de couro, a cara pintada com forte maquiagem negra e cabelos curtos, e com o passar do espetáculo, ele tira a camisa, canta e toca flauta deitado em um canto do palco e também faz jogo de sombras com uma fantasia que lembra uma árvore.
O ápice das apresentações ficava exatamente para a sequência “Lamia” e “The Colony of Slippermen”. Em “Lamia”, Gabriel surgia envolto por um gigante cone, com pinturas de cobras e textura de pele de réptil, a qual circundava o vocalista, ora girando para a esquerda, ora para a direita.
Após alimentar-se das sereias, uma imensa bolha vermelha era iluminada embaixo do teclado de Banks. Dentro dela, uma estranha forma rasteja em direção a plateira. É Rael transformado em um Slippermen. A aparência é simplesmente horripilante, com uma grande cabeça, olhos esbugalhados, cheia de bolotas e imperfeições, dentre elas uma gigantesca genitália. A representação acabou marcando a carreira de Gabriel como mais uma fantasia importante na sua carreira, ao lado do velhinho de “The Musical Box”, o Homem-morcego de “Watcher of the Skies” e o Homem-flor de “Supper’s Ready”.
A turnê do álbum, embora grandiosa em termos de produção, foi um grande fracasso comercial deixando a banda repleta de dívidas. Em termos de vendas, The Lamb Lies Down On Broadway alcançou a posição 10 no Reino Unido. Os americanos demoraram a absorver a ideia de Gabriel, com o disco alcançando somente a posição 41, o que não significa nada perto da exposição que o trabalho veio a sofrer após seu lançamento, tanto que na própria América o álbum veio a receber disco de ouro (500 mil cópias vendidas) no dia 20 de abril de 1990, fato que já havia ocorrido na Inglaterra em 01 de fevereiro de 1975.
Gabriel anunciou sua saída do Genesis ainda durante a turnê de The Lamb the Lies Down on Broadway, mas afirmou que honraria com os compromissos já agendados, levando-o a ficar com a banda até o início de 1975. Os problemas pessoais influenciaram bastante na sua decisão, mas ele mesmo admitiu, anos depois, que já queria fazer sozinho as composições de que gravava. Ou seja, era questão de tempo sua saída. Ele ficou afastado dos palcos por pouco mais de um ano, voltando a cena em 1976 com uma carreira solo de muito sucesso (fantasias e encenações teatrais). Para o quarteto restante, foi um alívio sair das pressões e inseguranças de Gabriel, que lamentava e chorava muito após as apresentações, exausto e confuso sobre o período de sua vida.
O Genesis continuou com Collins nos vocais, e ainda lançou dois bons discos como um quarteto, A Trick of the Tail (1976) e Wind and Wüthering (1976), cada uma contendo pelo menos uma candidata a Maravilha Prog: “Ripples” no primeiro e “Unquiet Slumbers for the Sleepers…” / “… In that Quiet Earth” no segundo. Depois, Hackett seguiu carreira solo e o Genesis seguiu como um trio, peregrinando para um mundo pop que fez da banda uma das mais bem sucedidas nas paradas mundiais, vendendo como água, mas muito longe dos áureos anos quando Gabriel esteve à frente dos vocais, gerando Maravilhas Prog com muita naturalidade, período esse que é sonhado pelos fãs até hoje, agonizando e implorando por um retorno aos palcos desses incríveis e talentosos músicos.
Em novembro, começamos nossa turnê pelas Maravilhas do Yes, a minha favorita das bandas do progressivo britânico.
Como o pessoal da Consultoria deve saber, esse é o disco da fase clássica do Genesis (com Peter Gabriel nos vocais e o Phil Collins ainda tocando bateria) que EU menos gosto, afinal tenho meus motivos para isso: além de duplo, é pretensioso ao extremo, traz um conceito muito esquisito por parte do agora egocêntrico frontman (seria este o seu último trabalho com a banda), foi elaborado em meio ás tensões internas que se prolongaram também durante a turnê promocional em que este álbum (que completará 50 anos de lançamento em novembro desse ano) foi tocado mais de 100 vezes na íntegra, porém as performances do Gabriel já não traziam a mesma graça de antes.
Eu tenho o vinil duplo do The Lamb com o selo do Chapeleiro Maluco (The Famous Charisma Label), mas apesar de gostar de algumas canções nele contidas como a faixa-título, “The Carpet Crawlers” (muito mais conhecida pelos shows posteriores com Collins atuando como vocalista principal após a saída de Gabriel, e isso por uma ironia do destino), “In the Cage”, “The Chamber of 32 Doors”, “The Lamia” (que traz o melhor solo de Steve Hackett na minha opinião, empatado com o de “Firth of Fifth”) e a maravilha prog aqui analisada (que é top 5 das minhas favoritas do Genesis), em seu todo o disco não me convence tanto quanto os três anteriores dessa fase clássica do grupo – Nursery Cryme (1971), Foxtrot (1972) e, principalmente, o meu adorado SEBTP (1973). Acho que se todo o conceito de TLLDOB coubesse em um disco simples ao invés de duplo (isto é, se dependesse do próprio Gabriel), o resultado certamente sairia bem melhor, muito diferente e bem mais “digestivo” do que saiu em 1974.
Enfim, da mesma maneira que eu não gosto do Seventh Son of a Seventh Son (o tal disco controverso e polêmico do Iron Maiden, lançado em 1988), também não gosto deste álbum duplo de 1974 do Genesis, que marca o fim de sua fase clássica e que para mim soa mais como um trabalho solo do Gabriel e os outros quatro membros atuando como “banda de apoio” dele – incluindo o Collins, coitado… No mais, é só isso.
“The Lamb…”, o álbum, é um dos meus favoritos do Genesis, mas da fase clássica com o Gabriel é o que menos gosto (estou descontando o “From Genesis to Revelation” dessa lista, que nunca consegui curtir). E até hoje não consegui entender o que Peter Gabriel queria contar no disco. As músicas são excepcionais, mas depois de muito ler o texto da parte interna da capa e as letras, acabei desistindo de tentar entender o conceito. Para mim é a melhor forma de curtir esse disco: apenas ouvir, sem querer decifrar.
Ainda bem que você tem o pensamento quase parecido com o meu sobre TLLDOB, Marcelão… Gosto do álbum, mas dentre os meus favoritos da fase clássica do Genesis, é o que eu menos gosto junto com o Trespass (esse é um ano antes de Hackett e Collins entrarem no line-up da banda). Também não consigo captar o conceito por trás dessa loucura toda bolada pelo Gabriel, mas você falou certo: para quem gosta mesmo do The Lamb, independente da forma que foi (ou que deveria ter sido) lançado e apesar de toda a história por trás de sua concepção, a melhor forma de curti-lo é somente coloca-lo na vitrola e aproveitar a sua (longa) viagem de quase 1 hora e 40 minutos. Nada mais do que isso!
Marcello, eu tenho para mim que toda a história é uma viagem lisérgica do Rael, e que nada disso aconteceu. É o início do período Gabriel paz e amor (ele sempre foi na verdade, mas aqui começa a realmente despirocar), e como o próprio Gabriel disse, nem ele entendeu TLLOB quando do seu lançamento. Algumas coisas só foram fazer sentido nas apresentações
Tive a oportunidade de ver o show que o Genesis Revisited fez em porto alegre, 2007 se não me engano, com o palco original. Show fantástico, com unico detalhe que o “mike rutherford” era canhoto. Mas o som foi perfeito, e o palco encantador. O boxe archives, que tem dois cds dedicados a tour do TLLOB, é para ser ouvido com atenção por qualquer admirador de progressivo
Obrigado pelos comentários
Uma viagem de Rael faz muito sentido… Eu tenho essa versão ao vivo no Archives, muito boa, a banda consegue reproduzir bem o clima do disco original. Pena que não parece existir nenhuma filmagem profissional completa dos shows da tour original.
O Peter Gabriel evoluiu de maneira bem diferente do Genesis, como mostram seus discos-solo. Eu não sou muito fã da sua carreira solo, sou daqueles que se contentam com as coletâneas (sinto falta do Plays Live, que tinha em vinil e nunca encontrei completo em CD a um preço acessível). TInha vontade de ver os cinco juntos novamente, mas nunca acontecerá…