Praying Mantis – Time Tells No Lies [1981]
Por Fernando Bueno
Sempre quando se comenta sobre a new wave of british heavy metal (ou NWOBHM) algumas bandas são obrigatoriamente citadas como Iron Maiden, Def Leppard, Saxon, Diamond Head… Junto dessas mais óbvias, o londrino Praying Mantis também é sempre lembrado. Porém, apesar de ter esse reconhecimento, tenho a impressão que a banda é mais conhecida pela história que fez junto das outras nesse importante movimento musical do que propriamente por sua música.
Já escrevi em alguns dos textos que fiz sobre a NWOBHM que as bandas dessa época misturavam o que hoje diferenciamos facilmente entre heavy metal e hard rock. Essa mistura musical foi influenciada por Rainbow, Deep Purple, Scorpions, Thin Lizzy, UFO e pelo que o Judas Priest fez nos anos 70 e várias outras. E é exatamente isso que encontramos no som do Praying Mantis, um hard/heavy com bastante melodia que chegou a evoluir até ficar próximo ao AOR no decorrer de sua conturbada carreira.
Um fato interessante do grupo, e que fica um pouco esquecido, é que eles também gravaram um The Soundhouse Tapes no mesmo ano que o Iron Maiden lançou esse cobiçadíssico item. Não sei o que faltou para que eles se tornassem melhor reconhecidos já que competência para isso eles tinham. E isso fica claro ao se ouvirTime Tell no Lies, álbum que se tornou um dos grandes clássicos da NWOBHM.
A banda iniciou na primeira metade da década de 70 com os irmãos Tino Troy e Chris Troy. Tino fazia a guitarra e voz, enquanto seu irmão era o baixista. Nas primeiras gravações, ou seja, em singles e o já citado The Soundhouse Tapes, a formação ainda tinha Bob Sawyer na segunda guitarra e Mick Rasome na bateria. Pouco antes das gravações de seu debut as duas primeiras, das inúmeras que viriam acontecer no decorrer de sua carreira, mudanças de formação. Entram Dave Potts na bateria e Steve Carroll na segunda guitarra. Este último também assumiu o posto de vocalista. Tino Troy voltaria a cantar dez anos depois na gravação do álbum Predator in Disguice, de 1991.
“Cheated”, a faixa de abertura, é muito parecida com o tipo de som que o levou o Def Leppard ao estrelado. Tem refrão fácil, grudento e sonoridade bem acessível, porém sem toda a produção que a banda de Joe Elliot possui. Foi um dos singles do álbum e saiu logo depois de outro que continha a ótima versão do super clássico “All Day & All of the Night” dos Kinks mostrando que a então nova onda do metal britânico também estava, e muito, ligada aos pioneiros do rock inglês. Lembram quando o Van Halen arrasou em uma versão de ”You Really Got Me”? Particularmente, acho o resultado parecido. “Running for Tomorrow”, apesar de seu início lento, e “Rich City Kids” aceleram um pouco as coisas com seus riffs simples, bastante melodia e bons refrãos. Essas faixas do começo do disco já mostram que o trabalho de vozes é uma característica forte do Louva-Deus.
Na power balada “Lovers to the Grave” a musicalidade do grupo se mostra mais abrangente. “Beads of Ebony” tem um jeitão de Iron Maiden lá do início com o Paul Di Anno, o mesmo acontece com “Panic in the Streets”, nessa última principalmente por conta dos ótimos duelos de guitarras.
Para fechar Time Tell No Lies duas das faixas mais comentadas pelos fãs. “Flirting with Suicide” com seu refrão cheio de backing vocals, um ótimo solo e uma similaridade do seu riff principal com o de “Wasted Years” e “Children of the Earth” que possui uma bela passagem mais lenta lá pela metade da faixa. Ouvir esse disco é comprovar o quanto a banda foi ignorada e poderia ter tido melhor sorte.
Uma edição mais recente, de 2005, possui três bônus, duas faixas ao vivo, “Flirting with Suicide” e “Panic in the Streets” e uma sobra de estúdio, a boa “30 Pieces of Silver”. Vale a pena procurar por essa edição que tem um encarte bem caprichado.
Já citei antes sobre as diversas mudanças de formação que a banda teve ao longo dos anos. Muita gente entrou e saiu do grupo inclusive Paul Di Anno e Clive Burr ambos ex-Donzela de Ferro, Bernie Shaw que foi do Uriah Heep, Doogie White, que tocou com o Malmsteen, Rainbow, Tank, mas acabou nem gravando nada com o próprio Praying Mantis, e Gary Barden, ex-Michael Schenker Group. Chegaram até a trocar de nome durante um período da década de 80 para Stratus, quando Bernie Shaw e Clive Burr estavam no grupo, que deu como resultado o álbum Throwing Shapes de 1985.
Track list:
1. Cheated
2. All Day and All of the Night
3. Running for Tomorrow
4. Rich City Kids
5. Lovers to the Grave
6. Panic in the Streets
7. Beads of Ebony
8. Flirting With Suicide
9. Children of the Earth
Bela recuperação de um clássico pouco conhecido. O Praying Mantis era uma banda muito legal e este disco, em especial, é muito bom! Muitas bandas legais da NWOBHM não alcançaram o reconhecimento merecido, por isso é bom recuperá-las!
Eu sou da opinião que o Praying Mantis não tem nenhum disco ruim….
Excelente texto Fernando, banda que curto demais, junto com Saracem são as mais cativantes ao meu vê.