Meytal – Alchemy [2015]

Meytal – Alchemy [2015]

Alchemy

 

por Ulisses Macedo

A Internet tem afetado drasticamente a forma como os músicos se relacionam com os fãs. O que logo nos vem a mente é a popularidade do formato .mp3 que, aliado a serviços de compartilhamento P2P, causou uma enorme dor de cabeça a gravadoras e re-organizou o cenário musical de forma irreversível. Outro grande exemplo são os serviços de streaming de vídeo; temos o YouTube como principal prestador desse serviço, que amplia grandemente o alcance de qualquer coisa que seja lá postada. Músicos novatos aproveitam esse alcance para divulgar seu trabalho – alguns explodem, outros continuam no ostracismo, e muitos apenas postam os vídeos por diversão.

A baterista de origem israelense Meytal Cohen (o nome dela é este mesmo!) é uma das mais conhecidas no meio virtual por seus covers de diversos artistas do rock e heavy metal – seu vídeo de “Toxicity” (System of a Down), o primeiro a ser gravado, tem hoje mais de 10 milhões acessos. Filmado com amigas violinistas, a intenção era aparecer no America’s Got Talent. Ela não foi para a TV, mas logo se tornou conhecidíssima no YouTube, executando com perfeição composições de bandas como Dream Theater, Tool, Slipknot, Judas Priest e Rush.

Alchemy é realmente o nome ideal para o primeiro disco da senhorita Cohen. O álbum parece representar um processo que foi iniciado há varios anos, quando ela insistiu em aprender a tocar bateria a despeito das reações que recebia – “você faz muito barulho, e está gastando tempo e dinheiro”, diziam -, passa pela esperteza em se manter no YouTube frente ao sucesso inesperado e, finalmente, converge na decisão de começar a compor material próprio. A primeira a surgir foi a cadenciada “Breathe”, logo lançada como single. Jogando com luz e sombras, evidencia o baixo e a bateria na maior parte do tempo e apresenta muito bem o vocalista Eric Emery. Entre os primeiros ensaios e o resultado final, um bom bocadinho de gente já passou pela banda da Meytal, mas a formação que gravou o disco é completada pela dupla de guitarristas Travis Montgomery e Doc Coyle e pela baixista Anel Pedrero.

A banda

Nothing” tem mais energia, trazendo um ótimo trabalho da dupla de guitarristas, breakdowns e um refrão pegajoso. Aliás, os refrões nesse disco são uma delícia e realmente memoráveis. “Everybody Hates You Now” é bem agressiva, sustentada pelos backing vocals e pela bateria bem sólida de Meytal, além do solo competente de Montgomery; na minha opinião, não só tem o refrão mais foda do álbum, como é simplesmente a melhor faixa. Nesse ponto do CD já noto duas coisas importantes: a mixagem é ótima – ouvi o disco uma meia dúzia de vezes e, além de perceber os instrumentos com uma boa clareza, a audição não é nem um pouco cansativa. O segundo ponto é em relação ao estilo musical: talvez o leitor, como eu, nunca tenha ouvido falar de Dark New Day, Ra ou Sevendust, bandas com as quais os primeiros ouvintes de Alchemy chegaram a comparar, mas isso não é motivo para preocupação; o disco é bem balanceado, sendo um amalgáma de metal alternativo, nu metal e metalcore, além de uma pitada discreta de progressivo. Em suma, uma boa representação do gosto musical que Meytal exibe em seu canal. A intensa “Shadow in Disguise” é provavelmente o melhor exemplo da sonoridade do disco: trabalho de guitarras no melhor estilo nu metal, com guitarras típicas do estilo mescladas a dive bombs, além de solos breves, mas com pontes bem feitas e vocal que alterna entre o limpo e o rasgado.

“Behind These Walls” é a única balada do disco, com bom uso de harmônicas para criar uma beleza introspectiva que complementa perfeitamente o trabalho vocal de Emery; por sua vez, os riffs de “Killing Time” mantém o pique até a chegada de “Torn in Two”, que transita entre o melódico e o agressivo com facilidade. “Immoral Exorcist” é outra faixa que eu gostei bastante, trazendo uma pegada que lembra o Disturbed, mas a ponte para o final da música tem um momento de intenso estouro, com guturais que remetem ao Slipknot. “Dark Side Down” é sólida, mas não traz nenhuma surpresa; já “Tear Me Apart” encerra o disco com bastante energia e em grande estilo.

Alchemy foi concebido com a ajuda da plataforma de crowdfunding Kickstarter. Iniciada em 2013, a meta era arrecadar US$60.000 doláres. Conseguiram impressionantes US$144.341! Cohen afirma que a banda chegou a receber a oferta de uma gravadora grande, prometendo um contrato que já garantiria mais quatro álbuns. Mas a baterista alerta: “Pra resumir a história, assinar o acordo significaria que todo o esforço e trabalho que coloquei na minha carreira e neste projeto seriam propriedade do selo – não era exatamente o que eu tinha em mente”. Assim, ela preferiu permanecer independente. O dinheiro levantado pela campanha no Kickstarter foi muito bem utilizado, entretanto: a produção é ótima, a arte de capa é lindíssima (quero uma camisa com essa arte!) e os fãs que contribuíram com quantias acima da média puderam levar vários itens exclusivos, como baquetas, pôsteres e até objetos que perteceram a Cohen há muito tempo, como seu primeiro livro de aulas de bateria.

A estréia de Meytal não vai revolucionar o mundo da música. Mas é uma ótima estréia e, acredito eu, o começo de uma carreira bem-sucedida.

 

Meytal Cohen
Meytal Cohen

Track list

  1. Breathe
  2. Nothing
  3. Everybody Hates You Now
  4. Shadow in Disguise
  5. Behind These Walls
  6. Killing Time
  7. Torn in Two
  8. Immoral Exorcist
  9. Dark Side Down
  10. Tear Me Apart

7 comentários sobre “Meytal – Alchemy [2015]

  1. Muito legal o Nu Metal de breque da moça. O que não ficou claro e estou curioso é a respeito das composições. São todas dela? Porque fazer covers é uma coisa, mas mandar bem em músicas próprias é o que define o quão longe ela pode chegar.

  2. Não conhecia. Ouvi e não gostei. Por outro lado, vejo o sistema crowfunding tomando conta do mercado. Hoje em dia, para colecionadores, acho que é o melhor caminho que as bandas encontraram para ganhar algum, divulgar seu material e ainda realizar o sonho do fã de ter um produto “especial”.

  3. Ei,amigos consultores,depois vocês fazem uma série a la “Maravilhas do Mundo Prog”?Só que ao invés de ser sobre progressivo,fosse somente sobre PSICODELIA.Caso criem tal série,seria bom nomearem de “Beldades da Psicodelia”

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