Discografias Comentadas: Fernanda Abreu
Por Davi Pascale
Estou de volta com mais uma discografia comentada. E, mais uma vez, trazendo um forte representante da cena oitentista brasileira. Fernanda Sampaio de Lacerda Abreu, ganhou notoriedade como backing vocal da banda Blitz. Bonita e simpática, logo ganhou o coração dos marmanjos. Com o tempo, a garota demonstrou que era muito mais do que um rosto bonito. Carismática, sempre contando com bons músicos em sua volta, provou ser uma artista de talento. Ela não é uma cantora de rock, classificaria seu trabalho como pop, mas começou no gênero e é respeitada entre os roqueiros (ouvintes e músicos). Antes de cantar na Blitz, tinha uma banda de rock junto com o Leo Jaime chamada Nota Vermelha. Embora o foco do nosso site seja o rock, temos o costume de escrever sobre alguém que fuja dos padrões, mas que por algum motivo chame nossa atenção. Sendo assim, convido vocês para conhecerem um pouquinho mais de perto a obra da eterna ‘garota carioca suingue sangue bom’. Som na caixa!
Sla Radical Dance Disco Club (1990):O fim da fase clássica da Blitz se deu em 1986. É comum sempre que um artista de sucesso encerre suas atividades, que seus músicos comecem a lançar discos logo em seguida para não perder o momento. Fernanda fez o contrário. Deu tempo ao tempo. Montou um time coeso, buscou novas referências. Seu álbum de estréia demorou 4 anos para que chegasse às lojas. Seu debut já focava na idéia de fazer um som dançante, mas não tinha uma sonoridade única ainda. Existiam diversas referências: house, disco music, soul, funk, pop. A cena musical atravessava uma situação parecida com a atual: sertanejo tomando espaço do rock, lambada nas rádios e nas novelas. Em meio à todo esse enrosco, a garota veio com um trabalho que até então era inédito no Brasil e com canções bem resolvidas. Começou a explorar aqui a linguagem dos samplers. Algo que ainda não era muito corriqueiro no pop brasileiro. Entre seus parceiros de composição estavam nomes como Fausto Fawcett, Herbert Vianna (Paralamas do Sucesso) e Leoni (Heróis da Resistência, Kid Abelha). Faixas de destaque: “A Noite”, “Você Pra Mim”, “Sla Radical Dance Disco Club”, “Kamikazes do Amor” e “Speed Racer”.
Considero esse um dos melhores trabalhos da cantora. Aqui, Fernandinha foi ainda mais à fundo na linguagem do sampler, mas definitivamente não é um álbum mais do mesmo. Os arranjos diminuíram os beats, a influência de música brasileira começou a aparecer com maior clareza e letras com tons mais críticos começaram a aparecer. “Rio 40 Graus” se tornou um de seus grandes hits. É capaz que muitos que a cantarolam por aí, nunca tenham reparado na letra, mais uma parceria com Fausto Fawcett. Não era exatamente uma homenagem ao Rio, era meio que uma critica, falando sobre as contradições. Da violência dos morros, dos tráficos, na cidade que é vista como cartão postal. Algumas frases como “purgatório da beleza e do caos” e “capital do sangue quente do melhor e do pior do Brasil” davam a dica. A idéia de gravar “Jorge de Capadócia”, de Jorge Ben Jor, veio como uma forma de destruir a imagem de cantora de dance music. Uma maneira dela demonstrar que não queria delimitações para não sofrer limitações. A sigla SLA voltava a aparecer no titulo do álbum. Para quem não sabe o que significa, é um termo criado a partir de seu próprio nome: Sampaio de Lacerda Abreu. Faixas de destaque: “Rio 40 Graus”, “Be Sample”, “Hello Baby” e “Boogie Oogie Oogie”.
Em 1987, várias latas de metal, parecidas com as latas de leite, começaram a surgir no litoral paulista e carioca recheadas de maconha. O navio Solana Star, que vinha da Tailandia, estava na costa do Rio de Janeiro esperando dois barcos que iriam levar o produto até Miami. O DEA (agência governamental de combate às drogas dos EUA) pediu ajuda à Marinha brasileira. Assim que um tripulante percebeu a chegada da Marinha despejou, em um ato de desespero, 15 mil latas ao mar. Esse episódio ficou conhecido como “Verão da Lata”. A expressão “Da Lata” se tornou uma gíria e anos mais tarde se tornou título do terceiro álbum de Fernanda. Musicalmente, explorava ainda mais as origens da musica brasileira ao jogar influências do samba dentro do seu pop classudo. Também começava a trazer elementos do hip hop, que era algo que estava crescendo no Brasil na época. O disco é excelente e ajudou a consolidar seu nome na musica brasileira. Faixas de destaque: “Veneno da Lata”, “Garota Sangue Bom”, “Tudo Vale a Pena”, “Brasil é o País do Suingue’ e “Babilônia Rock”. OBS: Foi nesse álbum que Fernanda provocou a imaginação dos garotos ao aparecer nua na contracapa do disco.
O sucesso do álbum anterior fez com que Fernandinha começasse a ser chamada de ‘garota carioca’ o tempo todo (provavelmente, por conta do refrão ‘garota carioca, suinge sangue bom’). Só que o feitiço virou contra o feiticeiro. Muitos empresários não queriam contratá-la porque achavam que faria uma apologia ao Rio. Fernanda decidiu que seu próximo álbum teria convidados de diferentes cantos do país. Queria mostrar que era uma artista do Brasil. Trouxe Funk n Lata (Rio de Janeiro), Carlinhos Brown (Bahia), Chico Science & Nação Zumbi (Pernambuco), André Abujamra (São Paulo) e por aí vai… O repertório misturava releitura de velhos sucessos com gravações inéditas. Faixas de destaque: “Jack Soul Brasileiro”, “Um Amor, Um Lugar”, “Kátia Flávia, A Godiva do Irajá” e “Bloco Rap Rio”. Discaço!
O quinto álbum de Fernanda tinha como tema as cidades. Musicalmente, continuava com elementos do rap, do samba, do soul, do funk e trazia como diferencial uma aproximação com o universo do drum n bass. A cantora produziu esse trabalho pouco tempo após dar a luz à sua segunda filha, Alice. Isso fez com que ficasse um pouco menos no estúdio do que o habitual. A qualidade do trabalho e a criatividade, contudo, foram mantidas. Embora, nunca tenha curtido sua música de trabalho “Baile da Pesada”, o CD tinha ótimos momentos como “Sou da Cidade”, “São Paulo SP” e “Roda Que Se Mexe”. Mais um tiro certeiro!
Em 2004, Fernanda Abreu lançou esse que, até agora, é seu último álbum de inéditas e, na minha opinião, o mais fraco. Algo preciso reconhecer, contudo. Ela foi ousada. Lançado por seu próprio selo, Garota Sangue Bom (sim, ela já desencanou dessa história), o álbum é totalmente diferente dos demais. Repleto de elementos eletrônicos, arranjos mais lentos, mais zen. Sem medo de experimentações, se utiliza de elementos diversos como citara, beat box, scratches, cavaquinho. Tudo junto e misturado. O disco não é exatamente ruim, mas acho os anteriores mais fortes. Mesmo assim, existem ótimos momentos como “2 Namorados”, “Vida de Rei” e “Eu Vou Torcer”.
Em 2006, Fernanda Abreu lançou o (ótimo) MTV Ao Vivo. Gravado no Rio de Janeiro, entregava uma performance super enérgica e profissional. O set trazia todas suas faixas essenciais, além das inéditas “Baile Funk” e “Dance Dance”. Nesse show, reviveu, pela primeira vez, uma canção dos tempos da Blitz, a (bonita) balada “A Dois Passos do Paraíso”. A cantora anunciou há poucos dias o nome de seu próximo álbum, Amor Geral. Ainda não foi divulgada a data de lançamento. Tudo que revelou é que também está negociando para que, no mesmo período, toda sua discografia seja colocada nas plataformas digitais. Quando lançou Sla Radical Dance Disco Club, a música brasileira também atravessava um período pobre e a cantora conseguiu dar uma balançada no cenário, demonstrando que era possível entrar no universo das rádios fazendo um trabalho criativo e de qualidade. Será que irá repetir o feito agora? Torcemos para que sim! De todo modo, é bom tê-la de volta. Welcome Back, Fernandinha!
Nunca tive apreço pela sonoridade da Fernanda Abreu mas reconheço que ela sempre teve qualidade dentro do pop. Nunca esperaria uma DC dela por aqui. Parabéns pela ideia, Davi!
Obrigado, André. Minha ideia de escrever sobre ela foi justamente para sair um pouquinho do obvio.
Que legal: mais uma matéria que pulou o muro aqui da Consultoria. Espero que outros consultores se inspirem no Davi e tornem público seus, digamos, pecados. E uma mulher bonita e talentosa como a Fernanda Abreu é um pecado e tanto. Que venham mais discografias assim, Davi.
Obrigado, Marco. Também acho ela bonita e talentosa. Vamos ver o que ela vai aprontar no disco que está preparando…
Fernanda Abreu nunca foi do meu agrado, e depois que começou a fazer incursões pelo eletrônico, piorou. Mas por outro lado, para mim ela era o braço direito do Evandro Mesquita, sempre com o jeito mais safado que a Blitz pedia. Uma pena que o grupo não tenha seguido (se bem que hoje, mais velhinhos, acho que eles não iriam fazer tanto sucesso).
Esse ano as mulheres brasileiras estão bem representadas com Elis e Fernanda Abreu. Tomara que em algum tempo venham Gal Costa, Cássia Eller e quiçá uma Clara Nunes??
Pô, e a Clementina?
O Evandro está excursionando com a Blitz nesse momento. De tempos em tempos,eles lançam alguma coisa. Na maioria das vezes, material ao vivo. Só que sem a Fernanda. Depois que saiu, ela nunca mais retornou ao grupo. No disco ao vivo de 2006 da Blitz, lembro que ela fez uma participação em uma musica. Em relação aos cantoras que você citou, as 3 mereceriam uma Discografia Comentada por aqui.
Eu já acho que com Mesquita ela estava pessimamente acompanhada.
KKKKKKKKKKK Bah… Acho a Blitz uma banda bacana. Principalmente, os dois primeiros discos. São ótimos! Você não gosta nem do primeirão? As Aventuras da Blitz?
Muito legal a matéria e as análises dos álbuns, importência e relevância da Fernanda.
Obrigado! Sempre gostei do trabalho dela…
A Fernanda Abreu viu sua matéria que foi publicada na página do Fã Clube Oficial 100% FA e compartilhou em seu Facebook pessoal. https://www.facebook.com/Fernanda-Abreu-Fã-Clube-260029250905/?ref=bookmarks
Eu vi. Fiquei muito feliz. Não esperava que a matéria chegasse nela e, muito menos, que ela compartilhasse.
Pra mim, os discos são bacanas, mas Fernandinha nem precisa abrir a boca pra agradar.
Verdade! Ela sempre foi bonita. Em relação ao som dela, gosto também. Pop, mas bem feito.
Se forem fazer uma discografia comentada do Yes nas próximas semanas, sugiro que encham a boca para falar do “Tales from Topographic Oceans” (encham até entupir); e quando for falarem do “Close to the Edge” digam um monte de coisas contrárias vindas de minha parte e digam também que o melhor disco do progressivo é o “Vendendo Inglaterra pelas Libras” tá? hehehehehehe.
Fico no aguardo do prato principal, mas por enquanto, vou degustando o tira-gosto que é esta discografia da Fernandinha Abreu.
Podia ter um pouco mais de respeito a postagem do Davi? Já encheu o saco falar de discografia do Yes, dessa louvação ridícula do Tales e desses seus comentários sempre envolvendo Yes ou Genesis em várias postagens que sequer tenha a ver com os ditos citados.
Vai sair discografia do Yes quando alguém se prontificar a isso e quanto mais você insiste, menor é a probabilidade. É uma falta de respeito da tua parte em toda postagem ficar insistindo nisso, já demos indiretas, já demos diretas e você não se toca. Um ou dois pedidos que você fez há tempos é suficiente, insistir é falta de noção. O site não se resume a progressivo, Yes, Genesis, Roberto Carlos ou Clayderman. Aceite isso de uma vez.
Eu não vou lhe responder com grosseria porque sou uma pessoa bem educada, e o que eu dei aqui foi apenas uma sugestão e mais algumas dicas. Agora você definir minha predileção única pelo “Tales from Topographic Oceans” como ridícula, aí cê tá pegando pesado, cara.
Você já deu essa sugestão dezenas de vezes. Podia ter parado na terceira.
E você não é educado. Está bem longe de ser. Seria educado se simplesmente tivesse um pouco de noção de que repete as mesmas coisas várias vezes e já virou motivo de piada. Você será educado e terá algum respeito quando comentar nos posts apropriados para isso.
Tudo bem, eu entendi. Vou parar de ser chato e ser um pouco mais humilde nas minhas palavras. Vamos aguardar cenas dos próximos capítulos…
André, obrigado pelas palavras.
Igor, Yes e Genesis são duas bandas que são amadas entre o pessoal da Consultoria. Eu mesmo sou fã das duas bandas, principalmente do Yes. Acredito que, em determinado momento, isso acabará acontecendo. Suas sugestões já estão anotadas. Quando possível, atenderemos. Grato pela compreensão! Agora, vá escutar um disco da Fernandinha…
Tô escutando desde ontem. Eu esqueci de falar do Pink Floyd, os melhores discos deles pra mim são “Wish You Were Here” e “The Wall”, e não posso deixar de xingar o ridículo “Atom Heart Mother”!
Parabéns pela matéria. Considero Da Lata um dos clássicos do pop brazuca da década de 1990. É salutar a postura da Consultoria em destacar artistas fora da seara do rock.
Obrigado! Realmente, o Da Lata é um belo disco!
Apesar de não curtir o som da Ferando Abreu, seu que a moça tem talento e faz música de qualidade. Parabéns!
Verdade! O trabalho dela é muito bem feito…
Nossa..vc me fez lembrar que fui a um show dela no Sesc Belenzinho, muitos anos atrás…ingresso ganho no supermercado…rs.
Ela aparecia direto na MTV e alguns clipes e músicas eram legais.
Surpreso pela matéria dela aqui. Parabéns!
Obrigado, ela tem umas musicas bacanas mesmo. Lembro dos clipes. Em especial de “Rio 40 Graus”, “Veneno da Lata” e da versão dela de “Katia Flavia”. Por incrível que pareça, nunca assisti ela ao vivo. Conheço alguns shows por gravações de VHS e algo do tipo. Saindo álbum novo, ela deve cair na estrada, vou ver se assisto ela dessa vez. Deve ser bacana, sempre trabalhou com bons músicos. Deve ser divertido!
Gostosa nada mais a acrescentar.
Tenho o Raio X e acho um belo álbum. Parabéns pela reportagem, muito bem feita.
Opa, obrigado! Feliz que tenha gostado da matéria. Também acho o Raio X um belo disco.