Paul Di’Anno & Dennis Stratton – The Original Iron Men [1995-1996]
Por André Kaminski
Antes de iniciar falando sobre esses dois trabalhos que considero até surpreendentemente esquecidos, é importante dedicar um tanto dessas linhas sobre a história da saída desses dois ex-integrantes da Donzela e suas trajetórias até resultarem nestes dois discos lançados na metade dos anos 1990.
Quando Stratton foi contratado pelo big boss Steve Harris para a banda em outubro de 1979, logo o irascível Paul Di’Anno já dizia que ele não era o cara certo para a banda. Se incomodando com a postura e com o visual do novo guitarrista, que sendo alguns anos mais velho que os outros integrantes também costumava dar opiniões sobre suas experiências anteriores no Remus Down Boulevard, o vocalista não contribuía muito para Stratton ser bem visto na banda.
Após alguns shows e o lançamento do Iron Maiden [1980], não só Di’Anno mas o eterno Rod Smallwood começou a se incomodar com o novo guitarrista. Apesar da banda ter alegado até hoje apenas “diferenças musicais irreconciliáveis”, Stratton disse que foi demitido devido a Smallwood se incomodar com os gostos musicais dele, visto que adorava Eagles, Toto e Journey, rocks mais leves que ele ouvia em seu quarto. Também pode-se imaginar que a banda já estava de olho em Adrian Smith, indicado por Murray, para ocupar o posto de segundo guitarrista. Para a banda foi um acerto, embora Stratton não tivesse performances ruins em seus doze meses de Maiden.
Já Paul Di’Anno saiu dois anos depois por motivos mais simples: as drogas e seu comportamento selvagem estavam atrasando a banda e a levando para outro caminho ao qual Harris queria evitar (o do punk rock). Como todos já sabem, Dickinson entrou e o resto é história.
Stratton se juntou a Jess Cox, ex-Tygers of Pan Tang, Steve Mann e Rocky Newton para formarem o Lionheart. Deixando apenas um disco gravado que foi Hot Tonight (1984) a banda fracassou por falta de apoio em 1986. Já Di’Anno tentou emplacar em projetos diferentes tais como Di’Anno, Battlezone e Gogmagog (só gerou um EP), mas todos falharam em conseguir algum sucesso. A pedido de seu empresário, ele convidou Stratton para tocar junto ao Praying Mantis no Japão em 1990, em comemoração aos 10 anos da NWOBHM. Porém logo após a tour, Di’Anno começou a insultar Stratton e os caras do Mantis e depois disso, passaram a se odiar para valer. Mesmo assim, foi lançado um disco daquelas apresentações ao vivo chamado Live at Last (1990) que Paul repudia até hoje. Para o guitarrista valeu a pena visto ele ter sido convidado para se juntar ao Mantis de vez, ficando na banda por quinze anos.
Nesta mesma época, ainda em 1990, Di’Anno estava financeiramente quebrado e Dennis apesar de acabar de conseguir uma posição segura no Praying Mantis, desejava fazer algum projeto diferente. Assim, Lea Hart, vocalista do Fastway, entrou em contato com ambos para gravarem algumas demos e lançarem futuramente. Stratton aceitou e gravou guitarras e vocais, assim como trouxe algumas composições próprias. Di’Anno também cantou em algumas faixas. Com essas gravações em mãos, Hart esperou o momento certo para mixar aquele material e o lançou em 1995 e 1996, que são estes discos The Original Iron Men, se aproveitando do fato do Iron Maiden estar enfraquecido comercialmente naquele período da era Blaze Bayley e tirar alguma vantagem em cima do nome de ambos. Os dois ex-integrantes sequer se encontraram em suas gravações. O fato é que eles foram enganados, não receberam qualquer dinheiro e apesar dos discos não terem vendido grande coisa, Lea Hart embolsou o que deu. E os dois discos The Original Iron Men nada mais foram do que um embuste para enganar os fãs.
É bom ter em mente que este álbum é composto praticamente de gravações do próprio Fastway junto a algumas canções próprias de Stratton e Di’Anno e com os vocais de ambos. No encarte do disco aparecem vários nomes famosos como o do tecladista Don Airey (futuro Purple), Biff Byford (Saxon), Kim McAuliffe (Girlschool) e Fast Eddie Clarke (Motörhead) aos quais trabalharam em outros projetos como True Brits, English Steel e NWOBHM All Stars, todos também enganados pelo picareta Lea Hart.
Porém, a questão principal como mero consumidor ao ouvir esses dois discos é: eles são bons? Posso dizer que sim, gosto muito de ambos. Principalmente do primeiro.
É bom ter em mente que ao ouvir esses discos você não verá quase nada de Iron Maiden nele, exceto pelos dois ex-integrantes. O estilo tocado aqui é mais para um hard rock bem oitentista no primeiro disco e um AOR no segundo representando basicamente o que sempre foi o Fastway. Stratton e Di’Anno cantam em faixas diferentes apesar de estarem no mesmo álbum. Agora que decidiu encarar o disco, logo na abertura temos uma guitarra pesada e cortante com Dennis mandando ver nos vocais em “I’ve Had Enough”. Lembrando mais a NWOBHM, entra “Lucky to Lose” com Paul mandando ver em seus vocais mais agressivos e um solo veloz e marcante por parte de Stratton. “Let Him Rock” me lembrou o peso do Ratt oitentista em uma faixa marcante e contando com alguns teclados dando aquela aura “glam” da década anterior. “It Ain’t Over ‘Til It’s Over” poderia ter sido gravada tranquilamente por uma banda como o Mötley Crüe. “Listen to What Your Heart Says” é uma semi-balada (do Fastway, também gravada no Praying Mantis) ao qual Di’Anno se sai muito bem, ainda mais para quem nunca o imaginou cantando algo com uma letra tão açucarada. Voltando ao rock grudento “She Won’t Rock” já mostra o vocalista mais ao seu estilo ríspido como sempre foi conhecido em todos os seus trabalhos. “Bad Girls” volta com Stratton em mais um hard rock dessa vez mediano. Di”Anno retorna em mais dois ótimos rocks, que são “I’ll Be Miles Away” (me lembrou os novos trabalhos do Edguy) e “Death of Me” (esse diferenciado, parecendo aquela new wave ao estilo Billy Idol) para Stratton encerrar o primeiro disco com a minha preferida “Two Hearts in Love”, um AOR daqueles que o Foreigner ama fazer.
Este segundo trabalho, mais leve e AOR, inicia com Stratton abrindo de forma bem melódica com “Let Your Body Rock” e solando muito bem em grande parte da canção. “The Fool You Left Behind” já é mais cadenciada e melodiosa, embora Paul sempre cante daquela forma meio raivosa como de costume. Já em “The Answer Is You” possui um curioso sintetizador fazendo um som grave no fundo enquanto Di’Anno faz novamente os vocais (e aqui soltando a garganta como não havia feito antes). “No Repair”, é mais um AOR sacana e melodioso presente por aqui. O guitarrista volta a soltar sua voz em “This Man’s Face on Fire” com instrumental até parecido com “Two Hearts in Love” do disco anterior, embora Stratton cante de forma mais agressiva. Ainda nos vocais, “Don’t Take These Dreams Away” se mostra mais fraca, parecendo algumas faixas anteriores com produção mais seca, inclusive os teclados estão estranhos. “So Far Away” se mantém em um patamar inferior às demais. O nível volta a subir quando Di’Anno reaparece em “Dead or Alive” assim como em “Big Beat No Heat” com um riff de guitarra bem pesado e alguns efeitos eletrônicos. Após um filler que é “It’s Only Love” praticamente reciclada de outras faixas, o encerramento em “Danger” se mostra digno de um bom disco.
É curioso como um projeto desse naipe que tinha tudo para dar errado (e deu, ao menos em termos comerciais) me agradou bastante. Sei de alguns fãs do Maiden que também gostam desses discos. Apesar de alguns defeitos como a produção não mais do que razoável para um disco da década de noventa e todas as músicas se encerrarem utilizando o efeito fade away (céus, como podem não terem feito uma batida diferente de bateria para encerrar algumas músicas que fosse), os álbuns são bem legais e mereceriam mais atenção principalmente pela turma do hard farofa.
Pelas entrevistas e declarações internet afora, sei que tanto Di’Anno quanto Stratton repudiam esses álbuns, o que é mais do que esperado. Assim como os brasileiros acompanham de perto, Paul continua fazendo alguns shows pequenos principalmente no Brasil onde possui vários nostálgicos do velho Maiden, mesmo que seus anos de excessos cobraram o preço da sua saúde, além da obesidade e de um joelho estourado. Já Dennis deixou o Praying Mantis em 2005 e vive modestamente na Inglaterra, consertando telefones e tocando covers do Maiden em algumas bandas locais. Mesmo que não se suportem, é fato que ambos acabem sendo ligados um ao outro tanto pela sua ex-banda quanto pela curiosidade dos fãs quanto a esses discos. O guitarrista há uns anos retomou contato com Harris e volta e meia se ligam para falarem sobre uma paixão em comum: o West Ham, clube de futebol britânico. Torcemos para que o mesmo ocorra com Di’Anno.
Paul Di’Anno & Dennis Stratton – The Original Iron Men
- I’ve Had Enough
- Lucky to Lose
- Let Him Rock
- It Ain’t Over ‘Til It’s Over
- Listen to What Your Heart Says
- She Won’t Rock
- Bad Girls
- I’ll Be Miles Away
- Death of Me
- Two Hearts in Love
Paul Di’Anno & Dennis Stratton – The Original Iron Men 2
- Let Your Body Rock
- The Fool You Left Behind
- The Answer is You
- No Repair
- This Man’s Face in on Fire
- Don’t Take These Dreams Away
- So Far Away
- Dead or Alive
- Big Beat No Heat
- It’s Only Love
- Danger
Muito bom André!!! Por vc não ser suspeito por elogiar qualquer coisa relacionada ao Maiden ficou de bom tamanho sua análise. Fosse eu a ter feito isso as pessoas poderiam achar que estava exagerando…rs Pra falar a verdade sempre tratei esses discos mais como algo curioso e nem sabia muito dessa treta entre os dois. Isso torna os CDs mais curiosos ainda. Nunca entendi o Praying Mantis ter se sujeitado em gravar algo como aquele Live At Last. Apesar dessa escorregada a banda é muito legal e a participação de Stratton nela foi muito boa. FAltou citar que no Gogmagog além do Paul Di Anno, também tinham o Clive Burr e o Janick Gers…
O Praying Mantis já tinha sido convidado a tocar no Japão, onde eles tem muito mercado. Di’Anno e Stratton entraram por ideia dos empresários. Acabou sendo bom para o Stratton por ter entrado na banda logo em seguida.
Acho que algumas coisas calharam nessa época. A P. Mantis vinha amargando um status de side band em 1985, quando se chamavam Stratus e tinham Burr na bateria. Os irmãos Troy passaram a tocar na Paddy Goes to Holyhead e ninguém sabia mais o que fazer com a banda. Quando Burr sai (ou é expulso sei lá), eles tentam uma volta do nome Mantis em 1987. Segundo consta, desastrosa.
No final da década, conseguem financiamento da Pony Canyon para um revival desse supergrupo Mantis, exclusivo no Japão. E deu certo. Quem mora na Inglaterra deve se perguntar por onde andou a Mantis nos anos 90, pois praticamente todas as turnês subsequentes se passaram no Japão.
Também gostei da análise embora não conheça os discos. Mas posso acrescentar que a melhor coisa do Gogmagog quem gravou foi o Peter Hammill: https://www.youtube.com/watch?v=6dZL1cSRpPA
André garantindo o Peru de Natal para a família dele com essa postagem. Com certeza, o Bueno irá enviar um extra para ele só por causa do nome Iron Maiden presente no texto. De qualquer forma, parabéns pela matéria. Esses são os caras do melhor período da banda. Vou ouvir com atenção
Se tem Iron Maiden tem meu apoio…
Não sei se a sonoridade vai ter agradar, mas vale no mínimo pela curiosidade.
Muito bom. Não conhecia esse. Não é muito o meu estilo, mas boto fé nas coisas que o Dianno canta.
Sou um Charles Manson em relação ao Maiden,pois sou muito suspeito para falar da banda em questão.Apesar disso,eu gosto da estruturação musical feita pelo Maiden nas suas primas obras,por isso vou tomar vergonha na cara e ouvir a discog. da banda até onde der,pois é bom se alimentar de prog,mas também é bom provar outros pratos,ou melhor,cardápios.No mais,ótimo texto,vou ouvir esse disco depois da seção tarkulenta que quase diariamente faço.Bye.