Discografias Comentadas: Lou Reed – Parte IV
Por Alisson Caetano
Os anos noventa voltaram a proporcionar a Reed momentos de sucesso de crítica e público e, consequentemente, alguns de seus discos mais interessantes. O último relacionamento amoroso de sua vida — talvez o único que tenha lhe permitido um retorno frutífero — com a artista norte-americana Laurie Anderson trouxe-lhe vida nova e até rumos alternativos para o direcionamento de seus discos solos.
Provavelmente boa parte das pessoas que acompanharam esta série de matérias até aqui esperavam para ver meus comentários sobre Lulu. Fiquem calmos, ele está aqui, até porque, como qualquer pessoa deveria saber, ele é um disco do Lou Reed, e não do Metallica. Pois bem, se quer saber o que acho dele, vá acompanhando a matéria e descubra outros discos tão polêmicos quanto ele.
Lou Reed & John Cale – Songs For Drella [1990]
Drella tem uma importância enorme tanto para Reed, quanto para John Cale. A começar que esta é a primeira colaboração entre Lou e John desde 1968, data do lançamento de White Light / White Heat, último disco de estúdio do Velvet Underground a contar com a participação de John Cale. Outro fator que torna tudo ainda mais especial é o tom de dedicatória que este trabalho possui. Ele foi dedicado à Andy Warhol, que faleceu no ano de 1987 após complicações cirúrgicas — Drella era o apelido pelo qual respondia em tempos da Factory –. Os primeiros esboços para Songs For Drella na verdade vem dos anos 70, mais precisamente quando Reed finalizou os trabalhos para o disco Coney Island Baby, em 1975. A ideia inicial para Drella era que Reed musicasse um livro recém lançado por Andy naquele mesmo ano, A filosofia de Andy Warhol, para que o mesmo fosse usado em um musical para a Brodway. Segundo o próprio Warhol, Reed havia escrito a adaptação de seu livro em um dia, aparecendo com todo o projeto pronto em sua sala na Factory no dia seguinte. O projeto acabou não saindo do papel e estes pequenos ensaios viriam a servir de base para esta homenagem póstuma cheia de sentimento, quase 15 anos depois. As gravações de Drella ocorreram antes de Reed entrar em estúdio para registrar New York, e como não poderia deixar de ser, o processo ocorreu de maneira tensa. Enquanto Reed era o cara do método, entrava em estúdio e passava horas trabalhando em músicas de maneira paranoica e quase ininterrupta, Cale fazia um estilo mais bon vivant. Lia seu jornal, tomava seu café, olhava as notícias, para só depois de horas entrar no espírito de composição. Dentro e fora do estúdio as coisas ocorriam de maneira louca também. Em estúdio, Lou travava uma guerra interna para lidar com todos os seus sentimentos reprimidos e ideias que iam surgindo para as letras de Drella. Fora dos estúdios, Reed e Cale foram surpreendidos pela morte repentina de Nico, aos 49 anos por conta de um acidente de bicicleta na ilha de Ibiza. A promoção do disco envolveu séries de recitais das letras do disco para plateias seletas e o lançamento dos diários de Andy Warhol. A recepção da crítica ao disco foi acalorada, em elogios ao estilo musical utilizado e as letras sinceras e fictícias sobre a vida atribulada e intensa de Andy. O estilo quase minimalista dos instrumentos, todos conduzidos por Lou e John, ajudam a dar uma ambientação própria e um clima de celebração e recordação quase fúnebres. A habitual forma de imersão de Reed em seus papéis quase causam confusão no ouvinte, pois é difícil saber se Lou está mesmo falando sobre Warhol ou sobre si próprio, como na faixa de abertura, “Smalltown”:
“When you’re growing up in a small town
bad skin, bad eyes, gay and fatty
people look at you funny
when you’re in a small town”
Cale também embala alguns dos momentos mais belos da carreira de ambos. “Style It Takes” toca diretamente sobre o relacionamento criado por Andy e os artistas que o cercavam em um dos momentos mais singelos e belos do trabalho todo. Songs for Drella é marcado por momentos variados espelhando todos os aspectos possíveis de Andy. Da rejeição crítica (“Trouble With Classicists”) ou pura reverência a arte tão amada por Lou (“Starlight”). Em resumo, Songs for Drella é um trabalho que não pode ser ouvido de maneira desinteressada, como música de fundo. Seu conceito e temática devem ser apreciados com atenção, como um momento de dois gênios da música vanguardista prestando tributo ao responsável pelo que se tornaram no futuro. Nesse aspecto elevado, Drella é um disco especial, tocante e profundamente relevante.
Como curiosidade, Drella foi um apelido talhado na Factory através dos nomes “Drácula” e “Cinderella”. Andy poderia, em algum momento, ser tão sutil e doce quanto Cinderella, mas também poderia ser sedutor e impiedoso como Drácula.
Magic & Loss [1992]
Magic & Loss surgiu a Reed como uma reflexão sobre o peso das amizades perdidas durante sua vida. Nos anos anteriores, duas das pessoas mais significativas em sua vida haviam morrido de maneira inesperada (Andy Warhol e Nico), mas foram duas em especial as responsáveis por acender sua fagulha criativa. A primeira foi Jerome Pomus, compositor de renome responsável por incontáveis sucessos radiofônicos dos anos 50 e 60 nas vozes de gente como Dion and the Belmonts, Elvis Presley e The Drifters. A segunda morte foi de uma amiga próxima, que Reed citou apenas como sendo Rita. Ambos morreram de câncer, e suas mortes inspiraram Reed a refletir sobre todo o peso da importância de uma amizade conservada por toda sua vida. Outros “amigos” foram citados por Lou neste registro. Lincon Swados, amigo próximo na época de faculdade e um completo maluco que jogou-se na frente de um metrô e sobreviveu para contar a história (sem um braço e uma perna), foi citado por Lou em “Harry’s Circumcision” em um epitáfio arrependido, já que Lou dera as costas para Swados ainda nos anos 60. Os anos de experiência e esmero literário ajudaram para que o resultado técnico de Magic & Loss tomasse proporções mais refinadas. A execução instrumental é algo que não pode ser criticada, bem como a produção, volumosa, vívida e perfeita para se atentar aos instrumentos usados na execução das faixas. O tom geral das canções é sempre para baixo, como que em tom geral de pesar, arrependimento e auto-avaliação. Algumas faixas deixam isso escancarado ao ouvinte, como na introspectiva e sombria “Goodby Mass (In a Chapel Bodily Termination)” e na confessional “Dreaming (Escape)”, onde versos do calibre de If I Close my eyes I see your face and I’m not without you / If I trying hard and concentrate I can still hear you speak” falam por si só. Mesmo que o disco aparente ser um enorme funeral em formato de música, sua execução toma um cuidado cirúrgico em não tornar tudo extremamente pesado ou inacessível. As intervencões simples da guitarra de Lou e a veia roqueira marcam forte presença em vários momentos de alívio — por assim dizer — durante o disco. Magic and Loss foi bem recebido novamente por crítica e público, e mesmo que não tenha alcançado o mesmo reconhecimento que os dois trabalhos anteriores de sua trajetória, ainda se configura como um de seus momentos mais sinceros em anos.
O período de aparente inatividade que se seguiu após o lançamento de Magic & Loss (foram quase 4 anos sem material inédito) reserva um ocorrido histórico. Durante a divulgação do trabalho Songs For Drella para uma audiência de jornalistas escolhidos a dedo, Lou Reed e John Cale convidaram dois presentes ilustres para dividir o palco para uma pequena jam. Eram eles Sterling Morrison e Moe Tucker, integrantes da formação clássica do Velvet Underground. O que era para ser apenas uma ocorrência isolada, já que Reed sempre foi relutante em uma reunião do VU, acabou se transformando em turnês pela Europa e pelos Estados Unidos. Deste encontro, resultou o ao vivo Live MCMXCIII, que registra, tanto em áudio quanto em vídeo (em uma versão chamada Velvet Redux Live MCMXCIII) esse reunião histórica de uma das bandas mais importantes para a história da música.
Aquela seria a última vez que o mundo veria a formação clássica do Velvet Underground dividindo o mesmo palco. O fim da turnê deixou todos desgastados. A produção do disco ao vivo gerou inúmeras turbulências e o próprio Reed mostrava-se extremamente arrogante e indelicado com todos na banda, especialmente com Sterling. A pá de cal na história do Velvet Underground foi jogada quando, em 30 de agosto de 1995, Sterling Morrison falecia devido à um câncer.
Set the Twilight Reeling [1996]
Grande parte das produções finais de Lou têm como base o seu relacionamento com Laurie Anderson. Ambos compunham conjuntamente os discos e, não raro, participavam nos discos um do outro. Set The Twilight Reeling é um de seus últimos projetos de rock simples e é facilmente um de seus trabalhos mais acessíveis. Suas letras fantasiam sobre seu relacionamento com Laurie. Suas angústias, brigas e conflitos e o amor intenso que ambos sentiam um pelo outro. Todas estas referências estão espalhadas por todas as letras do disco. Suas faixas possuem um instrumental enxuto e simplista, casando com uma produção certeira em todos os sentidos. Talvez por se tratar de um disco simples, sem arroubos experimentais ou letras tão inspiradas, Twilight Reeling foi ficando relegado e hoje é conferido mais por aqueles que realmente se dispuseram a cair de cabeça no catálogo do músico. Da maneira sucinta, é um disco que tem tudo para agradar fãs de rock descompromissados e sem maiores expectativas para um disco com o nome “Lou Reed” estampado na capa. Faço destaque especial para a sutil “Sex With Your Parents (Motherfucker) Part II”, uma ótima faixa cheio de malícia e groove com a distinta guitarra de Reed fazendo um bom contraponto roqueiro. “Egg Cream” vai pela trilha de faixas simples de rock bem executadas, enquanto “Trade In” e “Hang on to Your Emotions” se enveredam por baladas acústicas calmas. Por fim, “Adventurer” e “The Proposition” apresentam novidades dentro da discografia de Reed. A primeira, uma faixa carregada de guitarras distorcidas e clima rústico, enquanto a segunda poderia ser categorizado sem maiores problemas como indie rock. Ambas canções ótimas que acabaram se perdendo em seu extenso catálogo. Ouça sem muitas expectativas em dias alto astral que a satisfação será quase certeira.
Ecstasy [2000]
Ainda levado pela empolgação de seu relacionamento amoroso com Laurie, Reed seguiu compondo canções tendo-a como musa inspiradora — tal como foi com Shelly Albin, Nico e com Rachel em tempos passados. O registro vai bem nesse aspecto dedicatório e possui ótimos momentos, caso da rockeira “Paranoia Key of E”, que empresta elementos dos Stones em seus fraseados de guitarra. “Mad” é a primeira de faixas mais calmas, quase baladas, e tem ótimas melodias de guitarras em uma faixa bem interessante melodicamente. Infelizmente, a partir dela, o disco cai em redundâncias estruturais e melódicas, tornando-se previsível e por horas até massante. A faixa título não diz nada de especial. “Modern Dance” dá indícios que vai engrenar em uma balada de guitarras distorcidas, mas acaba ficando apenas na promessa. O disco torna a empolgar novamente em “Like a Possum”. Sua longa duração — 18 minutos — dizem muito a quem conhece de longa data Lou, e ela é realmente aquilo que imaginávamos. Longos improvisos com a guitarra venenosa de Reed por cima de melodias pop, tal qual era “Sister Ray” nos tempos de VU, mas guardadas as devidas proporções, claro. Ecstasy acabou sendo bem recebido à data de seu lançamento, mas o tempo acabou sendo cruel, e o trabalho é mais lembrado por aqueles que realmente se aprofundaram no extenso catálogo do músico, mostrando que seu conteúdo possui pouca força.
The Raven [2003]
Lou sempre teve ideias ambiciosas para o conceito de muitos de seus discos. Isso acaba passando desapercebido pela maioria dos ouvintes pois, em muitos casos, estes conceitos ficam restritos unicamente nos aspectos líricos de suas obras. Por outro lado, é difícil dizer quando Reed teve realmente uma boa ideia ou quando tudo não passou de megalomania barata e conceitos furados. Berlin é uma obra sem precedentes dentro da música. Songs for Drella é uma belíssima dedicatória a seu antigo mentor, Andy Warhol. No outro prato da balança, Metal Machine Music tem um conceito noise anárquico difícil de aguentar. E junto de MMM, está The Raven, certamente um dos discos mais mal executados de toda sua trajetória. The Raven foca-se no conceito de reinterpretar vários poemas do escritos inglês Edgard Alan Poe. O mesmo Poe já havia servido de inspiração intensa para Reed em outras ocasiões, então não é nenhuma surpresa que Lou tenha decidido transformar o universo de Poe em um disco conceitual. Musicalmente o disco tenta abraçar vários conceitos estilísticos, passeando por uma gama absurda de estilos. Enquanto alguns momentos acertam em ótimas interpretações cheio de vivacidade, intensidade e execuções precisas (“Edgard Alan” e “Call on Me”, esta tendo um ótimo dueto com sua mulher, Laurie Anderson), em outros o disco cai em um terreno perigoso de auto indulgência e pieguice, beirando o inaudível, caso da intragável faixa título, com um medonho recitar da letra por Reed em uma entonação obscura, e de “Broadway Song”, um jazz ao pior estilo anos 30 e suas Big Bands com vocais a cargo do ator Steve Buscemi. A constante oscilação de qualidades por um trabalho de 1 hora e 15 minutos dividido em 21 faixas acaba prejudicando muito o conjunto da obra, fazendo com que boas peças musicais — “Hop Frog”, primeira colaboração entre Reed e Bowie em 30 anos, é uma delas — ficassem encobertas entre tantas ideias de execução precária. É difícil recomendar este trabalho até para o fã mais dedicado de Reed, mesmo ele contendo alguns dos momentos mais intensos de sua carreira no século 21.
Hudson River Wind Meditations [2007]
Há duas formas distintas de encarar este projeto. Como música, Hudson River é realmente enfadonho, portanto, um verdadeiro desastre como entretenimento, que é a principal função de qualquer música. O intuito de Reed com este lançamento foi realmente musicar temas que servissem de acompanhamento para hábitos de meditação — o próprio era, nessa época, praticante de Tai Chi Chuan –. O projeto é extremamente caseiro. A foto que serviu de capa para o disco foi tirado pelo próprio Reed da sacada de sua casa, que tem como fachada o Rio Hudson, em Nova Iorque, morada que dividia com sua cônjuge. É um pouco estranho comentar sobre isto, pois não sei se seria tão justo simplesmente chamar isso de chato quando as intensões de seu mentor não eram que seu material fosse apreciado em momentos banais. O trabalho são duas grandes peças de música ambient de quase 30 minutos de duração cada. Poucas ou nenhuma variação ocorrem dentro de ambas neste período todo, algo que vai tirar a paciência de algum desavisado que cair de paraquedas aqui. “Hudson River Wind (Blend the Ambience)” são recortes de sons captados da varanda da casa de Reed com a adição de alguns sintetizadores, enquanto que as enormes “Move Your Heart” e “Find Your Note” são enormes mantras ritualísticos para meditação. Agora, caso você queria um resumo breve do que é esse projeto, opte por procurar no YouTube a curta “Wind Coda”, que faz o papel de, literalmente, resumir as duas principais faixas do registro em uma única música de pouco menos de 6 minutos, evitando que o ouvinte se aborreça tanto. Não há conclusões à serem feitas sobre este disco. Ainda não sei se é realmente um disco musical de Reed, já que o mesmo sequer consta nos catálogos digitais do artista e só pode ser adquirido em formato físico, ou se é um produto específico para práticas de meditação, servindo como música de fundo, apenas. Deixo para o leitor a tarefa de tirar as conclusões.
Lou Reed’s Metal Machine Trio – The Creation of the Universe [2009]
Este projeto surgiu de dois compositores alemães, Ulrich Krieger e Sarth Calhoun. Ambos eram fãs de longa data de Reed e apresentaram uma versão sinfônica e transcrita das composições feitas por Reed em seu Metal Machine Music. Lou achou a ideia interessante e topou juntar-se a ambos para algumas apresentações sob o nome Metal Machine Trio, onde faziam longos sets de improvisações baseadas em drones e noises produzidos por programações eletrônicas e pela guitarra de Reed. Os drones e longas nuances de guitarras passam diversas sensações, desde obscuras até amedrontadores e contemplativas. O disco é duplo e gravado ao vivo na base do improviso puro. Por conta disso, alguns momentos soam forçados e até realmente tediosos. Mas quando o conjunto acerta a mão, proporcionam ao ouvinte momentos realmente interessantes. Este seria o único material lançado por esse projeto e, curiosamente, apresenta uma faceta promissora do conceito de free improvisation e noise que Lou mostrou ao mundo de maneira completamente dadaísta em seu Metal Machine Music. Projeto curioso, mas extremamente satisfatório para fãs de música ambient, experimental e drone.
Lou Reed feat. Metallica – Lulu [2011]
I would cut my legs and tits off
When I think of Boris Karloff and Kinski
In the dark of the moon
Sem muitos rodeios e frescuras, Lulu inicia sua trajetória tortuosa sobre uma história pesada de prostituição, submissão e perdas e entra para a história como um dos discos mais controversos e debatidos da música moderna.
As ideias para uma espécie de trilha musical de uma adaptação em peça de teatro da obra “Lulu”, do romancista alemão Frank Wedekind, vieram à Lou anos antes desta colaboração se concretizar. Reed não apenas topou a proposta inicial como também a realizou e encarnou a personagem principal. A construção de todo o conceito para Lulu como peça de teatro aproximou ainda mais o relacionamento entre Lou e Laurie, que acabou auxiliando-o a traduzir em versos as ideias principais para a personagem de Wedekind de maneira direta. A ideia de transpôr a peça de teatro para um disco conceitual surgiu para Reed apenas anos depois da peça de teatro ter sido apresentada. Reed havia alugado o estúdio principal de ensaios do Metallica para a regravação de algumas de suas músicas. No entando, Lou entrou em contato com o quarteto, enviando-lhes as letras de Lulu e a proposta de musica-las (ambos haviam trocado algumas palavras na cerimônia de introdução ao Rock n’ Roll Hall of Fame de 2009). Para o Metallica, aquele era o maior e mais ambicioso projeto que já passou por suas mãos. Ainda que os discos de sua carreira tenham todo um peso técnico, nada se comparava com a destreza lírica e teor experimental que Lou lhes apresentou. Isso acarretou em dois extremos. Se por um lado vemos uma banda tocando com sangue nos olhos e emoção a flor da pele em momentos magistrais, em outros vemos uma banda perdida, sem o espirito experimental que o conceito exigia. O primeiro disco é o que mais sofre destes problemas. “Brandenburg Gate” e “The View” (que virou até meme na época) ainda apresentam bons conceitos musicais, com bases pesadas, mas melódicas e o spoken word de Lou em primeiro plano. Porém, não demora para o disco apresentar seus primeiros problemas de percurso. De “Pumping Blood” até “Iced Honey” o que se vê são estruturas padrões de um disco do Metallica executadas de maneira engessada e encaixadas sem muito critério nas letras escritas por Lou. Ainda que a justificativa de terem utilizado muitos primeiros takes executados nos estúdios, isso não ameniza a falta de qualidade destas faixas (mas nada comparado ao terror pregado por críticos à época do lançamento).
As coisas voltam a esquentar e ficar realmente tensas a partir de “Cheat on Me”. A partir deste ponto, não se vê mais um Lou Reed + Metallica, e sim um Loutallica. Tudo começa a se tornar uma unidade, e os conceitos musicais e líricos já se entrelaçam de maneira natural e espontânea. Da desoladora “Little Dog”, passando pela estupenda experimentação musical em “Dragon”, com o Metallica fazendo um sábio uso de drones, até o apoteótico e emocionante encerramento com a epopeica “Junior Dad”, o disco cresce de maneira exponencial, revelando um material que extrapola os limites musicais, exigindo do ouvinte um nível de imersão e consciência próprios.
As principais críticas direcionadas ao conjunto da obra diziam respeito a linearidade geral das faixas, a produção, ao conceito confuso e a falta de habilidade técnica apresentada. Até consigo compreender as críticas quanto a produção extremamente alta, a mixagem de bateria ruim e a técnica questionável apresentada pelo Metallica (respeito à parte, mas Lars é um péssimo baterista). Fora isso, não consigo imaginar que tamanho ódio direcionado ao trabalho seja por puro ódio desvairado. Não é, nem de longe, um trabalho impecável. Porém, os seus momentos de auge são tamanhos que acabam colocando-o em um nível de destaque. Espero que o tempo faça justiça às qualidades gerais deste disco, um dos mais fascinantes que ambos os artistas já apresentaram em toda sua carreira.
Lou ainda veria a rejeição generalizada de Lulu antes de começar a padecer. Seu fígado começou a apresentar falhas durante a composição de Lulu, e só foi piorando constantemente, até que, em 2013, uma cirurgia emergencial de transplante fora realizada. Nas primeiras semanas, seu corpo reagiu bem ao transplante. Infelizmente, seu corpo começou a rejeitar o órgão, até que, em 27 de outubro de 2013, Lewis Allan Reed veio a falecer, aos 71 anos, por falha hepática. Encerrava-se ali a trajetória de um dos mais importantes ícones da história da música mundial, tanto de vanguarda quanto mainstream.
DC épica. Uma das melhores cometidas por aqui.Valeu, Alisson.
Obrigado, Marco 😀
Parabéns pela excelente DC. Ainda não possuo Hudson River Wind Meditations, The Creation of the Universe e Lulu, mas estão na (grande) fila de espera…
Ah, existe uma versão dupla de The Raven!
Sim, mas que não ajuda a melhorar o resultado final do trabalho. E obrigado pelo elogio, José 🙂
É! Tenho que concordar… kkk
Parabéns pelo texto. Não conhecia muita coisa além do que foi abordado na primeira parte.
Não me agrada muito o artista, mas a leitura desta discografia comentada foi bastante interessante, a abordagem de cada álbum foi muito bem feita. Abraço.
Lou Reed foi o músico mais medíocre que já passou pelo planeta terra. O homem era um chato, arrogante e prepotente. E pra piorar não sabia tocar e muito menos compor. Não sei como alguém pode admirar as músicas cafonas, vazias e pobres de arranjo desse cretino. Não sei quem é mais chato, ele ou o Bob Dylan. Em suma, insuportável.
E você gosta de falar mal dos outros e nem nome tem!!! Kkkkkkk
Quem é mais medíocre?
Excelente materia!! A discografia dos Velvets com Lou Reed (1942-2013) tenho tudo em versão analogica e digital. So não tenho “Squeeze” de 1973 (muitos falam que poderia ser um album solo de Doug Yule,alias este so foi lançado no mercado europeu naquela ocasião, em alguns paises). Relançado recentemente em supervinil (180 g), no Reino Unido!Da carreira solo de Reed so tenho uma coletãnea em vinil e CDDA!
Satisfaçao ler esta DC sobre a obra de Lou Reed, musico que admiro muito, mas nao conhecia toda a obra! Parabens Alison, quanta sensibilidade pra trazer pra todos nós um texto acessível e que dá conta da complexidade artistica de Lou! Grande abraço!