Sangue Novo: Augustine Azul
Os anos 2000 vivem, de certa forma, um intenso resgate da música instrumental no rock. Atribuo isso à dois fatores, essencialmente: uma ausência generalizada de bons vocalistas/letristas e uma forte influência da música psicodélica de inspiração setentista no rock, que ainda que não fosse totalmente instrumental, tinha, nesse aspecto, um de seus arrimos.
Positivamente, observo que a ausência de um vocalista obriga a banda a se dedicar a temas que tenham forte apelo, passagens ganchudas, solos de guitarra que grudem na cabeça e uma interação insana entre bateria e baixo.
Esse prólogo me leva a chegar ao som dessa banda instrumental de João Pessoa, PB. Meu conhecimento sobre eles era nulo até vê-los em um festival no Rio, junto com outras bandas que também figurarão em breve nessa coluna e cujo headliner era a banda norte-americana Radio Moscow, um ícone da estereotipada denominação retro-rock. E no meio daquele turbilhão de fumaça e riffs em formato power trio, o som do grupo me conquistou.
Ainda continuo sabendo pouco sobre eles, já que o release disponibilizado pela banda não conta nada sobre a trajetória de formação do grupo. Mas o que vale mesmo é conhecer os trabalhos deles, que humildemente trago aqui ao conhecimento dos nobres leitores dessa Consultoria. Seus integrantes são João Lima (guitarra), Jonathan Beltrão (baixo) e Edgar Moreira (bateria) e o lançamento de estreia aconteceu com um EP autointitulado, que ganhou vida em julho de 2015. Há poucos dias atrás lançaram seu primeiro álbum completo, batizado de Lombramorfose.
No EP, um ataque furioso de marteladas, como a capa sugere magistralmente. A guitarra, em afinação dropada, abre a cortina com um riff catártico e dali bateria e baixo, esgrimam-se num duelo de sangue. A paisagem descrita para a primeira faixa poderia servir para quase todas as 6 curtas e eficazes faixas do trabalho. Algumas delas tem maiores referências ao blues-rock e outras são mais soturnas e sabáticas; mas em todas tem-se alta octanagem, uma bateria veloz e muita intensidade.
A banda tem uma virtude de saber tratar solos de guitarra com frases muito precisas, trabalhando-os como espécies diferentes de riffs, com o nobre objetivo de fixar o ouvinte na música. Há momentos em que o baixo destila virtuosismo, com belas e tortuosas frases. Porém, tudo é muito bem dosado, fazendo a engrenagem rodar deliciosamente pela cabeça. Algumas faixas guardam semelhanças entre si, já que a banda não explora uma diversidade de timbres, tonalidades e modulações neste trabalho, apesar dos timbres pra lá de orgânicos e uma bela captação do áudio. Se o leitor quer que eu relativize o som dos garotos, minhas impressões apontam para o som de Sir Lord Baltimore, Grand Funk Railroad e Blue Cheer. Com o lançamento do EP, o nome da banda passou a ser buscado inclusive fora do país, com resenhas deste em sites internacionais especializados.
Já Lombramorfose (2016), embalado por outra interessante arte gráfica, é um rock mais luxuoso do que o apresentado na estreia. Com uma qualidade ainda superior de captura de som e timbres mais requintados, também mostra uma guinada do Augustine Azul a um maior ecletismo. Ainda estão lá os riffs fortes, mas acrescidos de maior variedade de ritmos, convenções instigantes e muita inteligência musical costurando todas as frases. A guitarra e o baixo soam ainda melhores que no EP de estreia, com maior variedade de texturas. As faixas do disco são bem variadas e algumas até trazem reminescências de rock progressivo, pela riqueza de frases; outras são pura testosterona e delírio. Os destaques ficam com os fantásticos intercruzamentos em “Amônia”, as alternâncias de climas de “Cogumelo”, a poeirenta “Pixo” e o arsenal de distorção da faixa de encerramento, “Intéra”.
Recomendo ao leitor que deixe se envenenar por Augustine Azul.
Augustine Azul
Gênero: Hard rock, Rock psicodélico
Origem: João Pessoa, Brasil
Atividade: 2015 (?) – Atualmente
Discografia:
Augustine Azul (EP) (2015)
Lombramorfose (2016)
Ouvi o EP deles em 2015, muito bom. Mas esse Lombramorfose eu nem sabia que era deles, vou conferir. Bela matéria e ótima dica.
Eis uma banda que me provocou interesse… Vou procurar!
Muito legal o som do Augustine.
E dá vontade de gravar um disco só pro Ronaldo resenhar. Pode até meter o pau, o que vale é a honra.
Ronaldo Resenhar não era um cantor?
Cara não nos dá nem tempo de fazer a piada, ele mesmo faz…
E ri primeiro também.Bom, pelo menos eu.
Manda bala! pode ser até coisas estilo “Yoko Ono” …rs
Obrigado pelos comentários, galera!
Cara, como senti falta de uma voz Osbourneana. Instrumental sabbhático da hora, mas bem que podia surgir uma voz totalmente desafinada, cantando sobre drogas ou sei lá o que, para engradecer ainda mais o som da banda. Ótimo baixista desse power trio, e sucesso para os paraibanos (ouvi “MEsclado”, “Jurureba”, “Cogumelo” e o EP de 2015). Valeu a dica Ronaldo, nosso Indiana Jones dos tempos modernos
Bota o Serguei cantando nessa banda.
Em tempo, “Nando Reis/Aquele Regaço” é uma viagem sensacional. A única em que Ozzy não fez falta