Notorious Prophet – Passando a ficha de Ultravox.
Por Christiano Almeida
Um dos grandes nomes do Synthpop, o Ultravox é uma banda britânica que iniciou sua carreira ainda nos anos 70, tendo registrado seu primeiro disco em 1977. Seus três primeiros álbuns foram bastante influenciados por bandas Punk, como The Clash, e o que viria a ser conhecido como New Wave. Os dois primeiros registros contaram com John Foxx (vocal e guitarras), Billy Currie (teclados, sintetizadores e violinos), Chris Cross (baixo), Warren Cann (bateria) e Stevie Shears (guitarras), que foi substituído por Robin Simon no terceiro disco. Após estes três lançamentos, John Foxx deixou a banda, cedendo lugar a Midge Ure, que já era bastante conhecido por trabalhar com o Visage e por ter colaborado com o Thin Lizzy. Vienna, o quarto álbum, marcou o início de uma nova fase na carreira do Ultravox, que passou a ganhar cada vez mais destaque no cenário musical, lançando um sequência de clássicos do Synthpop e estabelecendo-se como uma das principais referências do estilo.
Os dois primeiros trabalhos, Ultravox!, e Ha! Ha! Ha!, ambos lançados no ano de 1977, apresentam uma sonoridade que mescla elementos de Punk Rock e New Wave, com o predomínio de guitarras cruas e alguns momentos mais experimentais. O terceiro disco, e último com John Foxx, Systems of Romance (1978), mostra que o Ultravox resolveu dar maior destaque aos teclados e sintetizadores, investindo em músicas mais experimentais, com bastante influência de Brian Eno e Roxy Music. Uma figura importante para esta nova fase foi o produtor Conny Plank, famoso por ter colaborado com o Kraftwerk, Neu! e Devo.
Com vendas pouco expressivas e algumas crises internas, como a saída do vocalista John Foxx e do guitarrista Robin Simon, o Ultravox passou por uma reformulação interna, que culminou com a chegada de Midge Ure, vocalista e guitarrista bastante conhecido por seu trabalho com o Visage, outro nome consagrado do Synthpop. Além de cantar, Ure ficou também responsável pelas guitarras, estabilizando a formação como um quarteto. O primeiro álbum com esta formação, Vienna (1980), estabeleceu o Ultravox como um dos principais nomes do Synthpop dos anos 80, inaugurando uma sequência de cinco discos irrepreensíveis que seriam lançados ao longo daquela década. “Sleepwalk”, o primeiro single do disco, chegou ao segundo lugar nas paradas do Reino Unido, um dos melhores resultados da banda até então. A chegada de Midge Ure foi determinante para que o Ultravox conseguisse moldar sua nova sonoridade, com maior destaque para os teclados, belas melodias vocais e climas às vezes um pouco sombrios.
Rage in Eden (1981) manteve o sucesso do álbum anterior, sendo considerado por muitos como o grande clássico da banda. A abertura com “The Voice” traz uma das mais marcantes composições do Ultravox, com destaque para os vocais de Ure. A faixa apresenta uma mescla entre experimentalismo e batidas minimalistas, tendo, novamente, os vocais como apoio para costurar a ousadia instrumental a melodias cativantes.
Quartet (1982), traz George Martin como produtor, famoso por seu trabalho com os Beatles. Recheado de clássicos, Quartet é um daqueles discos que parecem coletânea: desde a abertura com a bela “Reap the Wild Wind”, passando por “Hymn” e “Cut and Run”, a sequência é uma das mais empolgantes de toda a discografia do grupo.
O disco seguinte, Lament (1984), foi o último a contar com o baterista Warren Cann, que só retornaria para a reunião ocorrida em 2012. “Dancing With Tears in My Eyes” foi um dos singles lançados, e mostra que a banda continuava afiada, mesmo apostando em sonoridades mais convencionais. Outro grande momento do disco é “One Small Day”, também lançada como single.
U-Vox (1986) foi o último álbum do Ultravox na década de 80, e encerrou uma era para a banda, que suspendeu as atividades após 1988, com a saída de Midge Ure. Para substituírem o baterista Warren Cann, convocaram Mark Brzezicki, do Big Country. Embora apresente bons momentos, como “Time to Kill” e “Moon Madness”, U-Vox é o disco menos empolgante lançado pela banda na década de 80.
Após um longo hiato, e a saída de todos os membros, exceto o tecladista Billy Currie, o Ultravox gravou mais dois discos – Revelation (1993) e Ingenuity (1994) – que podem ser considerados como uma espécie de carreira solo de Billy, que ficou responsável pelos vocais no primeiro, e contratou o vocalista Sam Blue para o segundo. Revelation não lembra nem um pouco os bons trabalhos do grupo, soando como um disco genérico de música Pop eletrônica dos anos 90. Ingenuity, por sua vez, possui bons momentos, como “A Way Out. A Way Through” e “Future Picture Forever”.
Em 2009 a formação clássica do Ultravox, com Midge Ure, Warren Cann, Chris Cross e Billy Currie, retornou para alguns shows e a gravação de um novo disco. Brill!ant (2012), talvez seja o melhor album do Ultravox após Lament, de 1984. As principais características da banda foram mantidas e atualizadas para os novos tempos, com timbres mais modernos e de muito bom gosto, sem perder a identidade sempre tão característica. Alguns dos melhores momentos de Brill!ant, como a abertura com “Live”, passando por “Flow” e “Hello”, mostram que em pleno 2012 a banda conseguiu lançar um dos grandes discos de toda a sua carreira. Imperdível.
Discografia: Ultravox! (1977); Ha! Ha! Ha! (1977); Systems of Romance (1978); Vienna (1980); Rage in Eden (1981); Quartet (1982); Lament (1984); U-Vox (1986); Revelation (1993); Ingenuity (1994); Brill!ant [2012].
Disco Recomendado: Quartet – Se consideramos o álbum como um todo, Quartet talvez seja o auge do Ultravox. O equilíbrio perfeito entre as experimentações eletrônicas e belas melodias pop. Talvez a presença de George Martin tenha sido fundamental para catalisar todos esses elementos. Por todo o disco, teclados sombrios e os vocais de Midge Ure são responsáveis pela mistura inusitada entre melancolia e momentos quase dançantes. A abertura “Reap the Wild Wind”, traz um dos melhores momentos da carreira do Ultravox, com Midge Ure mostrando ser um dos grandes vocalistas de sua geração. “Hymn” é outro momento marcante, lembrando um pouco o que o Japan, outra grande banda da época, vinha fazendo. “Mine for Life” mostra que Ure, além de exímio cantor, conseguia compor riffs simples e memoráveis com sua guitarra. “Cut and Run” é um dos momentos mais experimentais do álbum, mostrando que a estranheza pode conviver perfeitamente com melodias memoráveis, coisa que o Ultravox sempre soube fazer muito bem.
Vale a pena conferir: The Collection, coletânea lançada pela Chrysalis Records em 1984, que traz uma boa amostra dos hits do Ultravox, além de conter “Love’s Great Adventure”, que só tinha sido lançada como single.
Putz Christiano, de onde tu me tiraste essa banda? Cara, não lembrava dela, honestamente, e do que ouvi agora no youtube, acho que não conhecia nenhuma música (pelo menos nenhuma melodia me lembrou alguma coisa). Vou buscar ouvir o Quartet com calma, mas do pouco que ouvi, curti. Vlw!
Pô, acho o Ultravox Crássico. rsrsrs
Pelo menos “The Voice”, “Hymn” e “Dancing With Tears in My Eyes” são razoavelmente conhecidas. Mas é verdade que não são muito populares.
Ultravox era queridinha da Bizz. Não conheço quase nada. Tive um disco solo do Midge Ure. Não gostava muito.
Já do texto, gostei muito. Vou revisar a banda.
A carreira solo do Midge Ure é bem mais ou menos.
Gostava do Ultravox porque ele orbitava na figura do Brian Eno. E ainda tinha Conny Plank revezando com o Eno na produção de alguns discos. Isso é mais que um cartão de visitas, é um título ao portador. Esta série está cada dia melhor, Christiano e Mairon.
Valeu Marco. Aguardamos colaborações suas para engradecer nossa ingênua proposta.
Valeu, Marco.
Aliás, o Conny Plank também produziu o primeiro do Eurythmics, que é bem experimental e diferente dos outros discos que lançaram em seguida.
Esse primeiro do Eurythmics tem meio CAN tocando. Adivinhe se não é o disco que eu mais gosto da dupla.
Cara, é um belo disco. Meu preferido deles.
Aliás, seria muito interessante fazer uma matéria explorando essas relações entre Krautrock,música eletrônica e algumas bandas de synthpop dos anos 80.
Quer saber o que eu acho bacana? Uma matéria sobre o Neue Deutsche Welle, que é justamente isso: kraut, eletrônica, synthpop e… humor.
Excelente.Aprecio muito os discos do Ultravox, em especial a partir do Systems Of Romance (1979, o ponto de partida), passando pela trilogia Vienna/Rage In Eden/Quartet (devem ser ouvidos juntos) e um disco ao vivo complementar, Movement-The Soundtrack (1983), também recomendado a quem quer conhecê-los.O Lament representou o fim dessa fase de ouro da banda.O retorno com a formação clássica em 2010 com CD ao vivo Return To Eden e dois anos depois com o excelente Brilliant foi digno, fantástico e…brilhante !
Synth- Pop atemporal.
Bom que gostou, Fernando.
Eu ainda acho o “U-Vox” razoável. Claro que não chega nem aos pés do Brilliant…
Que bom achar algo escrito sobre o Ultravox. Tem uns dias que comecei a ouvir a banda, com o Rage in Eden, e estou assustadíssimo, músicas com estruturas e melodias muito diferentes e interessantes. Animado pra continuar ouvindo. Obrigado pela matéria!
Escuta Future Picture Forever do álbum de 1994 de nome Ingenuity. Som muito foda!