Notorious Prophet: Passando a ficha de Neon Indian
Por Alisson Caetano
Acima de apenas apresentar e celebrar a importância de grandes bandas do período áureo da synthpop/new wave oitentista, esta série cumpre um papel muito interessante: o de servir como uma espécie de túnel do tempo para todas as sensações e felicidades que aquele tipo de música traziam em quem as apreciava.
Portanto, não é apenas de bandas oitentistas que o synthpop se constitui, e talvez um dos ótimos representantes recentes desse estilo seja o Neon Indian, que tem como figura central o músico mexicano Alan Palomo. Responsável por toda a estética retrô e o conceito musical que cercam o Neon Indian, sua trajetória como músico teve início bem antes de fazer sucesso com a crítica em seu projeto mais conhecido.
Compositor ativo durante seus anos de universidade, Palomo já demonstrava seus gostos pelas estéticas nostálgicas em seus primeiros projetos musicais, dentre eles o Ghosthustler (que não chegou a gravar nada) e o VEGA, basicamente um alter ego que usou em um curto período de 2009 para gravar um disco de estúdio.
A formação do Neon Indian se deu em 2008, à incentivo de sua namorada da época, que deu a ideia do nome para o projeto e o incentivou a continuar compondo sobre o nome Neon Indian. Seu primeiro disco de estúdio, Psychic Chasms, veio em 2009 e recebeu surpreendentes críticas positivas de vários veículos musicais de renome, sendo reconhecido como uma das melhores estreias de uma banda nos anos de 2010 pela Rolling Stone.
O grande diferencial de Psychic Chasms é ser assumidamente um projeto saudosista e reverenciador a toda música brega, cafona e estilizada (no bom sentido dos adjetivos) que eram produzidos durante os anos 80. A estética exagerada, o enorme uso de moduladores, sintetizadores e Moogs, além das letras banais, criaram interesse pelo new wave oitentista e ajudaram a moldar o estilo atualmente conhecido por chillwave.
Em 2011, veio o segundo disco do projeto, Era extraña. Apesar de ser o disco mais variado pelo fato de acrescentar influências de dream pop e shoegaze, o disco acabou por não ser tão bem recebido quanto a estreia. De fato, é o disco mais fraco da banda até o momento, mas muito por questões de qualidade composicional, pois existem, dentro deste disco, alguns ótimos exemplares que merecem destaque, caso de “Polish Girl”, um ótimo dream pop com direito a wall of sound e clima melancólico.
Foi em 2014, entretanto, que a banda despontou com sua identidade totalmente desenvolvida em em sua criatividade máxima. VEGA INTL Night School chegou com ótimas críticas e com o pé na porta em todos os sentidos. Sem se levar a sério em momento algum, Palomo escreve músicas de amores banais, romances passionais e histórias bobas por sobre camadas e mais camadas de música eletrônica vintage o mais exagerado possível. O que para muitos pode soar cafona — e realmente pode ser — para outros é apenas uma enorme homenagem a todo o passado da música dançante oitentista.
Discografia: Psychic Chasms [2009]; Era estraña [2011]; VEGA INTL Night School [2014]
Disco Recomendado: VEGA INTL Night School [2014]
Como a carreira do Neon Indian é relativamente curta, não faz tanto sentido recomendar um disco, já que ainda é fácil de se conferir todos os discos. Psychic Chasms é um ótimo disco, mas recomendo o Night School como porta introdutória pelo ótimo desenvolvimento criativo pelo qual Adam Palomo passou no período que compreende do início da carreira até aqui. Ao invés de apostar em uma sonoridade mais branda, Adam mergulhou fundo nos sons retrôs e não teve medo de entregar um resultado completamente extravagante e exagerado. As nuances de teclados comandam fortemente todo o trabalho, e a voz de Adam complementam fielmente o intuito do trabalho, que é o de fazer músicas cheias de ares oitentistas e perfeitas para embalar sábados noturnos. Caia de cabeça sem medo.