Melhores de 2016: Por Ulisses Macedo
Por Ulisses Macedo
Segue aí a minha lista, em ordem de preferência, com os discos que mais gostei de ouvir em 2016. Um adendo: além do “Ouça”, que introduzi na minha lista do ano passado e apresenta a faixa que mais gostei do álbum em questão, resolvi incluir também o gênero musical (com uma ajudinha do RateYourMusic em alguns casos), links para os videoclipes, e streamings de áudio.
1. Kero Kero Bonito – Bonito Generation
bitpop • synthpop
Com um pop fofo e sem excessos, o KKB foi a melhor descoberta que fiz este ano, rendendo as audições mais divertidas. O trio londrino, formado pela vocalista Sarah Midori Perry com os produtores Gus Lobban e Jaime Bulled, é absurdamente carismático, até mesmo levando para os palcos algumas das presepadas de seus videoclipes. Com letras que vão do genialmente irônico (“Graduation” deverá ser minha música-tema daqui há alguns anos) ao cotidianamente efêmero, eles transitam com enorme facilidade pelas mais diversas camadas da música pop, moldando influências que vão do synthpop, passam pelo hip hop e chegam na chiptune dos videogames 8-bits, em faixas curtinhas e bilíngues de personalidade própria, além de um lirismo impecável e divertido que encapsula perfeitamente sua geração.
O trio disponibiliza streaming do álbum no YouTube.
Videoclipes: “Break” • “Lipslap” • “Trampoline“
Ouça: “Big City”
2. Santana – Santana IV
latin rock
Quatro década depois, Santana se reúne com Gregg Rolie (teclados), Neal Schon (guitarra), Michael Carabello (congas) e Michael Shrieve (bateria) – parte de sua formação mais celebrada, completada por Benny Rietveld (baixo) e pelo ótimo Karl Perazzo (percussão). A ideia foi de Neal, e a resposta veio para ele na forma de um relógio Hublot, presente que ganhou de Carlos em seu 60º aniversário – um simbolismo para “ok, está na hora”. Antes de ouvir o álbum, eu, particularmente, continuava incrédulo de que houvesse saído algo realmente bom desse (re)encontro. Ainda bem que eu estava errado: Santana IV é sensacional! Contendo os solos lisérgicos e a percussão latina cativante, com composições genuinamente explosivas e dançantes, do jeito que todo fã aprecia.
Os caras lançaram, ainda este ano, o Blu-Ray/DVD Santana IV: Live at the House of Blues, Las Vegas , que conta com um setlist composto pelos clássicos dessa formação.
Ouça: “Freedom in Your Mind (feat. Ronald Isley)”
3. Megadeth – Dystopia
thrash metal
É uma grande satisfação poder colocar no pódio – com todo o merecimento – uma banda de que eu gosto muito. Após duas escorregadas feias na primeira metade desta década, o tio Mustaine não se deixou abalar com a saideira de dois membros da trupe, arregaçando as mangas e recrutando reforços de peso – Kiko Loureiro e Chris Adler. Dystopia é um disco recheado de composições empolgantes, como já não se via desde Endgame (2009). Se as coisas se mantiverem assim, a banda conseguirá se manter num patamar bastante proveitoso, especialmente se comparado aos outros idosos do thrash. Confira a resenha clicando aqui.
Videoclipes: “Conquer or Die!” • “Dystopia” • “Post American World” • “The Threat Is Real“
Ouça: “Fatal Illusion”
4. Perfume – Cosmic Explorer
electropop • j-pop
Há algum tempo que eu venho me aventurando pela obra do produtor japonês Yasutaka Nakata, e a recompensa por isso foram alguns belos tesouros musicais, caso do trio Perfume, um estouro lá na terra do sol nascente (motivos não faltam). Em seu quinto disco de estúdio, o senpai Nakata e as queridinhas da vez entregam algumas belas novidades, caso da faixa-título e da simpática “Star Train”, antêmicas como dificilmente se vê no gênero, abrindo novas possibilidades para o som do trio na próxima Era. Nota-se, pela sonoridade e temática espacial de algumas faixas, que daria para ter arriscado um som mais conceitual e coeso, em que as faixas conversassem entre si; mas vou confessar aqui que é difícil reclamar de um disco com composições tão cativantes quanto “Miracle Worker”, “Next Stage With You”, “Story” e a faixa-título. A farra dos Album-Mixes e a teimosia em não organizar direito o tracklist (que já é meio gorduroso) continuam, mas isso aí já é praticamente uma marca registrada. Contendo menos visceralidade eletrônica inovadora e mais influências ocidentais, Cosmic Explorer não explode cabeças como Game (2008) ou ⊿ (2009), mas não deixa de ser um registro bastante sólido.
Videoclipes: “Cling Cling” • “Flash” • “Hold Your Hand” • “Pick Me Up” • “Relax in the City” • “Star Train” • “Sweet Refrain“
Ouça: “Next Stage With You”
5. Oceans of Slumber – Winter
progressive metal
A chegada de Beau Beasley (teclados) e Cammie Gilbert (voz) mudou significativamente o panorama do Oceans of Slumber, banda que tem em Winter seu segundo álbum de estúdio. Como canta essa mulher! Cammie emula a expressividade das cantoras de soul e, com isso, conduz com segurança todas as composições, deixando que a banda desça o cacete ao seu redor, contrastando a bela voz da moça com o peso do metal moderno, guturais e blast beats, e sabendo dosar a mão para os momentos sutis e recheados de texturas.
Videoclipes: “Suffer the Last Bridge” • “Winter“
Ouça: “Devout“
6. Ed Motta – Perpetual Gateways
vocal jazz
Da série: “por que é que eu não dava bola pra esse cara antes?”. Interpretação show, banda de apoio cavala (com ênfase nos metais e no piano), ótima produção e letras interessantes. O disco, que é dividido ao meio (entre Soul Gate e Jazz Gate), tem uma fluidez monstruosa, e ainda assim as faixas se diferenciam umas das outras desde a primeira audição.
Videoclipes: “Captain’s Refusal” • “Overblown Overweight“
Ouça: “A Town in Flames”
7. Esben and the Witch – Older Terrors
gothic rock • post-rock
Este trio explora, através de composições sem pressa alguma de se desenvolverem, uma sonoridade lamuriosa e minimalista, de ambientação lúgubre, com um instrumental praticamente post-rock, em que a voz hipnótica de Rachel Davies evoca atmosferas sombrias.
O selo Season of Mist disponibiliza streaming do álbum no YouTube.
Ouça: “The Wolf’s Sun”
8. Acapulco Lips – Acapulco Lips
garage rock • surf rock
Prepare as orelhas: há fuzz e reverb em profusão no disco auto-intitulado do trio Acapulco Lips, em que uma mistura de rock de garagem e pop punk encontra o surf rock dos anos 60. Bateria inquieta, baixo pipocante e guitarra afiada fazendo músicas diretas e cativantes. Quero ver quem resiste ouvir o álbum inteiro sem fazer aquele movimento da ondinha com os braços.
Videoclipes: “Awkward Waltz” • “Tonight“
Ouça: “Awkward Waltz”
9. David Bowie – ★
art rock • jazz-rock
Ainda bem que Blackstar foi lançado no começo do ano, pois a cada mês eu pude renovar a audição e assimilar melhor a proposta do disco. Funciona como um adeus do cantor ao mundo, utilizando-se de uma mistura de rock, jazz e encaixes eletrônicos para criar a atmosfera “carregada”, mas que, surpreendentemente, não cansa em momento algum.
Videoclipes: “Blackstar” • “Lazarus“
Ouça: “I Can’t Give Everything Away“
10. Avenged Sevenfold – The Stage
metalcore • progressive metal
Não acompanho o A7X de perto. Da discografia, sou mais familiarizado com City of Evil (2005), mas nenhum álbum deles me cativa de verdade, apesar de possuírem algumas ótimas composições e músicos competentíssimos. Depois de Hail to the King (2013), que antecede The Stage e foi criticado por se aproximar demais do som de medalhões do rock, achei que a banda iria seguir nessa direção mais comercial, mas felizmente não foi o caso. Aqui, eles apostaram num retorno ao virtuosismo de City of Evil e Avenged Sevenfold (2007), mas utilizando a técnica a favor da narrativa – as letras estão interligadas por um conceito futurístico, em que a banda soube moldar elementos pouco usuais e utilizá-los para produzir imersão e variedade sonora: caso dos metais em “Sunny Disposition”, da narração do astrofísico Neil deGrasse Tyson em “Exist” e das cordas de “Roman Sky”, além da presença do orgão em vários momentos do registro. O resultado? Mesmo sendo o disco mais longo da banda, com 1h13m de duração, é o que prende a minha atenção com mais facilidade.
Videoclipes: “The Stage”
Ouça: “Higher”
SURPRESA
Imarhan – Imarhan
tuareg blues
Os tuaregues são um povo nômade do norte da África, possuindo uma tradição musical particular da qual, confesso, conheço pouquíssimo. Dei muita sorte de topar com a estréia dessa banda Algeriana, que faz um blues elétrico filtrado por essas raízes sonoras. As guitarradas alegres e dançantes de “Tahabort”, “Assossamagh”, “Arodj N-inizdjam” e da faixa-título convivem lado a lado com o estilo blues solitário e contemplativo do deserto de faixas como “Idarchan Net” e “Id Islegh”. O problema, entretanto, é que eu realmente gostaria que as composições “swingadas” predominassem em relação àquelas de dedilhados tranquilos – mas a audição é muito boa, de qualquer forma. Com o lançamento do álbum, o quinteto, que na verdade já toca junto há uma década, começa a ganhar reconhecimento internacional, realizando alguns shows nos Estados Unidos e na Europa. Manterei meus ouvidos de butuca para os próximos lançamentos dessa galera.
Videoclipes: “Imarhan” • “Tahabort” • “Tarha Tadagh”
Ouça: “Imarhan”
DECEPÇÃO
Dream Theater – The Astonishing
progressive metal
Há algumas boas composições aqui, mas o material, de cabo a rabo, não é diverso o suficiente para justificar mais de duas horas de duração, nem mesmo com uma orquestra onipresente arranjada pelo ilustre David Campbell. A justificativa de que eles pegaram “influências de musicais da Broadway e Disney” não é uma boa desculpa para explicar o excesso de melodias apáticas que pairam sobre o álbum, numa tentativa de soar grandioso e emotivo que dá certo em poucos momentos – ainda mais considerando-se que James LaBrie, um dos vocalistas menos versáteis do gênero, tem a ingrata tarefa de interpretar todos os personagens da narrativa. Entretanto, para o bem ou para o mal, The Astonishing causa impacto. Uma parte de mim nem gosta de chamar o disco de decepção, pois continua sendo um esforço impressionante.
Videoclipes: “Our New World” • “The Gift of Music“
Ouça: “A New Beginning“
ANÚNCIO DE UTILIDADE PÚBLICA
Brownout – Brownout Presents Brown Sabbath Vol. II
latin rock
Se eu não tivesse tido a sorte de checar aleatoriamente o bandcamp do Brownout, teria deixado passar o segundo tributo dos caras ao Black Sabbath. Para quem não sabe, ou não se recorda, a banda agradou o pessoal aqui do site numa das edições da coluna Consultoria Recomenda, com suas versões funkeadas de clássicos do quarteto de Birmingham. Dessa vez, porém, eles atenderam aos nossos pedidos (rá, até parece) e incluíram no tributo versões que não se limitam aos discos Black Sabbath e Paranoid.
Outros trecos legais (em ordem alfabética):
Babymetal – Metal Resistance ⇒ Babymetal prova que não é um one-trick pony e diversifica seu som, ampliando as influências de power metal e trazendo hinos antêmicos em inglês. Ainda não me cativam tanto num álbum inteiro, mas parecem estar chegando lá.
Bella Wolf – Bella Wolf ⇒ Agradável disco de jazz onde a flauta é a grande protagonista, transitando com facilidade no mesmo ambiente de um piano inquieto, uma bateria hiperativa, um trompete entrosado e um baixo comportado.
Blaze Bayley – Infinite Entanglement ⇒ Pode não ser um “disco do ano”, mas dificilmente o Blaze erra a mão na carreira solo. Aqui, ele retorna aos temas futurísticos na primeira parte de sua planejada trilogia.
Blues Pills – Lady in Gold ⇒ Um pouco menos rock e mais soul, mas com a mesma intensidade e bom gosto.
Charles Bradley – Changes ⇒ A ótima interpretação de Charles para a clássica balada do Black Sabbath não é o único destaque deste belo álbum.
Denner / Shermann – Masters of Evil ⇒ Uma das maiores duplas de guitarristas da cena metálica, retornando ao heavy metal oitentista de temas satânicos. Não é um daqueles discos impressionantes, mas diverte.
High Spirits – Motivator ⇒ Excelente disco de hard rock festeiro sem ser farofeiro. Revigorante, memorável e compacto, chegou muito próximo de entrar no meu Top 10.
Santana – Santana IV: Live at the House of Blues, Las Vegas ⇒ É o Santana, ao vivo, reunido com seus parças. Preciso falar mais alguma coisa?
Jurava que ia dar Megadeth na cabeça, e deu KKB. Esse disco, meu caro Ulisses, achei ó, uma bost@. Que coisa tinhosa.
O IV eu esperava mais. Achei o pessoal meio enferrujadão, e não dá, a sonoridade sessentista não tem como ser revivida.
Megadeth comentou outro dia. Dos demais, ouvi o Ed Motta e o Ocean of Slumbers, e ambos também não me agradaram. Mesmo assim, esse do Brownout e do Imarhan me chamaram a atenção.
E claro, o disco do DT é uma grande bost@!!
É, a sonoridade não é exatamente a mesma dos anos 70. Tu ouve a “Choo Choo” e vê aquela abertura com uma batida meio house que logo depois descamba para o som típico da banda, mas com essa mistura com moderno com o novo que eu acho que elez fizeram muito bem. De qualquer forma, estou achando estranha a falta do Santana IV nas listas em geral.
Sobre o Imarhan, acho que tu vai curtir os momentos calmos do disco bem mais do que eu. Por mim, se o disco tivesse mais composições como “Tahabort” e a faixa-título, iria direto para o Top 3. Mas foi bom também por ter me exposto a essa música tuaregue; já planejo explorar nomes relacionados, como Tinariwen, Bombino e Tamikrest.
Essse Kero Kero Bonito é tão bobinho quanto bacana. Dá pra ouvir numa boa e se divertir com as músicas tirando um barato do J-Pop. Não sobreviveria no teste do tempo comigo, mas é uma boa dica.
Algumas surpresas muito legais na lista do Ulisses. Todo o meu apoio e gratidão a quem sai da casinha.
Ouvi algumas coisas aí e cheguei à um conclusão: ainda bem para algumas bandas que existem alguns como o Ulisses, pq se dependessem de mim ficariam na miséria e no total desconhecimento…
O mesmo vale para a lista do Alisson, kkkkkkkk
Concordo