O Guia do Led Zeppelin – Nigel Williamson [2007]
Por Mairon Machado
Em meados dos anos 2000, lá nos países de primeiro mundo, chegou ao mercado uma série de livros chamada The Rough Guide to …, a qual foi construída com a intenção de não ser uma biografia ou uma obra especializada em um determinado assunto, mas sim, como um guia para quem conhecer um dado estilo/artista musical.
A série conta com diversos guias já lançados, escritos por diversos jornalistas especializados no mundo da música, e desses guias, destacam-se os de Bob Dylan (por Nigel Williamson), Pink Floyd (por Toby Manning), The Beatles (por Chris Ingham), Elvis Presley (por Paul Simpson), Nirvana (por Gillian G. Gaar), Jimi Hendrix (por Richie Unterberger), Velvet Underground (por Peter Hogan), The Rolling Stones (por Sean Egan) e muitos outros artistas e estilos. Dentre eles, me atiçou a curiosidade pelo O Guia do Led Zeppelin.
Lançado originalmente em 2007 e escrito pelo renomado jornalista Nigel Williamson, o livrinho, somente no formato brochura e com dimensões pouco convencionais para um formato de livro (19,5 x 19,5 cm) acabou valendo o investimento, sendo um prato cheio tanto para quem é fã dos britânicos quanto para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre a história de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.
Como atesta a contra-capa do livrinho, lançado aqui no Brasil pela editora Aleph: “Reconhecidos mundialmente por sua originalidade, os guias da série inglesa Rough Guides vão muito além das biografias comuns. Verdadeiras obras de referência, trazem, além de história e discografia de bandas, artistas e gêneros musicais, conteúdo diferenciado para os leitores, fãs ou não“.
Nigel foi editor dos jornais The Times e Tribune, o que já coloca em alta a qualidade do material escrito, e tem em sua bibliografia duas obras atemporais, as quais são Through the Past: The Stories Behind the Classic Songs of Neil Young, e The Rough Guide to the Blues, além de também ter escrito o excepcional The Rough Guide of Bob Dylan. O livro aqui em questão é dividido em três partes: A História; A Música e Zeppologia.
Na primeira parte, temos toda a história do grupo, desde o nascimento de seu membro mais velho (Jimmy Page, em 08 de fevereiro de 1944) até o que aconteceu com cada integrante com o fim da banda em 1980, sendo muito detalhista. Ao longo de oito capítuos (Pré-voo – 1944-1968; A ascensão do zepelim – 1968-1969; Do sucesso ao excesso – 1969-1970; Pompa e Circunstância – 1970-1971; Martelo dos deuses – 1972-1973; Abuso e desgaste – 1974-1976; Pouso forçado – 1977-1980; e Desembarque: os anos solo – depois de 1980), são traçados o perfil e as experiências prévias dos jovens que músicos que formaram a banda, chegando ao grosso da história, no período dos anos 70, e levando a um detalhamento sobre a carreira solo de cada integrante.
Baseado em entrevistas com os quatro membros da banda (o já citado Page, Robert Plant, John Bonham e John Paul Jones), bem como pesquisas autorais, o autor foge de polêmicas ou fatos que os integrantes poderiam julgar improcedentes, mas não deixa de contar com minúcias motivos positivos (grandes shows, o alavancamento do sucesso da banda, construção de canções) e negativos (envolvimento com drogas, problemas internos, o lado oculto de Jimmy Page, …) que fazem parte da curiosidade de qualquer pessoa que busque sobre o grupo, servindo exatamente como um guia especializado daqueles que compramos nos aeroportos de alguma cidade do primeiro mundo quando por lá vamos pela primeira vez.
Esse capítulo ainda é complementado por quadros alusivos à alguma parte do texto, que complementam ou explicam o que está sendo contado ou desenvolvido naquele momento, como algumas das principais gravações de Page e Jones como músicos contratados de estúdio, histórias de pessoas ligadas ao Led, entre outros pequenos detalhes que ajudam bastante a compreendermos como o Led Zeppelin foi formado fora dos palcos e estúdios, além de várias fotos praticamente inéditas ou pouco vistas (até 2007).
A parte A Música apresenta resenhas minuciosas sobre todos os discos oficiais da banda, inclusive álbuns ao vivo e algumas coletâneas lançadas depois do fim do Led, bem como passeia com elegância pelas carreiras solo de Page, Plant e Jones, além de traçar uma lista sobre os principais bootlegs e raridades para fãs, encerrando com comentários muito apreciativos para aquelas que Nigel definiu como as cinquenta maiores canções do Led Zeppelin. Cabe notar que Nigel não poupa elogios quando necessários, como para obras primas como “Stairway to Heaven”, “Kashmir”, “Since I’ve Been Loving You” ou “Achilles Last Stand”, mas em compensação, detona canções que os próprios fãs consideram fracas na grande obra do grupo, como “The Crunge”, “D’yer Mak’er”, “South Bound Saurez”.
Nigel também aproveita para também descer a lenha nos álbuns do supergrupo The Firm (montado por Page ao lado de Paul Rodgers durante os anos 80, e que fracassou mundialmente) e travar fortes críticas para Robert Plant, principalmente por ter acabado com as alegrias de Jimmy Page ao criar seu projeto ao lado de David Coverdale e ter que abandonar por conta da gravação de No Quarter (1994). Essas críticas, feitas sem enrolação e com bastante propriedade, colocam o autor muito próximo ao leitor, e ainda mais ao fã, levando para o papel aquilo que praticamente a grande maioria dos admiradores do grupo pensa, e servindo, por que não, como uma espécie de “conversa de amigos” trocando ideias sobre os discos e as curiosidades da banda. Interessante notar que todas as capas dos álbuns são apresentadas com um pequeno comentário, alguns bastante ácidos – e convenhamos, no geral, as capas tanto do Led quanto dos músicos em carreira solo nunca foram lá grandes coisas mesmo.
Por fim, em Zeppologia, Nigel apresenta curiosidades pouco narradas sobre a banda, como a história de alguns dos principais artistas a colaborar com o sucesso do grupo (e Frank Zappa), os dez principais contos de excesso da banda, dando um pouco mais de detalhes sobre o famoso caso do Mud Shark, as dez principais locações para se conhecer o que vivenciaram os membros da banda, dicas de livros e websites relacionados ao Led, breves comentários sobre os únicos dois DVDs oficiais (The Song Remains the Same e Led Zeppelin), e encerra com a lista dos dez melhores covers e dos dez piores covers feitos para canções do grupo, além de destacar o grupo Lez Zeppelin (grupo de lésbicas que faz somente covers de canções da banda) em uma pequena seção chamada Bandas-tributo.
Nessa parte, Nigel detona com o filme The Song Remains the Same, além de deixar para a eternidade duas frases que podem chocar os fãs das bandas envolvidas: ” … é de se desconfiar de um autor que acredita que os paralelos mais óbvios com o Led Zeppelin foram Black Sabbath e Deep Purple; algo como comparar um premier cru de Bordeaux com um merlot vagabundo da Bulgária“, ao criticar o livro When the Levee Breaks: The Making of Led Zeppelin IV, de Andy Fyfe, e no mesmo comentário, afirmar que “Mais bizarra é a afirmação de que nos anos 80, o Kiss levou o rock pesado à frente quase tanto quando o Led Zeppelin fez anteriormente“, o que confesso, imagino só poder se maluquice de Fyfe.
Temos 264 páginas que passam rápido pelos olhos, e que certamente, se você o adquirir, irá querer retirar da prateleira cada vez que for ouvir alguma canção do Led Zeppelin. Vou buscar os outros livros, com certeza vale a pena.
Muito legal, Mairon!
engraçado que já folheei esse livro brevemente uma vez e não me pareceu tão interessante quanto vc mostra com propriedade no seu texto. Mas só esses dois últimos quadrinhos são tão esclarecedores e dizem tanto que realmente, preciso conferir o conteúdo todo novamente.
A propósito, o que vc acha do livro: Treasures of Led Zeppelin?!
Abraço!
Grande Ronaldo. Obrigado pelos elogios. O livro é muito bom, principalmente para quem quer ter um arquivo de histórias diretas e sem muita enrolação. Quanto ao Treasures, acredite, ainda não li … Mas um dia será lido.