Durante os meses de janeiro e fevereiro, o blog estará de férias! Por isto, estaremos publicando novamente as matérias mais acessadas em cada mês destes dois anos de Consultoria do Rock, sempre às terças, quintas e sábados. Além disso, a seção Discografias Comentadas será quinzenal durante este período, mantendo-se na sua data tradicional de domingo. Voltaremos à nossa programação normal em março, desejando um Feliz 2013 a todos os nossos leitores, com muito “rock and roll all night, and party every day” durante este ano!
Por Micael Machado
O dinamarquês Kim Bendix Petersen nasceu em 14 de Junho de 1956 na cidade de Copenhagen. Até os 21 anos de idade, se dedicou inteiramente ao futebol, jogando pelo Hvidovre IF, da cidade de mesmo nome. Mas, depois, a paixão pela música falou mais alto, e ele integrou o Brainstorm (onde “adquiriu” seu nome artístico, King Diamond, e no qual atuava como guitarrista), o Black Rose (quando passou a ser apenas vocalista) e o Brats, que, após ter alguns de seus músicos (King entre eles) envolvidos com o projeto Danger Zone, daria origem ao Mercyful Fate. Após dois álbuns e um EP com o grupo, divergências musicais levaram o vocalista a montar um novo grupo, acompanhado pelos ex-colegas Michael Denner (guitarras) e Timi Hansen (baixo). Com a formação completa pelos suecos Mikkey Dee (baterista) e Andy LaRocque (guitarrista que se tornaria o “braço direito” do vocalista ao longo dos anos, sendo o único membro de sua banda a participar de todos os discos), escolheram dar o nome de seu vocalista para o novo conjunto, devido à fama que o mesmo já possuía.
Nascia assim a King Diamond Band, que estreou em 1985 com o single No Presents For Christmas, que trazia no lado B a canção “Charon”. Era o início da trajetória solo do Rei Diamante, a qual você acompanha a partir de agora nesta Discografia Comentada.
Fatal Portrait [1986]
O álbum de estreia da King Diamond Band é um daqueles discos fundamentais na coleção de quem gosta de Heavy Metal. Um de seus poucos álbuns que não são totalmente conceituais, possui cinco faixas que contam a história de Molly, uma garotinha cuja alma foi aprisionada em uma pintura por sua mãe ciumenta. A excelente “
The Candle” (com sua longa e macabra introdução) abre o álbum, seguida pela clássica “The Jonah” (mais cadenciada), “The Portrait” (outra excelente composição, com uma linha de baixo matadora) e “Dressed in White” (que, apesar do excelente refrão, é a mais fraca das músicas relacionadas à história). O conto termina na faixa de encerramento do disco, “Haunted”, a mais melódica das cinco. No geral, King usa o estilo agudo de vocais mais frequentemente do que usava no Mercyful Fate durante estas músicas, até para tentar reproduzir o que seria a voz de Molly, já dando uma ideia de sua enorme capacidade de interpretação para os diversos personagens de suas histórias, algo que aprimoraria ainda mais nos álbuns seguintes. Nas canções que não tem relação com o conto, “
Charon” (que trata da lenda de Caronte, responsável por levar as almas para o “outro lado” através do rio Estige – Styx em inglês) é a que mais lembra os tempos de Mercyful Fate, enquanto “
Halloween” se tornou um clássico da carreira do Rei. A agitada instrumental “Voices from the Past” (com interessantes partes de teclado) e a mais cadenciada “Lurking in the Dark” completam o
track list, que, na reedição em CD, teve o acréscimo de “No Presents for Christmas” e “The Lake”, um
outtake do álbum original. Clássico, mas ainda não era o ponto alto da carreira de King Diamond.
Um jovem casal (Jonathan La’Fey e Miriam Natias) se muda para uma velha mansão que Jonathan herdou. Ao chegarem ao local, são avisados por um grupo de Cavaleiros Negros para não ficarem na casa, ou algo muito ruim irá acontecer. Sem dar bola ao aviso, os dois se estabelecem, mas, durante a primeira noite na mansão, o rapaz descobre que ela é assombrada pelo fantasma de um antepassado seu, o Conde La’Fey. Este conta a Jonathan sobre um fato ocorrido há muito tempo, e que uma maldição irá atingir o casal caso o marido não mate Miriam para impedir que todos morram! Terá ele coragem de matar a esposa para poupar a própria vida e a de outros? E quem eram os estranhos cavaleiros? Essa é a trama central de
Abigail, o primeiro álbum totalmente conceitual da carreira de King Diamond, e onde ele começou sua colaboração com o produtor Roberto Falcao, que por anos trabalharia ao lado de King em suas gravações. Embora a sonoridade geral seja mais “leve” em relação aos dois primeiros registros do Mercyful Fate, o disco é puro heavy metal, tornando-se um dos clássicos do estilo ao longo dos anos e o favorito da carreira solo para muitos fãs. “The Family Ghost” é a música mais lembrada ao falarmos deste álbum, em muito por causa de seu
vídeo de divulgação, mas deve-se destacar também as excelentes “
A Mansion in Darkness” (bastante veloz), “The 7th Day of July 1777” (cuja
intro acústica é só para enganar, pois a música é uma paulada!), “Black Horsemen” (uma das que mais lembra o antigo grupo de King) e a
faixa título, que possui um ritmo “quebrado” e alguns toques orientais em sua melodia. “The Possession” é mais cadenciada que as outras, ao contrário da veloz “Arrival”. A
intro “Funeral” lembra bastante o início de “The Candle”, do disco anterior, e a faixa “Omens” completa o
track list. Em 1997, houve um relançamento com quatro faixas bônus: o
B-side “Shrine”, que não entrou em
Abigail por sua letra não ter relação com o resto da história, e os “Rough Mix” para outras três músicas do álbum, sendo que existe ainda uma edição de 2005, que vem com um DVD de bônus. Em 1990, foi lançado o álbum
In Concert 1987: Abigail, que registra um dos shows da turnê de promoção, já com Mike Moon nas guitarras no lugar de Michael Denner, que deixou o grupo para poder se dedicar mais à família.
Andy LaRocque, Timi Hansen, King Diamond, Mikkey Dee e Michael Denner
Them [1988]
King (um personagem da história, não o vocalista), sua mãe e sua irmã (Missy) recebem a avó de volta à sua casa, ela que havia ficado longe em “longas férias”, segundo o garoto (na verdade, ela estava internada em um asilo para doentes mentais após ter matado o avô das crianças, como sabemos em uma carta presente no encarte da versão original em vinil). O rapaz logo percebe que algo muito estranho ocorre no sótão onde sua avó dorme, e ela lhe explica que seres invisíveis (“eles”) dominam a casa, chamada Amon. Estranhos rituais são realizados pela avó, que, ao tentar ser impedida pela neta, acaba desencadeando uma verdadeira tragédia. A história de Them é uma das melhores que King Diamond já escreveu, assim como o disco, que marca e estreia de Pete Blakk na guitarra e de Hal Patino no baixo, substituindo Timi Hansen, que saiu do grupo por causa de sua namorada à época, e deixou King como o único membro com ligações ao Mercyful Fate presente no line up. Após a arrepiante intro “Out From the Asylum”, assim como ocorre em outros álbuns conceituais as faixas funcionam melhor no contexto da história, perdendo força quando escutadas em separado. Mas é impossível não destacar “Welcome Home” (um dos clássicos da carreira de King, e uma das melhores aberturas de música que ele já gravou, tendo recebido um clipe de divulgação), a variada “The Invisible Guests“, “Bye, Bye Missy” (com um refrão bem triste, apesar da velocidade da canção, e King abusando de sua capacidade de interpretação) e a pesada “Twilight Symphony” (com muitas variações). A melódica “Tea”, “A Broken Spell” (com uma interessante e inusitada parte acústica no meio), a instrumental “Them” (com base de violões e alguns efeitos assustadores), “The Accusation Chair” (cujo riff da primeira parte remete ao álbum Abigail) e a variada “Mother’s Getting Weaker” completam a história, que se encerra em “Coming Home”, vinheta que retoma o tema infantil ao piano presente em “Out From the Asylum”. A edição em CD tem como bônus versões instrumentais gravadas durante um ensaio para “The Invisible Guests” e “Bye, Bye Missy” (ambas com Timi Hansen no baixo e King e Andy nas guitarras) e a curta “Phone Call”, uma assustadora ligação da avó do personagem King (depois de morta) para seu netinho trancado no hospício. Com toda a razão, Them é o favorito da carreira de King Diamond para muitos de seus fãs, sendo um de seus discos mais clássicos.
The Dark Sides [1988]
EP lançado em 88 com seis faixas, quase todas bastante raras à época. Estão presentes as duas músicas do primeiro single (“No Presents For Christmas” e “Charon”), o single para “Halloween” ( a faixa título e seu lado B, “The Lake“), “Shrine” (das sessões de Abigail, mas presente originalmente no single para “The Family Ghost”), e “Phone Call”, a única realmente inédita até então, sendo uma sobra das sessões de Them. A maquiagem de King presente na capa fez com que Gene Simmons, do Kiss, processasse o vocalista por achar que a mesma era muito parecida com a que o baixista usava, mas tudo foi resolvido em um acordo fora dos tribunais, quando King decidiu mudar a sua maquiagem dali para a frente. The Dark Sides é um item de colecionador, ainda mais que todas as suas faixas acabaram disponibilizadas depois como bônus das edições em CD.
Na continuação da história contada em
Them, temos King voltando à casa Amon depois de sair do asilo para doentes mentais onde foi internado após os fatos daquele álbum. Para ver de novo sua irmã Missy (à época já morta), o rapaz faz um acordo com “eles”, lhes devolvendo o poder sobre a casa. Mas o que ele não sabe é que seu médico e sua mãe (que se tornaram amantes) têm outros planos para o local, não se importando de matar King se isso for necessário para conseguirem o que desejam. Mas sera que “eles” irão permitir que estranhos tomem conta da casa que lhes pertence? E o que King pode fazer para impedir que isso ocorra? Musicalmente falando, a longa e variada “At the Graves” abre aquele que é, para mim, o melhor disco já registrado por King Diamond. “Sleepless Nights” ganhou
clipe e é mais uma a virar clássica quando pensamos na banda, destacando-se no
track list ao lado da citada
faixa de abertura, “A Visit From the Dead” (que tem uma
intro acústica muito bonita, em contraste com a velocidade da segunda parte), a cativante “
‘Amon’ Belongs to ‘Them’” (que conta com um dos melhores refrões do álbum) e a veloz “Victimized”. Com muitas variações (assim como as outras faixas), “The Wedding Dream” (que efetivamente tem até a “marcha nupcial” em sua abertura) é outra faixa muito interessante, enquanto “Lies” é uma das mais pesadas da carreira solo de King. A instrumental “Something Weird” e “Let It Be Done” (que retoma o tema infantil ao piano presente em algumas faixas de
Them, porém agora com uma sonoridade mais macabra) são apenas vinhetas que complementam a história, e o disco encerra com a intrigante instrumental “Cremation” (com seu
riff repetitivo mas cativante), e um dos personagens prometendo voltar do túmulo para se vingar, deixando em aberto a possibilidade de uma terceira parte para a história, algo que ainda não ocorreu. A edição em CD tem como bônus mixagens alternativas para “At the Graves” e “Cremation” (esta com o subtítulo “Live Show Mix”). Ao contrário de
Them, penso que as músicas aqui funcionam bem em separado, mas, quando ouvidas em conjunto, acompanhadas da história contada pelo vocalista, tornam-se insuperáveis! Este foi o último trabalho com o baterista Mikkey Dee, que deixou o grupo ainda antes das gravações, trabalhando aqui como músico contratado e indo juntar-se ao Motörhead pouco depois. Cabe citar que existem algumas cópias com a capa mostrando o personagem King jogando um caixão para fora da casa Amon (arte que o vocalista viria a recusar depois de pronta), as quais são muito procuradas por colecionadores mundo a fora.
A rara capa original de Conspiracy
The Eye [1990]
Neste álbum King Diamond conta duas histórias diferentes, baseadas em fatos reais acontecidos durante a época da Santa Inquisição, unindo-as através da fictícia história de um medalhão chamado “o Olho da Bruxa” (presente na capa), que pode transportar as pessoas que o usam pelo tempo, mas também mata a quem lhe olhar diretamente. O narrador acha o tal medalhão, e acaba voltando à época de Jeanne Dibasson, acusada de bruxaria pela Inquisição e julgada pelo próprio Nicholas de La Reymie, chefe da Chambre Ardente, o braço francês da instituição. Como era costume na época, Jeanne é queimada na fogueira, e, no local onde era morreu, duas garotas encontram o medalhão do “Olho”. Enquanto brigam para ver quem ficará com ele, uma das garotas olha em seu interior e morre, o que nos leva à história de Madeleine Bavent, que ocupa a última faixa do lado A e todo o lado B. Madeleine é um freira de dezoito anos que é seduzida pelo capelão de seu convento, Padre Pierre David, o qual também morre ao olhar o medalhão, que estava de posse da menina (seria ela a mesma que o encontrou nas cinzas da fogueira?). O novo capelão, Padre Mathurin Picard, não é uma pessoa tão religiosa assim, drogando as freiras e as obrigando a participar de rituais satânicos no convento. Todos os que participam dos rituais acabam sendo presos pela inquisição, e, segundo o encarte, morrendo na prisão. O álbum termina com o narrador voltando ao presente, agora sabedor do poder do medalhão. Único álbum a contar com a presença do baterista Snowy Shaw, que depois integraria o Mercyful Fate, musicalmente
The Eye é o disco que menos me agrada nesta primeira fase, apesar da parte lírica ser uma das mais interessantes da carreira solo de King. Curioso é que foi o primeiro vinil com o vocal do Rei Diamante que comprei, há quase vinte anos (o qual ainda possuo). Os grandes destaques ficam com a faixa de abertura, “
Eye of the Witch” (único single do álbum) e com a veloz “
Burn“, músicas até hoje presentes nos
set lists dos shows do grupo, mas podemos citar também a variada “The Curse” e “The Meetings” (a que mais lembra o estilo dos álbuns anteriores, como
Abigail ou
Conspiracy, e que possui um excelente
riff inicial, além da forte presença do baixo) como faixas que merecem ser ouvidas. Os teclados (a cargo do produtor Roberto Falcao) possuem aqui uma participação bem maior do que em outros álbuns, não apenas criando climas ou efeitos para auxiliar na compreensão da história (como na
mid-tempo “Father Picard”), mas também fazendo parte da melodia de canções como a balada “Two Little Girls” (bastante sinistra) ou a mais cadenciada “Behind These Walls”. King mais uma vez dá um show de interpretação ao longo do álbum, como nos diálogos entre Nicholas de La Reymie e Jeanne Dibasson em “
The Trial (Chambre Ardente)” ou nos discursos de Father David em “Into the Convent”. “1642 Imprisonment” (com um excelente refrão) e a calma “Insanity” (levada apenas pelos violões em sua primeira parte) completam o
track list. Se você quiser uma descrição mais completa sobre o disco, leia
esta matéria aqui no blog.
Pete Blakk, Hal Patino, King Diamond, Snowy Shaw e Andy LaRocque
Desentendimentos com a gravadora Roadrunner, e as saídas de Pete Blakk e Hal Patino fizeram com que King Diamond fosse forçado a “dar um tempo” em sua carreira solo. Foi nessa época que Michael Denner entrou novamente em contato com o Rei para lhe mostrar as músicas que havia composto para o segundo disco de seu novo projeto, o Zoser Mez. Este encontro acabou levando à volta do Mercyful Fate, mas o vocalista não abandonaria sua carreira solo, como você confere daqui a quinze dias na segunda parte da Discografia Comentada de King Diamond!
Excelente! Abigail é meu disco preferido do Rei Diamante.
Conspiracy é uma obra-prima, álbum extraterrestre!! Um ângstron à frente do fabuloso Abigail. O Rei acaba de fazer um show épico no Espaço das Américas (levando Abigail na íntegra) e está mais vivo que nunca!!! Vida longa ao REI!!!!
Melhor álbum da carreira do King Diamond é o The Puppet Master aquele é incrível não sei da onde ele conseguiu fazer aquela obra prima.