Matérias mais acessadas da história do Consultoria do Rock: Setembro de 2011
Durante os meses de janeiro e fevereiro, o blog estará de férias, por isto estaremos publicando novamente as matérias mais acessadas a cada mês nestes dois anos de Consultoria do Rock, sempre às terças, quintas e sábados. Chegamos ao mês de setembro de 2011.
Em setembro de 2011 foram publicadas trinta e duas matérias, sendo a mais acessada até o final de 2012 esta, por Davi Pascale:
Datas Especiais: 20 Anos de Nevermind (Nirvana)
Por Davi Pascale
No dia 24 de setembro de 1991 foi lançado o disco que daria uma nova cara ao rock. Nevermind, segundo álbum do Nirvana, tornou-se um fenômeno de vendas e transformou Kurt Cobain, um garoto miúdo de Aberdeen, no novo ídolo da juventude.
Bleach (1989), primeiro álbum do conjunto, já demonstrava que o grupo de Seattle seria um sucesso. O número de shows crescia cada vez mais, as músicas começavam a ser tocadas nas rádios, especialmente nas rádios universitárias. Contudo, ninguém conseguia imaginar o que estava por vir. Os empresários mais otimistas acreditavam em 100.000 cópias vendidas, uma vez que o álbum Goo (1990) do Sonic Youth – um dos principais nomes do rock alternativo até então – tinha alcançado a marca de 150.000 cópias vendidas. Butch Vig foi escolhido para a produção do álbum após muita discussão.
Nevermind trazia também a estréia de Dave Grohl na bateria. O músico já vinha tocando ao vivo com o grupo desde o lançamento do single de “Sliver”, canção que conta a história de um rapaz que é abandonado pelos pais e não deseja viver com os avós. A gravação do single foi realizada com o baterista do Mudhoney, atuando como músico contratado, Dan Peters.
Ao mesmo tempo em que a popularidade do grupo começava a crescer, a preocupação dos colegas com Kurt também crescia. Nesta fase de transição do Bleach para o Nevermind o músico descobriu a heroína. Krist Noveselic, em especial, ficava preocupado, vários de seus amigos que viviam em Olympia haviam morrido por conta do vício da heroína, entre eles, o cantor Andy Wood (Mother Love Bone). As conversas dos colegas foram em vão e Kurt usava a droga escondido na casa de outros amigos.
O indício de sucesso do grupo fez com que a mãe de Kurt, Wendy Fradenburg Cobain OConnor, o aceitasse melhor. Depois de anos afastados, os dois voltaram a se aproximar. Especialmente depois da morte de Patrick, irmão de Wendy, vítima da AIDS. Patrick era homossexual e acusava seu tio Delbert de tê-lo molestado. O rapaz pretendia escrever um tratado sobre sua história sexual e enviá-lo ao jornal Aberdeen Daily World com o intuito de embaraçar a família, uma vez que seus pais não o aceitavam por conta de sua homossexualidade.
Kurt Cobain não compareceu ao funeral alegando que precisava trabalhar em seu novo disco. Muitas vezes inventava desculpas para fugir de compromissos familiares, mas desta vez estava falando a verdade. No início de 1991, o Nirvana alugou em espaço para ensaiar em Tacoma. Utilizavam o tempo para escrever novas canções e para ensinar as canções antigas à Dave Grohl. A maior parte do tempo, contudo, era utilizado mesmo para afiar as novas composições.
Em abril, a banda mudou-se para Los Angeles para começar a pré-produção do álbum. Kurt Cobain aproveitou a ocasião para fazer os mesmos passeios que havia feito com seus avós quinze anos antes. As sessões no Sound City Studios começavam às três da tarde e ia até meia-noite. Para aliviar a tensão e agüentar a pressão os músicos consumiam álcool em excesso. Noveselic chegou a ser detido dirigindo bêbado e a gravadora teve de pagar sua fiança para que pudesse voltar ao estúdio. Kurt Cobain andava de um lado para o outro no estúdio e olhava fixamente para os discos de ouro dos álbuns Rumours (1977), doFleetwood Mac, e Damn The Torpedoes (1979) de Tom Petty and the Heartbreakers.
Na primeira semana, os músicos ficaram focados na criação das faixas básicas e no som da bateria. Em apenas duas semanas, tinham trabalhado em dez músicas, a maior parte delas realizadas em três takes para não desgastar a voz de Kurt. Depois de um tempo as coisas começaram a complicar. Durante a gravação de “Lithium” Kurt esforçava-se para que suas partes de guitarras ficassem corretas. O músico foi ficando cada vez mais frustrado e por vezes chegou a atirar sua guitarra no chão do estúdio. Muitas letras estavam inacabadas e Kurt escrevia e reescrevia incansavelmente até chegar no que considerava a versão ideal. Reza a lenda que até chegar à versão definitiva de “Smells Like Teen Spirit”, o músico havia realizado 12 versões distintas. Suas letras muitas vezes traziam diversas interpretações embora trouxessem bastante da sua vida pessoal. O cantor chegou a declarar que 90% dos jornalistas especializados interpretavam suas letras de maneira errada.
Foi durante a gravação de Nevermind que Kurt Cobain aproximou-se de Courtney Love. Kurt já havia encontrado Courtney no dia 12 de janeiro de 1990 na boate Satyricon – localizada em Portland, Oregon – onde o Nirvana fazia uma apresentação. Courtney flertou com o músico dizendo que ele se parecia com Dave Pirner (vocalista do Soul Asylum). Kurt sentiu-se atraído pela vocalista do Hole. Segundo declarações do próprio músico “Achei-a parecida com Nancy Spungen. Ela parecia uma gatinha clássica do punk rock. Eu me senti atraído por ela. Provavelmente queria transar com ela, mas ela foi embora”. Kurt estava com outra garota naquela noite, mas não se esqueceu de Courtney. A cantora também não. Depois do rápido encontro passou a acompanhar tudo que o saía a respeito do Nirvana. Quando sua amiga, Jennifer Finch (L7) envolveu-se com Dave Ghrol, as conversas das meninas passavam inevitavelmente pelo Nirvana. Courtney confessou a Grohl que estava encantada com Kurt Cobain. O músico disse a ela que ele estava solteiro e a cantora resolveu enviar um presente à Kurt: uma caixa de porcelana em forma de coração com uma minúscula boneca de porcelana, três rosas secas, uma xícara de chá em miniatura e conchas marinhas envernizadas. Jogou seu perfume preferido por cima da caixa e enviou-a ao músico. Kurt ficou impressionado com a boneca que era um dos meios que utilizava para seus projetos de arte.
Em maio de 1991 o L7 apresentava-se no Palladium em Los Angeles. Kurt estava nos bastidores tomando xarope espectorante diretamente do frasco. Courtney também estava no concerto e mostrou ao músico o seu próprio frasco de xarope, mais forte que o dele. Às 3 da manhã o músico ligou no celular de Courtney perguntando sobre o xarope. Na verdade ele só queria conversar com ela uma vez mais. Ela percebeu isso, a conversa estendeu-se, assim como a relação dos dois.
No começo de junho Butch Vig terminou o disco do Nirvana. O orçamento havia estourado. O orçamento inicial era de 65 mil dólares, acabou chegando em 120 mil dólares. Vig tinha captado toda a energia da banda no palco, mas os empresários do Nirvana não gostaram da mixagem do álbum e convenceram Kurt Cobain que seria interessante remixá-lo com Andy Wallace (produtor renomado que já havia trabalhado com Slayer, Madonna, entre outros). Wallace foi o responsável pela separação de guitarra e bateria de um modo diferente das gravações realizadas até então pela banda. Kurt Cobain achou a teoria interessante, mas quando ouviu o resultado final não gostou. Achou a sonoridade suave demais, segundo Kurt o álbum soava ‘covarde’.
Foi em junho também que Kurt decidiu o nome do álbum. Sua idéia inicial era chamá-lo de Sheep . Mas depois de um tempo achou o nome imaturo. Optou por Nevermind por funcionar em diferentes níveis: tinha a ver com o modo como conduzia sua vida, era gramaticalmente incorreto (pois juntava duas palavras em uma: never e mind) e vinha de “Smells Like Teen Spirit”, canção que a gravadora mais apostava. Os músicos, ao contrário dos executivos, apostavam mais em “Lithium”.
Kurt tinha passado os últimos dois anos planejando como seria a arte da capa e do encarte do disco, mas quando chegou o momento jogou todos os rascunhos fora e começou do zero. O músico tinha visto na televisão um parto subaquático e pediu para a gravadora tentar conseguir tomadas do programa. Sem sucesso! O músico teve outra idéia: um bebê nadando debaixo da água perseguindo a nota de um dólar. A imagem era uma crítica ao capitalismo.
Os fãs de rock dividiram-se. Acusavam o Nirvana e o movimento grunge ter matado o hard rock e o heavy metal. Por incrível que pareça, a infame discussão, dura até hoje. Os músicos, contudo, admiravam o Nirvana. Slash em recente documentário produzido pela MTV chegou a declarar que Kurt era um gênio. Os músicos do Metallica chegaram a enviar um fax à banda, na época do lançamento, com os dizeres “Nevermind é o melhor álbum do ano!”.
No próximo dia 26 de setembro será lançada uma edição comemorativa dos 20 anos de Nevermind. O disco voltará às lojas em dois formatos. Um com o álbum remasterizado e b-sides com gravações das sessões do Smart Studio, versões de ensaios a apresentações da BBC . A segunda edição será de 4 CDS e um DVD. Além dos CDs com material já citado, trará como material adicional o CD com uma mixagem inédita, conhecida entre os fãs como The Devonshire Mixes e o show no Paramount Theatre, em Seattle (1991), em CD e DVD. O material também deve ser lançado em vinil.
Na última terça-feira, foi realizado em Seattle um show comemorativo aos 20 anos de Nevermind. O evento contou com a participação especial do ex-baixista do Nirvana, Krist Noveselic, que relembrou às canções do disco ao lado das bandas The Presidents Of The United States, The Fastbacks e Screaming Trees. O show foi transmitido pela internet através do site www.livestream.com/nevermindlive.