Nando Reis – Jardim-Pomar [2016]
Por Micael Machado
Jack Endino (produtor e ex-guitarrista do Skin Yard), Barrett Martin (produtor e ex-baterista de grupos como Screaming Trees, R.E.M. e Mad Season, além de vários trabalhos ao lado do próprio Nando Reis), Peter Buck (ex-guitarrista do R.E.M.), Mike McCready (guitarrista do Pearl Jam), as cantoras Pitty, Luiza Possi e Tulipa Ruiz, e vários membros e ex-integrantes do grupo paulista Titãs. Toda esta turma participa, ao lado de mais alguns convidados especiais, do novo disco de Nando Reis, Jardim-Pomar, seu oitavo trabalho de inéditas, e décimo segundo lançamento do cantor, violonista e compositor em sua carreira solo, na qual é acompanhado, já há algum tempo, pela banda de apoio Os Infernais, formada atualmente por Alex Veley (teclados), Walter Villaça (guitarra), Felipe Cambraia (baixo) e Diogo Gameiro (bateria), responsáveis pelas bases da maioria das faixas deste álbum. Registrado em parte na cidade norte-americana de Seattle (com produção de Endino, que já trabalhou, dentre outros, com o Nirvana, Bruce Dickinson, os Titãs e o próprio Nando), e, em outra, na capital do estado de São Paulo (com Martin no comando dos botões) entre julho de 2015 e fevereiro de 2016, o disco foi lançado em novembro daquele ano, de forma totalmente independente (através do selo Relicário, criado por Reis para disponibilizar suas obras ao público), surgindo nos formatos CD, LP (em dois discos separados, ambos em um lindo vinil transparente) e fita K7, todos apresentando uma belíssima arte gráfica, feita, pelo menos ao que parece, inteiramente em papel reciclado, além de apresentar inscrições em braile nas faixas onde estão o nome do registro e das músicas do mesmo.
A balada “Só Posso Dizer” foi a escolhida para ser a primeira música de trabalho (aparecendo no disco em duas versões, registradas uma em cada cidade onde o disco foi gravado). Ao escutá-la, fica fácil perceber o motivo desta opção, pois, apesar de não ser lá grande coisa (a versão de Seattle, por exemplo, é bem melhor que a brasileira, que foi a selecionada para tocar nas rádios e receber um vídeo clipe), é bem popularesca, do jeitão que as rádios e a TV gostam de colocar em suas programações, e tem tudo para agradar ao público mediano consumidor destas mídias, com seu jeito “calmo” e “fofo” e seu refrão grudento. No mesmo estilo, mas bem melhor do que ela, o disco possui “Como Somos”, que tem clima semelhante, mas teria sido uma escolha qualitativamente melhor do que a primeira faixa divulgada. Já o segundo single, “Inimitável” (que conta com a presença de Peter Buck, e ganhou um lyric vídeo muito legal), é mais pop, alegre e “para cima”, com uma refrão marcante e um contagiante “na-na-na” quase irresistível de não se cantar junto. Outro bom momento aparece em “Pra Onde Foi?“, maior faixa do álbum (com mais de seis minutos e meio), que é lenta sem ser balada, apresentando boas partes de guitarra, e contando inclusive com um longo (e excelente) solo de Mike McCready, além da forte presença dos teclados, sendo um um dos destaques do track list de Jardim-Pomar.
Nando Reis e as versões em vinil para Jardim e Pomar (foto retirada do site Scream & Yell)
As canções mais calmas acabam sendo maioria no repertório do álbum, com destaque para “Lobo Preso em Renda” – que começa com um barulho de máquina de escrever, sendo uma balada levada ao violão, com bela participação dos teclados, e pequenas partes mais agitadas aqui e ali, onde, em momentos alternados, as guitarras, o teclado ou o saxofone (a cargo do convidado Skerik) assumem a frente do arranjo – e para “Concórdia”, que já havia sido gravada antes por Elza Soares em seu disco Vivo Feliz, de 2003, e é uma música lenta e tocante, conduzida pelo violão e contando com uma bela participação dos teclados e a inclusão de partes orquestradas a cargo do Passenger String Quartet, que também marca presença em “Água Viva”, outra faixa mais lenta, mas sem muito destaque no meio das demais. “4 de Março”, celebrando o amor pela esposa e a família do compositor, é outro bom momento deste lado mais calmo do disco, que ainda tem “Pra Musa”, também conduzida pelos violões e os teclados, mas que muda lá pelo meio, ganhando um ritmo mais rápido e um marcante solo de guitarra na parte final.
“Azul de Presunto” é suingada, com um interessante “balanço” setentista (graças aos timbres de teclado escolhidos e curtas passagens de sopros), e chama a atenção pelo impressionante time de convidados que apresenta (Pitty, Luiza Possi, Tulipa Ruiz, os ex-colegas de Titãs Arnaldo Antunes, Branco Mello, Sérgio Britto e Paulo Miklos, além dos filhos o cantor, Zoe, Theo e Sebastião Reis, estes dois também integrantes da banda Dois Reis), os quais fazem apenas corais e backing vocals, sem um destaque individual maior no arranjo, sendo até difícil reconhecer todas as vozes no meio do instrumental, fazendo com que pareça que a reunião desta turma acabou sendo uma excelente ideia desperdiçada em uma faixa sem destaque maior. Ao final da audição de Jardim-Pomar, fica a constatação que os melhores momentos do disco estão logo no começo, com “Infinito Oito” e “Deus Meu“, duas faixas onde a guitarra de Jack Endino se destaca, e nas quais o acento roqueiro do ex-titã marca presença com tudo. É realmente uma pena que Nando não invista mais neste lado de sua personalidade como compositor, preferindo dar mais destaque à sua faceta mais calma e romântica, onde, apesar dos bons resultados, as músicas não são tão boas quanto aquelas forjados pelo aspecto mais “selvagem” do músico.
Capa da versão em fita K7 de Jardim-Pomar
Apesar de manter certa familiaridade com Sei, o registro anterior, por privilegiar o lado mais calmo e romântico do compositor Nando Reis, mas ter seus maiores destaques naquelas canções mais rápidas e “roqueiras”, Jardim-Pomar é um disco de audição mais prazerosa do que seu antecessor, e do qual é mais fácil se gostar já nas primeiras audições, mas que, apesar da qualidade, dificilmente agregará novos clássicos à carreira do Ruivão (como o cantor também é conhecido por seus fãs), a não ser, é claro, a extremamente popularesca “Só Posso Dizer”, que, como não poderia deixar de ser, já caiu no gosto e na boca do público mais mediano, o qual se interessa apenas superficialmente pela carreira de Nando, e, ao se prender apenas às faixas mais populares, perde a oportunidade de conhecer outras grandes músicas deste que é um dos maiores hitmakers e compositores do país atualmente. Uma pena!
“Se vamos todos morrer / Então vamos tratar de viver”
Contracapa da versão em CD de Jardim-Pomar
Track List:
01. Infinito 8
02. Deus Meu
03. Inimitável
04. 4 de Março
05. Só Posso Dizer (Versão São Paulo)
06. Concórdia
07. Azul de Presunto
08. Lobo Preso em Renda
09. Pra Onde Foi?
10. Como Somos
11. Agua-Viva
12. Pra Musa
13. Só Posso Dizer (Versão Seattle)
Porcaria de disco
Mas nem Odair José e Amado Batista é tão brega, cafona e insosso quanto esse mala do Nando Reis que sempre foi o pior compositor do Titãs. Não dá nem pra acreditar que é o mesmo Nando Reis que cantava músicas sensacionais como Isso Para Mim é Perfume e Igreja. Brega ao extremo!!!!!!!!
Não sei como o Jack Endino sendo o grande produtor que ele é se presta a produzir um disco assim. É por amizade mesmo não é possível.
Gostei do disco. As faixas mais rock n roll têm bastante influencia de anos 70 e aquele som que o Mike McReady toca tem umas linhas de guitarra bem Neil Young, o único senão foram as participações em “Azul de Presunto”. Poderia existir uma segunda versão, como uma espécie de bônus, com as vozes dos convidados em maior evidência. Deixando eles cantarem algumas frases. Uma galera bem talentosa, mas com uma participação muito apagada.