Yes – Progeny: Highlights from Seventy-Two [2015]

Yes – Progeny: Highlights from Seventy-Two [2015]

Por Micael Machado

Durante décadas, o triplo ao vivo Yessongs permaneceu como o melhor documento “ao vivo” daquele que talvez seja o período mais criativo e o ápice técnico do quinteto inglês Yes. Lançado em 1973, o disco compreende gravações feitas durante a turnê de promoção do álbum Close to the Edge, onde o baterista Alan White fez sua estreia junto a Jon Anderson (vocais), Chris Squire (baixo e backing vocals), Steve Howe (guitarras e backing vocals) e Rick Wakeman (teclados), mas também apresenta três músicas registradas durante a tour anterior (em suporte a Fragile, de 1971), estas ainda com o antigo dono das baquetas, Bill Bruford, que deixou o Yes para juntar-se a outro gigante do progressivo inglês, o King Crimson. Com mais de duas horas de duração, Yessongs é puro deleite aos apreciadores do estilo, e um dos melhores registros ao vivo de todos os tempos, especialmente em se tratando de rock progressivo.

Pois o “domínio” do mítico “álbum triplo” pareceu ter sido seriamente ameaçado em 2015, quando o grupo anunciou o lançamento de um box set contendo sete shows completos registrados na mesma turnê que originou Yessongs. As fitas em rolo, encontradas por acaso quando o staff da banda buscava material extra para incluir como bônus em futuras edições remasterizadas do catálogo do grupo, foram exaustivamente trabalhadas em estúdio usando a melhor tecnologia disponível hoje em dia, melhorando em muito as precárias condições das gravações feitas na época, e sendo lançadas no mercado com o nome de Progeny: Seven Shows from Seventy-Two, em uma luxuosa caixa com quatorze CDs que causaram água na boca dos fãs do quinteto. Infelizmente, esta água acumulada fez com que os mesmos se engasgassem quando conferiram o elevado preço do material, especialmente aqui no nosso Brasil Varonil, onde o mesmo sequer chegou a ser lançado, visto as poucas gravadoras que ainda restam preferirem investir em artistas mais “rentáveis” como Pabllo Vittar ou Anitta do que em música de real qualidade como a do Yes.

O Yes em 1972: Alan White, Steve Howe, Rick Wakeman, Chris Squire e Jon Anderson

Mas, felizmente, uma forma de “compensação” a esta ausência apareceu sob o nome de Progeny: Highlights from Seventy-Two, onde, em um CD duplo com meros noventa minutos de duração (ou em um novo vinil triplo, mantendo a mítica do disco de 1973) foi compilado o “melhor” da caixa original, dando, pelo menos, um “gostinho” do prato original aos fãs, e gerando mais um disco ao vivo absurdamente bom para o catálogo do quinteto inglês (e, como não poderia deixar de ser, com mais uma belíssima arte gráfica a cargo do mestre Roger Dean, responsável pela maioria do material do grupo, e que, aqui, parece expandir o universo criado em Yessongs, de certa forma encaixando Progeny no mesmo contexto do disco ao vivo mais antigo).

A primeira coisa que me chamou a atenção quando peguei a coletânea foi verificar a ausência, no track list, das faixas gravadas por Bruford presentes em Yessongs (a saber, “Perpetual Change”, “Long Distance Runaround” e “The Fish (Schindleria Praematurus)”). A segunda foi notar que a duração do mesmo, como já citei, era de pouco mais de uma hora e meia. Será que não haveria espaço para colocar estas faixas em uma coletânea dupla, ainda mais que a fonte original compreende sete shows completos para se montar o repertório deste compilado? A resposta veio quando percebi que o track list de Progeny é o mesmo de cada show presente na caixa, ou seja, as músicas onde Bruford participa no disco de 1973 não foram tocadas na primeira turnê com Alan White, e não haviam músicas diferentes a serem colocadas na coletânea além daquelas selecionadas, a não ser que tivéssemos mais de uma versão de cada canção, o que, obviamente, tiraria um pouco o caráter representativo da compilação. Sendo assim, me restou aceitar que o “novo” triplo ao vivo, mesmo menor, era o melhor que se podia obter a partir da caixa original (como, aliás, o próprio título sugere), e passar a curtir estas novas versões de alguns clássicos que me acompanham há tanto tempo.

Parte da arte gráfica de Progeny: Highlights from Seventy-Two

É sabido por quem acompanha o Yes que o grupo não é dado a improvisos ou “jams” em cima do palco, limitando-se a reproduzir praticamente nota por nota seu material de estúdio, sem usar das tradicionais “viagens” que outros grupos progressivos gostam de adotar. Porém, este “reproduzir nota por nota” de forma alguma se torna tedioso ou previsível, pois a habilidade e a técnica do grupo para reproduzir material tão rico e complexo musicalmente é de deixar o ouvinte com o queixo no chão, especialmente no período compreendido nestas gravações, onde o grupo executava na íntegra seu então mais recente álbum, o já citado Close to the Edge, considerado por muitos não apenas o melhor álbum da banda, mas também o melhor do estilo progressivo em todos os tempos. Além da performance do disco, ainda faziam parte do repertório faixas retiradas dos dois registros anteriores do quinteto, o também excelente Fragile, citado acima, e The Yes Album, de 1971, além de um “momento solo” de Wakeman, onde o tecladista apresentava um medley com trechos de seu álbum solo The Six Wives of Henry VIII, lançado em 1973 (ou seja, depois dos shows registrados aqui), além de outras composições clássicas e alguns improvisos.

Se, ao longo da audição, não é surpresa perceber como Anderson, Squire e Howe executam suas partes com perfeição e muita técnica, chama a atenção como White, apesar do pouco tempo de ensaio junto ao grupo, consegue executar de forma mais do que aceitável as complicadíssimas partes criadas em estúdio pelo “desertor” Bruford, sabidamente um baterista mais técnico e inventivo que seu sucessor, mas cuja ausência quase não chega a ser sentida quando da audição de Progeny (não a toa, White manteria seu posto nas baquetas do Yes até hoje, colocando seu estilo e sua classe nos registros posteriores do grupo). Mas o maior destaque da compilação, pelo menos para mim, vai para Rick Wakeman, o músico que mais “fugiu ao script” das músicas originais durante a execução ao vivo destas faixas, colocando o seu toque pessoal e algumas bem vindas variações em trechos de certas canções (vide o final de “And You and I”, o solo de “Close to the Edge” ou o trecho intermediário de “Roundabout”), seja acrescentando algumas passagens inexistentes em estúdio ou utilizando alguns timbres diferentes daqueles que nos acostumamos a escutar, especialmente levando-se em conta as muitas versões “live” destas canções lançadas no mercado nos mais de quarenta anos que separam Yessongs de Progeny. O próprio “momento solo” do tecladista é visivelmente diferente de tantos outros presentes nos discos ao vivo do Yes, o que torna o material mais atraente e aprazível mesmo para aqueles que já decoraram nota por nota o “triplo ao vivo” original, ou alguns dos live albums dos ingleses lançados posteriormente.

Contracapa de Progeny: Highlights from Seventy-Two

Ainda não tive a oportunidade de ouvir o box set que originou esta compilação (espero um dia conseguir), mas, pelo menos por enquanto, Progeny: Highlights from Seventy-Two me parece um paliativo satisfatório, com um excelente material de uma banda no auge executando canções que viriam a se tornar clássicos do estilo, mas que, devido a ausência das músicas registradas com Bruford, e de toda a carga sentimental que o álbum de 1973 tem sobre mim, ainda não conseguiu superar Yessongs na minha preferência auditiva (embora chegue perto). Tudo bem, afinal, não se trata de uma competição, mas de dois grandes discos que temos disponíveis para escutar e nos deleitarmos com alguns dos melhores momentos musicais desta instituição do rock inglês chamada Yes! Boa diversão!

Track List (versão em CD duplo):

CD 1

1. Opening (Excerpt from Firebird Suite)/Siberian Khatru

2. I’ve Seen All Good People

3. Heart of the Sunrise

4. Clap/Mood for a Day

5. And You and I

CD 2

1. Close to the Edge

2. Excerpts from “The Six Wives of Henry VIII”

3. Roundabout

4. Yours Is No Disgrace

15 comentários sobre “Yes – Progeny: Highlights from Seventy-Two [2015]

  1. Perfeito!
    É sempre muito bom ler algo escrito com propriedade e conhecimento sobre uma das maiores e melhores bandas prog de todos os tempos.

  2. Assino embaixo…pra mim o maior ganho foi as músicas dessa tour terem sido lançadas em qualidade melhor que o Yessongs…quanto as jams, de fato o Yes não era afeito a elas, mas isso não significa que eles não improvisassem ou executassem as passagens de forma diferenciada do que as gravadas nos discos. Your is no disgrace talvez seja o exemplo mais contumaz de como isso acontecia com eles.
    Abraço, ótimo texto!

    1. Obrigado pelos elogios, Ronaldo e Skarilha4! É este tipo de força e apoio que nos faz seguir em frente, sempre tentando melhorar na qualidade dos textos apresentados!

  3. “…especialmente aqui no nosso Brasil Varonil, onde o mesmo sequer chegou a ser lançado, visto as poucas gravadoras que ainda restam preferirem investir em artistas mais ‘rentáveis’ como Pabllo Vittar ou Anitta do que em música de real qualidade como a do Yes.” Faço minhas estas palavras ditas pelo Micael!

    “…onde o grupo executava na íntegra seu então mais recente álbum, o já citado Close to the Edge, considerado por muitos não apenas o melhor álbum da banda, mas também o melhor do estilo progressivo em todos os tempos.”
    Pô, de novo esse assunto, meu caro Micael? Já que o pessoal aqui insiste em constatar esta blasfêmia aqui na Consultoria, continuo insistindo em dizer que Close to the Edge não é nem de longe o melhor álbum da discografia do Yes e muito menos do estilo progressivo, mesmo após quase 50 anos de seu lançamento. Um disco cuja faixa-título é a música mais sem-graça que a banda gravou, e que as outras duas músicas são nota 10 e nota 9 (“And You and I” e “Siberian Khatru”, respectivamente), não merece ser de jeito nenhum chamado de obra-prima.
    Além deste fator do puxa-saquismo dos fãs com CTTE, outro fator que eu observo como negativo foi a saída do contraditório baterista Bill Bruford após as gravações desta pobreza musical (pobreza por que só tem 3 canções) no estúdio, que saiu do Yes por conta de sua insatisfação com o que a banda estava fazendo depois de Fragile, esse sim o melhor disco da banda pra mim (depois de Tales from Topographic Oceans, do qual falei incontáveis vezes aqui na Consultoria), indo parar no King Crimson. Mas a pergunta que fica é: se Bruford não estava satisfeito com essa nova direção que o Yes estava tomando em CTTE, então por que diabos gravou o disco junto com Anderson, Squire, Howe e Wakeman? Nunca vou entender isso, mas compreendo que o destino foi mesmo cruel com o Yes naqueles tempos…

    1. Igor, eu não falei que “eu” acho o CTTE “o melhor” disco do estilo (até porque não acho, pois entrego o posto ao Red do King Crimson, seguido de perto pelo Nursery Crimes do Genesis e o Animals do Pink Floyd), mas, por mais que discordemos disto, muita gente o considera assim, e acho importante citar este fato para relevar a importância e a qualidade do disco (que eu acho excelente, embora aceite sua opinião em contrário). Sinta-se à vontade para discordar, mas eu considero importante citar o verdadeiro culto de muita gente a este idolatrado registro! No mais, grato pela atenção e consideração!

      1. E, até onde eu sei, Bruford saiu do Yes pois sentia sua criatividade limitada pelos outros membros, e enxergou um espaço maior para se desenvolver ao lado de Jamie Muir no King Crimson, algo que o mesmo já declarou ter sido essencial para sua evolução como músico! Não foi a “nova direção” do Yes que o fez sair, mas sim o fato de tudo ter de ser super pensado, planejado e ensaiado antes de registrado, acabando assim com a espontaneidade e a improvisação que Bruford, como músico de jazz que sempre foi, considerava tão importantes para um músico!

        1. De nada Micael, gostei do seu relato sobre CTTE e sua opinião sobre a saída de Bruford, mas mesmo assim não concordo dos que consideram CTTE como o melhor disco do Yes. Como toda grande banda, o Yes possui outros discos que eu considero melhores do que CTTE em sua discografia, como os dois que eu citei no meu comentário (Fragile e TFTO).

          Agora em relação ao “melhor disco do progressivo”, o título mais relevante pra mim foi durante muito tempo o Dark Side of the Moon (Pink Floyd) pelo seu impressionante legado histórico, mas hoje sou obrigado a me inclinar ao Selling England by the Pound, meu favorito do Genesis, que eu considero como o melhor disco de todos os tempos. A verdade é que o rock progressivo tem tanto disco bom que é realmente difícil escolher qual é o melhor do estilo. Todos (com exceção do CTTE) são obras-primas de fato.

          Gostei de suas citações ao Nursery Cryme e Animals, que desde sempre fazem parte da minha vida e do meu bom gosto musical. Agora, já ouvi esse disco do King Crimson citado por você e sinceramente não me empolgou. Nessa fase eles estavam fazendo um som um pouco “caótico” digamos assim. Valeu Micael, tamo junto, blz?

          1. Por causa da sonoridade “caótica” é que considero a fase “elétrica” do KC a melhor! Viagens sonoras de primeira! Mas aceito quem diga que se precisa “treinar” os ouvidos para “entender” aquela “bagunça” toda! Só que, depois que a mente assimila a loucura, aí é puro deleite!

          2. Pois me dei conta que simplesmente “esqueci” do Thick As A Brick quando pensei qual seria o melhor disco prog para mim… Redimo aqui meu erro, colocando o poema de Gerald Bostock na primeira posição, acima dos outros discos citados!

  4. Eu tenho a caixa,mas acho que ela deixa um pouco a desejar. A qualidade de som é inferior ao Yessongs.
    Abs

    1. Pois é, Leonardo, já li algo sobre isto, e achei surpreendente, pois o próprio Yessongs não tem uma qualidade de gravação tão “perfeitinha” assim (claro, se desconsiderarmos a tecnologia da época em comparação à atual. Para o ano que foi gravado, está até bom demais)!

  5. Micael citou Thick as a Brick, a obra-prima máxima do Jethro Tull e um dos meus 10 discos que eu levaria para uma ilha deserta. Valeu, cara!

  6. Rapaz, sou muito suspeito pra falar de Yes. Pra mim, foi a banda mais completa que existiu na história, tendo seu ápice justamente em 1972, mesmo ano em que o Bruford deu linha. Bem, qualquer áudio que vem dessa fase, eu já logo pergunto: “tem o Bruford” –
    típico de fã chato… mas não sou xiita! Muita, mas muita coisa boa veio com o Alan White também, clássicos absolutos! Bem, voltando ao Highlights, o Yes tem essa mania de ser caça níquel nos lançamentos. Não vejo necessidade de lançar 7 cds de uma só vez. É a mesma coisa o Luís Caldas lançar um pacote de 9 cds de uma só vez, ninguém vai comprar também, só o mais tarado dos fãs! Com esse The Best aí do Highlights, ou seja, um The Best do The Best desses shows, fica mais fácil de ouvir. Porém, não percebi nada que me fizesse mudar drasticamente de opção do Yessongs para esse disco como “definitivo”. De qualquer maneira, é como Playboy da Scheila Carvalho: pode sair quantas edições diferentes julgarem necessário, porque nós sempre iremos lá conferir! Viva o Yes, viva a Scheila Carvalho… e o Rush… e a Ellen Roche… e a minha patroa também, mesmo não sendo ciumenta! ehehe…

    1. Hehehe! Ri muito com a comparação com as playboys, Márcio, e espero mesmo que ela não te complique com tua patroa! No resto, concordo com tuas palavras, pode vir mais do mesmo mais vezes, que sempre procurarei conferir! Valeu pelo apoio!

  7. Achei a qualidade de gravação desse CD muito abaixo do que o Yessongs. Apesar de prometer entregar o som “na cara do ouvinte, como se tivesse na frente do palco”, senti o teclado muito escondido, e o baixo inaudível por diversos momentos. É um belo registro, a banda tá tocando bem (White, nessa época, não estragava tanto “Close to the Edge” quanto passou a fazer nos anos 80, mas que dá uma saudade do Bruford dá), e me parece um caça-níquel de boa qualidade. Mas jamais irá ser comparável ao original de 1973.

    Valeu pela resenha!!

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