Cinco Discos para Conhecer: O Mellotron no Rock
Por Ronaldo Rodrigues
Tempos atrás, nesta mesma coluna, dediquei espaço para tratarmos sobre um dos instrumentos mais utilizados no rock, no soul e no jazz dos anos 60 e 70, os órgãos Hammond (vide link aqui). Hoje o tema reaparece, mas trataremos de outro icônico teclado utilizado extensivamente na linguagem do rock progressivo (mas não apenas nela), o Mellotron. Considerado o pai dos samplers e dos teclados arranjadores, o Mellotron foi uma invenção inglesa do começo dos anos 1960 e contava com um conjunto de fitas com sons pré-gravados. Cada fita equivalia a uma nota musical, acionada pelo teclado. As fitas continham sons individuais (nota por nota) capturados de instrumentos reais (seções de violinos, flauta, trombone, seções de corais, etc.). Como a tecnologia de captura de som daquela época não era tão avançada quanto hoje, o som capturado adquiria uma certa característica própria. Era próximo ao som real, mas não idêntico. Nessa aparente limitação do Mellotron estava seu maior trunfo. Passou a ser possível criar novas texturas com sons que imitavam orquestras sem ser necessariamente uma. Outra limitação dizia respeito a duração em que o som da fita podia ser reproduzido – apenas 8 segundos. Se o tecladista acionasse a mesma tecla por mais de 8 segundos, havia o risco de que a fita correspondente àquela tecla se rompesse. Isto também condicionou a forma como o Mellotron era executado.
Há muitas gravações famosas utilizando o Mellotron – a introdução de “Strawberry Fields Forever” dos Beatles, talvez seja a primeira música de uma banda famosa utilizando o instrumento. Outros exemplos muito famosos do uso do Mellotron são “Space Oddity”, de David Bowie, “Changes” do Black Sabbath, “Rain Song”, “Kashmir” e “Stairway to Heaven (apenas nas versões ao vivo) do Led Zeppelin, “Atom Heart Mother” do Pink Floyd, dentre outras. No rock progressivo, o Mellotron atingiu o ápice de sua utilização. No fim dos anos 70, com o surgimento de teclados polifônicos e o esgotamento do rock progressivo, o Mellotron caiu no esquecimento. Apenas na década de 90, um lento e gradual resgate do instrumento ocorreu. Ele inclusive voltou a ser fabricado por um breve período. A lista abaixo apresenta discos no qual o Mellotron foi extensivamente usado.
King Crimson – In the Court of the Crimson King [1969]
Muito já se falou sobre este disco, por suas qualidades e importância. Não por menos, constitui um dos pilares do rock progressivo, uma quase unanimidade taxonômica para 1969, época em que ainda se desenhavam os rascunhos deste estilo. Os elementos que o King Crimson trazia em faixas distintas seriam cada vez mais fundidos e refundidos em músicas longas, audaciosas e cheias de variações ao longo da próxima década. Foi um grande farol num período em que muitos já haviam acendidos luzeiros para uma musicalidade totalmente maximizada, assim como tudo o é neste trabalho. Extremamente lírico, poderosamente confuso, paulatinamente dramático e suficientemente misterioso. E parte do resultado sonoro de In the Court of the Crimson King deve-se a densidade conferida pelo Mellotron (executado por Ian McDonald) em “21st Schizoid Man”, “Epitaph” e na faixa título.
1. 21st Century Schizoid Man (Including ‘Mirrors’)
2. I Talk to the Wind
3. Epitaph (Including ‘March for No Reason’ and ‘Tomorrow and Tomorrow’)
4. Moonchild (Including ‘The Dream’ and ‘The Illusion’)
5. The Court of the Crimson King (Including ‘The Return of the Fire Witch’ and ‘The Dance of the Puppets’)
Moody Blues – To Our Children’s Children’s Children [1969]
Apesar da enorme contribuição para introduzir o Mellotron nas novas linguagens do rock do período, com o disco Days of Future Passed (1967), não foi neste disco que o Moody Blues mais aproveitou das nuances e da sonoridade marcante do Mellotron. Apenas duas faixas daquele disco tem a participação do teclado, que contava com uma orquestra inteira acompanhando a banda. Já em To Our Children’s Children’s Children o Mellotron aparece magistralmente executado por Mike Pinder em todas as faixas. A combinação dos tons acinzentados de sua sonoridade caem como uma luva juntos ao violões, a guitarra levemente distorcida e a voz única de Justin Hayward. É interessante notar como o Mellotron ajudou as bandas de rock a usarem elementos de orquestras mas a se diferenciarem completamente de canções do pop barroco e pop orquestral tão em voga até o fim dos anos 60. Este disco também tem um incrível balanço entre a melancolia das composições do Moody Blues e a psicodelia de seus discos sessentistas, sendo um de seus melhores trabalhos. A pujante abertura com “Higher and Higher”, a pomposa “Eyes of a Child II”, a experimental “Beyond” e poderosa “Gypsy” são os grandes destaques do disco e retratam a proeminência do Mellotron na identidade sonora do Moody Blues.
1. Higher and Higher
2. Eyes of a Child I
3. Floating
4. Eyes of a Child II
5. I Never Thought I’d Live to Be a Hundred
6. Beyond
7. Out and In
8. Gypsy
9. Eternity Road
10. Candle of Life
11. Sun Is Still Shining
12. I Never Thought I’d Live to Be a Million 0:34
13. Watching and Waiting
Spring – Spring [1971]
Apesar de ser uma banda bastante obscura, sempre que se fala de Mellotron o nome do Spring vem a baila. A banda talvez tenha sido a única na história a contar com 3 Mellotrons (é difícil identificar no disco os momentos em que ocorre a intersecção dos três). Havia um tecladista na banda, mas os Mellotrons também eram executados pelo vocalista e pelo guitarrista do grupo. Também desnecessário mencionar que todas as 8 faixas tem a participação, maior ou menor, da sonoridade do Mellotron. A banda foi formada em 1970 na Inglaterra, e lançou apenas este disco no ano seguinte, pelo selo Neon (subsidiária da RCA Victor). O disco se alterna entre um progressivo suave de inspiração folk, com composições e arranjos bonitos, porém ordinários para o padrão da época. Talvez por isso tenham passado despercebidos e se dissolveram no ano seguinte ao lançamento do disco autointitulado. É interessante notar a utilização alternada das sonoridades, emulando quase que uma orquestra completa, com as seções de cordas (violinos), flautas e metais. Os destaques ficam com as faixas “Shipwreck Soldier” e a variada “Golden Fleece”.
1. The Prisoner (Eight by Ten)
2. Grail
3. Boats
4. Shipwrecked Soldier
5. Golden Fleece
6. Inside Out
7. Song to Absent Friends (The Island)
8. Gazing
Genesis – The Lamb Lies Down on Broadway [1974]
Dentre as grandes bandas do rock progressivo, o Genesis talvez tenha sido a banda que mais utilizou e ajudou a eternizar a participação do Mellotron no estilo. O Yes usava o instrumento moderamente; Pink Floyd, Gentle Giant e Van der Graaf Generator fizeram pequenas utilizações do instrumento em seus primeiros discos e de forma pouca ortodoxa; Keith Emerson no ELP se absteve de ter o pequeno teclado em seu set. Já Tony Banks fez o diabo com o instrumento – utilizou-o especialmente com sons de cordas e de corais e marcou com incrível autenticidade as composições do Genesis com a presença do Mellotron. Apesar de ser uma espécie de continuidade da precisão cirúrgica desenvolvida na música do disco anterior, o fabuloso Selling England by the Pound, é um disco frequentemente taxado de exagerado (especialmente por sua longa duração). Esse é o defeito de um disco ótimo, que poderia ser maravilhoso. O conceito também era bastante confuso, mas há música de altíssimo quilate e participações de gala do Mellotron – “Fly on a Windshield”, “Hairless Heart”, “The Chamber of 32 Doors”, “Silent Sorrows in Empty Boat”, “The Lamia”, “In the Rapids”, “Lilywhite Lily” e “Here Comes the Supernatural Anaesthetist”.
1. The Lamb Lies Down on Broadway
2. Fly on a Windshield
3. Broadway Melody of 1974
4. Cuckoo Cocoon
5. In the Cage
6. The Grand Parade of Lifeless Packaging
7. Back in N.Y.C.
8. Hairless Heart
9. Counting Out Time
10. The Carpet Crawlers
11. The Chamber of 32 Doors
12. Lilywhite Lilith
13. The Waiting Room
14. Anyway
15. The Supernatural Anaesthetist
16. The Lamia
17. Silent Sorrow in Empty Boats
18. The Colony of Slippermen (The Arrival – A Visit to the Doktor – The Raven)
19. Ravine
20. The Light Dies Down on Broadway
21. Riding the Scree
22. In the Rapids
23. It
Anglagard – Hybris [1992]
A principal referência do progressivo com Mellotron pós-anos 70. O Anglagard surgiu na Suécia no início dos anos 90, resgatando a sonoridade e a escola de composição progressiva que havia sido tornada obsoleta pelo conjunto de bandas conhecidas como neo-prog (Marillion, IQ, Pendragon, Pallas, etc.). Obviamente que esta missão não estaria completa sem que a banda se valesse da sonoridade que catapultou o progressivo a um grande patamar de popularidade nos anos 70 – baixo Rickenbacker, órgão Hammond, sintetizadores analógicos e, claro, o Mellotron. O som do grupo traduz o estilo complexo e cheio de nuances de Gentle Giant e ELP, mas com uma leitura bem mais sombria. Por utilizar a guitarra como um instrumento basicamente solista, a banda não se conecta com o movimento do prog-metal do Dream Theater e adota de fato uma espécie de retro-rock, o fazendo com grande propriedade. 4 longas faixas que utilizam intervenções muito inteligentes do tecladista Thomas Johnson no Mellotron, com os clássicos registros de cordas, coros e flauta.
1. Jordrök
2. Vandringar i vilsenhet
3. Ifrån klarhet till klarhet
4. Kung Bore
Bela lista. A inclusão do Spring foi surpreendente, mas essencial. A lista é longa, mas outros nomes que poderiam estar aqui
Anekdoten – Vemod
Beardfish – Comfort Zone
Earth & Fire – Song Of The Marching Children
Genesis – Foxtrot
Gracious – This is …
Museo Rochenbach – Zarathustra
Mutantes – O A E O Z
Yes – Tales fromTopographic Oceans
só algumas obras que o mellotron é fundamental. Baita texto Ronaldo
Valeu, Mairon!!! no caso dos Mutantes, acho que a presença do mellotron ali é bastante lateral, se teria algo a destacar no disco seria o som do Hammond L-100 (violentíssimo, um dos melhores registros na década de 70 inteira) e do Rickenbacker monstruoso do Liminha.
Destes que vc citou na sua lista, Earth and Fire e Museo Rosenbach brigaram pela posição que foi dada ao Spring!
Spring é uma banda muito boa. Acho “Grail” e “Gazing” duas canções de uma beleza ímpar. Uma banda que tenho escutado ultimamente e faz um uso interessante do mellotron é a escocesa Beggar’s Opera, especialmente no Lp “Waters of change”. “Time machine”, desse disco, tem uns climas muito interessantes.
Valeu meu caro. Abraços
Bela matéria, Ronaldo. Não conhecia o Spring, então irei atrás.
Recomendo o You, disco maravilhoso do Gong contendo bastante uso de mellotron.
Vale bem a pena, é um disco bastante agradável! bela menção e lembrança ao Gong, que não é uma banda muito lembrada em termos de sonoridade.
Matéria sensacional!!!
Vale ressaltar que Mike Pinder trabalhou na empresa/fabrica que desenvolvia o instrumento e fez diversos aperfeiçoamentos e correções no Mellotron, inclusive criando os modelos mais conhecidos e usados a partir de 1973.
Diego S. A. – Guarulhos, SP
Obrigado Diego! não conhecia essa informação, obrigado pela contribuição.
Abraço!
Ronaldo
Dentre estes cinco álbuns escolhidos com o tema “Mellotron no rock”, o que mais me surpreendeu foi The Lamb Lies Down on Broadway (que eu chamo de “Vai Lamber Sabão na Broadway”), o álbum que a maioria dos fãs do Genesis considera-o como o melhor de sua discografia, mas que eu considero-o como o terceiro melhor do meu top 5 deles, mesmo contendo alguns defeitos.
Eu já gosto mais do anterior, Selling England by the Pound, mas se por um lado TLLDOB foi a última coisa realmente relevante lançada pelo Genesis por ter sido o último disco com Peter Gabriel no comando (lembrando que o chato do Phil Collins ainda estava na banda), por outro gosto do TLLDOB por conter várias das minhas canções favoritas do quinteto, como a faixa-título, “In the Cage” (com destaque para o trabalho do baixo de Mike Rutherford), “The Chamber of 32 Doors”, “The Carpet Crawlers”, “The Colony of Slippermen”, “The Lamia” (com o melhor solo de Steve Hackett na minha opinião, depois de “Firth of Fifth”) e a dobradinha “Fly on a Windshield / Broadway Melody of 1974” com destaque para Tony Banks fazendo misérias no mellotron, que aliás é o tema desta resenha.
De fato, o mellotron está muito bem inserido em boa parte de TLLDOB (não apenas nas duas músicas que eu citei) tanto que eu considero este o melhor trabalho de Banks no instrumento em toda a história do Genesis, além do tradicional órgao Hammond, piano clássico e sintetizadores diversos. Pena que a Consultoria não fez um texto em homenagem aos 40 anos de lançamento desta obra-prima em 2014, mas quem sabe no dia 18 de novembro (sábado) não teremos uma análise mais detalhada de TLLDOB aqui no site, em função de seus 43 anos de lançamento…
Senti falta do Yes e seus discos que possuem boas amostras do uso do mellotron, como: Fragile, de 1971 (“Heart of the Sunrise” com destaque também para o show do Sr. Bill Bruford na bateria); Close to the Edge, de 1972 (“And You and I” é a única música realmente boa deste disco); Tales from Topographic Oceans, de 1973 (“The Remembering [High the Memory], por exemplo); e Relayer, de 1974 (“The Gates of Delirium” é uma das músicas mais impressionantes que eu conheço, apesar de não gostar de Patrick Moraz no lugar de Rick Wakeman).
Tal como o caso do ELP, o Pink Floyd nunca usou o mellotron em três discos de sua “segunda fase” na carreira, que são The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975) e Animals (1977) – que veio antes de The Wall (1979) – mas mesmo assim gosto destes trabalhos, mesmo sem o mellotron. O PF só usou mesmo o instrumento em sua primeira fase, de 1967 á 1972.
Nossa, então é você que chama o disco de “Vai lamber Sabão na Broadway”. Tenho copiado você este tempo todo, me desculpe.
Te desculpo sim, Gaspari. E tem mais: apesar de eu concordar com a escolha de SEBTP para representar o Genesis naquela lista que a Consultoria fez no ano passado sobre as melhores bandas (afinal de contas, este é o disco da minha vida), acho que o “Vai Lamber Sabão na Broadway” teria sido mais adequado para isso.
I-n-a-c-r-e-d-i-t-a-v-e-l-!-!-!-!-!
Pois é Gaspari, se o Fernandão escolheu o controverso Seventh Son of a Seventh Son para representar o Iron Maiden naquela lista, por que não citar o TLLDOB para representar o Genesis também? Ambos os dois álbuns são muito parecido em termos de “conceitos”, já que cada um conta uma história bem esquisita e diferente.
O episódio dá novo sentido à expressão “diálogo de surdos”.
Rapaz, quando li pensei logo: “o Gaspari vai deixar passar essa?”.
hahahahahahahaha, o Eudes é uma piada mesmo!
Em termos musicais, também gosto mais do Selling England, mas a escolha realmente se deve ao papel que o mellotron teve naquelas músicas e a quantidade (numérica mesmo) de presenças deles no tracklist do disco.
Abraço,
Ronaldo
Somos dois, Ronaldo! SEBTP é sem dúvida o melhor disco não apenas do Genesis e do rock progressivo, mas também da história da música em geral, depois do Pink Floyd e seu Dark Side of the Moon. Porém, não discordo da maioria dos fãs que elege o “Vai Lamber Sabão na Broadway” como o melhor disco deles. O mellotron aparece em 6 das oito faixas do SEBTP, tirando “After the Ordeal” e “More Fool Me”.
Obrigado pelos comentários, pessoal!
Eu já tinha pensado em fazer algum texto falando sobre os diferentes tipos de teclados no rock progressivo, mas como não sou músico certamente ficaria muito inferior ao que o Ronaldo fez. Primeiro com o Hammond, agora com o Mellotron, o modo que ele está apresentando é muito melhor do que eu faria. Com certeza. Não conhecia esse Spring. Vou ter que ouvir pois fiquei interessado. Agora esperamos um texto sobre o moog.
Por acaso aquela matéria que fiz do Spring se perdeu?
Se foi publicada no período de final de 2013 a inicio de 2015 pode ter sido perdida por conta do nosso problema com a UOL.
Então se perdeu… Valeu!
Na verdade, quem inventou o “Vai Lamber Sabão na Broadway” fui eu, por que antes o Marco Gaspari chamava o disco do Genesis (TLLDOB) de “Vai Beijar seu Pai na Broadway”. Então resolvi pegar carona na versão dele e fiz a minha paródia para o título do disco que hoje é o preferido de nove em cada dez fãs do Genesis.
Não, eu dizia “Vai Lamber Seu Pai na Broadway”. E se fosse música, claro, ninguém ia dizer que você plagiou. Só pegou carona, né, Jimmy Page?
Deixe Page fora disso!
Peguei carona sim, meus caros Marco e Eudes, mas o que importa é que esta brincadeira tem dado muito certo aqui na Consultoria há quatro anos atrás.
Quando soube que o Ronaldo escreveria uma edição dessa seção abordando o uso do mellotron no rock, tive a certeza e a posterior confirmação de que o Moody Blues estaria presente, afinal, Mike Pinder foi instrumental na popularização desse instrumento e soube usá-lo muito bem em benefício do grupo. A citação mais óbvia poderia parecer “Days of Future Passed”, mas, realmente, não é em todas as faixas que ele dá o ar da graça. “To Our Children’s Children” parece mesmo ser a escolha mais adequada, uma vez que, não apenas seu uso é mais extensivo, como se trata do álbum mais complexo e rico em texturas do catálogo dos Moodies, muito disso graças a esse instrumento. Excelente, Ronaldo.
É o meu disco favorito do grupo, que aliás vem ganhando cada vez mais minha admiração e apreço. Moody Blues sem mellotron não seria a mesma coisa. Obrigado pelo comentário, bro!
Abraço,
“August Carol”, Kestrel, 1975. O mellotron atinge níveis celestiais na parte final dessa música…