Discobiografia Legionária [2016]
Por Micael Machado
Fotos retiradas do Instagram da autora
Embora vários livros tenham sido escritos sobre a vida de Renato Russo (cujo precoce falecimento completou vinte e um anos no último dia 11 de outubro), a história da Legião Urbana (banda na qual ele foi cantor, instrumentista, letrista e líder inconteste) ainda carece de um trabalho literário que a repasse de forma isenta, documental e completa. Talvez para sanar esta lacuna do mercado, a editora LeYa lançou em 2016 o livro Discobiografia Legionária, de autoria da jornalista Chris Fuscaldo, e que deve agradar em cheio os fãs e admiradores da obra de Renato e seus comparsas.
Os textos presentes na obra foram previstos inicialmente para fazer parte dos encartes (compondo as famosas “liner notes“) das edições remasterizadas lançadas em 2010 como parte de um caríssimo box set nas opções em vinil ou CD, ao qual muito poucos, infelizmente, tiveram acesso. Além desta dificuldade, os textos originais da autora ainda passaram por uma forte edição e algum resumo por parte da gravadora EMI, para adequar-se ao projeto pensado pela multinacional. Sendo assim, e depois de ter recebido diversas solicitações de envio de seus escritos por parte de fãs que não possuíam a oportunidade de lê-los, Fuscaldo propôs à LeYa a confecção do livro, valendo-se para isto das entrevistas feitas à época para a confecção dos textos originais (não somente com os músicos e membros da equipe técnica da banda, mas com “parceiros, amigos e fãs”, com cita a própria Chris no prefácio da obra), além de ter feito novas entrevistas e pesquisas visando ampliar o material que já tinha, além de expandi-lo para incluir também as coletâneas, discos ao vivo e os trabalhos solo lançados por Renato Russo (tanto em vida quanto póstumos).
O resultado é um livro que foca mais nos aspectos de criação, gravação e das curiosidades de “bastidores” dos discos da Legião do que em uma simples narrativa linear dos fatos históricos vividos pela banda, A própria autora escreve que não sabia bem como acrescentar algo mais aos relatos já conhecidos e decorados pelos fãs do grupo, e que decidiu pela abordagem de contar a história de cada disco para que estas contassem, juntas, a saga completa do grupo originário de Brasília. Desta forma, a obra foi dividida em capítulos dedicados cada um a um disco de estúdio do grupo, além dos já citados lançamentos ao vivo, solo e coletâneas, perfazendo um amplo período de tempo e cobrindo toda a trajetória do grupo em sua existência mercadológica, ao menos.
Se nos primeiros capítulos o tom é mais voltado às curiosidades dos bastidores das gravações dos discos da Legião (dando os devidos créditos, inclusive, a uma figura muitas vezes esquecida quando se trata do grupo, o técnico de som Amaro Moço, que, com sua experiência e sensibilidade, ajudou o então quarteto a obter a sonoridade que desejavam em uma época em que os recursos tecnológicos ainda eram bem mais rudimentares que hoje em dia), mais para o final a obra vai ficando mais melancólica, com os efeitos do avanço da doença de Renato (bem como de sua dependência química) se espalhando pelos estúdios de gravação e pelos palcos onde a banda se apresentava, culminando no dificílimo processo que resultou em A Tempestade (ou O Livro dos Dias), último registro lançado com o cantor ainda neste plano, e cujas sessões de gravação depois foram utilizadas para compor Uma Outra Estação, derradeiro registro de inéditas da Legião (pelo menos até aqui), passando por momentos realmente tocantes, especialmente quando se volta à memória dos envolvidos nos últimos dias de vida e de trabalho do cantor junto a eles.
Pode-se alegar que Fuscaldo deu uma ênfase maior que a necessária aos discos da carreira solo de Renato (especialmente no caso dos discos póstumos), e que alguns aspectos e histórias contadas na obra mereciam ter um desenvolvimento maior, ou ainda que boa parte do que é contado na obra não é de todo desconhecido de quem acompanha de perto a trajetória da Legião Urbana. O certo é que, se considerarmos o intuito original dos textos (servir como “simples” liner notes, como escrito acima), e no foco da obra ser os discos em si, e não a carreira do grupo, já era esperado que a obra não se aprofundasse demasiadamente na história dos legionários, mas talvez seja este aspecto (além do óbvio e enorme talento da autora para a escrita) que torna a leitura tão leve, ágil, fácil e direta, e, mesmo com todas as circunstâncias citadas, bastante indicada aos fãs de Renato, Dado, Bonfá e seus companheiros de trajetória, os quais ainda esperam por uma biografia realmente definitiva sobre o grupo, mas encontrarão em Discobiografia Legionária uma obra que tem tudo para lhes agradar e emocionar. Boa leitura!
Sobre este período, recomendo a leitura do “Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock”, escrito pelo Lobão.
Está aí um livro que ainda não li, mas tenho bastante curiosidade de conferir! Valeu pela dica!
Não sabia da existência desse livro. Vou correr atrás. Achei bacana ela ter comentado bastante sobre os álbuns solo do Renato. Diferente… Você chegou a ler o livro do Dado? Achei bem bacaninha…
Oim Davi! Li o livro do Dado, sim, achei bastante honesto, embora esperasse mais detalhes dos “bastidores” da banda. Mesmo assim, vale a leitura!