Grandes festivais: por que as bandas nacionais têm pouco espaço?
Por Emerson Mello
Do primeiro disco de metal gravado no Brasil, o álbum autointitulado dos paraenses do Stress, até os dias de hoje, lá se vão mais de 30 anos de produção fonográfica do metal tupiniquim. Daquele início árduo, quando bandas como o já citado Stress, mais Harppia, Azul Limão, Holocausto, Taurus, Dorsal Atlântica, Attomica, Salário Mínimo, Sepultura, Sarcófago, Metalmorphose, Korzus, Centúrias e outras arrancavam leite de pedra e driblavam as adversidades, até os dias de hoje, muita coisa mudou no mundo e consequentemente no metal também.
Naquela época, manter uma banda de metal no Brasil era algo praticamente inimaginável. Em 1985, o Brasil se encontrava em transição entre a ditadura e o processo democrático, mas ainda vivia sob forte reserva de mercado, o que deixava o país isolado no que se diz respeito ao acesso à tecnologia. O impacto no setor da música era um alto custo em instrumentos musicais e equipamentos de estúdio. A indústria de instrumentos nacionais era ruim e conseguir equipamentos importados era muito difícil e caro. Isto sem falar na falta de informação que as pessoas tinham do metal, o que gerava muito preconceito e de certa forma restringia ainda mais as oportunidades do estilo. As bandas da época faziam tudo no amor mesmo, na raça e paixão ao estilo.
Hoje os tempos são outros, e o avanço da tecnologia e a globalização trouxeram benefícios também para o mercado musical. Atualmente se tornou bem mais barato e acessível realizar uma produção tanto de áudio quanto de vídeo. Em um home studio se consegue atingir um padrão de qualidade de gravação bem aceitável, o que consequentemente aumentou o volume da produção musical. O acesso mais fácil à instrumentos de boa qualidade num preço mais acessível também facilitou o surgimento de mais bandas.
Nesta trajetória do metal nacional tivemos diversos momentos importantes e do ponto de vista mercadológico iremos citar dois:
1° – Em 1988 o Sepultura assina com a gravadora americana Road Runner.
2° – Em 2015 Kiko Loureiro entra para o Megadeth.
Nestes dois momentos, separados por 27 anos de distância, podemos constatar que o metal nacional cresceu, evoluiu e se profissionalizou muito. Além da já citada velha guarda, temos bandas mais atuais como Shadowside, King Bird, King of Bones, Project 46, Hatefulmurder, e também nomes tradicionais como Angra, Almah, Dark Avenger,Torture Squad e outros que continuam em atividade e produzindo, ou seja: boas bandas é o que não falta no nosso metal nacional.
Temos boas bandas, temos um bom volume de produção, temos potencial e qualidade, temos músicos de nível internacional, mas quando vemos o retrospecto das bandas brasileiras de metal em grandes festivais realizados no Brasil os números não são nada bons… (vide quadro).
Este ano, por exemplo, tivemos recentemente a realização de mais uma edição do Rock in Rio. De metal (e subgêneros como o hard rock, thrash metal, death metal,etc) tivemos apenas três bandas: Sepultura, República e Ego Kill Talent. Muito pouco pra um megaevento como o Rock in Rio. Falando do Monsters of Rock, que é um festival essencialmente focado no metal, de um total de 65 bandas que passaram em 06 edições realizadas no Brasil, tivemos apenas 11% de bandas brasileiras no line-up: Dr.Sin (1994-2013), Angra (1994), Viper (1994), Dorsal Atlântica e Korzus (1998), Project 46 e Electric Age (2013).
Diante destes números é impossível não se questionar: Quais são os fatores que levam a isto?Quais são as maiores dificuldades para as bandas brasileiras entrarem no cast destes grandes eventos?Porque não se consegue quebrar esta escrita? Afinal num festival de grande porte as bandas tem condições de realizar um show com mais estrutura e também de levar seu nome a um maior número de pessoas. Para muitas bandas consagradas tocar num grande festival foi um divisor de águas, onde a partir daquele momento conseguiram subir de nível, obter maior reconhecimento e alavancar suas carreiras. Neste raciocínio podemos citar a edição de 1983 do US Festival (EUA), que sem exageros, ajudou a consolidar a carreira solo de ‘Mr.Madman’ Ozzy Osbourne, que estava se iniciando naquela época.
Para Ricardo Batalha, editor-chefe da revista Roadie Crew, um dos fatores é a falta de conhecimento dos organizadores em relação ao estilo. “Eles escutam pessoas próximas e muitas delas não tem noção do que acontece no cenário do Heavy Metal”. China Lee, vocalista do Salário Mínimo, segue a mesma linha de raciocínio: “Estas pessoas não tem acesso ao mundo do metal nacional. O Medina, por exemplo, até bem pouco tempo atrás nunca tinha ouvido falar no Made in Brazil por exemplo. Nunca ouviu falar do Velhas Virgens,Salário Mínimo, e nem do Stress, que é percussor do metal nacional.”
Roosevelt Bala ,vocalista do Stress, aponta também outros fatores em sua analise: “O público que costumava lotar os eventos com bandas nacionais nos anos 80 e 90 envelheceu, pouco sai de casa. A nova geração tem tudo nas mãos,não costuma ir a shows e espera pelos que foram ao show postarem os vídeos pra assistirem nos seus celulares. Ou seja, a nossa geração tá se aposentando e a nova é de roqueiros virtuais. Assim sendo, o que vemos agora é que os produtores não apostam nas bandas nacionais, pois o público não comparece, nem o suficiente pra pagar as despesas básicas do evento, que não são baixas.”
O Sepultura, que é a banda nacional melhor sucedida comercialmente, obviamente é o melhor nome representado nesta estatística. Tocaram 05 vezes no Rock in Rio (só não tocaram na edição de estréia em 1985 e na de 2015) e no Hollywood Rock em 1994 (no fatídico episódio aonde Max foi detido pela polícia, sob suspeita de ter pisado na bandeira do Brasil). Curiosamente não tocaram em nenhum Monsters of Rock. Ainda sobre o Monsters, os cariocas da Dorsal Atlântica garantiram sua presença na edição de 1998 graças a uma iniciativa do seu fã-clube através de um abaixo-assinado, que na época angariou mais de 40 mil assinaturas. Por sua vez as bandas Electric Age e Project 46 entraram na edição de 2013 através do Desafio Monsters Of Rock, iniciativa da Showlivre e da rádio 89FM. Ao que parece, estas duas iniciativas (abaixo-assinado e concurso) ainda são iniciativas isoladas para tentar aumentar a presença das bandas nacionais em grandes festivais.
Clinger Teixeira, produtor do Heavy Metal on Line analisa o tema sob a ótica do mercado. “Primeiramente temos que estar cientes de que as pessoas que estão à frente destes festivais não estão nem um pouco preocupadas com as bandas do Brasil, com a cena heavy metal, com a renovação do cenário, nem nada. Eles estão fazendo negócios e negócios grandes, coisa de milhões e querem colocar nos festivais somente bandas que vão chamar grandes públicos ou que vão atender as novas ondas e tendências da molecada”. Em relação a alternativas pra furar este bloqueio ele é bem incisivo: “Existem bandas que pagam pra tocar nos festivais, e são valores muito altos. Já ouvi falar de valores de 10 a 20 mil pra tocar num festival deste. As bandas do Brasil que não tem uma gravadora forte ou não querem pagar pra tocar, eu acho muito difícil furar o bloqueio. Lógico que existem outros caminhos, amizades, troca de favores, etc. Mas sem querem ser depressivo, eu não vejo caminho pra furar este bloqueio somente com um bom trabalho”.
Eduardo Chamarelli, produtor do Hell in Rio, acredita que o mercado de música pesada no Brasil precisa ser reaquecido e gerar interesse comercial. “Hoje no mercado brasileiro se gera pouca mídia em torno do rock e do metal. Música é um produto, e não estamos sabendo como vender. Hoje no Rio não temos nenhuma rádio de rock no dial, os canais de TV são ridículos, a cena local só encolhe na capital e no interior, onde havia projetos interessantes”. Quando questionado quais seriam as maiores dificuldades que as bandas enfrentam pra furar o bloqueio dos grandes festivais ele continua: “Os eventos estão reduzidos e há poucas casas de shows. O público que ainda resiste, busca referência nos grandes nomes mundiais. As bandas têm que se profissionalizar e os produtores trabalharem com muita seriedade. Profissionalizar o metal. Quando conseguirmos pensar desta forma, as bandas nacionais irão ganhar muito espaço”.
Apesar das dificuldades, o produtor continua confiante e diz que existe intenção de fazer a segunda edição do Hell in Rio em 2018, segundo ele mantendo a mesma filosofia: “respeitando bandas e público e trazendo algo de qualidade pra cena”.
O Hell in Rio não está solitário na tentativa de manter a bandeira do metal nacional, o já tradicional Roça’n Roll que está em sua 16° edição e nomes como Guaru Metal Fest, Araraquara Rock, Manics Metal Meeting e outros vem crescendo a cada ano, conquistando público e desafiando a escrita e superando os desafios de se produzir eventos de metal no Brasil. Se por um lado os grandes festivais não abrem espaços para as bandas nacionais, estes festivais apostam suas fichas em valorizar a prata da casa.
Pra finalizar, objetivo deste artigo é levar este tema à análise e reflexão. Seria interessante que os que amam o metal e curtem as bandas brasileiras, se enxergarem neste contexto e pensar o que pode contribuir para o crescimento contínuo da cena nacional, trazer algo produtivo. Não importa o tamanho da contribuição, pequena ou grande, o importante é que ela aconteça, nem que seja apenas compartilhando o post de alguma banda. Uma cena forte se constrói com público e bandas se ajudando mutuamente. Se aprendermos a valorizar nossas bandas e nossos eventos, iremos crescer de forma sólida e construir algo real e único. Como já falado no texto, qualidade para isso não nos falta.
Belo texto, muito informativo e direto ao ponto. Acredito que temos bandas de qualidade aqui no Brasil. Porém algo que não foi falado e vejo como algo que atrapalha é que as bandas não se ajudam e há um clima de competição nervoso…
Valeu pela participação Fernando!
A ideia central do texto gira em torno do título e é saudável as pessoas trazerem seus pontos de vista e enriquecer o debate.
Que bom que curtiu,leve a discussao aos seus amigos também.
Ótimo texto, Emerson.
Bem, como costuma acontecer em nosso país com tanta coisa errada, esse problema de falta de apoio com as bandas nacionais é uma série de problemas juntos que geram o resultado que temos hoje. Nem de longe é apenas só o que eu vou falar, mas vou tocar em alguns assuntos.
Tem um pessoal que pode até achar que isso é elitista, mas os fatos estão aí.
Qualquer um que é questionado sobre o porquê não vai a shows das bandas nacionais quase sempre dá a mesma reposta: porque não são boas o suficiente. Algo que discordo tanto, mas tanto, que eu nunca acreditei que a pessoa de fato esteja falando a verdade e que para mim é só uma forma de dar uma desculpa e tirar um pouco da sua responsabilidade própria quanto a isso. Sei disso porque sou do interior e é só vir um Sepultura ou um Angra aqui perto que todo mundo já se assanha.
Uma coisa já cultural do Brasil é que o povo é fascinado pela mídia e pelo sucesso. Brasileiro tem um certo fascínio pela massa, por fazer parte do coletivo, muito mais do que se sentir valorizado por pessoas de menor repercussão, mas que tratam seus fãs com muito carinho e respeito. Sabemos que o metal nacional não dá ibope e a repercussão é pequena. Mas a exemplo das duas bandas que conseguiram um sucesso lá fora (as já citadas Sepultura e Angra) que ganharam grande relevância na mídia estrangeira antes do reconhecimento nacional, estas são as bandas que se tornaram o “orgulho nacional” e shows deles por aqui atraem muita gente. O próprio Emerson citou o Kiko indo para o Megadeth. Antes só falavam de Kiko para chamá-lo de arrogante com os fãs. Mas foi Dave Mustaine elogiá-lo com vários adjetivos que hoje Kiko é considerado “um dos melhores guitarristas da atualidade”. Poxa, será que ele evoluiu tanto assim em questão de 1-2 anos ou já era tão bom quanto no Angra?
Para o cenário mudar, só vejo mesmo como cada um fazendo sua parte de mostrar as boas qualidades das bandas brasileiras a seus filhos e aos jovens. O pessoal lá dos anos 80 agora já beirando os 50 anos, podiam mostrar aos seus filhos como era foda um Holocausto e um Taurus, junto aos discos do Sabbath e do Maiden. Ou seja, educarmos nossos jovens que ele não precisa seguir o povão para ser respeitado e também nos reeducarmos a sermos mais críticos e não ficar puxando saco de banda gringa que não mereça. Nós da Consultoria continuarmos a publicar matérias de bandas nacionais ao nosso ainda pequeno mas fiel e muito bacana grupo de leitores, mas sendo honestos e apontando os defeitos dos discos das bandas nacionais assim como exaltar as qualidades.
E é claro, a questão das próprias bandas se ajudarem um tanto mais. Os mesmos defeitos que o público possui, as próprias bandas também tem. As vezes é inacreditável o tamanho do ego de músicos ainda sem qualquer relevância mas que se acham a reencarnação do Deus Metal. Parar de condenar quem critica disco deles, que é ridículo e um dos maiores defeitos da mídia especializada brasileira, que dá nota alta e elogia qualquer disco mequetrefe de banda nacional. Ou seja, tentar ser mais imparcial e verdadeiro, porque só assim irá ajudar a cena a repensar suas composições e evoluir como compositores.
Enfim, em resumo para quem é tl;dr: todos os envolvidos tem suas parcelas de culpa, cabe a refletirmos e ver o que podemos fazer para ajudar. Não acho que todo mundo agora deve ir torrar sua grana em discos apenas nacionais. Isso não vai mudar em nada, exceto aumentar o ego de quem não merece. Mas sim em sermos todos justos. Bandas e público.
Claro, minha mensagem é para quem gosta de ouvir o metal nacional e quer ver mudança.
Caro André!
No início de seu texto, achei que você era músico de alguma banda, mas depois percebi que é de alguma publicação. Você tem razão em muitas coisas que diz quanto ao povo, mídias, manipulação e egos. Mas quanto ao “dever de casa”, não concordo.
Veja, nós que temos “50 ou mais” fizemos e
ainda fazemos esse dever que é o de
passar adiante nosso legado. Olhe só : Um
belo dia eu chego em casa de um final de
semana em Visconde de Mauá E encontro meu filho de 13 anos e meu sobrinho de 15/16 com vários de meus discos espalhados pelo chão da sala, Led, Floyd, Iron, Harpia, Angra, Sabbath, Patrulha etc. Foi muito lindo eu explicar aos dois como se ligava o pick-up e se colocava os discos para tocar e aquilo foi muito gratificante tanto para eles que estavam maravilhados quanto para mim. Hoje meu filho tem 18 e meu sobrinho Ja vai para 21. Veja meu filho sempre curtiu de Iron a Angra, e de certa forma esse conhecimento foi fundamental para formar seu gosto musical e respeito pelo que é nacional. Hoje como todo jovem midiático, ele é bem eclético e curte muito mais coisas do qie eu na minha época, mas o faz com um senso crítico natural que o norteia. Ele é a prova viva que a maioria de nós, para os quais o Rock’and’Roll continua sendo nossa “Religião e nossa lei” conseguramnsim passar adiante.
Abs
Cotia Zepp
Mas Cotia Zepp, você fala que não concorda com o dever de casa, mas fez justamente… o dever de casa!
Entendeu o que quis dizer? São os caras da tua geração justamente passar adiante essa apresentação de bons sons nacionais. Conheço uma porção de caras da tua idade cujos filhos estão lá na casa dos vinte e poucos anos que nunca os incentivaram ao metal nacional, alguns até mesmo ao rock no geral. Claro que os filhos podem muito bem ter escolhido por conta própria caminhos diferentes de seus pais, mas no mínimo apresentar coisas fora do mainstream do rock é algo que poderia ser feito com mais ênfase.
Óbvio que não vai solucionar o problema. Mas é um dos pequenos passos que muitos podem fazer.
Abraços!
Excelente texto André! Muito lúcido e ajudou a completar o raciocínio do texto.
Fico feliz que possamos elevar o debate a um bom nível. Cada un trazendo suas ideias,suas percepções e seus pontos de vista.
Caro Emerson brother rocker!
Não sei quem é esse Clinger, mas ele mandou a Real: “É tudo grana” e metal mesmo com festival sério, só em Wacken (será que é assim que se escreve? ), e olha que foi você mesmo que me disse que até lá bandas pagam para tocar…Ah! E bandas como Sepultura e Angra, não são mais
“Bandas Brasileiras”…Talvez mundiais??? Ainda mais com esse novo “formato” de público, que vai a um festival como se estivesse indo a um parque de diversões e a banda que esta no palco, tem o mesmo valor insólito da roda gigante iu da tenda rave. Um caminho bacana, parece que já está traçado, e a meu ver é o mais certeiro que são esses festivais que vocês chamam de “Roça & Roll” (ruim pois nesse termo jocoso ou pejorativo, está explícita a síndrome de vira-latas de muitos no Brasil), esse festival Hell in Rio parece estar no caminho. E i que é mais legal nele:É realizado (pelo que eu entendi), no “Terreirão do Samba”, isso é diversidade real… Caro seu texto e romântico, positivo e cheio de esperança e prefiro confiar nele sabe. Pois do outro lado da força, estão os Medinas e suas filhas que realmente SO PENSAM EM GRANA e quando e só isso que importa, a música é que sai perdendo.
Abração brother.
Do seu brother Cotia Zepp
Só uma coisa, Roça & Roll não é um termo, é o nome próprio de um festival anual que acontece no interior de Minas Gerais (Varginha), em uma “roça”, daí o nome. http://www.rocainroll.com/
Olá Serena.
Não entendi sua colocação pois me referi ao Roca’n Roll como evento,inclusive citei que já está em sua 16 edição.
Considero um dos eventos mais importantes do nosso calendário, por isto a importância de citá-lo no texto, pois ele esta diretamente relacionado com o que foi proposto pelo texto.
Olá Emerson Mello,
Na verdade me referi ao Cotia Zepp, que disse: “o mais certeiro que são ESSES FESTIVAIS QUE VOCÊS CHAMAM DE ‘Roça & Roll’ (ruim pois nesse TERMO JOCOSO OU PEJORATIVO, está explícita a síndrome de vira-latas de muitos no Brasil)”.
Com certeza o Roça’n Roll tem tudo a ver com o texto, é um dos mais importantes eventos de metal do Brasil e merece todo o crédito e respeito.
Ah sim. Agora que entendi.
Pra ser sincero não acho pejorativo e sim muito criativo. Isto é a percepção de cada um,que obviamente é muito subjetivo.
Meu caro Cotia Zepp a tecnologia mudou a forma como as pessoas se relacionam e como eles vêem o mundo.
Você tem razão quando fiz que hoje em dia um festival de música, ou de rock,parece um parque e diversões. Este fenômeno não ocorre só no Brasil, mas sim em todo o mundo e diria que não é mais uma tendência e sim uma realidade para qual os festivais tiveram que se adaptar como forma de manter o interesse da audiência.
Parabéns à Consultoria por mais um ótimo texto sobre um assunto tão caro a todos nós, amantes de música, no caso específico o bom e velho metal caseiro. Ai vão meus 2 centavos, parcelados.
Um centavo: Grandes festivais: por que as bandas nacionais têm pouco espaço?
A primeira resposta é simples e óbvia: falta de interesse do público. Todas as análises, em todas as instâncias levam ao mesmíssimo resultado. O difícil é entender o que essa falta de interesse significa e o que a causa.
Em primeiro lugar a “falta de interesse do público” deve ser identificada em relação ao ambiente, no caso “falta de interesse do público de um GRANDE FESTIVAL por bandas nacionais”.
Um grande festival clama por muito público, e este, independente das atrações, demanda grande infraestrutura, grandes responsabilidades e consequentemente altas somas de dinheiro, só isso, sem pensar ainda em cachê de banda. Isso já é o suficiente para endividar qualquer um pelo resto da vida. Essencialmente por isso grandes festivais no Brasil são realizados quase que exclusivamente por grandes empresas.
Grandes empresas são, em tese, a representação máxima do profissionalismo, o que significa que eles não são (e não devem!) capazes de enxergar amor à música, qualidade do artista e outros aspectos subjetivos. A empresa que se presta a realizar um grande festival apenas enxerga oferta e demanda, e a possibilidade de transformar R$ 1,00 em mais de R$ 1,00, ponto.
Uma pessoa que investe em dois meses R$ 1.000,00 para realizar um evento, e tem o retorno de R$ 1.000,00 só sai zerado se ele fez por amor, porque se ele fez por trabalho, ele saiu no prejuízo inestimável de 2 meses, e tempo é dinheiro, de verdade. Foram dois meses que ele poderia ter usado para fazer outra coisa lucrativa, ou mesmo cuidar da saúde, que é o que nos garante mais tempo.
Dito isto a primeira coisa que quem se prestar a realizar um grande festival vai fazer é contabilizar o valor necessário à infraestrutura, mais o local mais barato que comporte ela, e estabelecer a razão entre a quantidade de público/valor do ingresso com margem de segurança para cobrir os custos. Ou seja, o custo de infraestrutura, mais a locação, mais os seguros são de X, a lotação do lugar é de Y. Agora vem a pergunta, quem eu chamo para tocar que atraia o número mais próximo de Y pessoas, quanto custa trazer essa pessoa, vai determinar o custo final. Com o custo final em mãos finalmente vai ser possível buscar outros investidores que tenham interesse naquele público. Ou seja, gravadoras, cervejarias, outras empresas do ramo alimentício, e quem mais, pela razão que for, quiser diluir os custos. Depois disso tudo finalmente começar a calcular o valor do ingresso.
Existem ainda outros custos, como de publicidade, e a forma para calcular o valor final do ingresso passa por diversas análises, e apostas, por exemplo: é mais fácil cobrar mil reais de dez pessoas ou um real de dez mil pessoas? Mesmo por um real é difícil mover dez mil pessoas, e muitas deixariam de ir justamente por ser apenas um real. Mil reais é muito dinheiro, mas tem mais de dez pessoas dispostas a pagar sete mil reais por um celular que faz basicamente o mesmo que um de setecentos faz. Bom, se eu conseguir colocar quatro num camarote por mil reais eu só vou precisar de mais seiscentas pessoas por dez reais, mas eu posso colocar quarenta no camarote por cem reais…
Diante disto, que sequer arranha superfície que é a complexidade e dificuldade de realizar um grande evento, eu acho que fica muito claro que a última preocupação do produtor é ajudar quatro caras que ele não conhece, que tocam numa banda que ele nunca ouviu falar e que ninguém tem interesse em pagar duzentos reais para ver tocar.
Eu vejo muita gente que se engana dizendo: “podiam botar a banda tal para tocar que com certeza eles tocariam de graça”. Pode ter certeza, se é de graça é qualquer coisa menos profissional. Pode ser caridade, pode ser por amor (daí vem amadorismo), pode ser loucura, só não é profissional. Uma banda que “toca de graça” num grande festival está ganhando a visibilidade de dezenas de anúncios pagos em revistas e sites, ou seja, está ganhando publicidade que tem MUITO valor econômico.
O outro lado do engano é: “mas não tem custo para o contratante”. O show dessa banda vai ter pelo menos de quinze à trinta minutos, mais o tempo de arrumar e desarrumar o palco, num total de pelo menos trinta a quarenta e cinco minutos extras. A depender do evento esses quarenta e cinco minutos podem impactar no valor da locação. Agora o mais importante é: são mais quarenta e cinco minutos para qualquer coisa pode dar errada! Não necessariamente dentro dos quarenta e cinco minutos desse show. Pode ser uma falta de luz que ao invés de prejudicar somente a última banda prejudica o final da penúltima e impede a última, pode haver um acidente durante o show dessa banda “gratuita”, ou mesmo uma confusão generalizada. Lembram da confusão do Ultraje a Rigor no SWU? Agora imaginem uma banda menor, sem nada a perder, com mais vigor e cabeça mais quente, que na mesma situação ao invés de trocar uns murrinhos resolve destruir o P.A.. É difícil de acontecer? É! Já aconteceu? Já!
Sejam sinceros, como empresário, vale a pena o risco?
Faria sentido o Dark Avenger abrir os shows do Helloween no Brasil? Faria, é uma boa banda, tem o mesmo público, acabou de lançar um bom disco. Você conhece alguém que deixou de ir pela falta deles? Eu acho que não… é só um exemplo e esse show do Helloween, com todo o respeito, está longe de ser um MEGA evento.
O que aconteceu com o Dorsal Atlântica no Monster aconteceu também com o Sepultura no Hollywood Rock, ou seja, a banda foi incluída devido ao apelo popular, olha a nota da Folha da época:
“O fã-clube oficial do grupo brasileiro, sabendo que a organização do HR havia descartado a participação da banda, deflagrou uma campanha de cartas e abaixo-assinados em todo o país (…). Resultado: antes que pudessem entregar as primeiras 7.000 assinaturas coletadas, o Sepultura voltou à programação. E, para sorte dos desavisados produtores, transformou sua noite, até então meio caída, na de maior procura de ingressos.”. E, sinceramente, na época o Sepultura já era MUITO mais que uma simples banda de metal nacional, já era uma grande banda de renome internacional.
Esses dois casos, pra mim, só mostram uma coisa. Os produtores não precisam gostar de metal, não precisam conhecer as bandas, eles só precisam ouvir o público. O Dorsal e o Sepultura não entraram porque são bons ou porque merecem, mas sim porque o público fez questão, mostrou claramente que pagaria para vê-los! E para bandas nacionais participarem de grandes festivais só depende disso, o público mostrar, de maneira clara que pagará para ver bandas nacionais. Essa demonstração não precisa ser um abaixo-assinado, mas precisa ser de forma clara, e o mais importante, precisa ser confirmado com a compra do ingresso.
Resumindo pra galera tl;dr (adorei isso André Kaminski): se gente o bastante reclamar que só vai pro evento tal se a banda X tocar, e a banda X realmente tiver haver com o evento, estiver disponível e não inviabilizar economicamente o evento, pode ter certeza que a banda X vai tocar.
O problema é: como botar gente o bastante para reclamar? E esse era o meu outro centavo, que eu guardei para falar da minha visão da “cena” como um todo, que na verdade era o que mais me interessava falar, mas eu cansei (rs), quem sabe depois (rs).
Bacana que você complementou com a parte econômica da coisa, enquanto eu me foquei na parte mais “sensível e comportamental” do problema. Complementou muito bem mais um dos diversos “centavos” do problema.
Olá Serena.
Você desenvolveu um ótimo raciocínio e trouxe luzes a uma mecânica que é desconhecida pela maioria. E o fez e maneira bem simples facilitando a compreensão.
Excelente raciocínio que assim como o do André ajudou (e muito)a completar a ideia do texto.
Parabéns pelo texto Emerson e obrigado pelo convite para deixar minha mensagem !!! Um grande abraço !!
Eu que agradeço Clinger. foi uma honra ter sua participação,e ainda mais enriquecendo o texto.
Ótimo texto com fatos e dados, que provoca a abertura de uma importante discussão. Belo trabalho, Emerson. Meus parabéns!
Agradeço o convite Thiago,e espero poder contribuir em outras oportunidades. Será um prazer.
Basicamente e uma panela. São sempre as msm bandas nacionais. Sei q tem qualidade! Mais muitas são pura cópia das gringas…. acho que tem q variar mais as bandas. As bandas clássicas como sepultura e angra já nem fazem mais tanto sentido e as novas como pj46, john Wayne tá longe de ser algo TOP no metal.
Eventos que tem q juntar três bandas de nome p co seguir colocar 200 pessoas na casa? Vc vê agenda de bandas como almah que no ano (365 dias) tocou 16 vezes no ano? Metal tá bacana? Tem demanda? Sei não… várias bandas acabando… é triste! Mais bobo de bandas que falam “nossa a cena tá do caralho!” Da ora viver de metal sim!
Felipe,são vários pontos a serem discutidos,a serem refletidos.
Agradeço por você ter contribuído com sua opinião e a sua visão do tema.
Um abraço.
Tem pouco espaço por que não amadureceram musicalmente. O sujeito mal pega na guitarra e acha que já está pronto para fazer shows ou álbum , o resultado disso é o rascunho (tosco ) e não a obra prima. E isso não desperta o interesse do público
Quem quiser se enveredar nesse caminho deve buscar : sabedoria, conhecimento e inteligência.
Um músico para participar de festivais tem que ter uma base bem feita tem que ser um exemplo de criatividade e não de cópias.
Gugu,apesar de discordar do seu comentário,eu respeito.
Os instrumentistas brasileiros dentro do metal subiram muito de nível.Isto é inegável. Temos muitos músicos bons aí.Temos que estar com os nossos ouvidos atentos. Tem por exemplo um músico do interior de São Paulo,o baterista Rafael Ferreira, que irá fazer uma mini turnê na Ásia com 08 datas e sempre dá workshops nos nossos vizinhos (Argentina,Chile, Colômbia). Tem outro exemplo, a banda de Hard Rock/AOR gaúcha Marenna ficou em oitava lugar nas seletivas de 2016 do Sweden Rock,um dos maiores festivais de rock do mundo. Assim como estes que eu citei, tem outros músicos de nível, que não são conhecidos pela grande mídia, mas estão aí trabalhando e batalhando. Uma coisa que pode ser discutida é a questão da criatividade e a originalidade. Mal isto não é fator exclusivo das bandas brasileiras.
Completando o raciocínio, no Monsters de 1995 tivemos bandas como Heroes del Silencio e Clawfinger. Duas bandas totalmente inexpressivas e desconhecidas do público que não acrescentaram nada ao festival e ninguém sequer lembra delas. No meu ponto de vista duas vagas que poderiam muito bem ser de duas bandas brasileiras,que com certeza iriam fazer melhor.
Mas o legal é isso mesmo,cada um trazer a sua opinião e a gente poder debater.