Por Fernando Bueno
Sempre achei que o Stryper só não faz (ou fez) mais sucesso pela sua imagem e não pela orientação religiosa que a banda prega em suas letras. Talvez o que limite esse reconhecimento seja o visual hair metal tão normal nas bandas americanas dos anos 80 e que foi usado em níveis exageradíssimos pelo Stryper. Para notar isso basta dar uma olhada nas fotos da banda em discos como In God We Trust de 1988.
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Stryper da época do In God We Trust |
Em sua carreira solo, Michael Sweet manteve um pouco da imagem que usava em sua banda anterior. A capa de seu disco de estreia como artista solo é do nível das usadas pelos irmãos Nelson. Já o som foi bem suavizado em relação ao hard/heavy do Stryper. A sonoridade do álbum lembra bastante o Bon Jovi da época. O álbum seguinte, Real, de 1995, é ainda mais brando que o primeiro e novamente dá para comparar com o que Jon Bon Jovi estava fazendo, principalmente em sua carreira solo.
Depois de Real a carreira musical de Michael Sweet teve um hiato de alguns anos enquanto estava trabalhando no negócio de seu padrasto. Uma demo chamada Truth foi feita em 1998 e seu material foi lançado de maneira independente, com o mesmo nome em 2000. Nesse período Michael Sweet se reuniu com os antigos companheiros do Stryper, Oz Fox e Tim Gaines, em um show em Porto Rico, porém essa reunião não levava o nome de Stryper. Sweet participou do show como um artista solo convidado da então banda da dupla chamada SinDizzy.
Truth é considerado por muitos como o melhor disco da carreira solo de Michael Sweet. Nesse álbum ele volta para o hard rock, com menos influências pop e com certa dose de modernidade. Falar em modernidade em algo relacionado ao Stryper faz muitos lembrarem do controverso Reborn, em que as características musicais das bandas da época foram largamente utilizadas, fazendo com que muitos fãs torcessem o nariz. Aqui, o resultado ficou muito bom.
O início apenas com violão e voz de “
Distracted” engana um pouco, já que pouco tempo depois a dinâmica muda bastante. O mesmo acontece com “
I Am Adam” que a princípio parece uma baladinha melosa, porém a faixa se transforma no refrão para algo totalmente diferente.
Um amigo uma vez disse que não gostava dos álbuns solo de Sweet por causa do excesso de baladas. Isso pode até ser um pouco verdade, mas não podemos deixar de reconhecer que o cara é uma fera nesse tipo de música. “All I’m Thinking Of (Is You)” é um ótimo exemplo das excelentes melodias que ele criou em sua carreira solo. Sua voz, um das mais injustiçadas do rock, consegue transmitir a emoção na medida certa. Ouça “
Blue Bleeds Throught” e entenda o que estou falando. Somente alguém com muita técnica vocal conseguiria fazer o que ele faz sem parecer ridículo.
Várias músicas se adaptariam muito bem ao repertório do Stryper e é até uma pena saber que muitas delas podem nunca mais serem tocadas ao vivo se Sweet voltar a ser novamente um membro
full time da banda. Os exemplos disso são “Save me” e “
Wool & Chiffon”, mas várias outras faixas de outros álbuns também valeriam.
“Tomorrow” é mais uma balada que merece destaque por seu ótimo refrão, novamente cortesia da bela voz de Sweet. Para levantar e alegrar um pouco o álbum, “Lift My Head” é um dos milhares de exemplos de faixas que poderiam tocar em todos os lugares que agradaria a todos, desde o pessoal adepto às músicas pop quanto ao mais
rockers.
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Contra capa de Truth |
A faixa título deve ter sido escolhida por razões líricas, já que, apesar de não ser ruim, não faz parte dos destaques do álbum. Quem sabe a mensagem tenha sido mais importante para ele no momento do lançamento do disco. Para fechar o álbum, as boas “Achilles Heel” e “Stone”, sendo que essa última conta apenas com piano e voz.
Muitos se esquecem, mas Sweet poderia ser considerado um guitarrista/vocalista. Diversas músicas do repertório do Stryper tem a segunda guitarra feita por ele, e quando ele se juntou ao Boston foi para tocar guitarra também. Aqui ele gravou todas as guitarras exceto alguns solos feitos por convidados. Acompanham o músico nesse CD Chris Miles no baixo, Kenny Arnoff na bateria, Bob Marlette nos teclados, além da participação de seu parceiro no Stryper Oz Fox fazendo o solo na faixa “The Ever After” e Tim Pierce solando em “Distracted” e fazendo um slide guitar em “Save Me”.
A versão japonesa do álbum ainda tem duas faixas bônus, “It’s All About Your Face” e “Water”, mais duas boas canções para fechar esse ótimo disco desse artista tão pouco reconhecido. Como disse lá no início, as pessoas deixam se levar por outros fatores para avaliar ou conhecer uma carreira, e acabam deixando o mais importante, a música, em segundo plano.