Olga From The Toy Dolls – OlgAcoustic [2015]
Por Micael Machado
O inglês Michael Algar é um injustiçado. Há quase 40 anos a frente do Toy Dolls, uma das melhores e mais divertidas bandas existentes no punk rock mundial, o sujeito pouquíssimas vezes teve reconhecido o mérito de qualidade dos álbuns que gravou com sua banda, e menos vezes ainda viu seu enorme talento como guitarrista ser citado em alguma destas listas de “melhores” que vez por outra aparecem por aí, e que frequentemente revelam apenas gostos pessoais, e não critérios realmente técnicos ou algo que o valha. O certo é que, além de excelente compositor, vocalista marcante (com um timbre que poderia muito bem ser utilizado para algum personagem de desenhos do cartoon networks) e um excelente performer, Olga (como é conhecido desde sempre por seus fãs) é um instrumentista de mão cheia, sendo um daqueles raros casos que comprovam que não é preciso ser um músico tosco para tocar música punk.
Depois da “trolagem” geral aplicada em seus fãs com Our Last Album?, de 2004 (onde muitos realmente acreditaram que a carreira dos Dolls havia finalmente chegado ao fim), e do retorno com The Album After the Last One, em 2012, Olga surpreendeu seus fãs com OlgAcoustic, de 2015, onde interpreta treze canções (e duas vinhetas) de sua banda no esquema “voz e violão”, tão comum a muitos artistas bem mais famosos espalhados por aí. Mas não pensem que Algar “acalmou” suas criações para adaptá-las ao formato. De forma alguma. Pouquíssimas foram as mudanças nos arranjos das canções, e, mesmo com a ausência de baixo, bateria e dos marcantes backing vocals utilizados pelo grupo (muitos destes, inclusive, incorporados pelo próprio Olga nestas novas versões), as músicas continuam fortes, mostrando que, quando uma composição é boa de verdade, você pode deixá-la “em um formato acústico totalmente nu” (como estampado na contracapa), que ainda assim ela será relevante.
A escolha do repertório passa longe de obviedades. Praticamente todos os clássicos da carreira do Toy Dolls foram limados na hora de selecionar o que entraria no disco, sendo que possivelmente apenas “Dig That Groove Baby” e “Idle Gossip” talvez se enquadrem nesta categoria. Os fãs mais atentos certamente lembrarão de “She’ll Be Back With Keith Someday”, “The Death Of Barry The Roofer With Vertigo”, “Deidre’s A Slag” e “My Wife’s A Psychopath”, e eu, particularmente, fiquei bastante feliz ao ver “Olga I Cannot” no track list, sendo ela uma das minhas composições favoritas da banda. Mas mesmo estes fãs terão de tirar as teias de aranha da memória para lembrar de “Poor Davey” (presente no álbum de estreia, Dig That Groove Baby, de 1983), “PC Stoker” (que faz parte de Idle Gossip, de 1986) ou da recente “Dirty Doreen”, gravada no citado The Album After the Last One, que mostram que o gosto pessoal do músico prevaleceu sobre critérios como popularidade ou apelo mercadológico para escolher as músicas selecionadas para o disco.
Abrindo e fechando com uma reinterpretação de “Theme Tune” (que também iniciava e finalizava o citado disco de estreia), OlgAcoustic (que, segundo o encarte, foi registrado no quarto do Olga, algo do qual eu não duvido nem um pouco) se ressente da falta dos demais componentes da musica do Toy Dolls, mas abre generosos espaços para Algar mostrar seus dotes ao violão, especialmente em alguns solos, onde por vezes ele reinterpreta de forma acústica o que havia feito na guitarra elétrica, e, em outras, cria novas melodias em substituição às versões já consagradas antes. Não é um álbum recomendado para iniciantes, mas sim para aqueles já familiarizados com a discografia e o estilo das canções do Toy Dolls, os quais poderão, a princípio, estranhar este “novo formato” de algumas velhas companheiras de estrada, mas, passado o impacto inicial, certamente irão se divertir com este belo registro idealizado, composto e gravado por este gênio chamado Olga, que, não custa nada lembrar, estará em turnê pelo Brasil com sua banda no mês de agosto (em formato elétrico, é bom lembrar), passando por Curitiba (dia 10), Goiânia (dia 11) e São Paulo (dia 12 – será que nenhum promotor pensou em trazer o grupo a Porto Alegre desta vez? Putz…). Se tiver a chance de conferir, não perca. Você não irá se arrepender!
Track List:
1. Theme Tune
2. Dig That Groove Baby
3. She’ll Be Back With Keith Someday
4. Idle Gossip
5. The Death Of Barry The Roofer With Vertigo
6. PC Stoker
7. Dirty Doreen
8. Deidre’s A Slag
9. Olga I Cannot
10. You Won’t Be Merry On A North Sea Ferry
11. Poor Davey
12. My Wife’s A Psychopath
13. Alfie From The Bronx
14. Bitten By A Bed Bug
15. Theme Tune
links do youtube:
Dig That Groove Baby – https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=Ei8W0yUtxlY
Idle Gossip – https://www.youtube.com/watch?v=qMIhyr342lM
My Wife’s A Psychopath – https://www.youtube.com/watch?v=F1Lpij7yGnQ
O Olga é a prova de que guitarrista de punk rock também pode saber tocar e muito bem, fazendo solos e criando estruturas mais complexas do que os tradicionais três acordes do estilo. Suspeito que o Olga poderia muito bem tocar em qualquer banda de heavy metal clássico. Ele é formidável!!!